— Aaron... — Dou um passo à frente, parando no mesmo instante. Não sei o que fazer. Não sei o que dizer. Ele escutou tudo? Não escutou nada? Por que está me olhando desse jeito? Isso só pode ser um pesadelo. — Aaron, eu...— O que diabos está acontecendo aqui? — Ginger pergunta, ao lado do seu irmão. Noto que além dela também estão Eleanor, Trent e Vanessa.— Ora, você sabe o que está acontecendo — Kendall se prontifica a esclarecer. — Eu e nossa querida Evelyne aqui estávamos jogando um jogo. Não é mesmo, querida?— Você é desprezível — ralho para ela, tentando avançar em seu rosto cínico, mas alguém me segura por trás. — Eu te odeio, Kendall!— Você não parecia me odiar tanto assim quando fez um trato comigo para conseguir fazer parte das Ravens, não é? — Ela olha diretamente para Aaron. — Sua namorada te deixou a par disto?— Aaron... — eu digo. — Eu ia conversar com você agora mesmo. Antes de ela aparecer.Ele não diz nada. Nem sequer olha para mim. Ainda está quieto.— Eu exigi q
AARONDesabo no chão da academia, exausto e destruído. Meus músculos estão trêmulos e meus pulmões parecem balões inflados toda vez que busco ar.Meu antigo treinador de boxe, Kyle, me olha de cima, como se estivesse ponderando o dano que causou.— Eu acho que pegamos pesado demais — ele diz.Eu fecho os olhos e balanço a cabeça. Por mais que esteja me sentindo como um saco de ossos esmagado, a sensação não é ruim. Serviu para tirar, mesmo que por um momento, todos os pensamentos ruins da minha cabeça. Pensamentos que ainda estou fazendo questão de afastar.— Eu precisava disso — é tudo o que me limito a dizer a ele.Meu treinador sorri.— Dia ruim?— Semana péssima.— Estou surpreso que tenha vindo. — Ele tira as luvas. — Faz tempo que não treinamos.— Montei minha própria academia em casa. — Na casa de James, corrijo-me internamente. Aquela casa nunca foi minha, afinal não fui eu quem a comprou. Aceito a ajuda de Kyle para me sentar. — Só decidi vir porque precisava de algo mais...
EVELYNEEU: Sinto muito. Espero que você esteja bem.EU: Por favor, só me diga que está bem. Não estou pedindo muito.EU: É claro que você não está bem, não é? Que estúpida eu sou.Sinto muito.Por tudo.Olho na tela do meu celular, percebendo que a mensagem que mandei há meia hora chegou até ele e foi lida, mas não obtive uma resposta.Apenas mais uma da porção que enviei e foram ignoradas.Jesus, o que estou fazendo torturando a mim mesma nesse diálogo unilateral? Uma semana se passou desde o ocorrido e não vou conseguir ter paz enquanto não obtiver uma resposta. Só quero me certificar de que ele está bem, e perguntar à sua irmã ou qualquer um de seus amigos está fora de cogitação. Não tive coragem de falar com nenhum deles ainda, mas estou certa de que todos me odeiam a essa altura do campeonato.O dormitório está silencioso quando abro a porta, mas eu sei que Eleanor está aqui antes mesmo de entrar. Temos feito essa dinâmica de evitar uma à outra por uma semana inteira, mas não ti
Ela cruza os braços e encolhe os ombros em um gesto de claro desconforto. Consigo notar, diante de sua inquietação, que ela está dividida entre acreditar em mim ou não. Por fim, suspira.— É difícil, pra mim, criar laços com as pessoas, sabe? Os Hawks são meus amigos antes mesmo de sermos Hawks. E então... você apareceu e eu te considerei uma boa amiga, mas agora tenho a sensação de que não fui isso para você também.— É claro que você foi, Eleanor. Eu também nunca tive muitos amigos, e o pouco que construí com os Hawks foi uma das melhores coisas que me aconteceram. Nunca foi fácil, para mim, ter amigos e ser aceita nos círculos sociais e vocês não pensaram duas vezes antes de me acolher. — Faço uma pausa, ciente de que ela está atenta a tudo o que digo, esperando que realmente sinta que estou sendo sincera. — Você não sabe como a minha família funciona. Eles são incríveis, mas isso aqui... — Faço um gesto amplo ao meu redor. — Esse lugar é o mundo deles. Eu não sou perfeita como Cas
