Capítulo 2

| Bad Guy - Billie Eilish |

Jeong Park

Finalmente o jatinho estaciona, pego minha mala e a porta se abre, desço as escadas móvel, segurando a mala e percebo que meu amigo está à minha espera. Ajeito meu óculos escuro e vou até eles puxando minha maleta e a mala com a outra mão.

— Como foi a viagem? — Erick, meu motorista e amigo pessoal, pergunta.

— Interessante. — Digo.

Ele pega a minha bagagem — mesmo que não seja necessário fazer isso —, coloca dentro do porta mala no carro. Agradeço com um aceno de cabeça e vou me sentar no banco do carona.

Erick demora um pouco para entrar no carro e sei que tem algo de errado. Pego um pirulito do bolso com sabor de morango e coloco na boca. Isso é um problema e meu amigo vai saber, eu sempre como doces quando estou irritado e muito frustrado.

Aquela porra de reunião havia demorado mais do que o necessário fazer aliança amigável com alguns membros da Coreia do Sul, não tem sido fácil. E meu Don, confiou aquilo só em mim, a minha capacidade de persuasão sempre foi perfeita, sou fluente em coreano ( por ser minha língua materna) e sem falar que aquele é o meu trabalho.

No entanto, aquela negociação demorou muito, mas no fim acabaram cedendo e todo mundo ganhou.

No meu caso, eu só perdi tempo.

Aconchego minha cabeça sobre o assento do banco e fecho os olhos. Ouço o barulho da porta ao lado e sei que não estou mais sozinho no carro.

Erick dá a partida e um silêncio reina. Tiro o pirulito da boca e abro os olhos observando o pequeno globo avermelhado.

— Desembucha! — peço sem rodeios.

— Eu te conheço, sei que vai se irritar.

— Já estou irritado, diga de uma vez!

Coloco o pirulito de volta na boca sentindo o homem ao lado completamente tenso.

— Nós temos um problema, um dos novatos deixou cair a carteira que tinha a documentação.

Eu solto uma gargalhada, aquilo só podia ser uma piada.

— Certo, essa foi boa, me rendeu um bom riso. Agora me diga o que está havendo?

— Jeon — Erick chama meu apelido e suspira apertando as mãos no volante. — O problema é esse, estou falando sério.

Observo a estrada do aeroporto por alguns momentos tentando processar a merda enorme que aconteceu.

— Ah, fala sério. — Tento ficar calmo e continuo. — Onde foi isso?

— No porto, os federais ficaram sabendo e deu muita merda, um novato deixou a carteira cair e…

O interrompo fazendo um barulho com a boca e vou direto ao ponto:

— A policial estava lá?

— Sim.

Solto uma risada de puro sarcasmo e logo explodo começando a praguejar em italiano, americano e coreano. Erick se mantém firme enquanto eu xingo todo mundo em várias outras línguas.

Quando meu ataque passa, pego meu celular desligado e ligo para o don. Embora ele tenha me dado a completa permissão para fazer o que bem entendesse no solo americano, eu nunca o deixava sem saber o que se passava por aqui e agora não seria exceção.

Ele atende no segundo toque:

— il mio ragazzo, estava esperando sua ligação. Tem boas notícias?

— Si, eles assinaram. Acordo fechado.

— Oh! Questo è meraviglioso, o senhor nunca me decepciona, meu rapaz.

— Meu Don. — Falo baixo e sei que ele já reconhece um problema na minha voz.

— O que aconteceu? Está machucado? Alguém fez algo com você?

Aperto o celular dando um meio sorriso pela preocupação dele, a covinha no meu rosto aparece e solto um suspiro.

— Não, estou bem, o problema aconteceu aqui na América. — Conto o que sei.

Ouço vários palavrões.

— Desculpa, isso não é com você, sei que você não tem culpa dessa merda.

— Eu sinto muito por não estar por aqui. Posso fazer alguma coisa?

— Si, já sabe o que fazer, sabe que tem a permissão, e em breve estarei aí. Quero dar uma olhada nessa policial de perto, ela está fazendo muita bagunça.

— Certo.

