Chegada de Kayla ao Orfanato St. Joseph’s Haven for Children
A neblina pairava baixa naquela manhã fria de outono, envolvendo em silêncio os arredores do St. Joseph’s Haven for Children, um orfanato católico situado nos arredores de uma pequena cidade americana. Os portões de ferro se abriram com um rangido suave, dando passagem ao carro preto do serviço social que avançava lentamente pela alameda coberta de folhas secas. Nos braços da assistente social, uma bebê recém nascida, observava o mundo com olhos azuis límpidos, grandes e silenciosos como um lago em pleno inverno. Seu cabelo loiro, puxado para um tom quase cobre, caía em mechas desalinhadas sobre a testa, contrastando com a palidez impecável de sua pele — branca como porcelana. A única coisa que apertava contra o corpo com força era um ursinho de pelúcia e em seu pescoço um colar fino em ouro, em sua roupa ainda continham marcas de sangue. Na escadaria principal, Irmã Margaret — de hábito azul-escuro e olhar maternal — aguardava com as mãos unidas em oração silenciosa. Ao ver a pequena, desceu alguns degraus e se abaixou lentamente, falando com ternura: — Seja bem-vinda, minha criança. Que São José te guie nesta nova casa. Kayla não respondeu. Mas diante daquele semblante calmo, do toque acolhedor e do som distante dos sinos da capela, ela cedeu. Encostou a cabeça no ombro da freira, como se ali, mesmo sem palavras, seu coração soubesse que aquele seria seu refúgio. Naquele dia, as portas do orfanato se fecharam atrás dela — não como uma prisão, mas como um abrigo. E mesmo sem entender, Kayla dava início ao capítulo mais transformador de sua vida. Os anos seguintes à chegada de Kayla ao St. Joseph’s Haven for Children foram surpreendentes. Embora tivesse sido acolhida em silêncio, a menina logo se revelou uma luz vibrante nos corredores de pedra do orfanato. Sua beleza chamava atenção desde muito cedo — os cabelos loiros de tom quase acobreado refletiam o sol com um brilho dourado, e seus olhos azuis límpidos pareciam ver muito além da superfície das coisas. Mas era o que emanava de dentro dela que verdadeiramente cativava a todos. Kayla cresceu rodeada por carinho. As freiras viam nela algo raro: uma mistura de doçura e firmeza que contagiava crianças e adultos. Quando alguém chorava, era ela quem oferecia o primeiro abraço. Quando surgia uma briga entre os meninos, era ela quem se interpunha com olhar firme e postura destemida — e todos paravam. Mesmo sem entender por quê, as outras crianças sentiam que Kayla era diferente. Não apenas bonita ou inteligente… havia nela um instinto natural de liderança. Um tipo de presença silenciosa que atraía, impunha respeito e trazia segurança. Aos seis anos, ela foi selecionada para ingressar no Colégio Interno St. Jude, uma escola de prestígio ligada ao orfanato, voltada à formação acadêmica e espiritual dos órfãos com maior potencial. Para Kayla, foi o começo de um novo capítulo. Nas salas do St. Jude, a menina revelou outro traço de sua alma inquieta: uma curiosidade voraz pelas ciências biológicas. Enquanto outras crianças se encantavam com literatura ou música, Kayla mergulhava com fascínio em livros sobre genética, reprodução celular, organismos híbridos e evolução. Seus olhos brilhavam sempre que estudava sobre procriação, metamorfoses ou o nascimento da vida. Era como se uma voz interior a chamasse a compreender o ciclo que move todos os seres vivos — e a imaginá-lo de novas formas. A cada nova aula sobre DNA, células-tronco ou simbiose, ela fazia perguntas que deixavam até os professores em silêncio por um instante. Não era apenas inteligência: era visão. Kayla enxergava possibilidades. Ela falava da vida como quem a sentia pulsar por dentro. Mas não era só nos estudos que se destacava. Seu carisma era tão natural quanto sua respiração. Era a primeira a dar as mãos nas orações em grupo, a última a abandonar uma amiga doente. Sua risada se espalhava pelos corredores como uma canção leve. Todos queriam estar perto dela — não por obrigação, mas por instinto. Até os mais rebeldes