— Mas não fique tão emburrado assim, nós somos do bem. Pelo menos, tentamos. — O elfo deu-lhe uns tapinhas nas costas. — Se afaste um pouco, temos somente mais alguns instantes de Luz aqui dentro hoje, o que significa que eu não posso errar. Yew pôs se a ficar dentro do círculo de runas que acabara de consertar, ajeitou a postura, estendeu os braços para frente e fechou os olhos: — Nos céus brilha aquele ao qual descarrega sobre nós a divina Luz. Tuas poderosas chamas rompem a escuridão, purificam as trevas e assim como um farol guia aqueles que se perderam… — O elfo parou por um breve momento e abriu um dos olhos para encarar o Sentinela que o observava atentamente fora do círculo. — Como era o restante mesmo? Gale pareceu não entender muito bem. — Me ajude a lembrar! — exigiu o elfo. — Como eu vou saber!? Você quem é o elfo aqui, achei que a memória de vocês fosse melhor! Enquanto os dois discutiam tentando lembrar os versos da canção, o Sol passou a mover-se novamente e o rai
Lartira, 206 voltas antes da invasão ao Santuário da Luz Alogin passou pelas portas da barulhenta, festiva e clandestina taverna de Ariandall, uma pequena província do império daquele sacerdote conhecido pelo nome de “O Escolhido Pela Luz”, que o elfo não fazia ideia de quem fosse. Nem se importava com isso. Com seus cabelos brilhosos e o rosto escondidos sob o capuz do manto maltratado pelo tempo, o jovem aventureiro andava pelo ambiente movimentado por todos os tipos de criaturas que se poderia imaginar. Uma elfa de Sangue jogava cartas com uma sombra da noite, enquanto um velho mago, com um chapéu espalhafatoso e barba malcuidada, brigava com o orc pelo último pedaço de frango da sua mesa. Um grupo de aventureiros jovens decidia a jornada em que deveriam embarcar, ao mesmo tempo em que um elfo da Lua apostava suas estrelas de prata em uma briga de odeges que prendia a atenção da maioria das criaturas ali presentes. Talvez fosse um evento ou algo assim. Uma mulher tocava seu al
Niwloedd, 202 voltas antes da invasão ao Santuário da Luz — Cuidado por onde pisa, imbecil! — Yew, que um dia fora conhecido como Alogin, exclamou depois de Rorak passar por uma poça enlameada e sujar suas roupas. O humano achou engraçado. — Pare de reclamar e ande logo — disse o aventureiro de cabelos arrepiados. — Você muge igual a um montês! Os dois companheiros agora atravessavam a floresta das brumas de Niwloedd em busca do caminho até o templo do espírito da floresta e pai dos elfos, Biogu. Yew Navarre, nome que escolhera para ser sua alcunha de aventureiro, passara muitas voltas em busca das pistas que o trariam de volta até sua terra natal. Inspirou o ar da névoa branca que circundava Guardia. Por algumas vezes, até se imaginou voltando para casa e revendo o Pai Runnik e o pequeno Yunnan, porém, seus desejos não poderiam ser realizados, pois para Rorak nunca seria permitido pisar em suas terras sagradas. — Devia te deixar aqui para ser devorado por alguma criatura — fa
Yew acordou de sobressalto e ofegante, assustado com toda a torrente de informações que foram simplesmente despejadas para si por sua própria mente. Ao seu lado, Gale encontrava-se sentado em uma pedra com a poderosa Samhain em mãos, limpando-a com um pedaço de tecido grosso enquanto o observava preocupado. — Está se sentindo melhor? — perguntou o Sentinela. O elfo parou por um instante e tentou se encontrar: Estava deitado em uma simples cama de folhas e com a cabeça apoiada em um resto de tronco, a pedra ainda permanecia em suas mãos. As costas estavam novas, melhores do que nunca estiveram antes. O guardiano percebeu o frasco vazio ao lado do Sentinela, que ele supôs que outrora guardava águas do Loskjs, e ficou duas vezes mais irritado: Pelo garoto desperdiçar todo aquele líquido precioso e que poderia salvar sua vida com ele, e por receber ajuda indiretamente de um elfo da Lua. Certamente odiava aqueles hud. Mas nada disse sobre isso. — Fez isso para mim? — disse o elfo se re
