O corredor da ala de emergência estava movimentado, médicos e enfermeiros se deslocavam rapidamente de um lado para o outro, enquanto o som dos monitores cardíacos e dos chamados urgentes ecoavam pelo espaço. A maca onde Aline estava deitada se movia velozmente pelo chão brilhante do hospital, empurrada por enfermeiros que trocavam palavras urgentes entre si. Seus olhos começaram a se abrir lentamente, piscando contra a claridade intensa das lâmpadas fluorescentes que passavam acima dela em rápidos flashes. Sua mente estava confusa, enevoada, como se estivesse presa em um sonho do qual não conseguia despertar completamente. Ela tentou falar, mas seus lábios estavam secos e a garganta ardia. O som ao seu redor era abafado, distante, como se estivesse ouvindo tudo debaixo d’água. Mesmo assim, algumas frases perfuraram o torpor em que se encontrava. — Pressão caindo! — uma voz feminina soou perto de sua cabeça, apressada e preocupada. — A linha IV precisa ser ajustada! — outro profis
Ainda inquieto com o acidente que quase tirou a vida de Aline e Gabriel, Clark não conseguia afastar a sensação de que aquilo não havia sido uma simples fatalidade. Algo dentro dele gritava que havia mais por trás daquilo. E ele sabia exatamente quem poderia descobrir a verdade. Sem perder tempo, colocou seu detetive particular em ação. Enquanto permanecia ao lado de Aline no hospital, segurando sua mão e observando sua respiração tranquila, seu celular vibrou em seu bolso. Ele olhou para a tela e imediatamente reconheceu o número. Era o detetive. Com um último olhar para Aline, levantou-se discretamente e saiu do quarto, fechando a porta com cuidado para não incomodá-la. Assim que se afastou o suficiente pelo corredor, atendeu. — Pode falar. — Sua voz saiu firme, mas carregada de tensão. Do outro lado da linha, o detetive respirou fundo antes de começar. — As informações que tenho não são boas, senhor Clark. Clark sentiu um calafrio percorrer sua espinha. — Fale logo. — Desc
Enquanto Clark permanecia no hospital ao lado de Aline e Gabriel, Dominic não perdeu tempo. Usando seus contatos influentes, ele conseguiu localizar Olivia. Ela estava escondida em uma casa afastada, nos arredores da cidade. Assim que a informação chegou, Dominic acionou seus homens para cercar o local. No entanto, Olivia percebeu a movimentação. Observando pela janela, viu os carros pretos estacionando e os homens avançando em sua direção. Seu coração disparou. — Não... Não podem me pegar! — sussurrou, sentindo o desespero tomar conta de seu corpo. Sem pensar duas vezes, pegou as chaves do carro e correu para a garagem. Assim que ligou o motor, os pneus cantaram no asfalto. Os homens imediatamente entraram em seus carros e iniciaram a perseguição. — Ela está fugindo! — gritou um deles pelo rádio.A cidade estava iluminada pelas luzes dos postes e faróis dos carros que cruzavam as avenidas movimentadas. O som das buzinas ecoava no ar enquanto Olivia, com as mãos trêmulas no vola
Mais tranquilo e com o coração finalmente em paz, Clark seguiu com Aline e Gabriel para casa. Agora que o perigo havia passado, ele sabia que era hora de focar no que realmente importava: sua família. Gabriel já havia esperado demais pelo seu aniversário de cinco anos. Clark havia adiado a comemoração duas vezes devido a todos os acontecimentos recentes, mas não permitiria que isso acontecesse novamente. Seu filho merecia um dia especial, um momento de pura felicidade. E assim, um grande salão foi cuidadosamente preparado para a celebração. Como Gabriel sempre sonhou, a decoração era toda inspirada em dinossauros. Havia enormes réplicas infláveis de tiranossauros, tricerátops e velociraptors espalhadas pelo ambiente, com pinheiros artificiais e árvores que davam um ar de floresta pré-histórica. Um grande painel no fundo do salão exibia um cenário jurássico, e uma mesa farta de doces trazia cupcakes com pegadas de dinossauros e biscoitos em formato de fósseis. O salão foi tomado por
