Trinta dias haviam se passado. Agora, era difícil ver algum lugar sem neve cobrindo o chão, o telhado das casas, árvores despidas de suas folhas e a brancura cobrindo as agulhas dos pinheiros. O frio era penetrante, mesmo sob casacos grossos.
Mas mesmo o auge do inverno não era capaz de afastar o verde contido na cabana, com seu telhado forrado de grama e flores coloridas. As margaridas continuavam vivas, rodeando o caminho de pedras que levava até a porta da frente. Uma fumaça arroxeada saia da chaminé e tinha um cheiro doce, de ervas.
Um vento gélido agitou sutilmente o pesado casaco de Vincent e fez sua trança estremecer as suas costas. Ele encolheu os ombros, mas não exatamente pelo frio.
Vincent percorreu o caminho de pedra muito calmamente, exibindo uma calma que não sentia em seu interior. Suas pisadas ressoavam com um som úmido da neve. Ele alcançou a porta da fren
Vincent levou a mão ao rosto e a encarou, completamente horrorizado.– Por que...– Você mentiu pra mim, Vince. Disse que eu jamais sentiria essa dor de novo, mas foi você quem me feriu. Mentiu dizendo que me amava só para me deixar vulnerável, e me beijou para que pudesse romper a ligação. Isso foi cruel. – O lábio inferior dela tremia.Um profundo vinco se formou entre as sobrancelhas dele.– Eu jamais... Como pode pensar isso, Ellie? Eu jamais mentiria sobre isso para você. Tudo o que eu fiz foi para protege-la, eu jamais quis te ferir.– Eu não precisava da sua proteção! – ela vociferou – Você era quem precisava da minha e eu só queria... – a voz dela se tornou frágil, quase como um sussurro.– Você não me deve nada, Ellie – Vincent falo
Era difícil demais para os membros do Conselho da Magia superarem o fato de que, seu incrível e poderoso pretor era, na verdade, um psicopata com sede de poder, infinitamente traumatizado pelos seus próprios guardiões. E que, na verdade, Vincent não era aquele assassino sanguinário que Maximus e Salvatore tinham forjado para que o Conselho o aprisionasse. E que Minerva estava longe de ser uma traidora que tentara matar seu ilustre pretor.Vincent havia descoberto muito sobre Salvatore Lex naqueles últimos dias, não o suficiente para sentir pena dele, mas o suficiente para entender, em parte, suas razões.Dante havia recuperado um arquivo sobre o pretor e um sobre Leona Phoenix. O de Salvatore era enorme e Vincent passou noites em claro destrinchando-o.As primeiras dezenas de páginas falavam sobre missões bem-sucedidas de Salvatore, em todas elas ele havia sido rápido e implac&aa
A bondade sempre poderia surgir de quem menos esperamos. Era o que a mãe de Maggie costumava dizer, antes de morrer de uma terrível doença, assim como seu pai.Ela tinha razão, porque June havia sido especialmente gentil com ela desde que retornaram ao castelo de Vincent. Havia levado Maggie até seu exuberante herbário, onde a menina lhe ensinou como triturar ervas, secá-las, diferenciar os tipos de planta, como dilui-las em água quente, mostrou-lhe os livros de poções, unguentos e emplastos.Maggie se esforçava muito, mas era muito difícil e ela ficava impressionada com o quão bem June conseguia fazer aquilo, com tamanha maestria.Em determinado dia, Maggie indagou:– Por que está ensinando isso à mim, June? Quando cheguei ao castelo, se bem me lembro, você me odiou.June a fitou por um momento, ela tinha impressionantes olhos