A consciência de Gale tentou o abandonar enquanto seu corpo caía ao chão e os olhos iam se fechando, mas não lhe fora permitido que fizesse tal coisa. Yew, que vinha logo atrás dele, amparou o jovem antes que batessem contra o chão e o apoiou em suas costas, para carregá-lo. — Você deve gostar muito de desmaiar, garoto! — disse ele ao começar a correr. — Mas não vou te mimar tanto assim. Sem dormir, entendeu!? O elfo correu para escapar das chamas que começavam a morrer. Rogou uma prece às almas que se perderam. Os caminhos se cruzam E o Gigante Sem Cor Deve os guiar até os escudos. Eram essas palavras que seguiam agora marcadas em vermelho sangue na espada, um novo trecho da profecia que deveria levar Gale até o Senhor da Luz. Ele encarava a lâmina quebrada com sua desconfiança habitual que adquirira após a mesma explodir em suas mãos. Saber que carregava uma arma tão poderosa e, ao mesmo tempo, perigosa, afligia o jovem pelo simples fato de que o Sentinela sabia que Samhain
A culpa atingiu Gale como uma lança celestial, que rasgou seu coração. Ele dormiu e levaram tudo o que podiam e até o que não podiam ter levado. Com isso, perdeu tudo aquilo que era mais precioso: seu espírito. Acompanhado por Outono, também lhe foram arrancados o peitoral de couro de lobo, o cordão que usava para prender o cabelo e o colar de Geralt. Em um instante o jovem Sentinela se transformara em outra pessoa. Além de perder espada, que milhares de pessoas sacrificaram suas vidas para defender, tinha sido separado contra sua vontade da última coisa que restava de seu melhor amigo, seu irmão. E era tudo culpa sua. Não se considerava o melhor espadachim, não se considerava o melhor dos aprendizes, não se considerava nem um pouco apto para se tornar um Sentinela e ser responsável pelo destino da vida de todos os seres daquela terra, não se considerava nem digno de ainda estar vivo. Geralt é quem deveria estar em seu lugar no Santuário. Kyria deveria estar em seu lugar na missão
— Ele não é gigante, tem a sua altura! — exclamou Yew. — E você é meio baixinho. — Mas é gigante para um merco — disse o jovem humano com um sorriso travesso nos lábios. — MEIO merco, por favor. — O ladrão estava abusando da sorte tendo uma arma apontada para si. Gale continuou. — E a cara dele está desbotando, então faz sentido a parte sobre não ter cor! — O rapaz estava mais feliz do que deveria por ter resolvido o mistério do verso da profecia. Talvez achasse que ele e Outono estavam se entendendo. — Ei! Eu nasci assim! Não é porque sua cara parece com a de um montês que as pessoas ficam dizendo isso, não é? — Eu pareço um montês? — perguntou a Yew, que deu de ombros. O merco voltou a se manifestar: — E não irei levar ninguém para Tarian! — ele exclamou. — É minha passagem secreta e vocês dois prejudicaram meus negócios! O elfo dos olhos esmeralda se aproximou e fez menção a se pronunciar, porém Gale foi mais rápido em assumir as rédeas da conversa. — Quanto quer? — E com
Samhain permanecia profundamente calma desde que Gale a havia guardado novamente na bainha. Agora, o Sentinela e o Outono seguiam junto do elfo Yew Navarre, aquele improvável novo companheiro.Guido, o meio merco com problemas na pele transparente, jurava conhecer uma passagem secreta que era capaz de atravessar as muralhas que circundavam Tarian, de modo que os três não fossem obrigados a entrar pelos grandes portões estritamente vigiados por soldados da Legião dos Cavaleiros de Ferro.O tortuoso caminho pelo qual eram guiados fazia o Filho do Outono cogitar que o Gigante Sem Cor os estava levando por uma rota mais traiçoeira de propósito, talvez por Gale ter colocado uma espada em sua garganta. Desde pequeno aprendera que quando havia espadas e gargantas em uma discussão, geralmente as coisas se tornavam pessoais.Os três viajantes atravessavam galhos e volumosos arbustos enquanto seguiam pela margem de um pequeno riacho, que corria na exata direção em que pretendiam ir. O som da ág