Cap 05

#Lucy

Ligo meu celular e telefono para casa, antes da aula de Química, para saber como vai minha irmã. Amora não está nada feliz, porque Karla teve um ataque depois de provar o almoço. Pelo que entendi, Karla jogou sua tigela de iogurte no chão, em sinal de protesto.

Seria demais esperar que minha mãe tirasse um dia de folga no country club, para cuidar da adaptação de Amora em nossa casa?

O verão começou oficialmente. E não posso estar em casa para cobrir as falhas da nova enfermeira de Karla.

Eu bem que deveria me concentrar mais nos meus objetivos. Entrar na mesma universidade que meu pai cursou, a Northwestern, é minha meta principal. Assim, poderei estudar perto de casa e ter mais tempo para ficar com minha irmã.

Depois de fazer algumas sugestões a Amora, respiro fundo, colo um sorriso nos lábios e vou para a classe.

— Ei, baby, guardei um lugar para você. — Samuel me mostra um assento ao seu lado. Mesas altas, de laboratório, com dois lugares cada uma, estão dispostas na sala. Isso significa que vou me sentar ao lado de Samuel, nas aulas de Química, durante o resto do ano. Significa também que faremos, juntos, o tão temido projeto sênior de Química.

Sentindo-me uma tola por ter pensado que as coisas não estavam bem entre nós, eu me acomodo no banco alto, e pego meu pesado livro de Química.

— Ei, veja, Belmonte está na nossa classe! — diz um garoto, no fundo da sala. — Ei, Mattias, venha para cá!

Tento não olhar enquanto Mattias cumprimenta seus amigos com tapinhas nas costas e apertos de mão complicados demais para serem repetidos.

Todos dizem ese uns aos outros; sei lá o que isso significa. A presença de Mattias atrai todos os olhares.

— Ouvi dizer que ele foi preso na semana passada, por posse de metanfetamina — Samuel cochicha ao meu ouvido.

— Não!

— Sim — ele diz, erguendo as sobrancelhas.

Bem, essa notícia não deveria me surpreender. Ouvi dizer que Mattias sempre passa os fins de semana drogado, desmaiado, ou envolvido em alguma atividade ilegal.

A Sra. Benson entra na sala e fecha a porta, com um estrondo. Todos os olhares se movem, do fundo da sala, onde Mattias e seus amigos estão sentados, até a frente, onde está a Sra. Benson, em pé. Ela tem cabelos louros, presos num rabo-de-cavalo bem apertado. Deve ter quase trinta anos, mas os óculos e a expressão de perpétua severidade fazem com que pareça bem mais velha.

Ouvi dizer que ela ficou assim, muito brava, porque no primeiro ano em que lecionou aqui os alunos a fizeram chorar. Também, eles não respeitariam uma professora jovem o suficiente para ser sua irmã mais velha.

— Boa tarde. Sejam bem-vindos à aula de Química. — Ela se senta na borda da mesa e abre uma pasta. — Vejo que já escolheram seus lugares; mas acontece que eu mesma resolvi organizar os assentos... em ordem alfabética.

Reclamo, junto com toda a classe, mas a Sra. Benson não perde a moral... Parando em frente à primeira mesa, diz:

— Samuel Álvarez, sente-se aqui. Sua parceira será Âmbar Smith.

Âmbar Smith faz parte do grupo de torcida do colégio, junto comigo. Sou a líder e ela é uma espécie de co-capitã, ocupando a segunda posição, no grupo. Âmbar me pisca um olho, como se pedisse desculpas, e senta-se ao lado do meu namorado.

Enquanto a Sra. Benson vai lendo a lista, os estudantes relutantemente se deslocam para os lugares por ela designados.

— Lucy Valverde... — A Sra. Benson, aponta para a mesa atrás de Samuel. — Queira sentar-se ali, por favor.

Sem nenhum entusiasmo, obedeço.

— Mattias Belmonte... — E ela indica o banco ao meu lado. — Ali.

Oh, meu Deus! Mattias... meu parceiro de Química durante este ano inteiro? De jeito nenhum, não há como, isso não está direito!

Lanço a Samuel um olhar que é um pedido de socorro, enquanto tento evitar um ataque de pânico.

Definitivamente, eu deveria ter ficado em casa, na cama, debaixo das cobertas.

— Matt — ele diz à professora — me chame de Matt.

Interrompendo a leitura da lista, a Sra. Benson ergue os olhos e o observa, por cima dos óculos.

— Mattias Belmonte — ela diz, antes de alterar o nome, na lista. — Sr. Belmonte, tire esse lenço. Tenho uma política de tolerância-zero, em minhas aulas. Não permito qualquer tipo de acessório relacionado a gangues, nesta sala.

Infelizmente, Mattias, sua reputação fala por você. Quanto ao Dr. Grey, ele apoia totalmente minha política de tolerânciazero... Fui clara?

Matt a olha de cima a baixo, antes de fazer deslizar o lenço que traz na cabeça, expondo cabelos tão negros quanto seus olhos.

