CAPÍTULO 4 – EDWARD... EDWARD PETROV
A principal característica de uma viagem de navio é atracar em portos diferentes por algum breve (ou não) momento e seguir viagem. A programação de viagem pode levar dias ou semanas, dependendo do fluxo marítimo.
Uma viagem da Itália para os Estados Unidos levava algumas poucas semanas e as paradas em portos praticamente não existiam, pois não havia países na rota. Com poucas paradas, balanço do navio e quebra de ondas no casco, além da alta aceleração das turbinas, era comum ver pessoas com sintomas associados a náuseas, fadigas, tonturas e vertigem visual. No caso de Antonella Montanari, o único sintoma era apenas seu choro. E vergonha. A todo momento seu marido soubera da verdade da paternidade de Bella e resolveu guardar para si. Mas porquê? Agora, ela sabia que Flaco convivia diariamente com a certeza que não era pai do seu próximo filho. Na verdade, Flaco não sabia de toda a verdade. Desde a consulta com o Dr. Desmond Hills, no hospital, soubera da sua anormalidade hormonal e cromossômica: sua contagem de espermatozoides era muito inferior à considerada normal. Quando Flaco teve ciência da sua incapacidade sexual, sua cabeça explodiu. Não sabia o que fazer. Nunca acontecera de um Montanari ser infértil, e os homens da família se gabavam por isso. Ele não sabia o que fazer e tinha medo de ser expulso da família, além de perder o sobrenome, pois não iria conseguir ser o protetor e o provedor da sua casa. Não podia contar a ninguém. Seria visto por todos como um homem fraco. Resolveu então guardar aquela angústia só para si, escondendo de todos, até da própria esposa. Deixou-a pensar que ele não sabia da verdade. Ele também implorou para que o Dr. Desmond Hills jurasse que não contaria a verdade a ninguém. A infidelidade de Antonella partira seu coração. Como amava aquela mulher! Passou a vê-la com desdém e nojo, como mulher do mundo barata. Por qual motivo ela o traíra? Não o amava? Ou nunca o amou? Flaco adentrava as noites, martelando esta pergunta na sua cabeça, sem resposta. Não, absolutamente não entendia a atitude de Antonella. Mas agora, rumo a outro país e mirando um novo futuro para sua família, tudo mudara. No passado, Flaco absorveu para si todas as consequências dos atos de infidelidade de Antonella e, talvez, pensando no bem estar da sua família, sua posição não mudasse, e tudo continuaria do jeito que estava. Entretanto, com a notícia da nova gravidez de Antonella e, sobretudo, a certeza que não era o pai do novo filho da sua própria mulher, precisava conversar com ela. O mínimo direito que poderia ter era em saber quem eram os pais das crianças. Após o café da manhã, onde mais uma vez Antonella não aparecera, pois pedira para a camareira deixar na porta do seu quarto, Flaco subira para os seus aposentos. Bella estava com as outras jovens na aula de piano, umas das coisas dentre tantas disponibilizadas no navio para passar o tempo e atenuar o tédio. Era o momento perfeito para uma conversa séria, e Flaco iria aproveitar disso. Ao abrir a porta do quarto, viu Antonella sentada no sofá, chorando, com os olhos inchados e vermelhos, segurando uma almofada. Já haviam se passados 6 dias que não se falavam, desde que ela o avisara da gravidez. Chegou perto da sua mulher e sentou no sofá à sua frente, para que pudesse ter uma conversa olhando nos seus olhos. - Antonella - começara Flaco – acredito que este seja um bom momento para conversarmos, depois de muitos anos. Antonella não disse nada. Ficou ainda mais trêmula, pois não sabia o que o marido, àquela altura, fosse capaz de fazer. Ele era um bom homem, e tinha um bom coração, mas naquela situação parecia ser imprevisível. - Bem – retornara Flaco – Deve imaginar o tamanho da decepção que carreguei no meu coração por todos esses anos. Passei e aprendi a conviver com a angústia, a dor e a