Nos sentamos no jardim, e eu juro que não demorou nem dez minutos para entender o motivo pelo qual o tal Ethan não tinha uma grande amizade com o irmão.
O cara era um tremendo de um idiota.
E ele nem disfarçava a arrogância.
- E então, o que vocês fazem aqui em Deus me livre? – disse ele sempre se dirigindo ao irmão, como se eu fosse apenas um fantasma assombrando uma conversa totalmente privada.
- Não fala assim, eu adoro isso aqui! Eu amo minha vida Ethan! – disse Luke
- Você poderia ter sido grande Tom, poxa irmão, você faz cálculos matemáticos mais rápido do que uma calculadora, e escolheu ficar aqui nesse fim de mundo por absolutamente nada! – disse Ethan, eu nem sabia o que ele fazia da vida, nem como ele vivia, mas as críticas a nossa bolha perfeita de vida estavam me incomodando demais.
- Eu tive um motivo muito bom para ficar aqui... como é mesmo que você disse? – debochou Luke
- Deus me livre! – disse Ethan rindo
- Isso mesmo, tive um ótimo motivo para ficar aqui! – ele deu um gole na cerveja gelada, enquanto eu olhava para outro canto aleatório evitando encarar Ethan.
- Me conta então, por que eu nunca entendo o motivo de você ter se enterrado nessa joça! – disse mais uma vez e eu suspirei fundo, mostrando minha insatisfação.
- O motivo está bem aqui do meu lado – apertou a minha cintura – eu encontrei a mulher da minha vida! – Luke deu um beijo no meu pescoço e eu sorri para ele.
- Não sabia que tinha acabado com sua vida amor – respondi irônica
- Você jamais poderia fazer isso, já que você é a minha vida Julie! – me deu mais um beijo, dessa vez na minha testa.
- Então resolveu largar a carreira financeira em Nova York para ficar aqui brincando de casinha com ela? – ele me olhou com tanto desdém que me encheu de mais ódio.
- Olha só... Ethan certo? Eu tenho certeza de que a porcaria da sua vida deve ser ótima, mas isso não te dá a droga do direito de vir aqui cagar em cima da minha vida e da vida do seu irmão, nós somos felizes aqui, por incrível que pareça nós nos amamos mesmo morando em Deus me livre! E dá para ver nos seus olhos que você é só um cara solitário que se acha demais por ganhar alguns dólares a mais!
Luke não respondeu apenas sorriu e deu mais um gole na cerveja.
- Nossa como sua mulher é metidinha hein Luke? – ele disse debochando – metida e insuportável!
- Ei, pega leve Ethan é da minha esposa que você está falando!
- Tudo bem amor, eu vou subir, aproveita a companhia do seu irmão.
- Não... Ethan peça desculpas a Julie! – insistiu Luke – vamos cara, pede desculpas para ela! – insistiu mais uma vez.
- Eu não vou pedir desculpas de jeito nenhum! – disse Ethan
- Então você vai ter que ir embora! – disse Luke
- Não... por favor... foi só uma discussão idiota! – eu insisti, eu não seria mais um motivo da família Flitch se odiarem muito – certo Ethan? Foi só uma discussão imbecil...
- Sim, certo! – disse ele e me ofereceu a mão.
Eu não ia tocar, mas com os olhares de Luke eu tinha que fazer jus a minha pose.
Assim que eu coloquei a mão na mão de Ethan o meu coração acelerou, minha respiração parou do nada e o meu coração acelerou tanto que eu achei que ia desmaiar, eu comecei a suar frio e em meio aqueles trinta segundos que seguramos a mão um do outro tudo isso se misturava dentro de mim. O olhar de Ethan para mim era visceral, e eu conseguia sentir pela temperatura das suas mãos que ele sentiu o mesmo que eu.
Repulsa talvez? Podia ser.
Eu só sei que um choque percorreu cara parte do meu corpo e até que Luke interrompesse aquilo, tudo o que estava a minha volta sumiu, menos os olhos verdes de Ethan.
- Amor, quer que eu suba com você? – disse Luke tocando a minha cintura levemente.
- Não, aproveita a cerveja e o seu irmão! – eu dei um beijo nos lábios de Luke e me virei para Ethan para a despedida final.
- Boa Noite Ethan! – eu disse firme, tentando manter a minha compostura que estava visivelmente abalada.
- Bo...Bo...Boa...Noi...te Julie! – disse meio trêmulo atropelando todas as palavras menos o meu nome.
