Na quinta Hidalgo, Camélia galopa a toda velocidade junto ao seu irmão Gerardo, que lhe ensinou muito bem a montar a cavalo, até que ambos param e descem felizes. Abraçam-se, sentindo como pouco a pouco cresce a relação fraterna entre eles. — Cami, não sabes o quão feliz estou por teres feito isto — diz Gerardo, emocionado. — Com a Clavel já tinha uma relação desde o colégio, mas contigo, não. Agora percebo que temos mais coisas em comum, tu e eu. — Achas mesmo? Como o quê? — pergunta ela, deixando-se cair na relva. Gerardo deixa-se cair ao lado dela, realmente surpreendido ao compartilhar com ela o quanto se parecem, e não apenas isso. Ambos passaram por quase o mesmo desde o nascimento. Foram criados em ventres alheios e roubados antes mesmo de nascer. Agora sentem-se conectados. — Apesar do gran
Ismael não respondeu, temendo o que iria encontrar dentro da casa. Deixou o pai sentado na sala e correu, aterrorizado, para o escritório, onde encontrou uma miniatura debilitada do seu irmão Marlon, conversando com o seu pai e traçando um mapa numa folha de papel. — Pai...? — chamou ele, com tom interrogativo. — Ah! Chegaste? Vem cá, vou apresentar-te ao teu possível sobrinho — disse o senhor Rhys, apontando para o jovem magricela e desnutrido —. Ele afirma que é filho do Marlon e que existem mais, também primos. Ismael ficou sem saber o que fazer ou dizer, apenas observando o jovem franzino com feições muito parecidas às do seu irmão mais velho. Recordava-lhe Ariel quando este se feriu no peito. Tinha de ser filho de um dos seus dois irmãos; a semelhança era demasiado grande. Aproximou-se para ver o que o pai lhe estava
Clavel abraça Camelia e ficam assim por um momento. Depois, ouve tudo o que Gerardo lhe conta sobre os filhos desaparecidos. Ela está ao corrente de tudo; comunica frequentemente com o advogado Oliver, que está informado sobre a investigação de busca. No entanto, não lhes dizia nada para não entristecer os pais. Agora, ao ver o quão assustada Camelia está perante a possibilidade de ter de criar os filhos da sua inimiga, compreende-a. — Não te preocupes, Cami, todos te ajudaremos se isso acontecer. As crianças não têm culpa de nada — embora a possibilidade de que herdem os genes maldosos da mãe a assuste, não o diz. — Sabes, agora percebo que mal dei oportunidade à mamã e ao papá, a todos vocês, de me sentirem parte da vossa família — Camelia abraça-a novamente com carinho —. Precisava di
O condutor recusa-se a parar e, ao contrário, acelera ainda mais. As raparigas estão aterrorizadas, mas não desistem. Sofia tira o telemóvel e liga para o número de emergência enquanto tenta manter a calma no meio do pânico que começa a apoderar-se delas. Finalmente, o taxista para bruscamente em frente a uma carrinha; dois homens corpulentos abrem as portas e tiram as raparigas à força, partindo-lhes os telemóveis. Colocam-nas no veículo depois de lhes colocar um pano no rosto que as deixa inconscientes, afastando-se e desaparecendo na noite. Fim da retrospectiva. Ambas as raparigas parecem despertar de um torpor ao ouvir o que a psicóloga dizia na televisão e recordar tudo o que aconteceu. Olham-se novamente e não conseguem acreditar que sejam as mesmas. Estão muito debilitadas e mostram sinais de terem tido recentemente um bebé. Nã
Ariel tinha chegado após a chamada do seu pai, que, com um tom incomum de urgência, lhe pediu que voltasse sem Camélia nem as crianças. Não hesitou em obedecer. Ao chegar, deparou-se com a situação do pequeno Reutilio, o desespero combinado com a fúria do seu irmão Marlon, que descarregava a frustração amaldiçoando e golpeando um inimigo invisível, e a incredulidade de todos os outros. A sua mãe, Aurora, abraçava entre lágrimas Marcia, tentando consolá-la, embora ambas parecessem igualmente destroçadas. Ismael falava com o Major Sarmiento e tentava, a grosso modo, explicar a situação à doutora Elizabeth, que mantinha uma expressão séria. Foi então que o senhor Rhys, ao notar a chegada de Ariel, o interceptou e o conduziu ao escritório. —Ari, finalmente apareceu o jovenzinho que diz ser filho do
Todos se viram ao ouvi-la. Ela explica que tinham resgatado duas sequestradas e, apesar do tempo que tinha passado, não as mataram; pelo contrário, encontraram-nas as duas a pouco tempo de terem dado à luz. Isso dizia-lhes que o que fazem é engravidá-las. Em algum lugar as mantinham a dar à luz sem cessar e vendiam os bebés. Não existiam registos dos seus nascimentos, pelo que ninguém sabia nada sobre bebés roubados. —Santo Deus! Se é verdade o que supõe, doutora —diz o polícia—, estamos perante uma enorme rede de traficantes de pessoas e, com certeza, há muitos envolvidos. Essas jovens estão desaparecidas há cinco anos. O filho de Marlon Rhys tem mais ou menos doze anos e disse que havia adultos que nasceram assim. Ismael, eu sei o quão desesperado estás, mas insisto em que esperemos. —Não, não o
Reutilio explica que tinha acontecido algo parecido com Laura: levaram-na para dar à luz na casa do cliente, para fazer acreditar que ela era sua mulher. Mas, ao transportá-la, ela acordou e desceu num semáforo. Já fizeram isso montes de vezes! Nunca tinha acontecido! O rapaz era jovem e novo no trabalho. Não trancou a carrinha com o fecho de segurança, e nem as enfermeiras a tinham sedado. —Estou a dizer-vos que precisam acalmar-se; elas não sabem de nada —assegura, brincando com a sua bengala—. Mesmo que a polícia venha, vai acontecer o de sempre: não vão encontrar nada. —E pelo menos apanharam os filhos delas? —perguntou um médico. —Um; a outra ainda não tinha dado à luz, e a associação de Camélia e Ariel Rhys desapareceu com ele —respondeu—. Por isso, esqueçam essa rapariga. &nbs
Camelia tinha descoberto uma nova paixão ao aprender a montar a cavalo junto com os seus filhos. Tinha dedicado tempo e esforço para aperfeiçoar essa habilidade, desfrutando ao máximo de cada momento nos amplos campos da quinta. Fazia-o frequentemente na companhia de Gerardo, seu irmão mais velho, que encontrava nesses passeios uma forma relaxante de passar tempo com a sua irmã mais nova. Às vezes também os acompanhava Clavel, conhecida pela sua destreza em praticamente tudo o que fazia, tornando cada saída ainda mais dinâmica e divertida. No entanto, o dia anterior tinha sido diferente. Ariel chamara-a ao quarto com uma expressão invulgarmente séria, algo que disparou um alarme na mente de Camelia. Sentou-se na cama, tentando decifrar o que preocupava Ariel antes mesmo que ele dissesse uma palavra.—O que se passa, Ariel? —perguntou inquieta ao notar a tensão no ro