Cheguei blefado, duro e ainda por cima, chamado pelo mais experiente do garimpo do rio Madeira, de brabo. Como todo recém-chegado que chega, cheguei sem saber nada de mineração fluvial, totalmente diferente do tradicional.
No rio, o principal elemento é a água e, o grande sacrifício, é enfiar a ponta da lança no fundo, por meio de um mergulho perigoso e incerto.
Nas águas lamacentas e perigosas do rio Madeira, que tem uma corrente que é um verdadeiro tormento para os garimpeiros, estão instaladas as jangadas e dragas; onde os garimpeiros vivem e trabalham.
Dos mil e quatrocentos quilômetros do rio Madeira, quase mil quilômetros são navegáveis. Nos quatrocentos quilômetros restantes entre Porto Velho e Guajará-Mirim existem cerca de vinte cachoeiras, formando uma das mais belas obras da natureza.
O rio Madeira é formado pela união dos rios Bení e Mamoré com nascentes na Bolívia.
O garimpeiro geralmente não tem capital, sua bagagem é a rede e ele carrega suas mudas de roupa na boroca, indo de um lado para o outro, atrás de uma vaga.
A arma do garimpeiro costuma ser uma peixaria que também serve para preparar sua comida.
Os olhos do garimpeiro não têm expressão, apenas angústia, refletindo cansaço e desânimo.
Ele passa, dia e dia, esperando encontrar a melhor sorte. Quando esse dia acontece, ele geralmente não tem saúde ou outros objetivos na vida; ele acaba sendo vítima de uma fatalidade ou, ele encontra a morte, em uma bala perdida.
Os homens que vão para a mineração são atraídos pela aventura, pela riqueza fácil ou pela esperança de um dia melhorar de vida.
O fascínio pelo ouro cria um clima de grande emoção e absorvido pelo trabalho, dá pouco valor à vida, colocando-a em risco a todo o momento.
O garimpeiro molda sua personalidade na coragem e no sofrimento, mostrando nas linhas bronzeadas do rosto as marcas que a vida impõe.
Ele tem sede de ouro e a ambição domina sua mente, tornando-o duro e estranho, por causa da luta por sua posse.
Depois que o governo liberou a área entre Abunã e Porto Velho para mineração, garimpeiros começaram a chegar de todos os cantos do país. O ouro foi inicialmente descoberto em Teotônio, Morrinhos, Caldeirão do Inferno, Giral, Machado, banquinho, Araras, Penha e Chocolatal. Em 1980 começaram a chegar as primeiras balsas, vindas principalmente de Itaituba e Santarém, no Pará.
As primeiras jangadas eram pequenas, construídas sobre duas canoas de madeira. O maquinário era impotente para sugar o fundo do rio e as bombas de sucção de três polegadas não davam o retorno financeiro para sua manutenção.
Em 1981 houve uma mudança no modelo da balsa. Duas canoas de madeira, de seis metros de comprimento, foram unidas por vigas e tinha cobertura. A cobertura foi feita com lona plástica. O motor se tornou Agrale, acoplado a uma bomba de cascalho de dez centímetros.
Era acompanhado de uma canoa de seis metros de comprimento com um motor de popa de 25 HP.
Com o tempo, foi acrescentada a cozinha, que consistia em uma cabana também coberta com lona plástica.
Nessa época, foram formadas as primeiras equipes de mergulhadores, compostas por três ou quatro homens. Um bom mergulhador podia trabalhar por um período de quatro anos ou até que o frio e a respiração forçada, o desgaste, com bebidas e drogas, antecipassem seu fim, trazendo-lhe em troca doenças como sinusite, bronquite asmática, tuberculose e outras.
Os equipamentos mais modernos são chamados de dragas e possuem casas totalmente equipadas, com motores ultra potentes de 114 HP MWM, com tubulação de 8 a 12 polegadas e lança que chega a 20 metros de profundidade.
Lembro que, naqueles dias em que estava me recuperando da malária, conheci algumas pessoas que viviam por conta da mineração. Entre eles conheci um paulista que já trabalhava na região há algum tempo.
Ele tinha uma caminhonete com cabine dupla, com tração nas quatro rodas adaptada. Só assim foi possível percorrer o trecho de estrada de terra entre Porto Velho e Abunã, principal pólo mineiro da época. A distância ficava em torno de duzentos e trinta quilômetros, mas demorava uns dois dias de viagem, tal era o estado da estrada, isso quando não acontecia nada com o veículo.
