AARONCapítulo 45— Alguém viu minha palheta rosa? — Trent pergunta ao encarar o pessoal da banda.— Pra que você quer uma palheta rosa? — minha irmã indaga.— É a palheta da sorte dele — Eleanor responde, ajudando-o a vasculhar pela bagunça nos fundos do bar em que apresentamos. — Cara, tem certeza de que não deixou em casa?— É claro que não deixei em casa. Eu lembro de ter trazido.— Pode ter deixado cair no carro — Ginger sugere.— Eu não vou conseguir tocar sem a minha palheta. É a minha favorita.Me levanto abruptamente.— Okay, já chega dessa merda. Eu assumo a guitarra, você fica no microfone. Agora pare de se lamentar por conta da porra de uma palheta. Jesus.Todos me encaram de um jeito estranho. Talvez eu tenha dito isso alto demais. Ou tenha sido agressivo demais. Não podem me culpar. Não ando muito bem nas últimas semanas, e não preciso listar aqui os motivos.Trent balança a cabeça, claramente ofendido.— Esqueça. Eu vou procurar em outro lugar. Bem longe dessa sua cara
AARONHá uma parte no diário da minha mãe que diz que a vida é injusta. Que não faz sentido sermos obrigados a batalhar tanto para conquistar a felicidade que tanto ansiamos, quando, em questão de segundos, um momento triste pode bater em você sem aviso prévio e derrubar tudo de bom que você construiu. Infelizmente, não há um sinal de alerta para a desgraça. Uma hora você está bem e, na outra, você é apenas um grão de areia no meio de todo este caos.No entanto, pela primeira vez, eu percebi que a desgraça pode, sim, te dar um sinal de iminência.Está chovendo. Essa deveria ser a premissa de um dia de merda, não é mesmo? Eu deveria ter interpretado melhor os sinais. Não sou supersticioso, mas deveria ter aberto mão do meu ceticismo ao menos uma única vez nesta minha vida de merda, e buscado um significado no que considerei estúpido.Eu olho para a última mensagem que ela me enviou — aquela que eu li e fiz questão de não responder — e sinto algo dentro de mim se apertar. Teria sido dif
AARONHurts é a música que eu mais gosto dos Dimples.Também é a pior música para se ouvir neste momento, levando em consideração a minha triste realidade. Não posso dizer que estou exatamente me dando bem com uma música que fala sobre almas que se amam loucamente, mas jamais poderão ficar juntas.É Dia de Ação de Graças. Todos os membros da banda do meu pai estão reunidos ao redor de uma mesa com comida suficiente para uma pequena cidade. Esta é nossa família, a gente querendo ou não. Eles também são como James. Alguns solitários desde sempre, mas há aqueles que tiveram um destino diferente. Noah, por exemplo, está casado há mais de vinte anos e seus dois filhos possuem mais ou menos a minha idade. Morgan e sua esposa nunca tiveram filhos, mas não desistiram de tentar. Já Louis não foi apelidado de papai-coelho atoa. O cara já tem cinco; e Lori, sua atual esposa, dará em breve à luz ao sexto.Eu me lembro bem da época em que conheci estes homens. Cresci com eles, os ouvindo cantar, t
EVELYNEO início do inverno em Trempton City é como um evento.Eu costumava ficar animada para isso quando era mais nova. Eu e Cass tínhamos um ritual de nos juntar do lado de fora e fazíamos bonecos de neve, sempre competindo com os nossos vizinhos pomposos. Posso me gabar em relação aos bonecos de neve, porque os nossos sempre eram os mais bonitos e bem-feitos. Até decorávamos os narizes deles com mini cenouras e os vestíamos com cachecóis e chapéus. As férias de fim de ano sempre foram a minha época favorita, mesmo que eu costumasse passar a maior parte do tempo no sofá tomando chocolate quente e assistindo a filmes da Disney. Quando Cass foi ficando mais velha e, consequentemente, mais popular, essas atividades eram feitas somente por mim e pela minha mãe. Foi com ela que eu aprendi a fazer, talvez, a única receita que me arrisco a dizer que funciona comigo: biscoitos de gengibre decorados. Eu até inventei minha própria variação com chocolate e nozes.Me inclino sobre o balcão, se
