Por Bella Torres
Chegamos no hotel aonde estou hospedada e encontramos as meninas do jeito que já esperávamos e do jeito que eu queria estar. Dormindo.
Larguei minha bolsa, tirei os sapatos e caí na cama.
Foi difícil me manter acordada durante a viagem até aqui. Somente 5 minutos, mas 5 minutos que pareceram 2 horas. Eu nem estou com cabeça para pensar nos problemas em que me meti.
O sono é maior. O cansaço é maior ainda.
— ACORDEM, suas vagadias! — Cass arremessou alguma coisa nas meninas. Vagadias = vagabundas + vadias. Ela sempre chama minhas amigas assim.
— O que foi? — Becky perguntou com a cara enfiada no travesseiro, assim como a Ronda.
— Tô no inferno e a Cass tá me espetando ou é só um pesadelo?
— Vocês deixaram a Bella sozinha e agora ela entrou numa furada! — resmungou.
Como se eu fosse criança...
— O que minha cria fez? — Becky perguntou com a voz menos abafada.
— Casou. Só isso. — O barulho da buzanfa da Cass sentando na poltrona me fez abrir os olhos.
Ainda não acredito que fiz essa merda mesmo. Casamentos em Vegas são válidos judicialmente?
— Bella, diz que essa história é mentira. — Ronda olhou pra mim. Eu nem sabia que cadáver falava. Ronda parecia morta de bêbada.
— Sei lá. — Respondi tentando pegar no sono, mas agora esse assunto tá me impedindo.
— Filha de uma mãe... — Becky sentou na cama, toda descabelada e com uma maquiagem tão borrada, que levei até um susto quando abri os olhos. — Ficou tanto tempo sem macho que quando achou um resolveu casar logo, sua kenga de merda!? — me encarou com os olhos arregalados e depois riu da minha cara.
— Cala a boca. — cobri minha cabeça. Agora uma bela enxaqueca está me possuindo.
— Não me manda calar! — ela me bateu com o travesseiro.
— Tô com enxaqueca. — Continuei enrolada com os olhos fechados.
— Sabe quem é o maridinho dela? — Cass voltou a me atazanar.
Por ela eu nunca arranjo ninguém. Foi até bom casar desse jeito. Porque se fosse pra me programar só ia dar merda.
— Peter M. — ela disse e eu lembrei da tatuagem e do rosto dele.
Qual o problema dele? Ele é tão lindo e aquele sorriso... Me lembro da gente dançando, conversando. Ele é tão gentil. Não sei o que assusta no nome dele. Se esse cara fosse famoso eu saberia.
— AH NÃO! PUTA MERDA, BELLA! — Becky parece que tomou uma injeção de ânimo e seu sono e ressaca foram pro inferno, ou não, eles foram para dentro de mim, junto com uma puta martelada que ela deu na minha cabeça, com esse grito. Que dor!
— Isabella, com 7 bilhões de pessoas no mundo, você foi casar logo com esse cretino?! — Ronda deve ter levantado também.
— O que ele fez pra causar tanto espanto? — tirei o cobertor de cima de mim. — Ele é algum político investigado pela Lava Jato? É do Estado Islâmico? É um tirano? É a reencarnação de Sadan Hussein?
Porque não tem lógica uma reação dessas. Elas deviam se espantam pelo simples fato de eu ter casado sem nem conhecer o cara.
— tu nem conhece a fama do cara... — Becky abaixou a cabeça, balançando em negação.
Não demoraram pra pesquisar no celular. Mas Ronda foi rápida e me arremessou duas das revistas que estavam encima da mesa do quarto. Eu nem tinha visto essas revistas antes. Quando olhei as capas, não segurei meu queixo e meus olhos se arregalaram. Falando que ele é o playboy do momento, entrevistas com eles... testes para saber se teria chance com ele...
— OOH MERDA! — exclamei, pasma. Eu não acredito que ele é assim. Não acredito mesmo.
Será que ele não tem irmão gêmeo não?
Ele é um playboy galinha! Eu não posso passar por isso de novo. Não, não.
— Agora você entendeu? — Cass perguntou convencida. Que decepção. Quando finalmente me caso, é bem com o cara mais desqualificado pra ser um marido.
— Fica assim não. Pelo menos não foi com o Scott, o melhor amigo dele. Porque se o Peter é um cretino, o Scott é o mestre dele. — Ronda não parou de zombar. Como todo mundo os conhece, menos eu? Porque eu nunca soube do Peter?
Estiquei o braço e entreguei as revistas à Ronda.
— Não vai querer fazer o teste pra ver se você é o par compatível dele, não? — Becky também fez piada. Eu mereço.
— Hey! O que é isso?! — Ronda percebeu o curativo da tatuagem no meu punho e sorriu. — É uma tatuagem?