Logo nos tornamos amigos e ele me convidou para acompanhá-lo na próxima viagem.
Ele disse que seu nome era Felipe.
Ele era formado em administração de empresas, mas largou tudo para tentar a sorte na mineração.
Enquanto ainda estávamos nos preparando, eu estava preocupado com o ouro que recebi de Jonas e temendo que fosse roubado, perguntei onde poderia armazená-lo com segurança. O próprio Felipe me indicou o recém-criado Banco do Estado de Rondônia, para ficar com o ouro.
Tinha uma agência linda na Avenida Sete de Setembro, onde entrei e fui encaminhada para falar com o Gerente de Aplicações Financeiras.
Eu, um caçador de ouro solitário e tímido, fui colocado cara a cara com a mulher mais linda que eu já tinha visto na minha vida.
Ela parecia ter cerca de vinte e cinco anos mas, o que se destacava era sua postura e elegância.
Ela estava usando um lindo vestido vermelho, colado ao corpo, que mostrava suas belas coxas bem torneadas e um decote generoso.
Fiquei constrangido só de olhar para aquela beleza, mas quando ela viu minha timidez, deu um largo sorriso para me relaxar.
O calor da rua enchia meu rosto de um vermelho inconfundível, embora o ar condicionado aliviasse meu sofrimento.
Aproveitei o fato de ela estar organizando a papelada sobre a mesa e a observei.
Seu cabelo castanho liso ondulado solto como se tivesse vida própria. Seus olhos verdes pareciam dois faróis magnéticos que hipnotizavam qualquer um que os olhasse.
Parecia ser uma Deusa. Para mim, ela era a mulher mais bonita do mundo.
Eu não conseguia nem acreditar que pudesse existir, mas ela estava lá, falando comigo.
Ele me pediu para sentar em frente a ele e dizer o que ele queria.
Assim que mostrei o ouro, percebi que seus olhos brilharam, me deixando ainda mais encantado.
Sempre sorrindo, ele me ofereceu uma xícara de café.
Começamos a conversar e, sabendo que o único documento que tinha, era uma cópia antiga da certidão de nascimento, falou que eu precisaria tirar carteira de identidade, para também poder abrir conta corrente, já que havia perdido todas as minhas documentos.
Para um garimpeiro que se largou no mundo, que nunca teve problemas desse tipo, a simples posse de ouro já começava a criar complicações.
Cheguei a pensar em parar tudo e guardar o ouro embaixo da cama, só não fazer isso, porque queria estar perto daquela que havia despertado minha paixão.
Eu a observei e admirei sua beleza, enquanto ela tentava me explicar como proceder.
Depois de uma longa conversa, quando já estava à vontade, ela disse: - Parece que você saiu da pré-história e precisa de um bom negócio!
Não sabia se era um elogio ou não, mas percebi que havia algum interesse da parte dela.
Em seguida, ela indicou a localização do instituto de identificação, me dizendo para pegar o documento e voltar para guardar o ouro com segurança.
Até encontrar o amigo de Jonas, eu deixaria o ouro armazenado lá.
Antes de se despedir, ela pegou minha mão, quando pude sentir sua vibração e sensibilidade.
Ela tinha mãos de veludo e era tão macia que tive medo de machucá-la.
Uma onda de calor subiu pela minha espinha e fez meus olhos lacrimejarem.
Ela me pediu para trazer os documentos assim que estivessem prontos, pois ela queria me ajudar a me tornar "gente".
Decidi que faria a documentação, só para ficar com ela novamente. Enquanto ainda conversávamos, percebi que um homem esperava sua vez de ser atendido. Ele parecia impaciente com o atraso e a atenção que a gerente estava me dando. Ele certamente não gostava de mim, porque ele franzia a testa toda vez que eu olhava para ele.
Ele parecia um estrangeiro, imaginei que fosse da Colômbia, aparentando quase quarenta anos. Ele não estava sozinho, com dois outros indivíduos juntos, parecendo estar em sua segurança particular.
O clima estava ficando pesado, devido à forma nervosa com que o homem se comportava. Perguntei-lhe discretamente se o conhecia e, ela me disse para não se preocupar, pois ele era um cliente como os outros e deveria aguardar sua vez de ser atendido. Mesmo assim, fiquei preocupado porque não o conhecia.