cediam à influência de Kayla sem perceber. Ela era calma, mas inquebrável. Doce, mas jamais submissa. Era, acima de tudo, uma loba em pele de menina. Em silêncio, o espírito de uma Alfa fêmea se consolidava. Ela não precisava comandar com gritos — seu olhar bastava. Não disputava território — ela conquistava com presença. E mesmo sem compreender totalmente o que era esse instinto que queimava sob sua pele de porcelana, Kayla sentia que algo maior se aproximava. Que seu destino não estava entre os muros do orfanato, nem apenas nos livros do colégio. Ela era feita para algo mais. Era início de primavera no St. Jude, e o perfume das flores recém-desabrochadas misturava-se ao som de vozes juvenis, risadas e passos apressados pelos corredores do antigo colégio. Kayla, com seus cabelos quase acobreados presos em uma trança solta e os livros contra o peito, era uma figura querida entre alunos e professores. Inteligente, carismática e determinada, chamava atenção por onde passava — mesmo sem querer. O professor e Dr. James Morrison, da matéria de biologia, era novo na escola. Jovem, bem-apessoado e sempre simpático, conquistara a admiração de muitas alunas. Mas Kayla nunca se deixou iludir por aparências. Observadora, notava os olhares longos, os elogios fora de hora, o jeito como ele se aproximava mais dela do que do necessário. Até o dia em que ele passou do limite. A sala de biologia estava vazia, já no fim da tarde. Ela havia voltado para buscar um caderno esquecido. James apareceu pouco depois, com um sorriso que não combinava com o momento. — Está sempre tão concentrada. Você é especial, Kayla. Muito mais do que imagina — disse ele, se aproximando demais. Kayla se afastou instintivamente, mas ele deu um passo à frente. — Você é madura. Não como as outras. E eu vejo isso. Você também vê, não vê? A voz dele baixou, e a mão tocou de leve o ombro dela, e seu corpo levemente pressionado em Kayla deixava clara sua excitação. O mundo pareceu congelar. Kayla o encarou, séria. Seus olhos azuis, límpidos como gelo, tornaram-se cortantes. — Tire a mão de mim e se afaste! — disse, firme, sem gritar. — Agora. Dr. James Morrison recuou, surpreso com a frieza. — Kayla... eu só pensei que... — Pensou errado — cortou ela. — E vai pagar por isso. Saiu da sala sem correr, com o coração acelerado mas a cabeça erguida. Sabia o que tinha que fazer. Na manhã seguinte, Kayla procurou a Madre Superiora e contou tudo. Sem hesitação, sem medo. Não foi a primeira nem a única, como descobriram mais tarde. Outras alunas se encorajaram. Testemunhos se somaram. O Dr. Morrison foi afastado imediatamente e, dias depois, expulso formalmente da escola. A notícia causou abalo. Mas Kayla manteve-se serena, embora por dentro sentisse um misto de revolta e alívio. Ela aprendeu ali, mais uma vez, que força não é só física. É saber dizer "não". É saber se levantar. É proteger não apenas a si mesma, mas as outras. E naquele colégio onde aprendeu tanto sobre biologia e comportamento, foi naquele dia que ela aprendeu a lição mais importante: Nunca se silenciar diante do que é errado. E sempre dizer não quando algo não parecer certo.Quando Kayla completou quinze anos, o pátio interno do St. Jude se encheu de luzes douradas e flores brancas, cuidadosamente organizadas pelas freiras e pelas colegas de classe. Era uma celebração simples, mas feita com amor. As irmãs haviam pedido doações e preparado tudo em segredo. Quando ela entrou no salão improvisado, de vestido azul claro e os cabelos presos num coque solto com pequenas pérolas, todos ficaram em silêncio por um instante.Ela estava deslumbrante — não só por sua beleza única, mas pela força silenciosa que irradiava. Como uma rainha selvagem em seu momento de glória.Houve música, risos, danças tímidas. E no fim da noite, enquanto Kayla observava a lua cheia no jardim do colégio, Ethan, um colega de turma e amigo próximo, se aproximou com as mãos trêmulas.— Eu… preciso te dizer uma coisa — disse ele, desviando o olhar por um segundo. — Eu te amo, Kayla. Desde o primeiro dia em que você chegou. Você me inspira. Me desafia. Me faz querer ser alguém melhor, e quand
