Se Mailén estava frustrada, Enrique estava aterrorizado. Jamais imaginara que causaria tamanho desastre por causa das suas brincadeiras infantis de querer ser o rapaz popular e arrogante da escola. Conhecia os Rhys, mas nunca tinha prestado atenção às fotografias do irmão mais novo, pois nas revistas só apareciam os mais velhos, como se mantivessem Ariel escondido.
E agora, o que iria fazer? Como poderia reparar tamanha afronta aos Rhys? Podia sentir o olhar do pai cravado nele, e isso que ainda não sabia de nada. Devia contar-lhe tudo para ver se conseguiam antecipar-se à represália que os Rhys tomariam contra os seus negócios.—Enrique, ajudo-te em tudo, só tens de dizer que me ameaçaste fazer-lhe mal se eu não fizesse isto! Por favor, Enrique, diz-lhe que o fiz por ele —suplicou Mailén, arquitetando rapidamente um plano na sua mente que a ilibaria.—EVendeu todos os seus pertences e partiu para Paris, onde ingressou na escola de representação. No seu primeiro papel secundário, seduziu o veterano realizador, que abandonou a família por ela. Esmerou-se em cuidar dele até conseguir livrar-se dele, ficando com toda a sua fortuna graças à ajuda do seu amante, o advogado. Não era propriamente famosa, mas era reconhecida; entrou no mundo da moda pagando para desfilar nas passarelas, chantageando ou subornando quem fosse necessário. Tornou-se uma mestra da manipulação.Aparentava ser feliz, mas nada a satisfazia realmente. Na sua mente só existia a vingança contra o Ariel Rhys. A esta altura, convencia-se a si própria de que não tinha culpa alguma. Tinha sido a vítima do menino rico que lhe ocultou a sua identidade, obrigando-a a frequentar lugares de classe baixa, restaurantes e clubes medíocres, a relacionar-se c
Tudo estava preparado: capturariam a Camelia quando descesse às urgências sob o pretexto de que a sua avó tinha sido levada para o hospital com uma doença grave. Entretanto, tinha subornado um médico que lhe revelou exatamente onde o Félix os tinha colocado. Para sua satisfação, ele próprio os ajudaria a capturar o Ariel; drogá-lo-iam e levá-lo-iam para o aeroporto, onde ela esperaria para desaparecer com destino desconhecido. Jamais voltaria a deixar escapar o Ariel Rhys, jamais!Já não se tratava de dinheiro, isso tinha de sobra. Queria dobrar o homem que a desprezava. Impaciente, dava voltas junto ao avião, que estava pronto para descolar assim que o trouxessem. Ligou à Eleonor para se certificar.—Eleonor, já foram para o hospital? —perguntou nervosamente, consciente de que era a sua única oportunidade.—Já estamos aqui, ma
Ariel abre os olhos e se vê em seu quarto, na casa dos pais. Ao seu lado, seus irmãos dormiam abraçados ao seu corpo, como se temessem que alguém pudesse tirá-lo deles. Nesse momento, ele entende o grande erro que cometeu e o quanto foi egoísta com eles. Deveria ter demonstrado confiança, feito com que sentissem que o protegiam bem. Agora percebe que o psicólogo estava certo quando disse que a única maneira de seus irmãos se curarem era mostrando-lhes confiança absoluta, sem afastá-los de sua vida e muito menos se distanciando deles.Com cuidado, ele afasta a mão de Marlon de seu peito. Este, ao sentir o movimento, desperta e abre os olhos.—Como você está, Ari? —pergunta imediatamente.—Desculpa, Mano, não quis te acordar. Ainda estou meio tonto —responde com um sorriso, tentando tranquilizá-lo. Ele consegue ver o medo nos olhos do irmão mais velho.—Como você pôde sofrer sozinho, Ari? Como? —repreende Ismael, que também havia acordado—. Por que não confiou na gente?—Me perdoem. Ag
Marlon e Ismael olham-no com desagrado, mas ao mesmo tempo aliviados ao ouvir a promessa do irmão. Mesmo que Ariel não lhes diga nada, estão decididos a cuidar dele, não importa o quê. Diante do seu silêncio, Ariel acrescenta:—Quer dizer..., se não se importarem de ter um irmão mais novo insuportável ligando a cada cinco minutos.—K, k, k..., não me importo que me ligue cem vezes por dia, pelo contrário —diz Ismael—. Vou adorar, você não sabe como sinto sua falta.—Nem eu —apressa-se a dizer Marlon—. Terei sempre o telefone ao meu lado para te atender, Ariel. Por favor, não volte a nos deixar fora da sua vida. Sei que ficamos obsessivos com seu cuidado depois daquele acidente, mas não nos afaste. Somos três irmãos, juntos nas alegrias e nas tristezas.—Os três mosqueteiros! —exclama Ismael rindo—. Lembra, Ari, que nos fazia brincar assim com você, mesmo já sendo grandes?Ariel ri ao recordar aquela época. Adorava brincar com seus irmãos mais velhos. Depois adota uma expressão de tris