Tratei de esconder o mais rápido possível. — Não. Eu me machuquei. — Menti.
— Um suicídio social chamado Peter, tatuado no seu punho. — Cass revelou.
— Caralho, Cass! que fofoqueira você é! — deitei de novo e me enrolei o coberto. Elas ficaram rindo de mim.
— A paixão tá brava, hein.
Eu vou dormir e quando acordar tudo isso vai ter passado. É só um pesadelo ocasionado pelo alto teor de álcool no meu sangue.
a
— Acorda, Bella! — Cass me cutucou. Abri os olhos com dificuldade, por causa da claridade e a enxerguei toda arrumada.
— Que hora é essa? — me virei na cama.
— Hora de levantar e arrumar suas coisas.
— Por que?
— Você vai ficar no hotel do Peter, com ele.
— Que? — levantei minha cabeça espantada. O pesadelo é real?!
— Isso mesmo que você ouviu. Todo mundo sabe que vocês estão juntos e logo um monte de paparazzi vai aparecer pra tirar fotos de vocês.
— Fodam-se eles.
— Não tô brincando, Isabella. Já tem um na frente desse hotel, só de me ver por aqui.
— Você quem chamou? — estreitei o olhar pra ela. Cadê minha paz?
— Eu?
— Eu não duvido disso. É bem a sua cara. — Continuei deitada, mas olhei pra sua cara de vítima. — Como eu vou sair daqui com essas malas, sem ninguém desconfiar que estou hospedada aqui, Cass? Missão impossível.
— Eu pensei em tudo. — Ela tirou várias sacolas de marca de dentro de uma maior. — Vamos colocar suas roupas nas sacolas e fingir compras. Todo mundo já viu as vagadias saindo e entrando daqui com sacolas de compras. Eles vão acreditar.
Fiquei a encarando por um tempo. Que ideia!
— Você é doida. — concluí.
— Peter está te esperando. Sua sogra quer falar com você... Ande rápido.
Esperando? Sogra?
Onde está a janela mais próxima? Vou saltar dela.
a
Quando eu passei pela porta do quarto e vi aquele lobo em pele de cordeiro me encarando, quis no mesmo instante dar meia volta. Que decepção ter casado com esse cretino... Meu coração até acelerou.
— Oi. — Ele sorriu pra mim e Adam revirou os olhos e riu. Ele já deve estar acostumado com as investidas do Peter.
Eu não respondi. Me fiz de surda, porque não quero trocar muitas palavras com ele.
— Fique aí, casalzinho, e entrem num consenso. Parece que vai levar uns dois meses para o divórcio sair. — Adam levantou da cadeira e andou até a saída. — Amanhã eu venho aqui.
2 meses?!
Ele deve ser o assessor do Peter, porque é igual a Cass, só fica no pé e age como um pai ou uma mãe.
Ela também não saiu sem passar as orientações. —Ah, e nem pensem em responder esses comentários nas redes sociais. Aliás, é melhor vocês nem acessarem nada. — Balançou o indicador e acompanhou Adam, deixando minhas sacolas no chão. — Qualquer palavra boba pode ser interpretada de mil maneiras.
Agora essa. Não posso nem usar meu celular!
Eles saíram e trancaram a porta.
Me deixaram com esse estranho.
— As compras foram boas, hein. — sentou da cama, encarando minhas bolsas com um sorriso.
— Nada que já não fosse meu. — As soltei num canto da sala.
— Tá tudo bem?
— Poderia estar melhor, se não fosse isso tudo. — Procurei meu celular dentro das bolsas.
— Já vi que você não quer papo comigo...
— Aham. Parece que você é tão esperto quanto dizem. — Encontrei o aparelho e guardei no bolso, depois andei até a janela e me apoiei no batente.
Talvez eu fique aqui o dia todo.
— Andou pesquisando sobre mim, né? — sugeriu continuando sentado.
— Não foi preciso. — Admirei a paisagem da cidade. (Mentira, não consigo me concentrar em nada agora).
— Eu não sou tudo o que dizem por aí.
— Humm. É mesmo? — fingi dúvida.
— Sim, é verdade. — Ele levantou da cama e parou perto de mim. — Desculpa, eu não lembro de nada de ontem, mas se eu tivesse em sã consciência isso não teria acontecido.
Ata. Porque Peter M. nunca vai casar.
— Eu não vou fazer nada pra te prejudicar. Prometo. — Continuou falando. Ah, que bonitinho, se não fosse um cretino. — Minha mãe quer que a gente vá direto pra casa dela quando sairmos daqui.
— Não vou. Vou pra minha casa. — Me virei pra ele. Era só o que faltava ir pra casa desse estranho.
— E como eu vou chegar em casa sem a minha esposa?! — cruzou os braços.
Que conversa estranha.
— Não sei. — Dei de ombros e sentei na cama.