Enquanto eu me afastava eu conseguia sentir a flor da minha pele o olhar de Ethan em mim, aquele mesmo que ele me lançou nos poucos segundos de contato e que eu esperava que não se repetisse nunca mais, enquanto eu vivesse.
Me deitei em minha cama e os meus pensamentos ficaram girando volta de mim todas as imagens daquele dia caótico percorrendo a minha mente levemente alcoolizada e cheia de medo.
E sempre que eu fechava a droga dos olhos os malditos olhos verdes tão parecidos com os de Luke mas tão mais profundos me pegavam em cheio.
Aquela obsessão tinha que parar e eu ia fazer parar de qualquer jeito.
Luke subiu as escadas algumas horas depois e eu ouvi cada passo que ele deu no corredor, bêbado como estava ele se jogou na cama.
- Vá dormir Luke! – beijei a boca dele mais uma vez e ele sorriu – Julie.... – ele disse mais uma vez – você odiou o Ethan não foi? – ele começou a gargalhar.
- O seu irmão é um mala! – eu falei ainda mais irritada.
- Então não desce antes de mim por favor, o Mala está dormindo em nosso sofá! – ele gargalhou de novo.
- Está brincando não é Luke? – ele nem conseguia abrir os olhos que dirá me responder do jeito certo.
- Amor... eu preciso levar um cobertor para o Ethan lá embaixo! – ele disse fechando os olhos, estava bêbado o suficiente para jogar essa informação e voltar a dormir.
Eu pensei “Que se dane o Ethan e o cobertor que passe frio!”
Mas a droga da minha consciência não me deixava ser uma desgraçada como ele queria que eu fosse para ter pauta para falar para a família Flitch depois.
- Leva você o maldito cobertor... Luke? Luke? – chamei o nome dele dezena de vezes, mas ele já estava no décimo quinto sono, e o ronco da bebida deixava isso bem claro – DROGA LUKE! – eu tentei balançar ele dezena de vezes e absolutamente nada aconteceu.
Peguei o cobertor mais velho que tinha em nosso closet e desci as escadas devagar, torcendo com todo o meu coração para que Ethan estivesse tão bêbado quanto o irmão, talvez jogado no meu sofá sem conseguir soltar uma piadinha arrogante sobre nada.
- Ethan? – eu desci as escadas e lá estava ele apenas de calça, mas com o peito nu, estava com um livro nas mãos folheando com a mesma cara de antes.
- Está aqui, o cobertor! – joguei em cima dele.
- Não sabia que caipiras tinham acesso a livros como O morro dos ventos Uivantes! – ele disse com a boca cheia, o abdômen me causava vertigem e o sorriso lascivo me deixava suando frio.
- Eu não vou nem te responder, acho que já deixei claro que sua presença aqui na minha casa é obrigatória certo?
Ele se levantou e eu quase tive um surto.
- Eu vou subir!
- Eu vou convencer o Luke de ficar! – ele disse mantendo uma postura menos odiosa do que antes.
- Eu espero que consiga. Eu vou dormir!
Virei as costas e ouvi – Você o ama?
- Eu o amo! – confirmei – boa noite.
- É dá para ver, esquisito, mas percebo.
Eu respirei fundo e me virei para encará-lo
- Por que seria difícil amar o Luke? Ele é simpático, lindo, inteligente, trabalhador, gosta de ser gentil com as pessoas... Difícil seria amar alguém como você!
- Concordo! Meu irmão é tudo isso que você falou, mas se eu encontrasse alguém que eu amasse mais do que minha própria vida eu enfrentaria o governo americano, toda a minha família e faria de tudo para ficar ao lado dela para sempre!
- Ele não tem escolha! Você não está sendo justo!
- Já te ocorreu que ele tenha pensado que você nem vale a pena? – ele sorriu – vai ver prefere ir para a guerra!
- Como você se atreve a falar isso dentro da porra da minha casa? – eu tentei gritar, mas tive medo de acordar o Luke
- Eu só sei, garota do interior, você foi a primeira que subiu na moto barulhenta dele, de repente vocês estão apaixonados e você está assando uma torta no domingo à tarde enquanto ele bebe cerveja e espera o jogo começar! Uma vidinha média com uma mulherzinha sem muitos talentos ou brilho pessoal, vai ver a guerra é a resposta!