incapacidade... tudo isso, Antonella... tudo... sempre deixou meu coração despedaçado. Olhou para Antonella. Ela ainda não esboçara nenhuma reação, além do choro. Era angustiante vê-la assim, mas precisava terminar aquilo de uma vez por todas. A tremedeira de Antonella era algo que estava-o deixando incomodado. No início, estava muito paciente, mas diante da passividade de sua mulher, a fúria já estava se aflorando. - Estou sendo com você o mais paciente possível. Eu não espero seu pedido de desculpas, muito menos de perdão. De você, sinceramente, não espero mais nada! - Olhou para ela. Ela contraiu mais ainda a almofada contra a barriga – Você está me ouvindo? Antonella continuava inerte, apenas chorando e segurando a almofada fortemente – Neste momento, Flaco se curvou mais à frente, o que fez Antonella sentir a respiração quente de Flaco. Ele estava extremamente furioso. - Vagabunda! - gritou-lhe Flaco - Prostituta de merda! Eu estou falando com você! Ouviu? Com você! Antonella segurou ainda mais a almofada. - Eu quero saber quem são os pais das crianças! Durante todo este tempo, sua imunda, guardei o seu segredo comigo, mas agora você vai me falar! - Aproximou mais de Antonella e segurou-lhe os braços com as duas mãos - Fale! Fale sua merda! Neste momento, vagarosamente, Antonella olhou para Flaco. Seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar e soluçar. Ele estava completamente destemperado, nunca tinha-o visto daquela forma, parecia um lobo faminto. Depois de alguns segundos segurando os braços de Antonella com todas as forças e um silêncio ensurdecedor, Flaco ouviu um clique. Ainda segurando Antonella, olhou para baixo. O que era uma almofada, agora via-se uma pistola Taurus, calibre 7.65. - Afaste-se de mim – sussurrou Antonella. Completamente atônito, Flaco foi soltando Antonella e voltando ao seu lugar no sofá. Aquela posição de superioridade feminina o deixou completamente desarmado e desprevenido. Antonella apontava a arma em sua direção. Devagar, começou a subir o cano da para sua cabeça. - Flaco... - disse ela - Não vou gastar esse tempo pedindo desculpas... Mas você merece sim... saber a verdade. Flaco percebeu que Antonella colocara o cano da arma na orelha direita, mas ela estava muito trêmula. - Antonella, não faça nenhuma besteira que.... Ele não sabia o que fazer ou o que falar. A ira tinha dado espaço para incredulidade, o clima estava péssimo e pesado. Mas estava muito decidido em saber quem eram os pais dos seus filhos, independente de qualquer coisa. Depois disso, ela poderia morrer. - Eu... só preciso saber os nomes dos pais. Só isso. Você diz os nomes, abaixa essa arma e está tudo certo. Ficará tudo bem, meu amor. Tudo voltará a ser como antes... Ela sabia que ele estava mentindo. Nada voltaria como antes. Não mais. Depois de muito pensar, Antonella decidiu falar. Ela sabia que, o que iria dizer, trariam consequências devastadoras. - Flaco... - Sim.... Sentia que não adiantava fazer rodeios. Estava cansada daquela batalha, há anos. Precisava terminar aquilo de uma vez por todas. Então, soltou: - Ed... – conseguiu dizer, sob prantos, Antonella. Flaco entendeu. Seus olhos escureceram de vez. - Antonella.... - sussurrou Flaco, trêmulo - Antonella, por tudo que há de mais sagrado, complete o nome.... Neste momento, Antonella sentiu vontade de morrer. Pela vergonha, pela pressão que lhe era imposta, por tudo. Mas ela sabia que devia esta resposta a Flaco. Na verdade, Flaco tinha direito de saber de toda a história. Respirou fundo e disse: - Ed... Edward - olhou nos olhos de Flaco fixamente - Edward Petrov. Imediatamente ouviu-se um disparo de armaCAPÍTULO 5 - MÁFIA E MILANOS Enquanto tomava seu uísque 18 anos sozinho no seu quarto escuto, sentado na sua poltrona de couro, em Roma, ele pensava. Respirava fundo, para sentir o ar romano adentrando nas narinas. Como