Acordei sentindo um formigamento no rosto. Bom... tão logo o toquei, percebi que o termo formigamento não era só uma metáfora. Tapas sucessivos espantaram e mataram os atrevidos insetos, deixando talvez uns poucos remanescentes. Fiquei feliz ao perceber o movimento de meu braço esquerdo, já curado. A dor oriunda das duas perseguições não havia cessado, mas ao menos diminuído. Andar se tornou mais fácil, por isso deixei aquele lugar desolado, agradecendo todos os deuses desconhecidos que outrora o habitaram.
Estavam calmas, as ruas por onde trafegava. Poucas pessoas perambulavam a céu aberto na manhã que sucedeu a feira
A primeira atitude que tomei após deixar o rato foi procurar aquele alcoice uma vez mais. Gastei tempo e saliva para achar o lugar espremido entre duas edificações de três andares. Do lado de fora estavam cinco prostitutas, incluindo a colega de Lívia que transou comigo. Fui a ela. Outros dois sujeitos dialogavam com as meretrizes na hora, mas nenhum com a tal mulher. Ela nem viu quando me aproximei e tomou um baita susto, virando-se contrariada. – Aiii! O que quer? Parece maluco! – Desejo pedir perdão pelos estranhos eventos daquela tarde. Diga-me apenas se Lívia está aí dentro. – Eu, hein? Est
Dehvorak foi até o cômodo onde devia estar o tal Icarus e de lá trouxe três novas velas para o castiçal. Acendeu-as, acompanhando a menina de pele escura e cabelos ondulados que também surgia daquele recinto. Elise fez um movimento manual e a caveira assentiu com a cabeça, ordenando que ela seguisse pela outra porta até as escadas, sendo prontamente obedecido. Rapskin recolocou sua flauta na mochila. Tinha observado bem os movimentos da garota. – Esperem só até ela crescer! – disse. Todos silenciaram à espera de mais um discurso do músico. O homem devia ser cheio de aptidões acadêmicas. As novas velas foram acesas com o auxílio das que
Um visitante inusitado que ali surgisse ou mesmo Icarus, caso aparecesse à porta, imaginaria tratar-se de uma cena congelada, fora do tempo, porque foi nisso que aquela sala com cinco cadeiras se transformou. Nada se movia no recinto, à exceção de uns poucos corações ainda aflitos e sei lá o que mais de onde a respiração de três sujeitos tirasse sustento. Paulatinamente voltamos à normalidade de nossas almas e apoiamos as nádegas em superfícies acolchoadas sobre quatro pernas de madeira boa cada. Rapskin, ainda levemente assustado, foi o primeiro a romper o silêncio.– Ufa! Que loucura! Esse rato está piorando a cada dia! Lembro-me da última vez que o encontrei! Hoje, sem sombra de dúvida, ele se supe
Lá atrás... longe do alcance visual... algo me persegue. Preciso correr e muito junto a essa estranha mulher que me acompanha... sem roupas... assim como eu... de novo.Mata alta à minha volta sem árvores, mata aberta, e eu corro, corro, corro, vento passa... fujo novamente e sempre... sempre. Grama balança conosco e com eles a cavalo e com armaduras perseguindo, perseguindo, em meu encalço, incessante, sem parar... impiedoso.Armaduras, manguais, espadas, lanças, cavaleiros, bárbaros, malditos me perseguem... a ela também que cai no ch&ati
Permaneci o dia seguinte envolto em angústia e confinado naquele maldito prédio enquanto os outros cuidavam dos preparativos para a viagem. Dehvorak felizmente estaria entre eles, assim como o próprio Maxis que, juntamente com Zagarith e Iurdok, seria pago para nos escoltar. Rapskin também levaria uma mulher elfo de nome Padelah como guia e batedora, pois embora conhecesse bem os mapas da região, o músico não era tão sagaz na hora de encarar seus correspondentes reais. Enfim, Garpot se encarregou de fechar a futura trupe. Tão logo mostrei minha mão direita a Dehvorak, este quase caiu para trás, esmerilhando qualquer resquício de incredulidade quanto à veracidade de minhas palavras. A impressão que tínhamos era a de que aquele estranho fenômeno estava piorando de algum modo. E isso me deixou desesperado.
Felizmente não sonhei... não que me lembrasse. Acordamos bem cedo porque a partida havia sido marcada para pouco depois do alvorecer. Rapskin juntou mantimentos e Dehvorak surgiu à porta no intuito de me mostrar uma casa próxima onde permanecemos por aproximadamente uma hora. Lá havia armaduras. Testei diversas e acabei ficando com uma cota de malha muitíssimo resistente reforçada por placas de ferro no peito, cotovelos, virilha, canelas e joelhos. Um escudo metálico negro também faria parte de meu arsenal, assim como a belíssima espada longa com o pomo em forma de cabeça de águia. Senti-me um cavaleiro tão logo coloquei o elmo com chifres, que só deixava de fora os olhos, a boca e o nariz. Cavaleiro. Enunciei isso à caveira, desapontando-me em vê-la mencionar bruxos guerreiros outra vez, citando feiticeiros lendários q
Liberdade. Talvez a palavra mais perfeita para descrever o sentimento momentâneo pelo qual fui arrebatado. Admito que o medo diante de minhas circunstâncias particulares ainda estava longe de morrer, mas certos instantes de tranquilidade como os que ocuparam aquelas primeiras horas de viagem diminuíam a intensidade de emoções ruins. O tempo foi passando; a trilha sendo atravessada sob a mais absoluta quietude. A estrada principal para Valks se constituía numa via de terra bem larga que desbravava a mata às vezes densa e às vezes aberta. Passadas duas horas e meia de jornada, paramos para rever o mapa. Padelah e Rapskin eram os que executavam essa tarefa com maior tenacidade. – Podemos dei
Passado um tempo de peregrinação quase cega, a névoa enfim se dissipou, concedendo àqueles pinheiros, nogueiras e enormes baobás a nitidez visual que mereciam. Pouco a pouco o mato recuperava sua beleza verdejante, tornando visíveis os felizes donos dos sons tão agradáveis à nossa volta. Sabiás, andorinhas e bem-te-vis podiam ser observados novamente. – Para onde estão nos levando? – perguntou Maxis a um sujeito meio gordo que lhe apontava uma lança. – Cale-se! – foi a resposta do homem. Uma menina de cabelos ruivos remexia minha mochila enquanto outra montava o aguat