Finalmente ela disse: - Ele é um cliente muito rico, mas é muito petulante e às vezes agressivo. Possui muitas dragas no rio Madeira e uma enorme quantidade de ouro. Ele geralmente me dá presentes, joias e todos os tipos de galanteria. Simplesmente não combina com meu gosto e o deixa muito zangada.
Decidi ir embora logo, antes que o indivíduo pudesse pensar que estava provocando, mas prometi que voltaria com a documentação.
Ao passar pelo homem, ele me olhou de tal maneira que parecia querer me devorar pelos olhos.
Para mim foi como um desafio, ter conseguido atrair a atenção da mulher mais cobiçada do local e obter a sua simpatia.
Enquanto caminhava em direção à pensão, me perguntei como a vida é engraçada; se você não tem dinheiro é como se ele não existisse, não tendo importância para nada, apenas fazendo parte das estatísticas dos flagelados.
Agora, quando você começa a apresentar riqueza, até o governo se preocupa em registrar e controlar você.
Naquela semana, passei as noites sonhando e, imaginando como era possível existir alguém tão bela como ela, perdida naquele lugar, onde a maioria das pessoas eram mal cuidadas, sofriam, iam embora ...
Acabei fazendo uma autoanálise e me envergonhei da minha situação de abandono e abandono pela vida. Senti que não tinha o direito de ser feliz, de ter um lar como as outras pessoas; ter uma profissão certa e uma vida normal.
Então me lembrei da minha família, que já deve ter perdido as esperanças, de voltar com vida, já que fazia mais de cinco anos, que eu não tinha dado nenhuma notícia.
Todo garimpeiro é assim, vive de um lado para o outro sem se preocupar com o pai, a mãe ou os irmãos, até que um dia, quando não sabe mais o que fazer, volta para casa.
Outros acabam se associando a uma mulher em algum lugar e nunca saem de lá para dar notícias, sendo considerados mortos pela família.
Poucos dias depois, recebi a documentação e tentei me vestir da melhor maneira possível para ir ver a mulher dos meus sonhos. Ganhei brilho no cabelo, comprei roupas novas e fui ao Banco do Estado. Ela estava lá, radiante como antes, usando um vestido de linho amarelo, tão lindo quanto o outro.
Quando a vi, meu coração disparou, me deixando confuso e sem saber como esconder minha emoção. Percebendo minha presença, ela sorriu amplamente e me pediu para chegar mais perto.
Ele estendeu a mão e disse: - Que bom ver você de novo! - Você trouxe o documento que eu pedi?
Depois de entregar a carteira de identidade, ela pegou um formulário para preencher, fazendo perguntas de rotina e pedindo que eu assinasse algumas vezes em um papel.
Nada daquela papelada importava para mim; apenas estar perto dela me deixou um homem feliz.
Depois, conversamos sobre algumas coisas sem importância, até que tive coragem de perguntar o nome dela.
Ela prontamente disse que se chamava Paula, era de Belo Horizonte, viera junto com uma irmã que era estudante de direito, que morava com ela.
Ela disse que estavam em Porto Velho há quase três anos.
Para não perder a conversa, perguntei por que ele havia deixado sua terra e seu povo, para viver em uma terra estranha, onde tudo era incerto e desconhecido.
Ele respondeu que era pelo mesmo motivo que talvez eu e tantas outras pessoas tínhamos deixado tudo, ou seja, vim em busca de aventura, riqueza e amor.
Perguntei se ela havia conseguido o que procurava e ela respondeu que, como a maioria dos garimpeiros, encontrou a ilusão, a pobreza e a solidão, mas nunca perdeu as esperanças.
Conversamos mais sobre ela e ela foi muito sensível, mostrando suas impressões e sua simpatia por mim.
Depois de ouvir muito, falei sobre mim, o que se esperava de um garimpeiro. Disse que não era rico, não tinha sua cultura, mas mesmo assim admirava sua beleza e sinceridade.
Querendo me elogiar, ela disse:
- com a experiência daqui, você já conhece as pessoas e sabe quando elas estão prestes a ficar ricas. Você é muito esperto e inteligente; certamente estará cheio de ouro em breve.