era bom voltar a Roma depois de tantos anos! Claro, em grande estilo e com grandes propósitos. E totalmente mudado Retirou do bolso do seu terno fino seu relógio de ouro com ponteiros de diamantes. Meia-noite. O horário dos lobos. E ele era um, claro. Estirou as penas, deu outro gole no uísque. Não sabia o quanto Roma lhe fazia bem. Mas sabia o quanto, no passado, lhe fizera mal. Muito mal. Recostou a cabeça na poltrona e pensou no seu passado, em algumas coisas que aconteceram na sua vida, até chegar ali, no luxo, na riqueza. E no poder. Ele estava pensando nas noites frias nos subúrbios de Roma. A escuridão do beco lamacento onde vivia não condizia com o luxo do centro da cidade. Lá, apenas ricos, católicos bem sucedidos e gente de sobrenome andavam pelas ruas
CAPÍTULO 6 O porto da Cidade de Nova York está situado na foz do Rio Hudson, desaguando na Baia de Nova York. Este é o porto que recebe mais fluxo de petróleo dos EUA, tem uma grande importância na economia do país, pois tem também grandes transações de importação e exportação através de contêiners e também recebia diversos imigrantes italianos, dentre estes, a Família Montanari. Todos já conheciam os Montanari. Todos. Não tinham como passar despercebidos, principalmente depois que Antonella.... Quando o navio atracou, fazendo um grande barulho com as sirenes, representando os boas-vindas aos recém chegados, Flaco foi um dos primeiros imigrantes italianos a descer a escada de desembarque, segurando a mão direita de sua filha, Bella. Filha? Bem... - Papai? - Flaco olhou para o lado. Era Bella chamando-o. Antes que dissesse alguma coisa, ele ficou olhando para ela. Era completamente estonteante. Enquanto descia a escada de desembarque, Flaco pensava: "estou segurando a mão da fil
CAPÍTULO 7 - O MALFEITOR- Como é que é? - dissera Flaco a Belle. Os pensamentos de Flaco estavam voando muito longe dali. De alguma forma, esquecera completamente da própria mulher. Haviam se passados três dias desde que Flaco tivera aquela conversa com Antonella. Três dias que vira sua esposa tentar tirar-lhe a própria vida. Por sorte, ao puxar o gatilho, a única bala que tinha no tambor da arma disparou, mas pegou de raspão na nuca de Antonella, e parou na parede de madeira ao lado, ocasionando um grande buraco, com vários estilhaços em volta. O barulho do tiro foi tão alto deixou todos a bordo preocupados. Ocasionando um grande momento de pânico a bordo. Quando um dos componentes da tripulação apareceu no quarto dos Montanari, se deparou com Antonella aos prantos e um Flaco estagnado pelo medo. Flaco não poderia dizer o que realmente aconteceu a ninguém, caso contrário, isso acarretaria falar a verdade: o motivo da sua discussão com Antonella e o porquê do disparo.
CAPÍTULO 8 – MEDO DO ESCURO A nictofobia se trata de dois compostos: medo + escuro. Pode ser reconhecida como fobia, pois é um sentimento de pânico ou ansiedade e, em alguns casos específicos, avançados ou não, as pessoas têm medo do que pode ocorrer com elas ou o que pode inesperadamente aparecer, justamente por não conseguir ver. É o popular medo do escuro. E era justamente esse medo exacerbado do escuro que estava matando Antonella Montanari aos poucos. O que a bala não tinha conseguido fazer, há dias atrás, naquele súbito momento que tentara cometer suicídio, a escuridão estava dando conta. Sentia-se completamente abandonada por todos, especialmente pelo marido. Sozinha, grávida, abalada, no escuro, passando frio e fome. Sim, fome, pois a péssima comida que davam para ela não era suficiente para sustentar duas pessoas, ela e o bebê. Antonella via a luz do dia apenas por uma pequena janela do quarto escuro. Quando anoitecia, dava para contar as estrelas e ver a lua. Sem tom
