Na hora marcada, fui ao campo de pouso do aeroclube de Porto Velho e Alberto, o piloto, esperava por mim, aquecendo o motor de aço duro, um monomotor Cesna de seis lugares, que nos levaria até Abunã. Como tínhamos muita bagagem para carregar, ele só permitiu mais dois passageiros além de mim.
Durante o vôo, ele me contou sobre sua vida como piloto de mineração de ouro, o que aparentemente foi bom, mas na prática havia muitos inconvenientes.
Ele citou sua família como exemplo, que ficou muito tempo sozinha durante a viagem e não tinha certeza de vê-lo voltar com vida.
Os constantes perigos enfrentados, principalmente devido às condições precárias das pistas, ao clima instável e às grandes distâncias sem pontos de apoio, foram os maiores problemas que sofreu diariamente.
Ainda havia o risco causado por passageiros desconhecidos, muitas vezes psicóticos ou violentos, que ele tinha que carregar.
O preço cobrado de trinta gramas de ouro, mais o vol
Já fazem quase seis meses que estou aqui em Boa Vista. Nesse período, além de escrever este livro, já visitei algumas vezes os garimpeiros. A mineração aqui cobre uma vasta área de terras e florestas, ao longo da fronteira com a Venezuela. São terras pertencentes à reserva florestal indígena, onde, na realidade, existem poucos índios. Porém, em cada trilha, em cada rio, que desce do maciço venezuelano, encontramos tribos espalhadas e, distantes umas das outras, por milhares de quilômetros. As expedições terrestres são as que mais sofrem para chegar aos locais de extração de ouro, pois são constantemente obrigadas a pagar pedágio aos índios, para passarem por suas terras. São mantimentos, ferramentas, armas e, claro, cachaça, o que deixa os moradores felizes. Devido à imposição da tarifa indígena, por ter sido institucionalizada e, os garimpeiros tiveram que transportar mais cargas, muitas pistas clandestinas foram abertas e a rota para a mineração passou a se
No final da obra, eu, Raimundo e Felipe voltamos no caminhão e, no caminho, conversamos sobre nossos planos para o próximo ano. Discutimos a construção da draga mais bonita e moderna que já foi criada. Já tínhamos ouro para comprá-lo. Só faltava uma equipe confiável. Por falar nisso, foi o Felipe quem deu a solução definitiva para o problema. Ele disse: - Não se preocupe com o pessoal, eu realmente estava planejando tirar férias maiores. Preciso visitar minha família em São Paulo e não teria coragem de deixar a balsa nas mãos de nenhum gerente. Vou vender e, passo para você, o cozinheiro, o Chico, o Ceará e o vigia, que são pessoas de confiança. - Tem certeza que não está com pressa? - perguntou o velho Raimundo. - Não, eu já tinha pensado muito nisso e estava procurando um lugar, para o meu povo. Este ano consegui ganhar o suficiente para passar uma boa temporada sem me preocupar e com o dinheiro da balsa posso até compr
As férias haviam acabado, então eu e a Paula, junto com a Márcia, voltamos para Porto Velho, mais unidas do que antes. Se tivéssemos uma grande amizade, nossa cumplicidade era reforçada solidamente, por um novo sentimento de paixão e posse. Queríamos estar juntos, compartilhar nossos desejos, trocar ideias e alimentar sonhos. Para nós, naquele momento, não haveria ninguém que pudesse quebrar esse sentimento, por mais ouro que tivesse. Apesar disso, nosso problema persistia, embora eu estivesse oficialmente comprometido com ele, havia um rival poderoso, o que poderia ser muito perigoso para mim. Combinamos que evitaríamos nos expor, para nos resguardarmos, até que a situação se esclarecesse e o colombiano aceitasse o fato. Passado o mês de janeiro, Raimundo ficou cuidando da construção da nossa draga, em uma oficina, localizada próximo ao porto, de Cai-Nágua. A previsão era ficar pronta no final de fevereiro, quando as águas do
Recebemos nossa draga no final de março, quando as águas ainda estavam altas.Ela era linda e especial.Todos os detalhes foram estudados e permaneceram como imaginávamos.Todas pintadas de amarelo com acabamentos estilizados em verde e azul, dando a impressão de ser uma enorme bandeira brasileira, contrastando com as águas lamacentas do rio Madeira.Era preciso testá-la, antes de colocá-lo em serviço pesado e, para isso, teríamos que tentar contornar a lei.A área em frente à cidade era proibida à mineração, pois era destinada ao embarque e desembarque de passageiros e à navegação em geral.Como era um local proibido, era onde havia muito mais ouro e, pensando que era mais esperto que os outros, escolhi um local um pouco longe, para iniciar a operação.No dia seguinte, ele se inclinou sobre o guarda da