A avó assente enquanto conta que os três estão presos por conspirar na tentativa de assassinato do Ariel e no incêndio da empresa. Não param de ligar e de implorar para que ela fosse vê-los, mas ela tinha se negado categoricamente e pediu que as deixassem em paz. Nenhuma delas iria mover um dedo por eles.—Não vai fazer isso, Camelia, não vou permitir que você os ajude —diz muito séria a idosa, olhando fixamente para sua neta—. Sua mãe esteve com seu pai o tempo todo, é cúmplice. Nem pense em pedir à família do Ariel que os perdoem. Eles têm que aprender a lição; não se pode ir pela vida fazendo mal sem pensar nas consequências. Não, minha neta, desta vez eles devem assumir e pagar pelo que fizeram.—E o que vai acontecer com a fábrica de cerâmica? —pergunta Camelia preocupada.Sua avó balança a cabeça, pensando que sua neta nunca vai mudar. Depois conta que vendeu a fábrica. Diante do olhar surpreso de Camelia, preocupada com a reação que seu pai possa ter quando souber, a idosa fran
Marlon ignora seus protestos e garante que não será apenas Ismael a vigiá-lo; ele pessoalmente se certificará de que esteja protegido. Jamais voltará a seguir os conselhos do pai nesse sentido. Por tê-lo feito, Ariel sofreu sozinho nas mãos daquela louca.—Agora resulta que a culpa é minha —diz o pai com tristeza.—Não, não, pai —intervém Ariel ao ver o olhar triste de seu pai pousado nele—. Vamos, Mano, Isma, a culpa foi minha, não do pai. Eu devia ter vindo correndo falar com ele assim que ela me sequestrou pela primeira vez. Mesmo que não contasse para vocês, não devia ter escondido do pai. Me perdoe por isso; não é que eu não confie em você, pai, é que eu tinha vergonha.—Mas ela te sequestrou mais de uma vez? —perguntam Marlon e Ismael em uníssono.Ariel baixa a cabeça envergonhado e é novamente abraçado pelo pai. Seus irmãos permanecem em silêncio enquanto ouvem seu pai dizer que a culpa é de todos. Tinham-no colocado nessa situação depois do acidente.—Vamos, Ari, pare de senti
Todos riem felizes ao redor da bela mesa na varanda. Depois do café da manhã, ficam partilhando histórias entre si, a maioria sobre Ariel quando era criança e as travessuras que fazia com seus irmãos adolescentes. Abraçam-se e acariciam-se, como se temessem que este momento precioso pudesse desvanecer.Os esposos Rhys, com Ariel entre eles, não param de observá-lo. De tempos em tempos, quase inconscientemente, acariciam-no, arrumam-lhe a roupa ou o cabelo, insistem para que coma mais. Ele deixa-se mimar sem protestar, contrário ao que costumava fazer antes, sentindo também essa necessidade do cuidado paternal. Sem se importar com quem os observe, às vezes recosta a cabeça no peito do pai ou no da mãe.—Que menino mimado temos aqui! Merece umas boas repreensões —diz a avó de Camelia com um sorriso maroto.—Avó! —exclama Camelia, envergonhada.As risadas inundam a varanda enquanto todos se levantam para receber a senhora Gisela, que chega junto com sua neta. A senhora Aurora é a primeir
Um profundo silêncio instala-se entre eles diante das palavras de Ismael Rhys. Ninguém sabe o que pensar. Estão cientes dos seus problemas mentais e neste momento duvidam. O que os lidera aproxima-se devagar e pergunta-lhe diretamente se é verdade que teriam uma reserva própria, mesmo que esteja contaminada por elementos indesejáveis.—Tem certeza de que é nossa? —insiste o homem—. Seu irmão Marlon mandou demolir tudo.—Papai proibiu Mano e acabou de me entregar. Vamos, rapazes —responde com firmeza Ismael, mas ao ver a dúvida persistente em seus rostos, acrescenta—: Não confiam em mim?—Com todo respeito, chefe, mas todos sabemos que só lhe interessam os aviões. Não acredito que seu pai o coloque à frente de outros negócios —responde o soldado ao seu lado.—K, k, k ! —ri divertido Ismael sem se ofender—. É verdade, terão que construir um aeroporto lá para mim. Essa cidade é de vocês, então digam ao major para ir e cuidar da limpeza, começando pela polícia.—É sério, chefe? Podemos no