Saí daquele escritório correndo feito uma louca. Meu coração estava disparado com meu ato insano. Eu não voltei para o interior da boate, pois sabia que seria contida pelos seguranças do maldito filho do Capo. Arrisquei por um corredor em sentido oposto por onde tinha entrado carregado por Mikhail.
Saí correndo pelas docas de mercadoria quando avistei um paredão que cercava toda a área, isolando-a da vista da rua. Sem pensar nas consequências do meu ato, retirei minhas sandálias, subi em um dos containers encostado ao muro, dei um impulso em meu corpo e com uma força que eu nunca imaginava ter consegui pular.
Tentei descer do outro lado da rua de uma forma menos perigosa, mas falhei e caí em cima do teto de um carro, machucando meu braço. O alarme do veículo disparou, mas eu não tinha tempo para pensar. Respirei fundo, segurei meu braço e desci do carro.
Olhei para os lados e vi um táxi entrando na rua. Saí correndo e entrei em frente a ele, o motorista precisou frear de uma vez e parou a centímetros de mim.
— Está louca, garota? Quase te matei.
— Moço, me leva embora, por favor.
— O que você aprontou, hein menina?
Ele permaneceu me olhando desconfiado e então resolvi usar o nome do meu avô.
— Não aprontei nada, mas se o senhor me levar em casa, vai ganhar a gratidão eterna do meu avô, André Cassano.
O motorista arregalou os olhos e mudou de ideia na mesma hora.
— Entre, eu te levo para casa. — Odiava usar o nome do vovô para conseguir benefícios, mas naquela hora não tinha outra opção.
Entrei pela porta de trás e gritei para ele acelerar. O carro saiu em disparada. Só voltei a respirar, depois de alguns minutos sem estar sendo seguida.
Fechei meus olhos, respirei fundo para tentar acalmar meu coração.
Precisava pensar rápido, eu não podia chegar em casa com a camisa amarrada de um jeito indecente, sem sandálias e com arranhões nas coxas. Minha única saída era ligar para minhas amigas e torcer para elas terem chegado em casa. Procurei minha bolsa pelo banco do carro e não encontrei, então me lembrei de tê-la deixado com Ruby quando subi no balcão do bar.
— Que merda, só faltava esta.
— Falou comigo, moça? — Ouvi a voz do motorista do táxi, olhei para frente e me deparei com ele me olhando pelo retrovisor.
Talvez aquele homem com jeito paternal pudesse me ajudar.
— O senhor pode me emprestar seu celular? Preciso falar com minha amiga.
Ele me entregou o aparelho e sorriu satisfeito. Aquele era o efeito que meu avô causava nas pessoas. Todo mundo queria estar na lista de favores do grande André Cassano.
A minha sorte foi ter números semelhantes com os das minhas amigas, caso contrário, não saberia como falar com elas sem procurar seus nomes na agenda. Quando eu, Ruby e Elisa compramos nossos celulares, escolhemos combinações iguais, somente com o último número diferente.
— Ruby, pelo per l’amor di Dio, me diga que não está em casa.
— Luna, sua doida, onde você se meteu? Por que fomos interrogadas por um Mikhail Venturilli muito nervoso?
Puta merda, meu coração disparou só de ouvir o nome daquele belíssimo stronzo.
— Não tenho tempo de explicar agora, Ruby. Só me diz onde estão?
— Espera, a outra maluca quer falar com você. Dio mio, por que insisto em andar com vocês duas?
Minha amiga era um doce de pessoa, era tímida e centrada, muito diferente de mim e Elisa. Não consegui falar nada, porque logo em seguida os gritos dela tomaram conta da ligação.
— Lunaaaaaa, PARAAA TUDOOO. O QUE VOCÊ FEZ COM AQUELE HOMEM LINDO E BABACA?
Meu Deus, estava difícil conseguir a informação que eu mais precisava.
— Escuta-me, Elisa. Eu preciso me encontrar com vocês antes de chegar em casa. Onde estão?
— Estamos seguindo para a minha casa. Ruby avisou aos pais que vai dormir in my house. Sua bolsa está conosco e seu celular com milhões de mensagens da sua mãe. Não abrimos nenhuma. O que você quer fazer?