CAPÍTULO 9 – NEGÓCIOS SÃO NEGÓCIOS....COMO ANTONELLA CONHECEU PETROV – PARTE I A Ilha da Sardenha é uma ilha mediterrânea ocidental, com mais de 24 mil quilômetros de superfície, considerada a segunda maior ilha do Mediterrâneo, perdendo apenas para a Sicília, na Itália. A maior parte da costa é rochosa e alta, e o território é praticamente construído por colinas e montanhas. Famosa pelas suas águas cristalinas, abriga as lindas ruínas da Idade do Bronze. Recebia vários turistas de todo o globo em todas as temporadas do ano. É lindíssima, indiscutivelmente. Um verdadeiro paraíso na terra. E foi nessa ilha que a pequena Antonella Mizzi nasceu. O seu pai, um conhecido e nobre comerciante de alto renome, e sua mãe uma professora exemplar de geografia em uma escola particular, apenas para os ricos da região. Sempre fora filha exemplar, dedicada aos estudos e obediente aos pais. Uma filha perfeita e muito popular em toda a soxiedade, especialmente na igreja e na escola. Por ser um gr
CAPÍTULO 10 – A GARANTIACOMO ANTONELLA CONHECEU PETROV – PARTE IIO dia que Antonella Mizzi conheceu o grande Mafioso Edward Petrov foi inesquecível. Na verdade, terrivelmente inesquecível. Para ela, claro.Quando Gio Mizzi conseguiu a autorização do governador – o que fora extremamente fácil, pois a quantidade de dinheiro envolvida era absurda até para ele mesmo - os envelopes contendo o dinheiro dos empréstimos chegaram à sua mesa rapidamente, como num piscar de olhos – sim, Gio Mizzi não tinha conta bancária, pois não confiava nos bancos – e ele logo se apressou a comprar seus novos terrenos. Contratou grandes profissionais, como arquitetos, engenheiros, urbanistas e pedreiros. Dentre eles, ele pôde se dar ao luxo de contratar Giuseppe Biancchi, um dos maiores engenheiros civis da Itália, que ficaria responsável por todas as obras. Seriam 6 novos luxuosos hotéis, todos na Ilha da Sardenha e Gio Mizzi estava radiante, principalmente por poder contar com um profissional tão renomado
CAPÍTULO 11 – “O SENHOR É UM HOMEM F***!!!!”COMO ANTONELLA CONHECEU PETROV – PARTE IIINo dia seguinte ao acontecido das notas falsas, muito antes do sol nascer, o hoteleiro Gio Mizzi foi tirar satisfação com o grande mafioso Edward Petrov.No fundo, ele sabia que tinha sido uma jogada muito inteligente por parte do criminoso. Mas, de qualquer forma, ele estava arruinado! E tudo por culpa do Petrov! Como não sabia onde encontrá-lo, foi no terreno da praia que conseguira com o governador para que o mafioso pudesse construir sua grande mansão. Gio Mizzi estava extremamente apreensivo. Além de ter dado a própria filha Antonella Mizzi como garantia no empréstimo que fizera com Edward Petrov, ele pagara todos os funcionários com dinheiro falso! E o pior: o próprio governador havia recebido o mesmo dinheiro! Quando a história das notas falsas se espalhasse por todos os quatro cantos, ele podia se considerar um homem morto. A não ser que o líder a Máfia Edward Petrov o matasse antes que t
CAPÍTULO 12 – PONTE DAS PIRANHAS COMO ANTONELLA CONHECEU PETROV – PARTE III(CONTINUAÇÃO)Muito lentamente, Gio Mizzi falou para Edward Petrov. - Senhor Petrov, somos homens de negócios e... - Eu sou, senhor Mizzi! Eu sou um homem de negócios! Você não! Você não calculou os riscos desta transação. Colocou sua ganância pessoal acima da razão. Não usou sua inteligência o suficiente e acreditou no primeiro conto de fadas que coloquei nos seus ouvidos sujos de merda! Você só pensou em si mesmo quando, na verdade, no mundo dos negócios, é preciso olhar todas as vertentes, todos os ângulos e todos os fatos! Você se atrelou a um criminoso, o que esperava, seu filho da puta?Edward Petrov parou de olhar para Gio Mizzi. Deu alguns passos para trás, olhou para praia e ficou de frente para ela. Abriu os braços e fechou os olhos.- Petrov... - Gio Mizzi não o chamava mais de “senhor” - estou aqui para reverter a situação... Ainda de olhos fechados, o mafioso abriu um enorme sorriso, satisfe