Era noite, o período em que Beck ficava acordado, considerando que era um vampiro e dormia durante o dia. Ele e Maggie estavam na sala, sentados no chão com a mesinha de centro os separando e jogavam baralho. Ela costumava fazer muito isso no Garten e Beck lhe dissera que, quando era vivo, costumava jogar muito em bares e, em certas ocasiões, quase morrera por causa disso, por causa das apostas.Beck lhe dissera que tinha noventa e dois anos o que, Maggie sabia, era mais idade do que aquela que Vincent possuía, embora, assim como o vampiro, aparentasse ser mais jovem do que realmente era.O vampiro também costumava sair para caçar à noite, Minerva lhe permitia isso. Havia incumbido uma magia na coleira de Beck que o impedia de pensar em fuga.Minerva dizia que eles o mantinham no castelo porque queriam que Beck dissesse tudo o que sabia para os feiticeiros que eles estavam recrutando. E depois disso? Maggie tinha
A chegada de Ellie, causou certo alvoroço. Bash a esperava na sala, andando em círculos em frente a porta em sua forma felina. June também estava ali, sentada no sofá, lendo um livro sobre o uso de flores nas artes curativas. Sam flutuava próximo ao sofá, olhando fixamente para a porta. Dante encontrava-se em uma das poltronas, fitando o fogo como se houvesse algo muito interessante acontecendo ali.Minerva permanecia em silêncio ao lado de Maggie. Na verdade, todos estavam submersos em uma quietude densa. Ela não conseguia entender o porquê.A porta se abriu e, de repente, todos estavam em pé, menos Minerva, que apenas moveu a cabeça naquela direção.Primeiro, um corvo passou voando pela porta, indo direto para June, que ofereceu sua mão para que ele pudesse se empoleirar. Ela sorriu e acariciou as penas da ave, que grasnava e batia as asas sem parar.Logo dep
Era estranho estar de volta em seu antigo quarto. Era estranho voltar para o castelo e encontra-lo inteiro. Sentia um aperto em seu peito só de lembrar que fora ela a pessoa que o destruiu no passado.Antes de ir embora, Ellie abraçou Niara com força e a agradeceu várias vezes por tudo, por tê-la acolhido, por tê-la alimentado e principalmente por tê-la treinado. Niara tocou-lhe delicadamente o cabelo e lhe disse que ela era extraordinária. Ellie sorriu.Depois, Vincent quis falar a sós com sua mãe e Ellie o esperou do lado de fora. Ficou absorvendo a arquitetura rustica e excêntrica da cabana e pensou que sentiria falta dali.Tudo em seu quarto estava no mesmo lugar em que deixara, até mesmo suas roupas. Era até um pouco perturbador.– Tudo bem? – Vincent perguntou, parado ao lado da porta, que ele havia fechado ao entrar.Quando olhou para ele
June não parecia do que tipo que se abria dessa forma para as pessoas, na verdade, quando Dante a olhava, podia quase ver uma fortaleza, rodeada por enormes muralhas intransponíveis. Mas lá estava ela, se abrindo com ele. Isso fez com que Dante se sentisse importante, especial até, e um calor repentino afastou momentaneamente o frio.– Existem certas poções e runas que podem ser usados em batalha. – Dante falou, depois de longos e intermináveis minutos de silêncio.– O quê? – June o encarou com o nariz encrespado, soando confusa. Ela ficava muito bonitinha com essa expressão. Na verdade, June estava lindíssima naquele momento, mesmo com aquela sombra de tristeza em seu rosto. Havia começado a nevar fracamente e alguns flocos brancos se prendiam aos seus cabelos escuros presos em uma trança, além disso, suas bochechas estavam levemente cora
Vincent disparou em direção as escadas e as subiu de dois em dois degraus, depois, foi direto para o segundo andar, então, para a biblioteca. Vince se dirigiu até a seção de ciência e pegou livros sobre biologia, órgãos e sangue. Abriu-os em páginas especificas, lendo rapidamente as palavras nas linhas. Então, pegou um livro sobre magia corpórea.Já tinha lido aqueles livros quando tentava entender melhor as habilidades de Maximus, em uma época em que queria deter seu irmão, ao invés de simplesmente deixar para lá.– Pirou de vez? – quem perguntou foi Bash.Minerva cambaleava atrás dele com o apoio de Dante.– O que foi, Vince? – sua irmã questionou.– Nossa, eu entendi o que Salvatore quer de Ellie, eu entendi porque Maximus é tão importante pra ele. Merda!