#Mattias
Ok, eu não deveria ter detonado a garota, na tal apresentação.
Sábado à noite... Você e eu... Aulas de direção e sexo ardente...
Escrever isso no caderno dela provavelmente não foi uma manobra inteligente. Mas eu estava louco para fazer a Pequena Miss Perfeição vacilar, quando me apresentasse à classe... E ela está vacilando!
— Srta. Valverde?
A Pequena Miss Perfeição olha para Benson e eu observo tudo, me divertindo muito. Oh, ela é ótima... Essa minha parceira sabe como esconder suas verdadeiras emoções, coisa que reconheço muito bem, porque faço isso o tempo inteiro.
— Sim? — diz Lucy, inclinando a cabeça e sorrindo como se fosse a rainha da beleza. Será que ela continuaria a sorrir assim, se recebesse uma multa por excesso de velocidade?
— É sua vez. Apresente Mattias à classe.
Apoio o cotovelo na mesa, esperando para ver: será que Lucy vai mesmo fazer a tal apresentação, ou vai confessar que não sabe nada a meu respeito? Ela me olha: estou sentado, confortavelmente... Vejo, por seu olhar de ansiedade e pânico, que consegui deixá-la bastante perturbada.
— Este é Mattias Belmonte — ela começa, com um leve tremor na voz. Fervo por dentro enquanto ela diz meu nome de batismo, mas mantenho a pose durante a apresentação.
— Nesse verão, enquanto não estava vagabundando pelas esquinas ou perturbando pessoas inocentes, ele fez uma turnê pelas cadeias da cidade, se é que vocês me entendem. Mas Mattias tem um desejo secreto que ninguém, jamais, poderia imaginar.
De repente, a classe inteira fica em silêncio. Até mesmo a Sra. Benson está ligada... Que inferno! Escuto as palavras mentirosas, brotando dos lábios pink de Lucy... E elas parecem verdadeiras!
— O desejo secreto de Mattias Belmonte... — ela continua — é ir para a Universidade e tornar-se um professor de Química, assim como a Sra. Benson.
Ok, tudo bem. Olho para minha amiga Jim, que parece se divertir ao ver que a garota branca não tem medo de me provocar, diante de toda a classe.
Lucy me lança um sorriso triunfante, pensando que ganhou este round. Tente outra vez, gringa.
Eu me levanto, enquanto a classe continua em silêncio.
— Esta é Lucy Valverde — digo, agora com todos os olhares voltados para mim. — Nesse verão, ela foi ao shopping, comprou muitos modelos novos para incrementar seu guarda-roupa e gastou o dinheiro do papai numa cirurgia plástica, para melhorar sua...
— faço uma pausa de efeito, antes de terminar: — fachada.
Pode não ser o que ela escreveu... Mas, provavelmente, isso está bem perto da verdade... Ao contrário da apresentação que ela fez sobre mim.
Meus amigos riem, no fundo da sala.
Lucy está a meu lado, dura como uma tábua; parece que minhas palavras feriram seu precioso ego.
Lucy Valverde está acostumada a ser bajulada por todo mundo... Mas bem que podia acordar, de vez em quando. Estou realmente lhe prestando um favor. E mal sabe ela que ainda não terminei a apresentação.
— Seu desejo secreto... — acrescento, provocando em Lucy a mesma reação que ela provocou em mim, quando me apresentou — é namorar um mexicano, antes da formatura.
Tal como eu esperava, minhas palavras provocam comentários e alguns assovios, no fundo da sala.
— Muito bem, Belmonte! — grita meu amigo Ramiro.
— Quer namorar comigo, gracinha? — diz outro.
— Toque aqui... — Ergo minha mão espalmada. Pedro, outro membro da Sangue Latino, sentado logo atrás de mim, faz o mesmo. Batemos nossas mãos, uma contra a outra, e é então que percebo Jim, meneando a cabeça, como se eu tivesse feito algo errado... Ora, estou apenas me divertindo com uma garota rica da zona norte.
Lucy olha para Samuel e depois para mim. Encaro Samuel e, com os olhos, lhe digo: o jogo começou. No mesmo instante ele fica vermelho como uma pimenta. Definitivamente, acabo de invadir seu território. Ótimo!
— Silêncio, classe! — diz a Sra. Benson, num tom ríspido. — Agradeço as apresentações, muito criativas e...
esclarecedoras. Quanto à Srta. Valverde e ao Sr. Belmonte... Façam o favor de conversar comigo, depois da aula. Fui clara?