— Nossa... Você é difícil, hein! — ele sentou novamente na cama, ao meu lado e eu levantei.
Se ele não fosse quem ele é, talvez as coisas fossem diferentes. — E você fala demais. — Me afastei.
— Ontem você gostou de me ouvir falando...
— Ontem eu não sabia quem você era de verdade. — Dei de ombros.
— E se ainda não soubesse?
— Provavelmente estaria sendo a maior idiota do país.
Sim. Eu seria. Não, pior, pra todo mundo eu estou sendo.
— Bella, você... — ele respirou fundo. —... Ah, quer saber, tô nem aí. — levantou. — Vou sair um pouco pra tomar um ar.
Já era hora.
Por Peter Miller Que garota difícil, tá se saindo a Bella.Tudo culpa da minha fama de merda.Resolvi sair, para dar um espaço a ela. Eu sei que ela estava odiando ficar naqueles poucos metros, quadrados presa comigo. Quem sabe até o divórcio ela não me suporte?Sentei na mesa do restaurante do hotel e pensei no que iria tomar pra ver se o tempo passava rápido. A alternativa foi suco, porque álcool eu já tenho demais dentro de mim, depois de ontem. — Um suco de maçã, por favor. — Pedi ao garçom.Ainda tenho dois dias aqui em Vegas e não consigo imaginar em como vou aproveitá-los na situação em que me encontro. E convenhamos, "meus" planos são os piores para casados. Com certeza não posso levar ela, mas também não posso ir sem ela.O que um casal normal estaria fazendo agora? Talvez tomando suco juntos... Então ela devia estar aqui comigo.Eu nunca me importei com o que casados faziam. Nenhum dos meus amigos casou até hoje, nenhum parente.Não sei o que se faz depois disso. Depois do
Por Bella Torres — Ok. — Tentei guardar tudo na minha cabeça. — Só espero que acreditem nessa história. — Minha mãe vai acreditar com certeza. Ela é ela gosta de ver casais apaixonados. — Me tranquilizou. — Sua família já se manifestou?Minha família?Minha família... Se ela existisse, talvez sim.— Não. Ninguém falou nada até agora. — Tentei sorrir.— Aonde eles moram?Esse é o assunto que eu menos gosto de falar. Na verdade, eu odeio falar sobre isso.— Peter... Eu não quero falar sobre esse assunto agora. Se não se importa, a gente pode ir pra outro lugar? Meu bumbum já adormeceu nessa cadeira.— Sim, tudo bem. — Ele sorriu e levantou, assim como eu. — Quer sair ou quer voltar pro quarto?— Não sei. As meninas tinham feito alguns planos para os próximos dois dias... Elas vão ficar bravas por eu não estar mais com elas. Eram nossas férias. — Meus amigos também. A gente te podia juntar todo mundo e curtir juntos. — Ele sugeriu, segurando minha mão e saímos andando pra fora do res
Por Peter Miller — Espera só mais um pouco. Já tô terminando. — pediu, enquanto a espero, debruçado na sacada do hotel, tomando champanhe.Eu adoraria ver ela se vestindo, mas eu sei que a intimidade de ontem não existe mais hoje.Felizmente parece que ela não tá mais com aquele ódio espontâneo de mim. Ainda bem. Seria complicado ficar quase dois meses daquele jeito.— Pronto. — Ela falou e eu me virei. Arregalei os olhos e engoli seco. Ela tá muito bonita com essa roupa. Muito bonita mesmo.— Amiga! Tá perfeita! — a tal Becky, saiu do banheiro. Por isso a Bella não se vestiu lá dentro, porque a Becky se prendeu pra retocar a maquiagem.— Tô muito piriguete, não? — ela se olhou e eu dei um grande gole no champanhe. Ela tá uma delícia... digo, o champanhe tá uma delícia.— Tá maravilhosa. Agora vou embora, porque a Ronda ainda deve estar tentando colar os cílios postiços. — A garota abriu a porta. — A gente se encontra na boate.— Tá bom. — Assim que a Bella respondeu a Becky foi emb
Por Bella Torres Encontramos nossos amigos na entrada da boate. E é claro que foi um espanto nos ver de mãos dadas. Mas do caminho do hotel pra boate o que mais teve foi paparazzis com as lentes viradas pra gente. Temos que ser o casalzinho que casou ontem. Como as pessoas são depois que casam?— Meninas, esses são Scott. — Ele mostrou o atirado. — E o Noah. — O gatinho mais tímido.— Sabia que eu gosto muito das suas músicas? — Ronda escondeu o rosto sem acreditar que esse garoto tá na frente dela. Parece que ele também é famoso. Eu só queria saber em que mundo eu vivo, que nunca soube da existência desse povo?!— E eu sou o Peter, é claro. — Ele se apresentou com aquele sorriso lindo e por um momento esqueci que tinha que apresentar minhas amigas também.— Ronda, Becky e Bella, que sou eu. — Fui mais rápida.— Agora sei porque o Peter casou com você, assim de repente. — Scott me analisou. — Você é gostosa pra caralho!Escroto! Peter deu um tabefe na cabeça dele. — Menos Scott.Be