Fiquei feliz em receber aquele elogio e já pensava em convidá-la para jantar, quando chegou aquele mesmo homem, com seus dois seguranças. Ele entrou na sala, com a demonstração clara de que não estava gostando de me ver ali.
O clima ficou tenso e Paula enrubesceu, sem saber como agir.
Achei que era hora de sair dali. Agradeci a atenção e despedi-me cordialmente.
O garimpeiro ficou me olhando e olhando enquanto eu me afastava. Passei entre os seguranças, que também olharam para mim.
Confesso que tive um certo medo, porque me lembrei do Jonas e do colar que ele me deu, dizendo que me protegeria do mal.
Então, perdi a oportunidade de tentar me aproximar daquela que povoava meus sonhos
Logo eu teria que partir para a prospecção. Eu prometi a mim mesmo que voltaria.
Procurei o Felipe, que havia me convidado para trabalhar com ele na mineração, para saber quando partiríamos e, ele me disse, partiríamos na manhã seguinte. O seu plano era ir de carro até Abunã, onde o esperava o seu ferry, e subir o rio até Araras, que ficava a cerca de cinquenta quilómetros, aproveitando o fato de o rio estar cheio. Era abril do ano mil novecentos e oitenta e cinco, e até junho o rio baixava muito, então teríamos pouco mais de dois meses para ficar ali, quando então desceríamos o rio, levando melhor aproveitamento das atividades de mergulho. Na região amazônica, o período de chuvas começa de outubro a março, quando ocorrem as maiores enchentes. É o chamado inverno amazônico, porque quando não chove o dia todo, chove todos os dias. De abril a setembro as chuvas param e o volume dos rios cai muito, mostrando as diversas cachoeiras. Este período também é conhecido como verão. Apesar disso, ocorre algum frio nesta época, causad
Na manhã seguinte, acordamos assim que o sol apareceu, anunciando um novo dia. Assim que nos levantamos, encontramos o café quente, preparado pelo Chico, que havia acordado mais cedo. Ainda viajamos muito, com muita poeira pelo caminho, até que as primeiras casas, as cantinas, começaram a aparecer, indicando a proximidade de uma comunidade. Logo estávamos entrando na aldeia de Abunã, passando pelo cemitério, igreja, armazém seco e úmido, delegacia, posto de saúde e estação de trem. No rio Madeira, havia milhares de balsas por toda parte, formando uma enorme corrutela. Pessoas de todos os tipos circulavam por terra e pelo rio, barcos voadores iam e vinham, parecendo um enorme ninho de vespas. Assim que chegamos, Felipe nos levou até sua jangada, que ficava rio acima, ainda na orla de Abunã. Uma vez lá, encontramos a cozinheira, Dona Maria, a da história do Chico, que tinha caído na água. Eles também esperavam pela nossa chegada,
Já se passaram três meses desde que comecei a escrever este livro. Ainda estou aqui em Boa Vista, agora trabalhando como funcionária em um depósito de artigos diversos, que vende principalmente ferramentas, utensílios domésticos e materiais para a vida na selva. Desta forma, estou sempre em contacto com os garimpeiros, que partem daqui para a sua aventura na selva. Tive a oportunidade de conhecer vários companheiros de outras minas, inclusive Serra Pelada. Muitos me convidaram para ir com eles, mas ainda não é chegada a hora de partir, porque me comprometi com o Jonas e os índios. Depois de terminar de contar minha história, com certeza estarei seguindo meu destino em busca de ouro. Ainda não contei o que aconteceu comigo no rio Madeira, porque estou nessa situação, mas aos poucos você poderá entender melhor a minha vida. As memórias que guardo são o meu tesouro e, por onde vou, levo os meus sonhos, que um dia se tornaram realidade e depois se
Porto Velho para mim parecia uma cidade linda, comparada às palafitas. Suas ruas organizadas e seu comércio regular eram muito diferentes das estradas de terra, das favelas ribeirinhas. Meus olhos se acostumaram com o verde da mata e, meus sentidos, com o equilíbrio das águas, tudo era diferente agora, comecei a ver principalmente, os rostos das pessoas que passavam. Eu estava muito carente e ansioso para encontrar aquele que roubou um pedaço do meu coração. A incerteza sobre sua reação me deixou ainda mais tenso. Dúvidas surgiram em minha mente. Fiz perguntas como estas: - Ela vai me reconhecer? - Não foi tudo apenas uma ilusão? minha cabeça criou uma fantasia? Como não tinha muito tempo a perder, tentei me preparar para ir ao banco. Tomei um bom banho, coloquei minhas melhores roupas, fiz a barba e cortei o cabelo, que estava muito grande e mal cuidado. Aproveitei que ganhei ouro suficiente para depositar na minh