— Além de causar espanto, a apresentação de vocês foi uma falta de respeito, tanto para mim quanto para seus colegas — diz a Sra. Benson, após a aula. Eu e Lucy estamos diante da mesa dela. — Vocês têm uma alternativa... — Ela pega dois daqueles formulários azuis, de suspensão. Com a outra mão, segura nossos cadernos. — Vocês podem receber uma suspensão, hoje, ou então escrever, a mão, um ensaio de quinhentas palavras sobre respeito para amanhã. O que vão escolher?
Escolho o formulário da suspensão. Lucy — veja só! — escolhe o caderno.
— Vocês têm alguma objeção quanto ao critério que usei para escolher os parceiros de Química? — pergunta a Sra. Benson.
Lucy responde sim enquanto eu, ao mesmo tempo, digo não.
A Sra. Benson tira os óculos, colocando-os sobre a mesa:
— Escutem, é melhor que vocês resolvam suas diferenças, antes do final do ano letivo. Lucy, eu não vou trocar o seu parceiro. Vocês dois estão no último ano do curso secundário e terão que lidar com muitas pessoas, de personalidades bem diferentes, depois que se formarem. Se não quiserem frequentar o curso de verão, depois de serem reprovados em minha matéria, sugiro que trabalhem juntos, em vez de entrarem em conflito. Agora, tratem de se apressar para a próxima aula.
Com isso, saio da sala de Benson e caminho ao lado da minha parceira de Química pelo corredor.
— Pare de me seguir — diz Lucy, asperamente, olhando por sobre o ombro para ver se alguém está nos observando.
...Como se eu fosse el diablo em pessoa!
— Use mangas compridas, no sábado à noite... Faz muito frio, na garupa da minha moto. E você pode pegar uma gripe — digo, sabendo que ela está no limite da sua sanidade. Não costumo mexer com garotas brancas, mas até que estou gostando de provocar esta, a mais popular, a mais cobiçada, entre todas... Ela realmente me interessa.
— Escute, Mattias... — diz Lucy, virando-se de súbito para mim, com aqueles cabelos, que parecem ter sido beijados pelo sol, caindo abaixo dos ombros. Ela me encara, com uma expressão gélida nos olhos claros. — Não costumo sair com garotos de gangues. E não uso drogas.
— Eu também não saio com garotos de gangues — digo, me aproximando dela ainda mais. — E não sou usuário de drogas.
— Sim, tudo bem; me surpreende o fato de você não estar numa clínica de recuperação, ou num reformatório para delinquentes juvenis.
— Você acha que me conhece, não é mesmo?
— Conheço o suficiente. — Ela cruza os braços, mas então olha para baixo, como se percebesse que essa postura faz com que seus peitos pareçam bem maiores... E solta os braços ao longo do corpo.
Eu me esforço ao máximo para não focar esses peitos, enquanto avanço mais um passo.
— Você me entregou para o Grey? Ela recua um passo:
— E daí, se eu fiz isso?
— Mujer, você está com medo de mim. — E isto não é uma pergunta. Só quero ouvir, dos próprios lábios de Lucy, o motivo desse medo.
— A maioria dos alunos deste colégio têm medo de olhar para você de um jeito errado e levar um tiro... Se é que você me entende.
— Se isso fosse verdade, minha espingarda estaria soltando fumaça, neste exato momento... Então, por que você não está fugindo deste mexicano durão, hein?
— Dê-me uma pequena chance de fazer isso... E eu farei.
Bem, já perdi tempo demais com essa cadelinha. É hora de me aprumar e mostrar quem é que manda aqui.
Diminuo ainda mais a distância entre nós e murmuro em seu ouvido:
— Encare os fatos, garota: sua vida é muito perfeita. Você provavelmente acorda no meio da noite... E fica fantasiando sobre o que fazer para tornar um pouco mais animado aquele lugar imaculado onde você vive...
Mas, droga, sinto um cheiro de baunilha, que talvez venha do perfume que ela usa. Isso me faz lembrar de uns biscoitos... Adoro biscoitos, o que significa que eles não são muito bons.
— Ficar perto do fogo, niña, não significa, necessariamente, que você vai se queimar.
— Toque nela e se arrependerá amargamente, Belmonte — Samuel avisa. Ele parece um burro, com seus grandes dentes brancos e as orelhas despontando em meio ao ridículo corte de cabelo. — Trate de ficar bem longe dela.
— Samuel... — diz Lucy — tudo bem... Posso lidar com isso.
