Eu fui com eles. Mas eu era como uma bomba de luto por todos os lugares, minha prima foi dançar e eu e Ethan ficamos em um silêncio constrangedor na mesa. O silêncio era tão alto que fiquei nervosa o suficiente para não ouvir o som dos meus próprios pensamentos. Eu queria permanecer no silêncio desconfortável, mas Ethan parecida ter uma ideia diferente para aquele momento. - Nós podemos conversar? - Disse ele me olhando com aqueles olhos cheios de poesia. O olhar era triste, mas as cores chamavam minha atenção. As linhas que se formavam ao redor de sua iris era clara e dava a ele o ar de mistério que ele preservava a todo custo. - O que temos que conversar?! - Eu estava me fazendo de idiota, isso é óbvio, mas eu estava tentando ao menos proteger os meus ouvidos e minha mente do que viria depois com aquele assunto vindo a tona. Ele me olhava com um olhar indescritível, eu poderia usar todas as palavras disponíveis para isso, mas eu não conseguiria. - Eu sei que você não está
Aquela seria a minha maior aventura, quem diria que eu passaria por isso algum dia?Eu estava vivendo, e só se eu fosse maluca eu permaneceria naquela cidade ao invés de ir com Ethan.Eu não avisei ninguém, subi na garupa da moto sem nem ao menos saber para onde eu estava indo.Eu me diverti com a ideia do vento batendo nos meus cabelos, me diverti com a ideia de estar fazendo algum tipo de travessura que faria cada pelo do corpo da minha mãe se arrepiar.Eu era uma adolescente novamente e de repente aquele luto todo foi saindo das minhas costas a medida que a moto acelerava na rodovia molhada pela chuva. Chegamos finalmente a um hotelzinho barato de beira de estrada. A verdade é que eu nem sabia o que eu ia fazer com aquela informação toda correndo pelas minhas veias.A adrenalina do momento me fazia sentir viva, ao mesmo tempo que eu me sentia mal por isso eu conseguia sorrir no meio de tudo, sabendo talvez, que meu marido, morto, iria se divertir se estivesse ali.E tudo ficava m
Eu saí do meu banho chorado e demorado e lá estava Ethan sentado na beirada da cama olhando para um relógio velho com devoção.Eu me sentei ao seu lado e toquei o seu ombro levemente, ele não saiu do pensamento, ele nem ao menos se mexeu quando eu o toquei.Ele estava tão perdido quanto eu.Mas depois de algum tempo ele me olhou com os olhos cheios de lágrimas e me disse:- Esse relógio... Eu ganhei dele! – ele disse sorrindo com os olhos marejados cor de oliva.Eu não disse nada, eu estava petrificada. Fiquei só tentando saber onde iriamos chegar com aquilo.- Eu ganhei assim que fui fazer faculdade, antes dele embarcar nessa loucura eu devolvi.Eu pensei: Ele me deu isso e eu retornei para ele... Então ele vai levar o relógio e vai retornar, eu estava quase fazendo disso aqui uma coisa mística. Então Luke levou o relógio com ele... Entregaram na casa dos meus pai em uma caixa toda fodida e um papel mal escrito que dizia “Coisas do Luke”.É como uma piada cósmica você não acha Julie?