Quando chegamos na cozinha, eu vou direto no freezer, apenas para me certificar de que Aaron estava certo e não temos comida decente, apenas pizza, lasanha e hamburguer. Há também macarrão com queijo, que eu tiro da embalagem, na tentativa de salvar o nosso jantar. Nunca fui muito boa na cozinha, mas gostava de arriscar alguns pratos em casa.— Então... — Aaron diz. — Nós colocamos isso no micro-ondas?— Eu vou fazer um molho e tentar tornar essa coisa um pouco mais comestível. Você me ajuda?— Eu não sei cozinhar muito bem.Rolo os olhos.— Apenas me traga queijo e creme de leite.Ele abre a geladeira e pega os itens que pedi. Durante todo o processo, Aaron fica do meu lado, me observando.— O que há de errado? — indago.— Como assim? — ele parece confuso.— Você está quieto e me observando o tempo todo. É estranho.— Estou apenas aprendendo como fazer um macarrão com queijo congelado.Eu dou risada.— Que engraçado. Por que não aproveita e pega uma aspirina pra mim na minha bolsa? E
Ele suspira e se senta, até estar recostado contra a cabeceira da cama.— Eu também, agora que você me acordou.— Por que você se deitou comigo?— Não é óbvio? Eu estava cuidando de você.Claro. Porque não tinha mais ninguém pra fazer isso. Me sinto incomodada com o fato de que ele está fazendo tudo isso apenas por obrigação.— Você não precisa se preocupar mais comigo.— Quer que eu vá embora?— Não foi o que quis dizer... — digo. — Mas... se você quiser ir, eu...— Quer ver um filme?Meu coração está batendo tão forte. Por que ele está fazendo isso? Por que está se esforçando tanto para ficar perto de mim?Não se iluda, Evelyne, sua estúpida! Meu subconsciente me alerta. Aaron Ditt não quer voltar com você.No entanto, é impossível não ficar mexida. Não me lembro da última vez em que vimos um filme quando estávamos juntos. A gente já chegou a fazer isso?— Que filme você sugere?Ele dá de ombros, pegando o controle ao lado do móvel da minha cama e apontando para a TV acoplada em um
AARONNão sei que horas são, mas a julgar pelo barulho em algum lugar da casa, todos já estão acordados. Algo cai à minha direita e eu ouço apenas uma maldição baixa antes de abrir os olhos e observar Evelyne terminar de vestir o seu moletom, os olhos expandidos enquanto me observa, como se tivesse sido pega em flagrante. Aos seus pés, um jarro de decoração estilhaçado.— O que você está fazendo?— Eu... esbarrei na cômoda e o jarro simplesmente caiu — responde. — Vou pedir desculpas ao Trent mais tarde. Não se preocupe.— Não é sobre isso que estou...— E tentar recompensá-lo, é claro. Espero que não seja um jarro muito caro.— Evelyne, nós precisam...— Bom, é isso — ela me corta uma segunda vez. — Estou de saída.Ela simplesmente me dá as costas e sai do quarto, como se estivesse fugindo de uma assombração.— Evelyne! — chamo por ela, mas a tentativa é inútil.Passo as mãos pelos cabelos, me perguntando o que diabos aconteceu para ela sair daqui tão depressa depois de tudo o que fi
AARONHá uma sensação de nostalgia me seguindo enquanto caminho pelo piso de assoalho do The Purge, um dos pubs mais antigos de Trempton City. Para os poucos moradores desta cidade, este lugar pode ter significados e despertar sensações diversas, mas só há um sentimento se sobressaindo para mim agora: a felicidade diante da perspectiva de um recomeço.Há muitas pessoas amontoadas ao nosso redor. Mesmo com o fim da atração especial, os clientes bêbados não se dispersaram. Os Dimples decidiram dar um show antes da próxima turnê no lugar onde tudo começou. Foi aqui que eles tocaram pela primeira vez. Também era aqui que minha mãe vinha para observá-los tocar no comecinho da carreira. O cheiro de bebida e cigarro já me é familiar. Estive em lugares como esse diversas vezes enquanto crescia. Por mais que James nunca quisesse exatamente que eu me atirasse neste mundo desde pequeno, ele era um pai solteiro em tempo integral. É difícil, às vezes, conciliar carreira e vida pessoal.— Est