O Cara de Burro trouxe reforços: três outros caras de cara branca e pastosa, que se colocam em volta dele, formando uma retaguarda. Observo Cara de Burro e seus amigos, para ver se sou capaz de dar conta de todos... Não vai ser fácil, mas acho que posso derrotá-los.
— Ouvirei suas asneiras quando você tiver tamanho para jogar nos grandes times, garoto — eu digo.
Alguns estudantes formam um círculo à nossa volta, deixando-nos espaço para a briga, que promete ser rápida, furiosa e sangrenta. Mal sabem eles que o Cara de Burro sempre foge desses confrontos. Mas, agora, que tem retaguarda, talvez resolva encarar...
Estou sempre preparado para o perigo; já briguei muitas vezes, nessa vida. Tenho cicatrizes que provam isso.
— Samuel, não vale a pena brigar com ele — diz Lucy.
Oh, obrigado, gracinha. Então você voltou?
— Você está me ameaçando, Belmonte? — grita Samuel, ignorando a namorada.
— Não, imbecil — respondo, encarando-o. — Apenas caras frouxos, como você, fazem ameaças.
Lucy se coloca na frente de Samuel e põe a mão em seu peito.
— Não ligue para ele — diz ela.
— Não tenho medo de você. Meu pai é advogado — Samuel se gaba, enlaçando Lucy. — E esta garota é minha.
Nunca se esqueça disso.
— Então, veja se consegue controlar a menina... — eu aviso senão, é capaz dela ficar tentada a encontrar outro dono.
Meu amigo Noah se aproxima:
— Tudo bem, Mattias?
— Sim, Noah — respondo, um momento antes de ver dois professores se aproximando pelo corredor, acompanhados por um policial. É isso que Samuel Álvarez quer: me dar um bom chute no traseiro e me expulsar deste colégio. Não vou cair nessa armadilha; não quero acabar na lista negra de Grey.
— Sim, tudo bem. — Eu me viro para Lucy. — Vejo você mais tarde, gracinha.
Estou ansioso para fazer uma pesquisa sobre a nossa química.
Lucy ergue o queixo, com ar superior, e me olha como se eu fosse a escória da raça humana... Eu me afasto e, assim, me livro de uma segunda suspensão.
#LucyEstou mexendo no meu armário, depois da aula, quando minhas amigas Morgan, Madison e Megan se aproximam. Nala costuma chamá-las de As M de Saferat. Morgan me abraça.— Oh, meu Deus, você está bem? — ela pergunta, se afastando um pouco para me observar.— Vi quando Samuel defendeu você. Ele é incrível. Você tem muita sorte, Lu — diz Madison. E seus cachos balançam, como se acompanhassem o ritmo das palavras.— Não foi tão grave assim — digo, cogitando sobre o tipo de boato que a essa altura deve estar correndo... Em contraste com o que realmente aconteceu.— O que, exatamente, Mattias disse? — Megan pergunta. — Jasmín fotografou, com o celular, o momento em que ele e Samuel se encontraram no corredor...— Ei, garotas, não vão se atrasar para o ensaio &mda
#LucyEla não consegue pronunciar bem as palavras, mas em geral consegue um som bastante aproximado.Luwiee significa Lucy. E eu sorrio de volta, enquanto tento colocá-la numa posição melhor, na cama.— Ei, menina... Como está seu apetite, para o jantar? — pergunto, pegando alguns lenços umedecidos e tentando não pensar no que estou fazendo.Enquanto ponho uma nova calcinha e um moletom em Karla, Amora me observa. Tento explicar tudo em detalhes, enquanto executo a tarefa, mas basta-me um olhar para Amora, para concluir que ela não está me ouvindo.— Sua mãe falou que eu poderia ir embora, assim que você chegasse — diz Amora.— Tudo bem — respondo, enquanto lavo as mãos. E Amora desaparece, como num passe de mágica, bem no estilo de Houdini...Levo Karla, na cadeira de rodas, até a
#MattiasEmpurro o cara contra um belo e reluzente Camaro preto, que provavelmente custou mais do que minha mãe consegue ganhar em um ano.— Escute aqui, Benício... — eu digo — se você não pagar agora, vou quebrar alguma coisa sua... Não um objeto, ou o seu carro danado de bonito... Mas algo que seja permanentemente ligado a você, entende?Benício, mais magro do que um poste telefônico e pálido como um fantasma, me olha como se eu acabasse de condená-lo à morte. Bem, ele deveria ter pensado melhor, antes de assumir dívidas que não pode pagar.Quando Bernie me manda cobrar, eu cobro. Posso não gostar disso, mas faço. Ele sabe que não trafico drogas, nem participo de assaltos. Mas sou bom em cobranças. Às vezes as coisas se complicam: as pessoas não cumprem o que prometeram e tudo vira um
