Breno distribuía os relatórios na mesa de reuniões com um jeito profissional. Estava ajudando na reunião, com toda a postura de quem pertencia àquele lugar.
Esse momento no grupo afastava, pouco a pouco, o medo que sentiu daquele homem.
De vez em quando, recebia um olhar curioso, mas seu comportamento não deixava dúvidas: ele estava ali para trabalhar.
— Então, como podem ver, as mudanças são necessárias e urgentes. — Hugo conduzia a apresentação com concentração e foco exemplares.
Estava terrivelmente preocupado com o filho, mas, olhando para ele, ninguém diria isso.
Mais tarde, com Breno na cantina lanchando com Glória, Alexandre entrou na sala.
— Então ele apareceu na escola? — perguntou.
— E despejou aquelas coisas em cima do menino. Quando chegamos, Breno estava apavorado. Nunca senti tanto ódio daquele sujeito. — Hugo ainda se lembrava da expressão de pânico no rosto do filho.
— Eu disse que seria melhor contar. Ele deu a
Leonardo entrou em casa sem sequer perceber o som da porta se fechando atrás de si.O corredor ainda estranho, os móveis reajustados, o cheiro de Clara no ar... nada conseguiu distraí-lo do que aconteceu na escola naquele dia.Soltou a bolsa sobre o aparador e passou as mãos no rosto, mortificado.Estava cheio de tudo; da ausência que pesava, da culpa, da sensação de ter chegado tarde demais.Aquele olhar de Breno… Não era compreensão ou saudade. Era medo e desespero. Jéssica com palavras tão duras e um jeito armado.— Meu filho não se lembra de mim. Sou um completo estranho pra ele.Ver como ele correu para Hugo em busca de proteção foi o golpe mais duro que poderia receber.Nunca sentiu tanto uma situação como aquela. Queria ter saído gritando com todos e mostrando o absurdo daquilo.Era sua
A água quente escorria pelos ombros de Jéssica, mas não era capaz de aquecer o frio que morava dentro dela.Voltou para o hospital no automático, atendeu no automático, fez tudo o que precisava para concluir o dia de maneira funcional.Mas seu interior estava cheio de uma angústia sufocante.Encostada na parede do box, com os joelhos encolhidos contra o peito e o rosto escondido entre os braços, ela chorava em silêncio.Como vinha fazendo nos últimos dias. Só que naquela noite, doía mais. Doía fundo.Breno mal falava com ela."Mentirosa..." foi como ele a intitulou.Desde aquele encontro na escola, tudo parecia desmoronar ainda mais. Ele escolheu Hugo com os olhos, com o corpo, com o coração.E, mesmo que ela compreendesse, mesmo que reconhecesse o amor imenso que Hugo dava ao menino, ainda assim… doía. Porque ela era a mãe. Ou deveria ser.Parecia que os filhos estavam dispostos a perdoar apenas Hugo e con
Jéssica foi acordada com um som suave e sorrisos tímidos.Abriu os olhos devagar, ainda com o rosto marcado pela noite difícil, e viu Breno, Maria e Caio entrando no quarto equilibrando uma bandeja de café da manhã decorada de maneira bem peculiar.Frutas cortadas em formatos engraçados, panquecas com carinhas, flores improvisadas de papel e até um bilhete escrito com letras coloridas.— Surpresa! — Hugo anunciou, orgulhoso.Maria dava pulinhos de alegria e Caio, ainda um pouco retraído, sorria de canto, segurando uma garrafinha com o suco favorito da mãe.— Você demorou pra acordar e decidimos fazer isso — disse Breno, com um jeitinho tímido.— Tivemos medo de que não estivesse bem — completou Hugo, fazendo questão de ressaltar que as coisas estavam melhorando.O coração de Jé
O cheiro de café ainda pairava no ar quando Hugo apareceu na sala já pronto, camisa branca com as mangas dobradas até os cotovelos e a expressão tranquila e carinhosa que ele sempre fazia questão de manter — mesmo quando tudo dentro dele estava em pedaços.As crianças corriam pela casa em busca de meias, mochilas e algum material de última hora. Jéssica, entre uma olhadela no celular e um aviso sobre escovar os dentes, o olhou com intenção.— Hoje eu levo todo mundo — ele disse, com naturalidade. — Já organizei meus horários.— Imagina. Não precisa se preocupar, eu cuido disso. — Jéssica gostava de passar mais tempo com os filhos.— Não é incômodo. Eu preciso disso. — Hugo estava muito abalado com tudo naquele momento.Ela assentiu com um aceno pequeno. Não
