Camelia salta assustada com o beijo e recua com os olhos bem abertos. No entanto, Ariel finge não perceber e continua a falar como se nada tivesse acontecido, tentando oferecer-lhe aquela normalidade que ela tanto deseja. Ela o observa ficar nu à sua frente e, por instinto, abraça-se como se tentasse fugir; mas Ariel inclina-se e rouba-lhe um beijo quando ela fecha os olhos, aterrorizada.
— Para com isso, Ariel — pede Camelia, afastando-se novamente com voz trêmula. No entanto, ele não a solta e mantém-na presa pelas mãos, puxando-a com carinho até que, aos poucos, ela cede e permite que ele a atraia. Ele volta a beijá-la, e desta vez Camelia não se afasta, embora diga: — Melhor ligares para que venham arrumar o quarto. Ajuda-me, quero ir tomar banho. Enche a banheira e põe muito sabonete cheiroso; preciso tirar este cheiro terrível que não sai do meu nariz.—Camelia deixa-se cuidar, embora se estremeça sempre que ele a toca, recordando as terríveis e repugnantes mãos de Leandro. No entanto, aguenta o melhor que pode. Não lhe passou despercebido o grande esforço de Ariel para se manter tranquilo, animando-a e sem dizer nada. Agradece-lhe isso do fundo da alma. Quando ele termina de aplicar o creme em cada marca do seu corpo, escondendo-as da vista de ambos, ela abraça-o tal como está, nua. Ariel também a abraça com força, lutando contra a vontade de chorar ao ver aquelas horríveis mordeduras. Aperta-a com força enquanto pensa nas palavras que o seu irmão mais velho lhe disse: o único importante é que Camelia está viva.— Agora sim consigo sentir o teu cheiro, amor, agora sim! — exclama Camelia, emocionada.— Já desapareceu o outro? — pergunta Ariel, surpreendido.— Acho que si
Ismael tem estado ao lado da sua esposa, Sofia, o tempo todo. Só se afasta dela para levar a ginecologista até ao iate, o qual Ariel mantém muito próximo da costa. Decidiram esperar que a doutora dê alta a Camelia antes de embarcarem na viagem pelo mundo. Levanta-se ao ouvir o telefone tocar e, ao ver que é o Marlon, atende de imediato.— Diz-me, mano. Por favor, diz-me que tens algo para eu fazer. Ser dono de casa não é o meu estilo — brinca assim que atende a chamada.— Mais do que isso, meu irmão. Chegou a hora de tu e eu tomarmos o controlo e eliminarmos tudo aquilo que nos faz infelizes. Estás comigo nisto? — pergunta Marlon, com uma voz muito séria.— Sempre! — responde de imediato —. Diz-me quem tenho de tirar do nosso caminho e eu trato disso. Ainda mais agora que o meu filho vai nascer.— É algo muito sério e perigoso
O casamento de Ariel e Camelia continua no enorme iate de luxo da família. Ela é visitada uma vez por semana pela ginecologista Hilda. Os primeiros dias foram os mais difíceis; ela gritava constantemente e não conseguia dormir. Os curativos que precisavam ser feitos eram uma tortura para ela. Com o passar do tempo, no entanto, foi acalmando-se gradualmente e, conversando com o marido, ambos decidiram realizar sessões diárias com o psicólogo por videochamada.Para sua surpresa, após uma semana, Camelia começou a deixar de gritar durante a noite. Dormia abraçada a Ariel, aterrorizada ao recordar as coisas horríveis que Mailén lhe fizera quando o capturou. Sobretudo, aquele dia em que o seu marido se quebrou diante dela. Não conseguia esquecer o terror que sentiu, como se estivesse a acontecer consigo própria.— Quando acordei, já não estava em Las Vegas, mas