#Matt...Fácil como uma luta entre gangues rivais, num sábado à noite. Tudo o que preciso, para atrair Lucy, é um pouco de esperteza e flerte... Sabe como é... aquele intercâmbio que desperta a consciência sobre o sexo oposto. E, assim, posso matar dois coelhos com uma cajadada: dar o troco ao Cara de Burro, roubando sua garota... E dar o troco a Lucy Valverde, por ter me dedurado ao diretor e também por ter falado mal de mim para seus amigos.Pode até ser divertido.Posso imaginar a escola inteira assistindo a pura e imaculada garotinha branca babando de paixão pelo mexicano por quem ela jurou ódio eterno... Fico pensando em quanto tempo Lucy levará para cair sentada em cima do próprio rabo, quando eu partir pra cima dela.Estendo minha mão para Pedro:— Feito!— Você vai ter que provar...Dou mais uma tragada no
#LucyAcabo de xingar Mattias de idiota e a Sra. Benson chama a atenção da classe:— Cada dupla vai sortear um projeto, entre os vários que tenho aqui, neste chapéu — ela anuncia. — Todos os projetos são um verdadeiro desafio; vocês terão de se encontrar fora da classe, para trabalhar e...— E quanto ao futebol? — Samuel interrompe. — Não posso perder um treino sequer.— E eu não posso perder os ensaios da torcida — diz Âmbar , antes que eu possa reclamar também.— Os trabalhos do colégio devem vir em primeiro lugar. Você e seu parceiro podem combinar um horário que seja bom para ambos — responde a Sra. Benson, parando em frente à nossa mesa e estendendo o chap&ea
#MattiasAh, isso é perfeito! A Benson e o Grey de um lado, na sala da diretoria, e a Pequena Miss Perfeição e seu namorado idiota do outro... E eu, sozinho, em pé. Ninguém está do meu lado, isso é mais do que certo.Grey limpa a garganta.— Mattias, esta é a segunda vez, em duas semanas, que você vem à minha sala. Sim, isso resume tudo. O cara é, definitivamente, um gênio.— Senhor... — respondo, entrando no jogo, porque estou cansado de ver a Pequena Miss Perfeição e seu namorado controlando a droga deste colégio. — Sofri um pequeno acidente na hora do almoço: caiu gordura em minha calça. Para não perder a próxima aula, pedi a meu amigo, Noah, que me arranjasse outra. — E mostro o jea
#LucyEstou atrasada. Falta apenas meia hora para acabar o ensaio, na quadra de esportes. Enquanto troco minhas roupas comuns pelo uniforme de ginástica, penso no que aconteceu na sala do Dr. Grey... A Sra. Benson me repreendeu tão duramente quanto fez com Mattias.Minha nossa... Mattias Belmonte já está arruinando meu último ano, e ele mal começou. Visto o short. O som de passos no piso me avisa que não estou sozinha, no vestiário.Vejo Cristina Malony e cubro os seios com a blusa. Oh, não.— Hoje deve ser meu dia de sorte — ela diz, me encarando com a expressão de um puma pronto para o ataque... Embora os pumas não tenham cabelos castanhos, longos e lisos. Mas certamente têm garras, as garras de Cristina estão pintadas de vermelho brilhante.Ela se aproxima.Tenho vontade de recuar. Aliás, tenho vontade de fug
#MattiasJá terminou com esse Honda? Está na hora de fechar — diz meu primoTrabalho nesta oficina todos os dias, depois das aulas... para ajudar minha família a pôr comida na mesa, para ficar longe da Sangue Latino por algumas horas e também porque sou bom para mexer com máquinas. Saio debaixo do Civic, coberto de graxa e óleo.— Vai estar pronto num minuto.— Bom. Faz três dias que o cara está me cobrando o conserto deste carro.Aperto o último parafuso e caminho até Agustín, enquanto ele limpa as mãos num pano.— Posso perguntar uma coisa? — digo.— Manda.— Tenho que adiantar um projeto de Química e preciso de um dia de folga, na semana que vem — explico, pensando no tema do projeto e na pessoa com quem vou trabalhar. — Pode ser? Terei de me encont