— Espere, Evelyne. Você está me dizendo que não foi convidada pelas Ravens? — Com vergonha, eu assinto. — E que fez besteiras para conseguir a vaga?— Sim — confirmo outra vez.— E o que exatamente você teve que fazer para ser aceita?E é então que vem a parte mais difícil. Contar a ela que sua filha, a garotinha que ela amou por toda uma vida, é uma pessoa horrível.— Pra começo de conversa, a Kendall não faz exatamente o perfil de Raven que você relatou existir na sua época. Ela é uma pessoa bem terrível, e algumas das outras meninas não são diferentes. Além de fazerem bullying com praticamente todo mundo, Kendall teve até coragem de roubar o dinheiro que era destinado à caridade.— Meu Deus... — minha mãe murmura horrorizada. — Já faz muito tempo, então é óbvio que não mantiveram os valores de antes. Eu já devia ter previsto que algo estava errado, mas queria tanto que você passasse pela mesma experiência que eu... Deus, bebê, sinto muito.Eu abaixo a cabeça, me sentindo ainda mais
AARONCapítulo 45— Alguém viu minha palheta rosa? — Trent pergunta ao encarar o pessoal da banda.— Pra que você quer uma palheta rosa? — minha irmã indaga.— É a palheta da sorte dele — Eleanor responde, ajudando-o a vasculhar pela bagunça nos fundos do bar em que apresentamos. — Cara, tem certeza de que não deixou em casa?— É claro que não deixei em casa. Eu lembro de ter trazido.— Pode ter deixado cair no carro — Ginger sugere.— Eu não vou conseguir tocar sem a minha palheta. É a minha favorita.Me levanto abruptamente.— Okay, já chega dessa merda. Eu assumo a guitarra, você fica no microfone. Agora pare de se lamentar por conta da porra de uma palheta. Jesus.Todos me encaram de um jeito estranho. Talvez eu tenha dito isso alto demais. Ou tenha sido agressivo demais. Não podem me culpar. Não ando muito bem nas últimas semanas, e não preciso listar aqui os motivos.Trent balança a cabeça, claramente ofendido.— Esqueça. Eu vou procurar em outro lugar. Bem longe dessa sua cara
AARONHá uma parte no diário da minha mãe que diz que a vida é injusta. Que não faz sentido sermos obrigados a batalhar tanto para conquistar a felicidade que tanto ansiamos, quando, em questão de segundos, um momento triste pode bater em você sem aviso prévio e derrubar tudo de bom que você construiu. Infelizmente, não há um sinal de alerta para a desgraça. Uma hora você está bem e, na outra, você é apenas um grão de areia no meio de todo este caos.No entanto, pela primeira vez, eu percebi que a desgraça pode, sim, te dar um sinal de iminência.Está chovendo. Essa deveria ser a premissa de um dia de merda, não é mesmo? Eu deveria ter interpretado melhor os sinais. Não sou supersticioso, mas deveria ter aberto mão do meu ceticismo ao menos uma única vez nesta minha vida de merda, e buscado um significado no que considerei estúpido.Eu olho para a última mensagem que ela me enviou — aquela que eu li e fiz questão de não responder — e sinto algo dentro de mim se apertar. Teria sido dif
AARONHurts é a música que eu mais gosto dos Dimples.Também é a pior música para se ouvir neste momento, levando em consideração a minha triste realidade. Não posso dizer que estou exatamente me dando bem com uma música que fala sobre almas que se amam loucamente, mas jamais poderão ficar juntas.É Dia de Ação de Graças. Todos os membros da banda do meu pai estão reunidos ao redor de uma mesa com comida suficiente para uma pequena cidade. Esta é nossa família, a gente querendo ou não. Eles também são como James. Alguns solitários desde sempre, mas há aqueles que tiveram um destino diferente. Noah, por exemplo, está casado há mais de vinte anos e seus dois filhos possuem mais ou menos a minha idade. Morgan e sua esposa nunca tiveram filhos, mas não desistiram de tentar. Já Louis não foi apelidado de papai-coelho atoa. O cara já tem cinco; e Lori, sua atual esposa, dará em breve à luz ao sexto.Eu me lembro bem da época em que conheci estes homens. Cresci com eles, os ouvindo cantar, t