Na hora marcada, fui ao campo de pouso do aeroclube de Porto Velho e Alberto, o piloto, esperava por mim, aquecendo o motor de aço duro, um monomotor Cesna de seis lugares, que nos levaria até Abunã. Como tínhamos muita bagagem para carregar, ele só permitiu mais dois passageiros além de mim. Durante o vôo, ele me contou sobre sua vida como piloto de mineração de ouro, o que aparentemente foi bom, mas na prática havia muitos inconvenientes. Ele citou sua família como exemplo, que ficou muito tempo sozinha durante a viagem e não tinha certeza de vê-lo voltar com vida. Os constantes perigos enfrentados, principalmente devido às condições precárias das pistas, ao clima instável e às grandes distâncias sem pontos de apoio, foram os maiores problemas que sofreu diariamente. Ainda havia o risco causado por passageiros desconhecidos, muitas vezes psicóticos ou violentos, que ele tinha que carregar. O preço cobrado de trinta gramas de ouro, mais o vol
Já fazem quase seis meses que estou aqui em Boa Vista. Nesse período, além de escrever este livro, já visitei algumas vezes os garimpeiros. A mineração aqui cobre uma vasta área de terras e florestas, ao longo da fronteira com a Venezuela. São terras pertencentes à reserva florestal indígena, onde, na realidade, existem poucos índios. Porém, em cada trilha, em cada rio, que desce do maciço venezuelano, encontramos tribos espalhadas e, distantes umas das outras, por milhares de quilômetros. As expedições terrestres são as que mais sofrem para chegar aos locais de extração de ouro, pois são constantemente obrigadas a pagar pedágio aos índios, para passarem por suas terras. São mantimentos, ferramentas, armas e, claro, cachaça, o que deixa os moradores felizes. Devido à imposição da tarifa indígena, por ter sido institucionalizada e, os garimpeiros tiveram que transportar mais cargas, muitas pistas clandestinas foram abertas e a rota para a mineração passou a se
No final da obra, eu, Raimundo e Felipe voltamos no caminhão e, no caminho, conversamos sobre nossos planos para o próximo ano. Discutimos a construção da draga mais bonita e moderna que já foi criada. Já tínhamos ouro para comprá-lo. Só faltava uma equipe confiável. Por falar nisso, foi o Felipe quem deu a solução definitiva para o problema. Ele disse: - Não se preocupe com o pessoal, eu realmente estava planejando tirar férias maiores. Preciso visitar minha família em São Paulo e não teria coragem de deixar a balsa nas mãos de nenhum gerente. Vou vender e, passo para você, o cozinheiro, o Chico, o Ceará e o vigia, que são pessoas de confiança. - Tem certeza que não está com pressa? - perguntou o velho Raimundo. - Não, eu já tinha pensado muito nisso e estava procurando um lugar, para o meu povo. Este ano consegui ganhar o suficiente para passar uma boa temporada sem me preocupar e com o dinheiro da balsa posso até compr
As férias haviam acabado, então eu e a Paula, junto com a Márcia, voltamos para Porto Velho, mais unidas do que antes. Se tivéssemos uma grande amizade, nossa cumplicidade era reforçada solidamente, por um novo sentimento de paixão e posse. Queríamos estar juntos, compartilhar nossos desejos, trocar ideias e alimentar sonhos. Para nós, naquele momento, não haveria ninguém que pudesse quebrar esse sentimento, por mais ouro que tivesse. Apesar disso, nosso problema persistia, embora eu estivesse oficialmente comprometido com ele, havia um rival poderoso, o que poderia ser muito perigoso para mim. Combinamos que evitaríamos nos expor, para nos resguardarmos, até que a situação se esclarecesse e o colombiano aceitasse o fato. Passado o mês de janeiro, Raimundo ficou cuidando da construção da nossa draga, em uma oficina, localizada próximo ao porto, de Cai-Nágua. A previsão era ficar pronta no final de fevereiro, quando as águas do