Ethan ficou por um longo tempo me olhando e o olhar dele não era desconfortável mais. Eu sentia uma faísca que não sentia desde o meu tempo de adolescência, uma que havia se perdido, pelo menos até aquele momento. - Quando eu estou com você sinto uma sensação tão...- Que sensação? - falei olhando nos olhos dele. - A sensação de estar em casa. Engraçado como nenhum lugar do mundo nunca me fez sentir algo nem parecido - ele disse com os olhos brilhando. - Qual o nosso próximo passo agora? - falei tentando mudar de assunto, minha razão pedia para eu não deixar as coisas se aprofundarem.- descansar e ir até o lago, você já foi até lá? - O lago Oak? quem vai até lá? dizem que é mau presságio. - Aquele lugar é lindo e tem uma das melhores vistas do mundo! - Que exagero. - Eu perguntei se você já foi até lá... - ele insistiu- Melhor não irmos até lá Ethan! - Eu insisti com veemência. Eu sabia dos motivos e sabia que iria machucar. Para mim e para ele. - O que tem no lago Oak? -
Todas as minhas expectativas estavam concentradas no que viria depois. Era difícil saber onde eu iria me encontrar exatamente, mas eu estava pronta para encarar com Ethan tudo o que viria a seguir.Nos arrumamos e voltamos então para a pequena cidadezinha que eu ainda, teimosamente, chamava de lar.- Você está pronta? - disse ele tirando o capacete e ajeitando os cabelos - Eu posso ficar na casa dos meus pais por enquanto!Não, eu não podia ficar nem um minuto longe dele, os monstros da minha cabeça provavelmente iriam criar um monstro terrível e eu faria o que eu faço com tudo: Eu iria desistir. - Não, eu não quero isso. Preciso que você fique comigo, ainda mais agora... As pessoas não vão demorar muito para sacar que estamos juntos. O meu coração estava acelerado, quandi girei a chave na fechadura e vi a vizinha sair para vir falar comigo eu não sabia nem como agir, então respondi a todas as perguntas do modo mais rápido que eu consegui para ela não somar dois mais dois mais rápi
Eu estava naquela minha apatia conhecida, eu não conseguia abraça-lo, eu estava feliz por ele estar vivo mas estava me sentindo suja, estar com ele, parecia completamente errado.Eu era do Ethan, eu era dele como nunca fui de Luke. Aquilo me fazia ter os maiores ataques de pânico internos já vistos na humanidade. - O que foi Julie? Parece até que está vendo um fantasma, mas eu entendo, droga... - Me explica, me fala o motivo pelo qual você me fez passar por todo esse sofrimento, eu simplesmente passei um inferno na terra, achei que você estava morto! Sofri como uma condenada a forca, enloqueci no meu luto, para você estar aqui sem nenhum arranhão! - eu falei até meio indignada.- Eu entendo, mas eu não queria te magoar. Eu só estava cumprindo uma missão, ela precisava ser feita do jeito certo! Olha isso... Uma conderação! Eu fui o melhor em combate, eu consegui me infriltrar e acabar com o conflito, bom, não sozinho, mas eu fui peça chave disso! Aposentadoria vitalicia, uma bela cas
Ele tinha certeza de que tinha feito tudo certo, para mim era como se ele tivesse cuspido na minha cara durante todos esses meses.Ele se recuperou logo do tapa que levou se dirigiu até a porta e abriu com o maior sorriso falso do mundo, claro que eram as nossas famílias, querendo sugar um pouco mais do meu sangue.- E então, como ela reagiu meu filho? – Disse o pai dele batendo em suas costas.- Ah, está tudo bem, certo Julie? – Disse ele me olhando, enquanto os outros abutres iam entrando dentro da minha casa.A mesma que ninguém visitou durante o meu luto, mesmo sabendo que eu estava sofrendo por algo que nem ao menos existia.Eu não conseguia nem respirar, o meu coração estava acelerado demais, e eu procurei o rosto de Ethan no meio daquele monte de parentes apenas para poder me recuperar um pouco do golpe que eu sofri.Eu estava em uma sala cheia de pessoas e estava completamente solitária, era como ter um punhal enfiado nas costas, era como saber que quem enfiou aquele punhal fo
Eu não podia mentir para mim mesma, existia aquela possibilidade. Mas como eu ia adivinhar que Luke estava vivo? Como eu ia adivinhar que eu não poderia simplesmente sumir para a cidade grande com Ethan para viver uma nova vida?Um medo terrível me atingiu, uma vontade imensa de chorar, queria sair correndo e ligar para o Ethan mas o meu medo de acordar o sociopata que estava roncando na minha cama era maior do que tudo.Se ele descobrisse aquilo seria o meu fim e o fim da minha possível gravidez.Eu decidi manter a calma, eu precisava ter certeza antes de sair alarmando o Ethan para aquilo tudo.Eu não consegui dormir e aquilo era óbvio, como eu conseguiria viver a sombra daquilo? Eu fiquei andando de um lado para o outro na cozinha, fiquei com medo de ligar para Ethan e acabar acordando Luke.Decidi que precisava de ar para respirar, saí para o jardim e me sentei no velho balanço, me permiti chorar por um bocado de tempo, antes de ouvir o portão de trás sendo aberto sorrateiramente