Por Bella Torres Acordei agarradinha com o Peter. Ele dormia com a cabeça perto do meu pescoço e com braço pela minha cintura.O braço dele dá dois do meu. Eu comprarei, porque o meu estava repousando encima do braço dele.Eu queria levantar, mas se eu me mexesse, iria acorda-lo, e ficar deitada daquele jeito era tão bom.Nunca esperei chegar numa situação dessas durante minhas férias.Eu esperava coisas assim acontecendo com a Ronda e com a Becky, mas comigo não. Eu sou muito cautelosa, muito medrosa. Me importo demais com a opinião dos outros. Não sou totalmente a pessoa que aparece em vídeos na internet. Eu não tenho tanta atitude quanto pareço, pelas minhas palavras.O Peter vi acabar com a minha boa reputação. Eu sei disso.Comparando com o que rolou ontem na balada, é quase inacreditável que ele poderia me trair ou fazer alguma coisa muito ruim, que suje a minha imagem, mas ele disse que quem armas suas besteiras é o Scott, e eu vi. Eu vi o Scott agindo. Ele pode tudo. Espero q
Por Bella TorresChegou o dia. O dia de enfrentar o desconhecido. Vulgo: sogros.Dois dias se passaram na companhia do Peter e a gente ainda não pensou em se matar. Eu não falei com ele sobre a gente não ficar de verdade, porque não tive chances.A imprensa parece estar aceitando bem nosso relacionamento e as fotos são as mais bizarras.Ontem de manhã, um paparazzi escalou as janelas do hotel do lado, pra tirar uma foto de nós dois.Como ele descobriu o andar do nosso quarto? Nem imagino.A gente teve que ficar se beijando pra ele não pensar outra coisa e depois fechamos a janela.Coisa difícil né? Beijar ele... Ah, como eu sofro...Agora estamos no avião e ele dormiu o caminho todo. Eu não consigo cochilar. Parece que estou indo pro matadouro.Faz tempo que não passo por isso e digo, meu histórico com sogras não é dos melhores, por isso tenho bons motivos para me preocupar.Como será a mãe dele? Ele nem fala nada além de que ela gostava da ex dele. Não me deu dicas pra não me surpre
Por Bella Torres Como é que você sabe que seu filho acabou de casar e no primeiro jantar, chama a ex-noiva dele?!Assim, não que eu me importe. Eu não ligo. Não tenho ciúmes dele. Mas poxa, nada haver isso!Tomei um banho e usei um vestido soltinho, um casaco por cima e prendi meu cabelo.Como já chegamos de tarde, o jantar estava próximo, então já estava pronta... Mentira, não estava. Meu psicológico não estava pronto pra isso.A mãe dele me deixou ficar no quarto de cima.Ainda não consigo acreditar que ela iria me colocar pra dormir excluída, lá em baixo. Eu não vou comer o filho dela, não!Passei um perfume leve e quando estava colocando uns brincos pequenos, alguém bateu na porta. — Bella? É o Peter.— Oi. Pode entrar.Ele abriu a porta e entrou, usando um moletom.— Tá pronta? — colocou as mãos nos bolsos da calça.— Tô. — Terminei de colocar o outro brinco.— Olha, não dá importância ao que a Graziella falar não, viu? Ela tem um ódio eterno por mim.— Tá bem. — O acompanhei e
Por Bella Torres — Nossa que frio. — Entrei no quarto tremendo.— Boa noite, Bella. — Ele deu uma piscadela.Tá amarrado, eu não vou me apaixonar. Sai pra lá com seu charme.— Boa noite, Peter. — Fechei a porta do quarto e tirei a roupa molhada. Vesti um roupão e procurei uma roupa sequinha pra dormir.A gente ficou mais ou menos 30 minutos no rio, tentando se matar, mas enfim, nem pra isso servimos.Eu me diverti com ele. Fazia tempos que isso não acontecia. Só me divirto com minhas amigas. Mas a diversão acaba sempre que a mãe dele aparece. Nunca vi uma coisa dessas... Ela foi lá, aonde a gente estava e nos fez voltar pra casa.Chata...Esperei meu cabelo secar para poder dormir, então fiquei assistindo série no meu celular.Alguém bateu de leve na porta.— Quem é? — perguntei com medo. Vai que nessa casa tem fantasma?—Peter. — Ele respondeu.Oxe, o que ele quer uma hora dessas? — A porta tá aberta.Ele entrou, já vestido em outra roupa. — Você já vai dormir? Tô sem sono. — Fecho