Em maio, decidimos mudar nosso local de trabalho. Passamos pela cascata dos Morrinhos e estacionamos junto à cascata do Caldeirão do Inferno, que na altura era apenas um movimento mais forte das águas. Era uma região agitada pelas corredeiras, mas dava um bom ouro, iniciando a formação de algumas cavernas. A fofoca veio rápido, devido ao rio baixo, que também fornecia uma quantidade maior de ouro. Inúmeras dragas foram aparecendo, criando verdadeiras cidades flutuantes, com todo o necessário para a sobrevivência. À distância, parecia um formigueiro acima da água. Eram pessoas indo e vindo com seus barcos voadores carregando tudo que se possa imaginar. Assim que estacionamos a draga, ela ameaçou uma tempestade violenta e inesperada. Embora de curta duração, as tempestades aterrorizaram até o mais corajoso dos mortais, por sua força e violência. Relâmpagos, trovões e rajadas agitavam as águas, fazendo-as subir pelas dragas, ameaçando sua
Geraldo ficou emocionado ao ouvir minha história sobre seu amigo Jonas e me contou sua história. - Ele disse: - Jonas era conhecido como “Mãozinha”, por ter uma mão defeituosa, como vocês puderam ver. Ele nasceu com ela torta e se acostumou com o apelido, nem mesmo se importando em ser chamado assim. Sua vida não foi fácil, precisando trabalhar desde criança, apesar da mão murcha. Ele sempre foi franzino e tinha um distúrbio que o deixava frágil, causando-lhe vários problemas. Então ele sempre foi quieto e tímido, tendo poucos amigos e nenhuma namorada. Eu fui um dos poucos amigos que ele manteve! - Vivíamos como irmãos, morávamos na cidade de Londrina no Paraná. Nossas casas eram próximas e trabalhamos sempre no mesmo emprego. Raramente se envolvia com mulheres, só quando ia comigo nas festas das boates, quando bebia, ficando mais alegre. De vez em quando, ele pedia demissão e se isolava, permanecendo confuso e chateado. Nessas ocasiõ
Ainda estou em Boa Vista, depois de oito meses aqui. É engraçado que as coisas estejam acontecendo ao mesmo tempo que escrevo, mudando o próprio ritmo de vida e pensamentos. Aconteceu assim comigo, como sou lento na arte de escrever, mudanças de rumo estão ocorrendo, sem que eu possa prevê-las. Essas mudanças têm muito a ver com a minha vida sentimental, que foi muito abalada, depois dos acontecimentos daquele ano, que ainda não contei, mas que tiraram minha maior felicidade. Meu consolo foram as cartas enviadas pela Márcia, minha cunhada, que conseguiu me trazer um novo ânimo, dar continuidade ao projeto deste livro e até colaborar com temas e histórias que enriquecem a narrativa. A cada capítulo escrito, mando você corrigir e dar sua opinião, porque ela tem se mostrado muito interessada e cordial. Claro, também sirvo para amenizar sua dor e assim estabelecemos um contato mais íntimo e afetivo, descobrindo que temos muitas coisas em c
Desde que comecei esta história, quase um ano se passou. Estou me despedindo da Boa Vista, pois aqui descobri que por mais ouro que eu tivesse, não encontraria felicidade. Este mesmo ouro que representa poder, riqueza e luxo, não pode trazer felicidade, que está nas coisas simples e no amor. Na verdade, permite que a vaidade, o orgulho e a solidão surjam em nós. Só quando entendemos que a verdadeira felicidade está nas coisas puras, como o amor e, na satisfação de realizar um trabalho construtivo, é que vemos que a ilusão provocada pelo desejo de alcançar o que não temos, mais rapidamente, leva a maior imprudência, colocando em perigo a nossa vida e a de muitos ao nosso redor, outras vezes fazendo-a morrer. É claro que a posse de riqueza não é uma coisa ruim, especialmente quando vem naturalmente e à custa de muito trabalho e dedicação. Melhor ainda, quando empregado para ajudar os mais necessitados. Com o tempo, nos tornamos mais sensíveis aos proble