— Que cara péssima, — Alexandre falou assim que Hugo pisou na sala. — Bom dia pra você também. — Hugo cumprimentou e caminhou até sua mesa. — Infelizmente, hoje será um dia longo e cansativo. Adoraria amenizar para você, mas não será possível. — O que é agora? — Nosso querido concorrente Valdo está de novo espalhando desinformação a nosso respeito. — Alexandre disse com cara bem irritada. — Qual o tamanho do estrago? — Hugo esfregou os olhos irritado. — Três montadoras pedindo auditoria. E a versão de luxo da Ferrari está sendo atrasada até verificarem a procedência do cliente. Não aguento mais lidar com esse sujeitinho! — Alexandre bateu na mesa irritado. — Vou fazer umas ligações e não temo as auditorias. Sabemos que está tudo certo. — O problema é o tempo que perdemos com isso. O que há com você? Por que está com essa cara? — Alexandre mudou de assunto com bastante facilidade. Hugo estava de pé, de costas para a
Jéssica entrou com o coração ainda disparado. Estava mesmo disposta a beijar Hugo. Esquecer, nos lábios dele, todo o desarranjo que estava vivendo.Assim que passou pela portaria, recebeu um aviso da secretária do RH pedindo que ela subisse direto para a sala da gerência. Arqueou as sobrancelhas, surpresa."Será que fiz algo errado?", pensou, o coração acelerando com a velha ansiedade. Estava farta de más notícias.Mas não era bronca. Era convite.— Doutora Jéssica, gostaríamos de conversar sobre o seu futuro por aqui — disse a coordenadora de residência com um sorriso profissional, mas gentil. — Estamos muito satisfeitos com seu desempenho. O hospital tem planos de ampliar o atendimento ambulatorial, e acreditamos que você poderia liderar uma das áreas.Jéssica piscou, sem entender.— Liderar… como assim?— Você poderá montar seu próprio consultório dentro da ala de especialidades. Terá autonomia para organizar a agenda, as linhas de
Jéssica caminhava para a sala de atendimentos, ainda um pouco atordoada com o que acabara de acontecer. Assim que se acomodou, um buquê de flores foi entregue, acompanhado de um cartão discreto. Ao ler a mensagem, franziu a testa com desgosto: “Me ligue, precisamos conversar. — Leonardo.”Ela não respondeu de imediato, o descaramento daquela frase pairando no ar como uma provocação. Estava em um turbilhão de sentimentos, mas não tinha qualquer intenção de ceder à pressão emocional de Leonardo.— Esse idiota acha mesmo que vou me rastejar atrás dele? — murmurou. — É muita cara de pau.Ia jogar as flores fora, mas hesitou. As flores eram belas. Inocentes até.— Glória, coloca lá na sala de descanso de vocês.— Que lindas, doutora! A senhora não vai lev
Clara entrou no escritório com um sorriso satisfeito nos lábios, seguida por Amanda, assistente de Leonardo, que trazia uma notícia que a beneficiaria muito. Ela se aproximou, sentou-se com elegância e, sem perder tempo, soltou a informação que fazia seu coração bater mais forte.— Leonardo, tenho uma grande novidade. Fechei uma turnê fora do país. Serão 30 shows em 15 países diferentes. — Clara falava com um brilho nos olhos, a expressão de quem sabia o poder que essa notícia teria sobre ele.Leonardo levantou os olhos, sentindo a ansiedade tomar conta de seu corpo. Ele não gostava da ideia de se afastar de casa agora, ainda mais em um momento tão delicado, com tudo o que acontecia com Jéssica e Breno. O som daquelas palavras reverberou na sua mente, e logo ele tentou esconder o desconforto.— Trinta shows? Isso da