Eu iria sentir falta de cada pedaço dele, dentro e fora de mim, iria sentir falta da minha imaginação da visão ao acordar, sentiria saudade de vê-lo nu tomando um banho e da forma lasciva e safada como ele me olhava enquanto eu trocava de roupas.
Assim que amanheceu o dia Luke saiu da cama e desceu as escadas, eu conseguia ouvir claramente o som da tábua que ele nunca arrumava no último degrau.
O cheiro de panqueca invadiu a nossa pequena casa, era o cheiro de um dia feliz.
“bom dia, minha esposa, como foi a sua noite?” – disse ele sorrindo para como um bobo, lambendo os lábios enquanto o fluxo das emoções e de seus toques percorriam freneticamente a minha mente me dando a sensação de “quero muito mais”
Foda era saber que ele era o grande amor da minha vida, e ele iria embora, e eu tive apenas um aviso prévio de algo que iria doer para sempre.
“Eu estou com uma sensação estranha dentro de mim Luke”
Eu confidenciei a ele, aposto que o meu olhar era triste embora eu estivesse tentando manter um sorriso brilhante nos lábios, mas sendo ele o meu melhor amigo, ele sabia também quando eu estava me esforçando para mentir descaradamente.
“Está com sensação de despedida” – ele disse parando de me encarar para se concentrar na última panqueca na frigideira, ou para não ter que me encarar, porque se olhássemos muito nos olhos um do outro, cairíamos em um choro profundo.
Uma mensagem explodiu na tela do meu celular.
Mamãe
Julie, o jantar hoje ainda está de pé?
08:00 am
“Droga!” – Eu disse protestando
“O que foi Meg?” – disse Luke
“O jantar com os meus pais, droga, eu havia me esquecido completamente desse compromisso”
“É bom que eles venham, preciso contar ao seu pai sobre a minha convocação, eles ficarão orgulhosos tenho certeza!”
“Sério Luke? Sério?”
Eu protestei, mas eu sabia que eles iriam comemorar, aquela noite seria sufocante, sufocante demais.
Eu tomei o café da manhã em silêncio e assim que acabei eu saí em disparada para o quintal, precisava que o pouco de sol vibrasse em meu rosto, precisava chorar um pouco sem estar acompanhada do olhar julgador de uma mãe um pai e três irmãos intrometidos.
Precisava chorar sem a presença dos meus sogros que nunca apoiaram o meu casamento, precisava chorar sem a pressão de ser Julie Luna Fitch, pelo menos só uma vez eu precisava pensar sobre o assunto sem que alguém me interrompesse para me dizer que aquela era uma honra.
Honra para quem? Para mim?
“Meg, os meus pais vêm também” – Oh meu Deus que novidade, como se eu já não tivesse previsto – E também o meu irmão, ele está chegando de Nova York só para me ver.
“Que honra Luke, ele virá aqui te cumprimentar pela última vez, deve ser mesmo uma honra” – eu disse de mau humor.
Eu me sentei ao velho balanço que veio com a casa e Luke se sentou ao meu lado.
“Você sabe que se eu pudesse eu mudava isso, não sabe disso?”
“Muda, vamos fugir para o México! Se torne um desertor, vamos sumir no mapa” – eu disse cheia de lágrimas nos olhos.
“Eu não posso, sabe que eu não posso meu amor”
“Não se atreva a me chamar de meu amor!” – senti a primeira lágrima escorrer dos meus olhos, eu a limpei rapidamente para que ela não desse ousadia ao rio que cairia acompanhando a seguir.
“Me promete uma coisa?” – ele disse interrompendo um silêncio sepulcral do quintal.
“Se estiver no meu alcance, eu prometo sim”
“Me espera?”
“Que história é essa Luke?” – eu disse indignada com o pedido.
“É justo que eu pense isso, eu não sei quanto tempo vou ficar com o pelotão, você é jovem, bonita e muito gostosa – ele sorriu – o sonho de metade da cidade, e eu só quero saber se minha mulher ainda vai ser minha quando eu voltar para a minha casa” – agora o olhar dele ficou um pouco mais perdido do que antes, começou sendo brincadeira, mas deu para perceber que não era mais, só pela expressão de Luke olhando para o chão.
“Você acha que eu seria capaz de te substituir?” – eu falava sério demais – responde logo Luke”
“Acho que uma hora você não terá escolha, e acredite, é a única coisa da qual eu tenho muito medo”
“O que? Ser corno?”