— É para esconder os piolhos — Samuel cochicha para Âmbar , mas eu o escuto... E Mattias também.

— Vete a la verga — diz Mattias a Samuel, com os olhos negros incandescentes de raiva. — Não meta o focinho onde não é chamado.

— Qual é, cara? — Samuel rebate. E então se dirige a todos: — Ele nem sabe falar Inglês.

— Já chega, Samuel. Sente-se, Mattias. — A Sra. Benson olha para o resto da classe. — Isso vale para todos vocês. Não posso controlar o que fazem fora daqui, mas, na minha aula, quem manda sou eu. — E volta-se para Mattias. — Fui clara?

— Sí, señora — ele responde, lentamente.

A Sra. Benson continua a ler a lista, enquanto faço de tudo para evitar qualquer tipo de contato visual com o cara sentado ao meu lado. Foi uma pena deixar minha bolsa no meu armário; eu poderia fingir que estava procurando alguma coisa, como fez Nala, nesta manhã.

— Que droga — Mattias resmunga, mais para si mesmo. Sua voz é sombria e áspera...

Ou será que ele fala desse jeito, de propósito?

Como vou explicar à minha mãe que sou parceira de Mattias Belmonte?

Oh, Deus, espero que ela não pense que isso aconteceu por minha culpa.

Olho para meu namorado, totalmente entretido numa conversa com Âmbar . Sou tão ciumenta! Por que meu sobrenome não é Allis, em vez de Valverde? Assim eu poderia me sentar ao lado dele.

Seria bom se Deus desse a cada pessoa um Do Over Day: um dia para corrigir o que está errado, para reviver o que é bom. E então a gente poderia gritarn Recomeçando! E um novo dia teria início. Hoje é um dia em que eu, definitivamente, faria isso: começaria tudo de novo. Será que a Sra. Benson realmente acha justo colocar a líder da torcida organizada como parceira do cara mais perigoso do colégio? Ela só pode estar delirando!

A Sra. Delirante termina, finalmente, de designar os lugares.

— Sei que vocês, estudantes do último ano, pensam que sabem tudo. Mas não se considerem pessoas bemsucedidas... Não antes de contribuir para a cura de doenças que afligem a humanidade, não antes de fazer da Terra um lugar mais seguro para se viver. A Química tem um papel crucial no desenvolvimento de remédios, nos tratamentos de radiação para pacientes com câncer, na utilização do petróleo, na camada de ozônio.

Mattias levanta a mão.

— Sim, Mattias? — diz a professora. — Quer fazer uma pergunta?

— A senhora está dizendo que o presidente dos Estados Unidos não é um homem bem-sucedido?

— Estou dizendo que dinheiro e status não são tudo. Use seu cérebro para fazer algo pela humanidade, ou pelo planeta onde vive. Aí, sim, você será um homem bem- sucedido e ganhará meu respeito, coisa da qual pouca gente pode se gabar.

— Tenho algumas coisas de que posso me gabar, Sra. Benson — diz Mattias, obviamente se divertindo.

A Sra. Benson ergue a mão:

— Por favor, poupem-nos dos detalhes, Mattias.

Francamente, se Mattias pensa que o fato de hostilizar a professora vai nos render uma boa nota, está enganado.

É óbvio que a Sra. Benson não gosta de espertinhos... E que meu parceiro já está na sua mira.

— Agora... — diz a Sra. Delirante — quero que cada um olhe para a pessoa sentada a seu lado.

Oh, tudo menos isso. Mas não tenho escolha. Olho de novo para Samuel, que parece bastante satisfeito com a parceira que a professora escolheu para ele. Âmbar já tem um namorado... Senão, eu a questionaria, seriamente, sobre por que ela está se inclinando desse jeito para Samuel, ou jogando os cabelos para trás, tantas vezes seguidas. Digo a mim mesma que estou sendo paranóica.

—Vocês não precisam gostar do parceiro — diz a Sra. Benson. — Mas terão de trabalhar juntos, durante os próximos dez meses. Reservem cinco minutos para se conhecer e, então, cada um apresentará seu parceiro, para toda a classe. Falem sobre o que fizeram durante o verão, se têm hobbies, ou sobre qualquer outra coisa interessante ou original, que talvez seus colegas não saibam... Seus cinco minutos começam agora.

Abro meu caderno e o empurro na direção de Mattias:

— Escreva alguma coisa sobre você, aqui, e eu farei o mesmo no seu caderno. Antes isso, do que tentar conversar com ele.

Mattias acena em concordância — embora eu perceba uma leve contração, nos cantos de sua boca — e me dá seu caderno. Será que imaginei esse riso, ou ele realmente aconteceu? Respiro fundo, afasto esse pensamento e me concentro em escrever, até que a Sra. Benson nos pede para parar e ouvir as apresentações.

— Esta é a Âmbar Smith — diz Samuel, o primeiro a falar.

Mas não escuto o resto do discurso de Samuel sobre Âmbar , sua viagem à Itália, suas aulas de dança neste verão. Em vez disso, olho para o caderno que Mattias me devolve e, de queixo caído, leio o que ele escreveu.

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