Ela observa-o sem conseguir acreditar; tem esse momento demasiado vívido na sua mente: a sua mão a entrar na mala à procura da arma, como tirou a trava de segurança e disparou.
—Porquê, se fui eu? Acabei de acertar-lhe no ombro com o primeiro disparo, tu mesmo acabaste de dizer —responde, confusa—. Depois disso, não sei onde mais lhe acertei porque fechei os olhos quando ele vinha na minha direção.—Ouça, dirás que o chefe da minha segurança tirou-te a arma e disparou com ela. O teu pai resolveu tudo assim. Está bem? —explica Ariel, revelando o plano que o senador Camilo tinha preparado para a manter fora do julgamento.—Vou tentar, mas será difícil. Sabes que não sou boa a mentir. Se me interrogarem, vão perceber —responde Camelia, resignada.—Não te preocupes, o Oliver estará a teu lado o teAo ouvir a notícia, Marlon olha para a sua assistente, Ariana, que imediatamente começa a tentar localizar Mailen no Brasil.—Obrigada por me avisar, Ari. Não te preocupes, eu vou tratar disso. Dou-te a minha palavra de que essa mulher não voltará a aparecer à tua frente. Concentra-te na tua esposa —assegura Marlon, observando as mãos de Ariana voarem pelo teclado—. Desta vez vamos livrar-nos de todas as ameaças de uma vez por todas, por nós mesmos. Não contaremos com mais ninguém.—Obrigada, Mano. Olha, não te esqueças do Manuel. Tenho medo de que, se o Leandro escapou com a ajuda dela, ele também o consiga —lembra Ariel, preocupado com o futuro da sua esposa.—Não te preocupes. O senador Camilo colocou-o na prisão com os assassinos mais perigosos, aqueles que estão à espera da morte. Lá ninguém escapa, mas vou mantê-lo sob vigilância —Ariel respira aliviado ao ouvir a notícia—. E tu, como estás, Ariel?—Desfeito, Mano. Não sabes como dói ver todas as marcas que aquele selvagem deixo
Ariel apertava-a com força, e isso era o pior e mais difícil de superar. Porque as feridas curam-se, as marcas no corpo desaparecem, mas aqueles pesadelos que ele ainda sofria permanecem por tempo indefinido. —Sei que é terrível, eu vivi isso, e às vezes ainda tenho esses pesadelos. Tudo vai ficar bem, querida, vais ver —falava sem deixar de a abraçar com firmeza contra o peito—. Mas ele está morto, amor. Nunca mais te voltará a tocar! Nunca mais! —Alguma vez acabam? Deixarei de sonhar com aquele momento de terror? —perguntou Camelia, angustiada. —Não será hoje nem amanhã, querida, mas garanto-te que um dia o esquecerás. Vamos encher as nossas vidas de momentos incríveis até que não haja espaço para os pesadelos —promete Ariel, com a esperança de que isso aconteça, não só para ela, mas também para ele—. Vamos, minha linda, para de tremer e chorar. Estás nos meus braços. Disseste que era o lugar mais seguro do mundo para ti. —E é, é! Sniff… sniff… Mas tenho tanto medo de não su
Camelia salta assustada com o beijo e recua com os olhos bem abertos. No entanto, Ariel finge não perceber e continua a falar como se nada tivesse acontecido, tentando oferecer-lhe aquela normalidade que ela tanto deseja. Ela o observa ficar nu à sua frente e, por instinto, abraça-se como se tentasse fugir; mas Ariel inclina-se e rouba-lhe um beijo quando ela fecha os olhos, aterrorizada.— Para com isso, Ariel — pede Camelia, afastando-se novamente com voz trêmula. No entanto, ele não a solta e mantém-na presa pelas mãos, puxando-a com carinho até que, aos poucos, ela cede e permite que ele a atraia. Ele volta a beijá-la, e desta vez Camelia não se afasta, embora diga: — Melhor ligares para que venham arrumar o quarto. Ajuda-me, quero ir tomar banho. Enche a banheira e põe muito sabonete cheiroso; preciso tirar este cheiro terrível que não sai do meu nariz.—