Eu precisava responder minha mãe, antes dela colocar todos os seguranças da família atrás de mim. Nós só conseguimos sair sem eles, porque eu garanti a ela estar junto dos homens do pai da Elisa. Ela só me deixou sair porque disse que seria como uma despedida da minha vida de solteira.
Claro que era mentira, nós estávamos sozinhas por nós mesmas. Elisa enganou o segurança dela e fugimos. Estava cansada daquela vida de vigilância vinte e quatro horas.
— Abra as mensagens dela e diga que vou dormir na sua casa, porque precisamos estudar para uma prova da faculdade. — Ouvi a gargalhada da minha amiga, revirei os olhos e respirei fundo.
— Eu não estou brincando, entendeu, Elisa?
— Calma, aí, nervosinha. Estamos te esperando na esquina da minha rua. Não demore.
Desliguei a ligação e pedi ao motorista para mudar o trajeto. Percebi ele me observando durante todo o tempo da ligação, mas não queria assunto com um desconhecido, então eu fechei os olhos e encostei a cabeça no vidro da janela.
Enquanto o carro seguia sentindo meu novo destino, relembrei da minha loucura com o homem mais odiado da minha família. Eu sempre o achei lindo. Desde o dia da inauguração da boate, quando ele estava recebendo os convidados com uma loira estonteante ao seu lado.
Naquela época eu só tinha dezoito anos e era cheia de sonhos.
Bastou dois anos, para eu descobrir que o mundo era feito de desilusões. Saí dos meus devaneios turbulentos, quando o táxi parou e vi minhas amigas ansiosas me esperando. Saí do carro, fiz um sinal com os olhos para elas esperarem, peguei minha bolsa e paguei o taxista.
Quando o carro saiu, elas pularam em cima de mim em um abraço coletivo. Somente naquele momento, percebi o quanto estava tensa e desabei a chorar. Elas conheciam meu drama e por isto, não fizeram perguntas.
Andamos até a casa da Elisa, fomos recepcionadas pelo seu segurança, que entrou na frente dela com os braços cruzados e a encarou com um jeito feroz.
Luigi era um homem lindo, tinha quase dois metros, loiro e com olhos azuis escuros violentos. Eu tinha certeza de que ele era louco por minha amiga, mas ela fingia não perceber.
Com uma expressão assassina, ele abriu a boca para falar, mas foi interrompido por minha amiga abusada que deu um beijo em sua bochecha, perto da boca e o provocou.
— Desfaz o bico, amore mio. Você me conhece. Estou inteira, sem nenhum arranhão. Pode ficar tranquilo, o papai não saberá que sua filhinha fugiu do segurança dela.
O homem bufou, saiu de nossa frente, nos dando passagem.
Entramos em silêncio rumo ao quarto de Elisa, não precisávamos de mais problemas naquela noite.
Quando chegamos lá, fui interrogada por elas. Contei tudo o que havia acontecido até aquele momento e ao terminar minha narrativa, me deparei com as duas com olhos arregalados me olhando.
— O que foi? Vão ficar me olhando sem falar nada? Eu não me arrependo, se isto importa a vocês.
Ruby respirou fundo, balançou a cabeça para os lados e veio com seu sermão.
— Você deve ter um parafuso a menos, Luna. Como faz uma loucura desta e com um desconhecido?
Olhei para ela, dei um sorriso safado e sem nenhum remorso, a respondi.
— Faria tudo de novo. Aliás, eu vou terminar o que comecei, ou não me chamo Luna Cassano.
