Permaneci o dia seguinte envolto em angústia e confinado naquele maldito prédio enquanto os outros cuidavam dos preparativos para a viagem. Dehvorak felizmente estaria entre eles, assim como o próprio Maxis que, juntamente com Zagarith e Iurdok, seria pago para nos escoltar. Rapskin também levaria uma mulher elfo de nome Padelah como guia e batedora, pois embora conhecesse bem os mapas da região, o músico não era tão sagaz na hora de encarar seus correspondentes reais. Enfim, Garpot se encarregou de fechar a futura trupe.
Tão logo mostrei minha mão direita a Dehvorak, este quase caiu para trás, esmerilhando qualquer resquício de incredulidade quanto à veracidade de minhas palavras. A impressão que tínhamos era a de que aquele estranho fenômeno estava piorando de algum modo. E isso me deixou desesperado.
Felizmente não sonhei... não que me lembrasse. Acordamos bem cedo porque a partida havia sido marcada para pouco depois do alvorecer. Rapskin juntou mantimentos e Dehvorak surgiu à porta no intuito de me mostrar uma casa próxima onde permanecemos por aproximadamente uma hora. Lá havia armaduras. Testei diversas e acabei ficando com uma cota de malha muitíssimo resistente reforçada por placas de ferro no peito, cotovelos, virilha, canelas e joelhos. Um escudo metálico negro também faria parte de meu arsenal, assim como a belíssima espada longa com o pomo em forma de cabeça de águia. Senti-me um cavaleiro tão logo coloquei o elmo com chifres, que só deixava de fora os olhos, a boca e o nariz. Cavaleiro. Enunciei isso à caveira, desapontando-me em vê-la mencionar bruxos guerreiros outra vez, citando feiticeiros lendários q
Liberdade. Talvez a palavra mais perfeita para descrever o sentimento momentâneo pelo qual fui arrebatado. Admito que o medo diante de minhas circunstâncias particulares ainda estava longe de morrer, mas certos instantes de tranquilidade como os que ocuparam aquelas primeiras horas de viagem diminuíam a intensidade de emoções ruins. O tempo foi passando; a trilha sendo atravessada sob a mais absoluta quietude. A estrada principal para Valks se constituía numa via de terra bem larga que desbravava a mata às vezes densa e às vezes aberta. Passadas duas horas e meia de jornada, paramos para rever o mapa. Padelah e Rapskin eram os que executavam essa tarefa com maior tenacidade. – Podemos dei
Passado um tempo de peregrinação quase cega, a névoa enfim se dissipou, concedendo àqueles pinheiros, nogueiras e enormes baobás a nitidez visual que mereciam. Pouco a pouco o mato recuperava sua beleza verdejante, tornando visíveis os felizes donos dos sons tão agradáveis à nossa volta. Sabiás, andorinhas e bem-te-vis podiam ser observados novamente. – Para onde estão nos levando? – perguntou Maxis a um sujeito meio gordo que lhe apontava uma lança. – Cale-se! – foi a resposta do homem. Uma menina de cabelos ruivos remexia minha mochila enquanto outra montava o aguat
À medida que o templo de bambu se aproximava, os batimentos aqui dentro ficavam mais rápidos, já que dezenas de passos eram tudo que me separava de uma possível solução para aquele tormento. Turick estava ausente, eu sabia, mas a estranha mulher de preto aparentava possuir poderes bem superiores aos do velho murgon da gruta. E nem cheguei a mencionar a mais velha. Talvez uma maga poderosa. Dehvorak andava de cabeça baixa enquanto Rapskin murmurava algo ininteligível. Devia estar ensaiando o que dizer diante do tal conselho. Senti pena, medo e admiração pelo anão negro, pois suportara todos os insultos de Maxis sem perder a compostura. Tentei imaginar as aptidões que o capacitaram assumir aqueles jovens, transmitindo-lhes confiança. Certamente não havia sido designado para chefiá-los apenas por piedade. Se não era bom g
A porta voltou. O minotauro chegou.De novo... para sempre.De novo... para sempre.A maçaneta me quer. Giro assim que puder. De novo... para sempre.De novo... para sempre.Não há
O susto durou pouco. Na verdade a amnésia de Telus foi só temporária, para alívio dos membros do conselho; e meu, evidentemente. Da câmara subterrânea, retornamos ao aposento com almofadas, rabiscos, magos, ladinos e um meio-elfo. A decepção nos olhos de Mildred, decepção oriunda dos rumos inesperados da experiência, não apareceu sozinha. Havia algo inédito antes inexistente. Algo familiar. Algo semelhante ao ar de desafio do velho murgon diante do fracasso do pó, que se multiplicou no segundo insucesso. Uma vontade de superação. Uma chance de experimentar limites e quebrá-los. A maga de fato demonstrou grande interesse e envolvimento com meu problema anteriormente, mas não daquela forma, não
O resto do conselho não demorou a saber do fracasso da maga e reuniu-se numa discussão a portas fechadas por quase uma hora. Nesse ínterim, visitei os companheiros recém-deslocados da arena, já em cabanas com camas improvisadas de palha. Numa delas estavam Padelah, o bardo e eu. Pus-me a adiantar os fatos sob um banquete de mosquitos.– Rapskin já havia me contado de sua situação – revelou Padelah ao homem sem nome. – Minha tribo conta com excelentes feiticeiros. Poderíamos levá-lo até lá. Fitei o músico, demonstrando desaprovação. – Se não
Outro sono sem lembranças. Que bom! Talvez já tenham me dito que nunca dormimos sem sonhar. Se isso era realmente verdade, o que ocorria então naquelas noites onde aparentemente nada atormentava meu espírito? A porta estava relacionada ao minotauro que, segundo Evelyn, significava valentia e bravura. Qual a relação? Renascimento... traição? Frases da maga não me saíam da cabeça. De repente ouvi sua voz. – Acorde, amor! Abrace-me! Beije-me! – O quê? Era Rapskin. Tomei um susto. – Acorde, “Sr. Borrão”! Já é manhã! O senhor está bem? – Último capítulo