Camelia deixa-se cuidar, embora se estremeça sempre que ele a toca, recordando as terríveis e repugnantes mãos de Leandro. No entanto, aguenta o melhor que pode. Não lhe passou despercebido o grande esforço de Ariel para se manter tranquilo, animando-a e sem dizer nada. Agradece-lhe isso do fundo da alma. Quando ele termina de aplicar o creme em cada marca do seu corpo, escondendo-as da vista de ambos, ela abraça-o tal como está, nua. Ariel também a abraça com força, lutando contra a vontade de chorar ao ver aquelas horríveis mordeduras. Aperta-a com força enquanto pensa nas palavras que o seu irmão mais velho lhe disse: o único importante é que Camelia está viva.— Agora sim consigo sentir o teu cheiro, amor, agora sim! — exclama Camelia, emocionada.— Já desapareceu o outro? — pergunta Ariel, surpreendido.— Acho que si
Ismael tem estado ao lado da sua esposa, Sofia, o tempo todo. Só se afasta dela para levar a ginecologista até ao iate, o qual Ariel mantém muito próximo da costa. Decidiram esperar que a doutora dê alta a Camelia antes de embarcarem na viagem pelo mundo. Levanta-se ao ouvir o telefone tocar e, ao ver que é o Marlon, atende de imediato.— Diz-me, mano. Por favor, diz-me que tens algo para eu fazer. Ser dono de casa não é o meu estilo — brinca assim que atende a chamada.— Mais do que isso, meu irmão. Chegou a hora de tu e eu tomarmos o controlo e eliminarmos tudo aquilo que nos faz infelizes. Estás comigo nisto? — pergunta Marlon, com uma voz muito séria.— Sempre! — responde de imediato —. Diz-me quem tenho de tirar do nosso caminho e eu trato disso. Ainda mais agora que o meu filho vai nascer.— É algo muito sério e perigoso
O casamento de Ariel e Camelia continua no enorme iate de luxo da família. Ela é visitada uma vez por semana pela ginecologista Hilda. Os primeiros dias foram os mais difíceis; ela gritava constantemente e não conseguia dormir. Os curativos que precisavam ser feitos eram uma tortura para ela. Com o passar do tempo, no entanto, foi acalmando-se gradualmente e, conversando com o marido, ambos decidiram realizar sessões diárias com o psicólogo por videochamada.Para sua surpresa, após uma semana, Camelia começou a deixar de gritar durante a noite. Dormia abraçada a Ariel, aterrorizada ao recordar as coisas horríveis que Mailén lhe fizera quando o capturou. Sobretudo, aquele dia em que o seu marido se quebrou diante dela. Não conseguia esquecer o terror que sentiu, como se estivesse a acontecer consigo própria.— Quando acordei, já não estava em Las Vegas, mas
Ariel observa a sua esposa enquanto ela sai da água. É um momento que também o preocupa, mas ele não diz nada porque não quer aumentar a ansiedade de Camelia.—Não precisas preocupar-te com isso. Nós os dois já avançámos muito na nossa confiança. Vamos devagar, como da primeira vez, lembras-te? —tenta desanuviar a situação. Com expressão pensativa, continua—. Embora agora que penso nisso, acho que ia demasiado devagar. Certas pessoas obrigaram-me a ir mais depressa, ah, ah, ah...—Não sejas mau! Eu estava drogada —protesta Camelia, divertida ao recordar-se daquela primeira vez—. E tu estavas com medo, não o negues. Só me davas beijos, eu tive de te ajudar! Ah, ah, ah… Morrías de medo! Ah, ah, ah...— Não vou negar, estava com medo —aceita Ariel ao ver como ela continua a conversa no
O som das coisas ao cair faz com que saltem assustados. Ariel deixou-as cair ao ouvir a última notícia. Ele apanha-as nervoso, coloca-as na mesa e aproxima-se. Segura a mão de Camelia, que começou a tremer e a chorar.—Não fiques assim, querida, isso não vai acontecer —mas quase não consegue falar, aterrorizado diante dessa possibilidade—. Doutora, pode confirmar se as suspeitas são verdadeiras?—Não se adiantem, acalme-se, Camelia —a doutora, ao perceber o grande medo que ambos sentem, tenta tranquilizá-los—. Pode ser que a ausência do período seja causada por um transtorno ou por tudo o que tem estado a acontecer.—Não posso estar grávida desse monstro, doutora! Não suportarei isso! —vocifera Camelia, agora aterrorizada com a possibilidade—. A vida não pode odiar-me tanto!Faz-se um silêncio,