“Perder você Julie, isso seria pior do que perder a minha vida no campo de batalhas”
Eu me levantei irritada
“Não repete isso mais, nem de brincadeira, você entendeu Luke? Eu falo sério, sem brincadeira”
Bati a porta de vidro tão forte que eu custei a acreditar que ela não se despedaçou nas minhas mãos.
Algumas horas, fogão e assadeiras depois e eu estava na minha sala, que estava cheia de pessoas das quais eu não era muito fã.
“E então Luke, conte logo a novidade filho!” – disse o meu pai que não sabia mesmo esperar por nada na vida.
Luke me olhou, tomou um ar e então começou a falar
“Eu... fui convocado... eu parto para me encontrar com o pelotão em setembro” – ele disse isso com o peito estufado de orgulho, porém o olhar melancólico deixava claro que ele não estava tão feliz, me olhou nos olhos de novo quase que me desafiando, medindo a minha reação, queria medir a minha resistência.
E quando o meu pai se levantou para cumprimentá-lo com um sorriso no rosto eu senti que eu ia vomitar.
“Preciso de mais vinho!” – eu resmunguei me levantando para ir até a minha cozinha.
Me encostei no balcão longe de todos e pude finalmente chorar, me escorei porque o ar estava me faltando e o fato de todo mundo estar comemorando aquela notícia era ainda pior, era sufocante, era imundo, era triste.
“Filha...” – disse minha mãe me amparando em seus braços
“Eu estou bem mãe” – eu disse tentando manter a compostura que eu aprendi a ter desde pequena.
“Não está, e está tudo bem se sentir assim, ele é seu marido, e vai fazer algo muito perigoso”
“Ele não pode ir, eu... daria qualquer coisa para ele ficar aqui comigo, temos uma vida perfeita, confortável e simples, não quero que ele seja um herói para o país, foda-se, eu só quero que ele seja meu!”
“O que está havendo aqui?” – disse o meu pai se aproximando
“Nada demais, eu só...” – nem sabia o que justificar
“O seu marido é honrado, vai servir ao país e você prefere que ele largue tudo para ficar aqui fazendo suas vontades e realizando seus caprichos? Mimada” – disse o cara que perdeu um olho para honrar o país que pagava a ele uma pensão de merda e que nunca lhe deu um plano de saúde decente.
“É pai, te ajudou muito esse negócio de ser soldado, não é? Eu vejo, embora você veja pior do que eu”
Eu me retirei, bem a tempo da minha campainha tocar, era hora de mais um show, a família de Luke havia chegado, a família Fitch não era conhecida por ser amistosa com as pessoas.
“Olá, mãe, olá pai, cadê o Ethan?”
“Seu irmão disse que virá direto depois”
Eles nem me cumprimentaram, e não era como se eu quisesse, mas sei lá, estavam na minha casa, mas tudo bem.
Todos pareciam tão encantados com a possibilidade do meu marido ser decapitado ou perder uma perna na droga da guerra que era mágico ver como para eles, a vida dele valia menos que uma medalha velha que ficaria empoeirada no fundo de uma gaveta, jamais exposta na minha casa.
“O que houve Meg?” – disse Luke se aproximando
“Eu preciso pegar um ar” – eu disse abruptamente
“O cigarro... eles estão escondidos na casa de passarinhos”
“Você sabe bem que eu não fumo Luke”
“Só foi um aviso”
Ele me conhecia tão bem que me dava náuseas.
Saí para fora e a primeira coisa que eu fiz foi acender um cigarro, no meio de uma noite fria ele parecia até mais saboroso, como se tirasse o meu estresse com as mãos.
Uma silhueta se aproximava no escuro da noite, e eu estava tão absorta em meus pensamentos que eu nem percebi a semelhança.
“Aqui é a casa do Luke Fitch?” – disse um homem alto, cabelos castanhos eram uma surpresa, o olhar despreocupado e os olhos azuis deixavam claro quem ele era.
“Você é o irmão do meu marido” – eu disse sem encará-lo muito.
“Você é a tal Julie?” – ele sorriu
“Sim, desculpa a falta de educação – eu estendi a mão para ele – só é uma noite muito estressante para mim.