Eu andei até ele e bati com força no rosto dele, com tanta força que fez barulho e meus dedos ficaram marcados.
Eu não precisei responder virei as costas e ele gargalhou.
- Te vejo amanhã... Julie Flitch!
- Espero que Luke se livre de você! Demônio! – eu sussurrei, bati a porta do meu quarto o mais forte que consegui e mesmo assim Luke não acordou.
Talvez tenha sido melhor assim!
Eu subi as escadas irritada, batendo os pés e sentindo um frio percorrer toda a minha espinha, aquela era uma sensação tão diferente para mim. Eu não sabia lidar com as minhas emoções direito, parecia uma adolescente ansiosa.Eu me deitei na cama e fiquei encarando o teto, vendo a noite toda passar diante dos meus olhos sem nem sequer considerar pregar os meus olhos, tudo o que estava dentro de mim era ódio, como ele tinha o direito de criticar a vida que eu e Luke polimos com tanta verdade por todo esse tempo?Eu poli com perfeição a rotina da minha vida, eu era uma esposa, eu era uma pessoa invejada por aquele pequeno bairro pelo menos.Eu passei a noite em claro, quando Luke acordou ele me deu o beijo mais doce do mundo e eu sabia que toda a palhaçada e ansiedade da noite passada era só provocação de alguém triste, eu nem deveria levar em consideração.Pelo menos eu estava tentando me convencer disso fortemente.- Vamos levantar...E apaziguar a família Flitch?- Está se referindo a
Eu estava morrendo de medo do que poderia acontecer, eu tinha medo do quão longe poderia ir à quantidade de química que havia ficado na minha pele desde que Ethan me tocou.Aquilo era um crime.O meu marido ia para a guerra e não havia nada a ser feito nesse caso a não ser chorar compulsivamente sobre todas as coisas.- Julie, eu não disse que resolveria as coisas para você? eu já tomei as minhas decisões, já deixei tudo esquematizado! – disse Luke olhando na minha cara como se eu fosse uma tremenda de uma maluca.- O que você deixou arrumado Luke? Me diga! Acho que é mais fácil assim, onde estão os papéis do nosso seguro feito para funerais? – comecei a andar pelo cômodo mexendo em todas as gavetas, tentando fazer alguma coisa com a minha frustração.- Julie, para! Olha para mim! – disse ele segurando o meu braço bem forte, olhou nos meus olhos mais uma vez e sussurrou – se acalme! Respira fundo!Luke levou mais 4 meses para partir para a guerra, Ethan levou apenas uma semana após es
Eu subi naquela moto pensando em tudo o que eu havia perdido, mas por dois segundos apenas, quando o vento bateu diretamente no meu rosto e eu pensei que minha vida poderia ser diferente da caixa onde eu havia vivido nos últimos meses, eu só precisava colocar a minha cabeça no lugar.Mas a tristeza não deixava, ela apertava o meu peito mais do que eu pretendia!Quando chegamos na porta daquele bar imundo na saída da cidade eu respirei fundo três vezes antes de entrar, uma moça de família JAMAIS faria algo assim.- Tudo bem Julie? – disse Ethan me olhando de cima abaixo.- Sim é só que eu nunca entrarei em um lugar desses – eu disse um pouco sem graça.- Sim nunca pensou também que o seu marido fosse morrer, não é? A situação é essa... Vai entrar comigo e tomar um porre ou não? – disse ele sendo o mesmo chato incisivo com tudo que eu havia conhecido e desgostado no mesmo segundo.- Eu entendi, dá para parar de jogar a morte do seu irmão na minha cara? – eu disse olhando em seus olhos
Eu não pensei em nada, não havia o que pensar, só havíamos nós dois. Uma noite quente, um rio e nossos corpos se tocando.Quando senti o primeiro gemido alto escapando da minha boca eu sorri sem perceber, a tempo de sentir os dedos de Ethan dentro de mim me instigando, me perseguindo, me tirava do eixo me levava ao inferno de tanto calor.Olhei dentro dos olhos dele e ele mordeu os meus lábios me olhando como o próprio diabo, tirou a mãos de dentro da minha buceta para segurar forte o meu cabelo ainda olhando para mim.Eu conseguia sentir a ereção dele roçando enquanto ele me beijava chupando os meus lábios e me invadindo com sua língua deliciosa.- Você quer que eu pare? – falou mais ofegante ainda- NÃO! – acredito que foi o não mais sonoro que eu já falei em toda a minha vida. Era um não desesperado um não cheio de desejo e tesão, um não que saiu do fundo da minha alma para a minha garganta.Aquele não foi o que abriu as minhas narinas para eu respirar.Ethan me soltou apenas para