Depois de conversar com as amigas da senhorita Encrenca, resolvi terminar minha noite. O que parecia ser somente um dia de folga para jogar cartas com os amigos, acabou virando uma cena da ópera italiana.Odiava ter meus planos mudados por questões externas, inclusive, com tanta incompetência.O manobrista trouxe minha menina, apelido carinhoso dado ao meu Range Rover SV.Quando entrei em meu carro, acionei o som no último volume, ouvindo Good Times do Ghali e acelerei pelas ruas da Sicília.Velocidade era o meu fraco, e por isto, investia muito dinheiro na fórmula um. No último ano havia me tornado um dos sócios da maior equipe da Itália: a Ferrari.No início meu pai não acreditou no meu investimento, mas bastou o primeiro ano para recuperar tudo e dobrar meu capital investido.Quando cheguei em casa, a adrenalina ainda circulava veloz em meu sangue, por isto resolvi passar pela nossa academia. Morávamos em uma mansão na Sicília, cada família com sua ala separada. Precisava gastar mi
Depois de conseguir aplacar a curiosidade das minhas amigas, resolvemos dormir. Bastou ficar em silêncio no escuro, para as lembranças de pior dia da minha vida vir à tona.Ter sido enganada pelo homem o qual eu sempre sonhei em me casar, acabou com meus sonhos de casamento de princesa. Desde o meu nascimento, fui prometida para o filho de um dos empresários mais poderosos da Sicília, além de seus negócios terem ramificações com os do meu avô. A junção das duas famílias seria benéfica para ambos.Eu estava com vinte anos e Otaniel com vinte e quatro. Ele era lindo, carinhoso, mas sempre me tratou como se fosse uma peça de cristal.Sempre achei lindo o modo com o ele se relacionava comigo, me sentia protegida e segura.Às vezes eu me arrumava com roupas mais sedutoras e me jogava para cima dele sem nenhum pudor, mas estranhava a falta de entusiasmo dele. Quando eu o questionava, a resposta era sempre a mesma:— Cara mia, rispetto la tua famiglia.Confesso que me sentia frustrada, mas a
Ele estava morando no condomínio de casas onde iriamos morar depois do casamento, aquele lugar foi escolhido por mim, pois parecia o castelo das minhas histórias infantis. A decoração externa era suntuosa e planejada para causar a impressão de um conto de fadas.O interior do meu lar tinha sido decorado conforme meus desejos, a arquiteta havia acertado em todos os detalhes. Quando cheguei a recepção do meu luxuoso condomínio, parei o carro na guarita e cumprimentei nosso porteiro.— Boa tarde, Donato. Como o senhor está?— Boa tarde, senhorita Luna, estou bem. A coluna do senhor Otaniel está melhorando? — Não entendi o que ele quis dizer.— Coluna? — Eu o olhei sem entender.— Sim, a fisioterapeuta dele acabou de chegar. — Senti um baque no coração, mas resolvi entrar na dele.— Ah, sim, claro. Desculpe-me, ando com a cabeça nas nuvens. Espero que ela esteja cuidando bem dele e não falte com o compromisso.— Pode ficar tranquila, a senhorita Camilla, vem todos os dias. O senhor deu um
Desde aquela noite, quando dei a notícia do fim do meu casamento em pleno jantar de família, minha vida virou um inferno. Mamãe foi ao meu quarto quando foi liberada por meu avô e me encontrou aos prantos debruçada em minha cama.— Oh minha filha, eu já te disse mil vezes sobre não conversar certas coisas em frente ao seu avô, você o conhece.Levantei a cabeça e olhei para ela com mágoa.— Conheço sim, um monstro sem coração. Eu não sou mais a criança bobinha que o vovô mandava.— Meu amor, ele é o Capo de nossa família, nós devemos respeito a ele.— Mamãe, respeitar é uma coisa, ser propriedade dele é outra. Eu não vou aceitar ter minha vida destruída por um negócio dele.Mamãe respirou fundo e depois me pediu para contar tudo a ela. Eu me sentei na cama, limpei meu rosto e depois com calma expliquei tudo o que vi, sem esquecer nenhum detalhe.Quando terminei meu relato, ela puxou o ar e o soltou pela boca. Depois mordeu os lábios, pensando antes de falar. Eu conhecia minha mãe, ela