Na manhã seguinte, Kayla desceu as escadas sentindo-se deslocada, como se ainda estivesse dentro de um sonho estranho. A casa era grande demais, silenciosa demais — e cada detalhe parecia saído de uma revista de luxo. Mas era real. A nova vida que acabara de começar.Ao atravessar o arco da sala de jantar, seus olhos encontraram a mesa cuidadosamente posta: sucos, frutas frescas, croissants ainda quentes. E à mesa, os três a aguardavam. O homem e a mulher que haviam dito ser seus pais… e o garoto que mal dissera uma palavra na noite anterior.A mulher de cabelos loiros cor de cobre se levantou com suavidade e sorriu, caminhando até ela.— Bom dia, querida. Sei que ontem foi muita coisa para você e que nem tivemos tempo de nos apresentar corretamente — disse com uma voz suave, porém firme. — Meu nome é Eleanor Prescott. E eu sou sua mãe.O homem ao lado colocou o guardanapo sobre o colo e levantou-se também, vindo em sua direção com passos contidos.— E eu sou Richard Prescott, seu pai
— Kaiden, querido — disse Stella Sullivan, pousando uma das mãos no braço dele como se fosse algo rotineiro. Seus olhos então se voltaram para Kayla com um ar inquisidor. — Veio buscar mais uma admiradora?Kaiden suspirou, retirando delicadamente a mão dela do seu braço.— Stella, essa é a Kayla. Minha irmã.— Irmã? — Stella piscou, tentando disfarçar o choque. — Nunca mencionou nada disso...— Longa história — ele respondeu com naturalidade.Stella encarou Kayla, como quem avalia uma adversária.— Hm. Veio visitar ou vai mesmo estudar aqui?— Estou conhecendo o lugar — Kayla respondeu com calma, mantendo o olhar firme. — Pode ser que eu comece em breve.— Ah, espero que sim. — Stella disse com um sorriso que não alcançou os olhos. — Vai descobrir rápido que essa escola tem seus... padrões.Kayla sustentou o olhar, tranquila.— Não se preocupe. Me adapto fácil.Kaiden não conteve um sorriso e interrompeu antes que a conversa desandasse.— Stella, a gente precisa ir. Vou mostrar a esco
P.D.V de Kayla Prescott Nunca pensei que aquele frio na barriga que senti ao acordar pudesse durar tanto tempo. Desde o momento em que abri os olhos, ainda antes do sol nascer, eu sabia que esse dia seria diferente. Me olhei no espelho com calma — e confesso que nem reconheci completamente o reflexo. Era estranho pensar que aquela garota, arrumada no uniforme impecável da St. Joseph High School, agora carregava o sobrenome Prescott. Um nome que, até poucos dias atrás, eu nunca tinha ouvido na vida.Desci as escadas da mansão ainda tentando colocar ordem nos meus pensamentos. Richard me aguardava com uma xícara de café e um “bom dia” gentil. Kaiden, claro, já me esperava no carro com seu jeito meio sarcástico e descomplicado. Ele me tranquilizou mais com um olhar cúmplice do que com palavras.Assim que atravessei os portões da St. Joseph, senti os olhos sobre mim. O sussurro de vozes, os olhares curiosos e julgadores — era impossível ignorar. Fingi costume. Mantive a postura ereta, pa
P.D.V de Kaiden.O refeitório fervilhava com vozes, risadas e o tilintar de bandejas. Eu estava com meu grupo habitual — os populares, como todos os outros insistiam em chamar — mas minha mente estava em outro lugar. Ou melhor... em uma só pessoa.Ela entrou como um raio de luz em meio à rotina monótona do meu dia. Kayla.Por um instante, o mundo ao redor se calou. Ela caminhava com aquele jeito quase inocente, olhando ao redor com curiosidade genuína. Seu cabelo brilhava sob a luz do teto, com aquele tom loiro acobreado tão raro, tão dela. Os olhos azuis límpidos varriam o ambiente, atentos, mas discretos. Tinha uma aura diferente. Única.Meu coração bateu mais rápido, e não pela primeira vez desde que a vi naquele dia no jardim, na foto enviada por engano. E agora, ali, em carne e osso, Kayla era ainda mais hipnotizante.Senti algo se retorcer dentro de mim. Um desejo bruto, primitivo, misturado com um instinto feroz de protegê-la. Cada olhar que outro garoto lançava em sua direção