“Eu entendo, saber que o seu marido vai ser a única barreira entre dois exércitos e seus armamentos de merda não ajudam em nada a ninguém”
“Você sabe então”
“Sim, Luke me contou, por isso estou aqui, preciso ao menos convencê-lo a não ir, se eu tiver sorte, você terá o seu marido com todos os pedaços dele até o fim da sua vida”
Ele me ofereceu um sorriso e finalmente entrou na minha casa.
Todos os músculos do meu corpo estavam tremendo, a firmeza com que Ethan falou do meu maior medo era admirável, embora eu não acreditasse que ele conseguiria convencer o meu marido teimoso de ficar em casa eu joguei o cigarro fora na mesma hora e entrei logo atrás dele, se ele conseguisse eu seria eternamente grata.“Ethan!” - gritou Luke e logo se levantou para dar um abraço no irmão, dava para ver a conexão deles apenas por aquele gesto.- Olá irmão suicida! – disse Ethan debochando da cara do irmão – ainda bem que te peguei vivo!Eu não podia deixar de sorrir, o cara falou o que eu queria gritar a plenos pulmões sem nenhum problema.Ethan era um tipo atlético, tinha o cabelo maior do que o do irmão, apesar dos olhos iguais as personalidades eram avessas, dava para ver no rosto dele, em suas expressões e principalmente na forma despreocupada como ele parecia agir com a vida.- Não começa Ethan! Você mal chegou e já está caçando uma confusão! – disse o meu sogro com uma cara de pouc
Nos sentamos no jardim, e eu juro que não demorou nem dez minutos para entender o motivo pelo qual o tal Ethan não tinha uma grande amizade com o irmão.O cara era um tremendo de um idiota.E ele nem disfarçava a arrogância.- E então, o que vocês fazem aqui em Deus me livre? – disse ele sempre se dirigindo ao irmão, como se eu fosse apenas um fantasma assombrando uma conversa totalmente privada.- Não fala assim, eu adoro isso aqui! Eu amo minha vida Ethan! – disse Luke- Você poderia ter sido grande Tom, poxa irmão, você faz cálculos matemáticos mais rápido do que uma calculadora, e escolheu ficar aqui nesse fim de mundo por absolutamente nada! – disse Ethan, eu nem sabia o que ele fazia da vida, nem como ele vivia, mas as críticas a nossa bolha perfeita de vida estavam me incomodando demais.- Eu tive um motivo muito bom para ficar aqui... como é mesmo que você disse? – debochou Luke- Deus me livre! – disse Ethan rindo- Isso mesmo, tive um ótimo motivo para ficar aqui! – ele deu
Eu subi as escadas irritada, batendo os pés e sentindo um frio percorrer toda a minha espinha, aquela era uma sensação tão diferente para mim. Eu não sabia lidar com as minhas emoções direito, parecia uma adolescente ansiosa.Eu me deitei na cama e fiquei encarando o teto, vendo a noite toda passar diante dos meus olhos sem nem sequer considerar pregar os meus olhos, tudo o que estava dentro de mim era ódio, como ele tinha o direito de criticar a vida que eu e Luke polimos com tanta verdade por todo esse tempo?Eu poli com perfeição a rotina da minha vida, eu era uma esposa, eu era uma pessoa invejada por aquele pequeno bairro pelo menos.Eu passei a noite em claro, quando Luke acordou ele me deu o beijo mais doce do mundo e eu sabia que toda a palhaçada e ansiedade da noite passada era só provocação de alguém triste, eu nem deveria levar em consideração.Pelo menos eu estava tentando me convencer disso fortemente.- Vamos levantar...E apaziguar a família Flitch?- Está se referindo a
Eu estava morrendo de medo do que poderia acontecer, eu tinha medo do quão longe poderia ir à quantidade de química que havia ficado na minha pele desde que Ethan me tocou.Aquilo era um crime.O meu marido ia para a guerra e não havia nada a ser feito nesse caso a não ser chorar compulsivamente sobre todas as coisas.- Julie, eu não disse que resolveria as coisas para você? eu já tomei as minhas decisões, já deixei tudo esquematizado! – disse Luke olhando na minha cara como se eu fosse uma tremenda de uma maluca.- O que você deixou arrumado Luke? Me diga! Acho que é mais fácil assim, onde estão os papéis do nosso seguro feito para funerais? – comecei a andar pelo cômodo mexendo em todas as gavetas, tentando fazer alguma coisa com a minha frustração.- Julie, para! Olha para mim! – disse ele segurando o meu braço bem forte, olhou nos meus olhos mais uma vez e sussurrou – se acalme! Respira fundo!Luke levou mais 4 meses para partir para a guerra, Ethan levou apenas uma semana após es