Ariel observa a sua esposa enquanto ela sai da água. É um momento que também o preocupa, mas ele não diz nada porque não quer aumentar a ansiedade de Camelia.—Não precisas preocupar-te com isso. Nós os dois já avançámos muito na nossa confiança. Vamos devagar, como da primeira vez, lembras-te? —tenta desanuviar a situação. Com expressão pensativa, continua—. Embora agora que penso nisso, acho que ia demasiado devagar. Certas pessoas obrigaram-me a ir mais depressa, ah, ah, ah...—Não sejas mau! Eu estava drogada —protesta Camelia, divertida ao recordar-se daquela primeira vez—. E tu estavas com medo, não o negues. Só me davas beijos, eu tive de te ajudar! Ah, ah, ah… Morrías de medo! Ah, ah, ah...— Não vou negar, estava com medo —aceita Ariel ao ver como ela continua a conversa no
O som das coisas ao cair faz com que saltem assustados. Ariel deixou-as cair ao ouvir a última notícia. Ele apanha-as nervoso, coloca-as na mesa e aproxima-se. Segura a mão de Camelia, que começou a tremer e a chorar.—Não fiques assim, querida, isso não vai acontecer —mas quase não consegue falar, aterrorizado diante dessa possibilidade—. Doutora, pode confirmar se as suspeitas são verdadeiras?—Não se adiantem, acalme-se, Camelia —a doutora, ao perceber o grande medo que ambos sentem, tenta tranquilizá-los—. Pode ser que a ausência do período seja causada por um transtorno ou por tudo o que tem estado a acontecer.—Não posso estar grávida desse monstro, doutora! Não suportarei isso! —vocifera Camelia, agora aterrorizada com a possibilidade—. A vida não pode odiar-me tanto!Faz-se um silêncio,
A doutora tranquiliza Ariel, dizendo-lhe que nada disso os vai afectar, mas Camélia deve submeter-se de imediato a um check-up geral no hospital. Além disso, terão de manter um acompanhamento constante durante e após a gravidez. Não sabem se ela contraiu o VIH.—Embora te tivéssemos feito profilaxia, Camélia, agora mais do que nunca tens que te manter atenta —observa o olhar de medo nos seus rostos, sorri e pergunta—. Querem ouvir novamente o batimento? Camélia?—É do Ariel? Tem a certeza de que o meu bebé é do Ariel? —insiste Camélia, sentindo ainda um enorme medo no seu peito.—Sim, sim, querida! De certeza que foi naquele dia no jardim! Ah, ah, ah… —ri nervosamente Ariel, tentando desviar a atenção do susto que Camélia sente—. Ou foi na praia?—Ariel! —exclama Camélia, corando ao nota
Ambos conversam enquanto avançam, seguindo as crianças que correm ao encontro de Marcia, que saúda Ismael com uma mão enquanto ouve os seus filhos gritar ao ver o avião levantar voo novamente.—Lembras-te do tipo que salvei junto com os outros, por quem me deram a medalha de coragem, e que depois desapareceu do acampamento? Chamava-se Osvaldo —recorda ele com tristeza.—Sim, agora lembro-me. O que aconteceu com ele? Estava no Brasil? —pergunta com interesse.—Exactamente, pai! Devia ter deixado que o matassem! —exclama Ismael, visivelmente irritado.O pai, ao ouvi-lo, para e olha-o nos olhos. O filho, imediatamente, conta-lhe que Osvaldo era um dos homens que dirigia a rede de tráfico humano e que agora compreende o que gritava a mulher, num idioma que ele não entendia, quando chegou para a resgatar.—Eles estavam a espancá-lo porque ele tinha atacado uma das ra
Ismael, ao ouvir aquilo, emociona-se e imediatamente coloca as mãos na barriga da esposa, que continua a contar que a mãe e o bebé não conseguiram dormir bem durante o mês em que ele esteve ausente.—Vamos, amor, ficaremos contigo para descansar e promete que nunca mais te vais separar de nós —diz-lhe, beijando-o com amor.—Prometo, amor, prometo, bebé —responde Ismael, que não podia estar mais feliz. Olha para o pai e aponta para a mãe. Ele acena com a cabeça e observa-os afastarem-se felizes.Depois, concentra-se no olhar preocupado da sua esposa, Aurora, que observa o marido junto de Marcia e dos netos. Aproxima-se deles, e as crianças abraçam-na, mas soltam-na imediatamente ao verem o pai, Marlon, aproximar-se.—Meninos! Não corram assim! —chama-lhes a atenção Marcia, que corre atrás deles.—Porquê