Enquanto Clark desfrutava de um momento único de pura felicidade ao lado de Aline, de seu filho Gabriel e de todos os convidados, a vida seguia seu curso em outros lugares da cidade. Risos, brindes e celebração enchiam o salão de festa, mas, longe dali, em um vilarejo de pescadores à beira do litoral, a atmosfera era completamente diferente. Naquela casa simples, de madeira envelhecida pelo tempo, o cheiro de maresia impregnava o ambiente. O vento soprava suave através da janela entreaberta, fazendo as cortinas finas balançarem como se dançassem ao ritmo das ondas. No pequeno quarto, iluminado apenas por uma lâmpada amarelada, uma mulher repousava em uma cama de solteiro. Seu rosto, parcialmente coberto por bandagens, exibia cicatrizes de queimaduras recentes. O antebraço esquerdo, enfaixado, mostrava sinais de graves ferimentos. Foi então que um gemido suave cortou o silêncio. Os dedos dela se moveram levemente, os cílios tremeram antes de se abrirem devagar. Os olhos vaguearam pel
Olivia abriu os olhos lentamente, piscando algumas vezes para se ajustar à luz fraca que entrava pela pequena janela do quarto. O cheiro salgado do mar e a brisa úmida eram familiares agora, mas ainda assim, havia um vazio dentro dela. Ela se espreguiçou na cama estreita, sentindo o corpo menos dolorido do que nos primeiros dias. Já fazia duas semanas desde o acidente e, embora não se lembrasse de quem era ou do que a havia levado até ali, isso já não a atormentava tanto. O casal que a resgatou cuidou dela com carinho, e, fazendo questão de demonstrar, Olivia não reconhecia o esforço deles. Naquela manhã, ao ouvir os passos no chão de madeira, ela se sentou, ajeitando os cabelos com os dedos. Assim que o casal entrou no quarto, percebeu que havia algo diferente no olhar deles. Estavam hesitantes. — Aconteceu alguma coisa? — perguntou, franzindo a testa. O homem de meia-idade suspirou, trocando um olhar com a esposa antes de responder. — Senhorita, nós cuidamos de você até agora… —
Quando Olivia chegou ao centro da cidade, sentiu-se desconfortável com o movimento das ruas, o barulho incessante das buzinas e o fluxo de pessoas apressadas. Era estranho—como se aquele cenário fosse, ao mesmo tempo, familiar e desconhecido. Marcos a conduziu até um prédio modesto, com uma placa já desgastada indicando que ali funcionava um consultório médico. Ao entrar, o cheiro de éter misturado com mofo impregnou suas narinas. A recepcionista, uma mulher de cabelos curtos e aparência cansada, olhou-a rapidamente antes de indicar com a cabeça a porta ao fundo do corredor. — O doutor já está esperando. Pode entrar. Olivia respirou fundo e girou a maçaneta, encontrando um homem de meia-idade sentado atrás de uma mesa bagunçada. Ele usava óculos de aro fino e um jaleco amassado. Seus olhos a percorreram de cima a baixo antes de ele sorrir de um jeito que a fez se encolher levemente. — Ah, minha jovem… Como é encantadora! Sente-se, por favor. Deve estar exausta depois de tudo que pa
Saindo do consultório, Olivia sentiu o vento quente da cidade tocar sua pele. O calor era quase sufocante, mas a inquietação dentro dela era ainda pior. Sua mente estava sobrecarregada com perguntas sem respostas. Quem ela era de verdade? Por que ninguém a procurou? E, acima de tudo, quem era Clark? Segurando a revista com a foto daquele homem misterioso, ela atravessou a rua apressada, quase sem perceber os carros que passavam. Seu coração bateu mais forte quando parou diante de uma vitrine de loja. Não pelo que estava à venda, mas pelo reflexo que encontrou ali. Seu rosto. As cicatrizes. As marcas do acidente estavam bem ali, cravadas em sua pele como um lembrete cruel do que havia acontecido—algo que sua mente ainda se recusava a lembrar. Olivia passou os dedos delicadamente sobre as queimaduras, sentindo a textura áspera e diferente do resto de seu rosto. Um nó se formou em sua garganta. "Como alguém poderia me reconhecer assim? Como Clark poderia olhar para mim agora?" A ide