O domo. Bem diferente sob o sol. Desta vez não cruzamos portas na direção da arena, mas seguimos até as arquibancadas pelo corredor da esquerda.
Quase todo o povoado estava ali à espera de algo certamente grande. O que seria? Pancadaria entre gladiadores? Uma encenação? Números circenses? Segui com o músico pelo topo das nove plataformas que compunham a arquibancada onde espaços vazios ainda existiam. Encontramos um próximo a Dehvorak e Garpot e nos sentamos.
Pássaros distraídos sobrevoavam a multidão. O dia reinava supremo sobre nossas cabeças, enaltecendo cada barra da cúpula gradeada responsável pela denominação daquele pequeno co
Fim das brincadeiras. Uma vez terminado o combate, Adotretomou sua rotina e os visitantes desfrutaram a tal cabana das piscinas quentes. Aquilo era bom demais! Maxis nem voltou a sorrir. Estava humilhado. Cada vez que era visto por um habitante local, comentários sorrateiros surgiam acompanhados de risos. O tatuado me fitava irado sempre que isso acontecia, como se a culpa fosse minha. Rapskin também recebeu olhares de rancor e simplesmente os ignorou. Massagens; relaxamento; conversa mole; devaneios. Onde estariam os homens invisíveis àquela hora? Dehvorak exigia suas riquezas; Rapskin implorava explicações sobre a estrondosa transformação da vida de mago a quem serviu. Maxis nem chegou a falar, desperd
– Estou dentro! – ela exclama. – Não consigo ver coisa alguma, mas sei que estou dentro. Fale comigo! Fale! – Mildred, é você? Que lugar é esse? Onde estamos? – pergunto. – Aqui é seu espírito. Minha alma achou a sua. O feitiço funcionou! – Então por que só vejo esse clarão branco? – Ainda não descobri. – E quanto a você? O que vê? Onde está que não a encontro?
Adot, da janela da cabana onde fui parar, era infinita como o céu e serena como as nuvens, com o crepúsculo pairando sobre cabras e homens empapados de suor. Mãos hábeis se endureciam ao recolher espigas num milharal próximo. Tochas se acendiam ao longo do terreno... iluminando seis guerreiros em combates simulados e golpes ineficazes... deixando bem clara sua falta de experiência. Imagens me vieram à mente a cada baque das espadas de madeira. Lembranças? Lições de um tutor... estágios de aprendizado... modos de golpear. Os rapazes lá fora se restringiam a bater com o gume da espada leve, jamais usando as pontas para estocar. Coisa típica de novato. Voltei então à norma
Faltava pouco... muito pouco... estava quase pronto. Vinte e uma horas haviam se passado desde a sugestão controversa da bruxa. Vinte e uma longas horas para que a arena do grande domo de Adot – lugar onde Duoff humilhara Maxis em sua demonstração magistral de combate corpo-a-corpo – se transformasse no epicentro do que muitos preferiam chamar de “ritual sombrio”. Mas por que sombrio?Mildred passaria uma parte daquele dia atarefado a me contar histórias sobre os espíritos que habitam uma dimensão mística conhecida como “O limbo perdido deChacrau
Duas mulheres que há instantes atrás ainda confeccionavam bonecos de pano assumiram suas novas funções ritualísticas junto a dois homens que seguravam grossas baquetas de madeira atrás dos tambores ao lado da porta de acesso. Enquanto isso, dois rapazes magros trataram de deslocar um caldeirão médio até a fogueira próxima, pendurando suas duas alças em dois suportes de metal que flanqueavam a lenha, um de cada lado. Dois membros do conselho caminharam em meio a candelabros e copinhos com velas nesse ínterim, passando por dois sujeitos: um mago e uma aprendiz, que corriam em direção a uma pira ainda apagada. Os demais bruxos de azul ao longo da arena voltaram suas cabeças a livros no instante em que Lilandra e Kingler ergueram dois cajados de metal para o céu, anunciando a proximidade
(“Eu soube! Percebi assim que o vi!”) ** – Mildred? (“Foi estranho no começo, admito! Você apareceu tão de repente! Seus olhos! Vi tudo em seus olhos!”) ** – Mildred! (“Este mundo é tão louco! Tão louco!”) ** – Mildred! O feitiço funcionou! Estamos dentro! (“Não é estranho? Parece que nos conhecemos há anos!”) ** – Sei disso, mas é melhor nos apressarmos! Está tudo escuro
Essa casa... Está claro aqui. Mas ainda há escuridão vindo da janela com grades, pois é noite. Lua cheia? Algo não me deixa ver com perfeição. Sim... lua cheia... lá fora. Frio também. Deve estar bastante frio do outro lado destas paredes, creio. Aqui dentro não. Dois castiçais a minha volta tornam o cômodo bem acolhedor. Encontro-me num pequeno aposento agora. O castiçal maior foi colocado sobre uma prateleira presa à parede, logo abaixo da janela. O menor permaneceu no chão sob um mapa emoldurado em bronze que é o único enfeite deste recinto.
Não consigo mover um músculo de tão chocado que estou. Mildred, à minha direita, também permanece imóvel. Ela é o único ser além de mim a ocupar o aposento comprido e muito bem ornamentado onde nos encontramos. Pelo menos deste lado do espelho. – Olá, amor? Sentiu minha falta? – indaga-me um reflexo conhecido. Sim, é ela! A jovem que encontrei encarcerada ao longo de meus delírios na caverna murgon. A bela mulher do retrato cujos trajes são idênticos àqueles que usou numa cela, dias atrás, quando nem fazia parte da realidade. Faz agora? – Obrigada, feiticeira. – Ela mantém seus olhos castanhos em Mildred enquanto fala. – Sou incapaz de achar palavras para qualificar o qu