Eu subi naquela moto pensando em tudo o que eu havia perdido, mas por dois segundos apenas, quando o vento bateu diretamente no meu rosto e eu pensei que minha vida poderia ser diferente da caixa onde eu havia vivido nos últimos meses, eu só precisava colocar a minha cabeça no lugar.Mas a tristeza não deixava, ela apertava o meu peito mais do que eu pretendia!Quando chegamos na porta daquele bar imundo na saída da cidade eu respirei fundo três vezes antes de entrar, uma moça de família JAMAIS faria algo assim.- Tudo bem Julie? – disse Ethan me olhando de cima abaixo.- Sim é só que eu nunca entrarei em um lugar desses – eu disse um pouco sem graça.- Sim nunca pensou também que o seu marido fosse morrer, não é? A situação é essa... Vai entrar comigo e tomar um porre ou não? – disse ele sendo o mesmo chato incisivo com tudo que eu havia conhecido e desgostado no mesmo segundo.- Eu entendi, dá para parar de jogar a morte do seu irmão na minha cara? – eu disse olhando em seus olhos
Eu não pensei em nada, não havia o que pensar, só havíamos nós dois. Uma noite quente, um rio e nossos corpos se tocando.Quando senti o primeiro gemido alto escapando da minha boca eu sorri sem perceber, a tempo de sentir os dedos de Ethan dentro de mim me instigando, me perseguindo, me tirava do eixo me levava ao inferno de tanto calor.Olhei dentro dos olhos dele e ele mordeu os meus lábios me olhando como o próprio diabo, tirou a mãos de dentro da minha buceta para segurar forte o meu cabelo ainda olhando para mim.Eu conseguia sentir a ereção dele roçando enquanto ele me beijava chupando os meus lábios e me invadindo com sua língua deliciosa.- Você quer que eu pare? – falou mais ofegante ainda- NÃO! – acredito que foi o não mais sonoro que eu já falei em toda a minha vida. Era um não desesperado um não cheio de desejo e tesão, um não que saiu do fundo da minha alma para a minha garganta.Aquele não foi o que abriu as minhas narinas para eu respirar.Ethan me soltou apenas para
Eu esperei a semana inteira por uma ligação de Ethan.Eu não sabia os meus motivos, eu não entendia as minhas limitações e o luto me pegou em cheio.Eu fiquei deitada tomando sorvete e olhando em volta, sentindo aquele vazio existencial.O vazio pelo Luke a culpa por ter transado com o irmão dele sem nem ter conseguido enterrar o seu corpo.Todas essas informações iam se concentrando na minha cabeça ao ponto de me enlouquecer.Eu o mandei embora.Eu tinha que ter isso muito claro na minha cabeça, eu não tinha nenhum direito de estar pensando em todas essas coisas e ainda por cima me fazer de vítima.Eu me coloquei na posição de vilã, que era o que me competia naquele momento.Minha campainha tocou, e eu me levantei sem jeito arrumando o meu coque horrível e tentando limpar pelo menos um pouco das remelas grudadas no meu olho misturadas com o meu choro.Eu abri a porta lentamente, era como se eu tivesse esperança de encontrar algum presente ali.- Ah meu Deus – disse Olívia olhando nos
Eu me apeguei aquilo, tomei um banho e fui enfrentar com coragem o que minha mãe estava fazendo, eu não consigo explicar, a fúria que cresceu dentro de mim quando soube daquela homenagem ridícula era tão forte que eu podia facilmente matar alguém.- Vamos – disse minha prima, apressada para um escândalo da família que não foi ela quem causou.- Eu só estou passando um rímel, estou com cara de doente.- Esse rímel, é só para enfrentar a sua mãe ou é por conta do irmão gosto do seu marido morto?- Para com isso, estou indo honrar a memória do Luke! – eu disse entredentesEu sabia que era mentira, Luke adorava esse tipo de holofote e só isso justificaria que ele fosse atrás de uma maldita farda.Honra, justiça e todo o blá blá blá que ele falava incessantemente com o meu pai e com o pai dele ficavam em primeiro lugar. Ele teria adorado saber que penduraram uma maldita bandeira com a foto dele em algum quintal, mas eu ia ignorar esse fato.Eu pensei sobre o orgulho dele com aquela situaçã