Eu esperei a semana inteira por uma ligação de Ethan.Eu não sabia os meus motivos, eu não entendia as minhas limitações e o luto me pegou em cheio.Eu fiquei deitada tomando sorvete e olhando em volta, sentindo aquele vazio existencial.O vazio pelo Luke a culpa por ter transado com o irmão dele sem nem ter conseguido enterrar o seu corpo.Todas essas informações iam se concentrando na minha cabeça ao ponto de me enlouquecer.Eu o mandei embora.Eu tinha que ter isso muito claro na minha cabeça, eu não tinha nenhum direito de estar pensando em todas essas coisas e ainda por cima me fazer de vítima.Eu me coloquei na posição de vilã, que era o que me competia naquele momento.Minha campainha tocou, e eu me levantei sem jeito arrumando o meu coque horrível e tentando limpar pelo menos um pouco das remelas grudadas no meu olho misturadas com o meu choro.Eu abri a porta lentamente, era como se eu tivesse esperança de encontrar algum presente ali.- Ah meu Deus – disse Olívia olhando nos
Eu me apeguei aquilo, tomei um banho e fui enfrentar com coragem o que minha mãe estava fazendo, eu não consigo explicar, a fúria que cresceu dentro de mim quando soube daquela homenagem ridícula era tão forte que eu podia facilmente matar alguém.- Vamos – disse minha prima, apressada para um escândalo da família que não foi ela quem causou.- Eu só estou passando um rímel, estou com cara de doente.- Esse rímel, é só para enfrentar a sua mãe ou é por conta do irmão gosto do seu marido morto?- Para com isso, estou indo honrar a memória do Luke! – eu disse entredentesEu sabia que era mentira, Luke adorava esse tipo de holofote e só isso justificaria que ele fosse atrás de uma maldita farda.Honra, justiça e todo o blá blá blá que ele falava incessantemente com o meu pai e com o pai dele ficavam em primeiro lugar. Ele teria adorado saber que penduraram uma maldita bandeira com a foto dele em algum quintal, mas eu ia ignorar esse fato.Eu pensei sobre o orgulho dele com aquela situaçã
A dor era algo que estava me fazendo mal, eu sabia que eu não estava sendo eu mesma. Eu sabia que isso voltaria para me assombrar em algum momento. A cidade pequena não me ajudava nesse quesito. - Julie está tudo bem? - Disse minha prima olhando dentro dos meus olhos. - Eu estou mais do que bem, eu só quero sair daqui o mais rápido possível. Eu reconheci os passos atrás de mim impediatamente.- Julie o que você fez lá dentro... - A mão quente sob os meus ombros me tiraram do eixo, eu reconheci assim como reconheci os passos. Eu o sentia com uma facilidade que eu nunca senti ninguém em toda a minha vida. - Você está participando dessa palhaçada? - eu disse ainda revoltada com toda aquela situação. - Lógico que não! - disse Ethan parecendo indignado - Eu não faria algo Assim, eu sou o primeiro a deixar clara a minha raiva de toda essa merda. Mas você... - Ele passou a mão em meu rosto - Você foi muito corajosa! - Eu não precisei de coragem para acabar com a minha vida Ethan, só
Eu fui com eles. Mas eu era como uma bomba de luto por todos os lugares, minha prima foi dançar e eu e Ethan ficamos em um silêncio constrangedor na mesa. O silêncio era tão alto que fiquei nervosa o suficiente para não ouvir o som dos meus próprios pensamentos. Eu queria permanecer no silêncio desconfortável, mas Ethan parecida ter uma ideia diferente para aquele momento. - Nós podemos conversar? - Disse ele me olhando com aqueles olhos cheios de poesia. O olhar era triste, mas as cores chamavam minha atenção. As linhas que se formavam ao redor de sua iris era clara e dava a ele o ar de mistério que ele preservava a todo custo. - O que temos que conversar?! - Eu estava me fazendo de idiota, isso é óbvio, mas eu estava tentando ao menos proteger os meus ouvidos e minha mente do que viria depois com aquele assunto vindo a tona. Ele me olhava com um olhar indescritível, eu poderia usar todas as palavras disponíveis para isso, mas eu não conseguiria. - Eu sei que você não está