Meus dias eram bastante ocupados, eu não tinha tempo para pensar, mas bastava dormir para aquela mulher louca aparecer em meus sonhos.A Senhorita Encrenca deu uma bagunçada no meu sistema, mas eu estava me esforçando para esquecer aquela noite. Eu a empurrei para o canto das minhas memórias e segui no meu ritmo de vida.O mundo dos negócios andava atribulado, porque havia um boato rolando sobre a saúde mental do Capo dos Cassano. Todo início desemana, nós nos reuníamos para passar o relatório dos negócios e planejar a semana.Estávamos eu, meus primos e tios no escritório junto ao meu pai, quando eu contei a história do Capo estar com um parafuso solto.— Segundo as bocas sedentas por fofoca, o vecchio está queimando os fusíveis e ficando doido.Meu pai tirou seu charuto da boca e com sua voz rouca se pronunciou:— Honestamente? Para mim este homem nunca foi normal.— Eu sei, papa, mas agora parece ser grave. Se for verdade, podeser bom para os nossos negócios.Diego ficou de pé, s
Enquanto as meninas mergulhavam, eu mexia em meu celular fazendo pesquisando sobre um playboy famoso na Itália. Bastava digitar o nome dele e um monte de sites famosos tinha algo a dizer sobre a sensação da Sicília.Eu não sabia bem o porquê da minha súbita curiosidade sobre aquele Putt*n*. A primeira matéria a aparecer no site de busca falava sobre Mikhail Venturilli um dos mais novos acionistas da Scuderia Ferrari.A foto o mostrava vestido em um terno de corte perfeito, o deixando mais alto e lindo. Ele estava junto ao chefe da equipe Vincenzo Carlocci e ao...— PARA TUDOOOOO... PAOLLLAAAAAA...Minha amiga saiu da piscina e veio correndo em minha direção.— O que foi sua louca? O Vaticano está pegando fogo?— Não, claro que não. Amiga, escuta o que vou ler para você.“Mikhail Venturilli , Vincenzo Carlocci e Daniel Fortes brindam o novo modelo da Ferrari a ser apresentado nesta semana pelo seu anfitrião Vincenzo Carlocci, que presenteará o mais novo acionista com o carro número 1 d
— O próprio, Ruby. Mikhail Venturilli em carne e osso e toda sua beleza e tatuagens e tudo o mais que aquele homem tem.Eu e Ruby quase caímos da cadeira e falamos juntas.— O quê? Você pode estar brincando, Elisa.— Não estou. O próprio Leandro me disse.— E por que este monte de homens de preto em volta da gente, Elisa?— Digamos que meu segurança está enciumado do meu corpo perfeito a mostra, Ruby.Enquanto elas se provocavam, eu perdi o poder de respirar. Como assim? Era coincidência demais.— Luna, Leandro me disse que eles estão acertando os últimos detalhes do evento da Ferrari.— Elisa, eu preciso ver este homem. Tem como passar pelos seus brutamontes?— Claro que sim, amiga. Acabo de perceber o quanto o sol está quente. Sigam-me.— O quê? Vocês vão sair da piscina assim? Sem colocar um roupão ou uma camisa?Eu e Elisa demos uma piscadinha para Ruby.— Claro que vamos assim. O que é belo é para ser mostrado, Ruby.Peguei o pente na bolsa da Elisa, ajeitei meus fios longos e d
Quando Daniel me chamou a casa dele para acertarmos algumas questões de logísticas do evento da Ferrari, nunca imaginei encontrar com a Senhorita Encrenca e suas duas discípulas. Para piorar a peste desbocada da amiga, era filha do homem o qual me levou para a Empresa como acionista.Precisei de muito controle para não me perder na bunda da encrenca. Meu Deus, que biquíni era aquele? Um pedaço de pano que mal cobria o seu corpo. Meu tourão ficou doido para sair de dentro da minha calça.Depois da passagem relâmpago delas por nós, perdi toda a minha capacidade de concentração.Porra, ela era uma Cassano, caralho. Eu não podia estar com aqueles pensamentos sacanas.Daniel continuou falando suas estratégias de vendas, sobre a imprensa, credenciais, shows e minha cabeça dando voltas naquelas pernas roliças e bunda redonda. Porca miséria!!!Saí dos meus pensamentos quando ouvi o celular do Daniel tocando. Ele me pediu licença para atender e saiu da sala. Eu continuei sentado tomando meu vi