— Eu preciso conversar com a minha amiga sobre essa policial, isso está me irritando e sinto falta dos seus pais.

— Eles também sentem sua falta.

— Então, maravilha, no fim de semana chegarei de viagem e resolva essa situação como quiser, confio totalmente em você.

Dou um sorriso e me despeço do Don, desligo o celular.

— Onde o homem está? — pergunto, chupando o último vestígio de doce no pirulito.

— Com os outros rapazes.

— Ótimo.

Abro minha maleta, a princípio parece ser a mala de um homem de negócios, cheia de papéis e contratos. Mas quando toco no pequeno botão e coloco minha digital, a primeira parte da maleta levanta, minha pistola glock com silenciador está disponível.

Faz tempo que não uso você não é, minha querida? Penso comigo mesmo enchendo o cartucho com as balas.

— Acha que 6 balas é o suficiente? — indago olhando para o meu amigo.

— Creio que sim — Erick afirmou sério e suspirou —, vai fazer mesmo isso? Você não gosta de sujar suas mãos.

— Às vezes se sujar um pouco não faz mal — dou um sorriso. — Quando as coisas ficam difíceis não me importo de limpar o estrume. Algo a acrescentar sobre o infeliz?

— Eu acho que ele tem família.

— Questa merda sta peggiorando sempre di più.

— Fala a minha língua, por favor, eu não sou poliglota como você.

— Essa merda está fedendo cada vez mais. — repito aumentando a minha voz. — Família? Contratamos agora um homem de família?

— Quem contratou?

— Foi o Carlos, me deixaram de folga já que você não estava por aqui, quer dizer nossa turma ficou de fora.

— Esse puto chegou tem dois meses e acha que pode mandar. Eu avisei ao Don que esse cara ia dar problema, mas ele insiste nele, que tem potencial.

— Também não gosto dele.

— Acelera mais isso — ordeno irritado — vou tirar a banca desse otário, quero ver se ele tem culhão para me enfrentar.

|...|

— Por favor, eu fiquei desesperado, olha se quiser eu posso sumir — suplica o homem se tremendo inteiro de medo. — Por favor, senhor, eu prometo que sumo daqui, não direi nada.

— Você acha mesmo que vai ser tão fácil? — questiona Erick se abaixando para ficar na mesma direção do olhar homem — Acha mesmo que ele vai te deixar ir embora e lhe dar uma florzinha em agradecimento depois do que você deixou acontecer?

— Eu sei que não, mas eu tenho meus filhos, eu só entrei nisso por causa deles, por favor.

Observo o homem implorando pela vida e confesso que sinto pena, mesmo que às vezes não pareça, há uma parte humana dentro de mim, e acho que é essa parte que o Alex gosta tanto.

Ainda estou dentro do carro quieto esperando a hora certa para agir, ninguém sabe ainda que retornei. Olho para o lado e observo Carlos e os outros membros rindo.

Alex só pode estar brincando, esse cara não pode ser o escolhido para ser seu futuro substituto. Ele não tem honra alguma e não oferece dignidade, esse cara nunca terá o meu respeito.

— Mate-o logo fantoche — diz Carlos com um sorriso — esse velhote é um imprestável, só irmos atrás da família dele em seguida.

Erick o olha e não é difícil imaginar o que está pensando, sei que quer mirar a bala nele. Eu não vou me importar se ele fizer isso.

— Está com medo né... do seu chefinho? — zomba Carlos com o ar de desdem — aquele amarelo… Asiático de merda nem sabe o que quer, so fica com aquela maletinha para cima e para baixo.

Ah racista nojento!

Agora Erick puxa a arma para ele e sei que está tão puto quanto eu.

— Veja como fala do meu amigo, seu imbecil escroto.

Então eu saio do carro, ouço as exclamações à minha volta. Puxo a minha arma escondida no bolso do meu sobretudo e percebo que Carlos e o restante dos homens — pelo menos os que se uniram a ele — ficaram com medo.

— Senhor Carlos Carpentine, poderia repetir o que acabou de dizer?

Ele foi caminhando para trás conforme ando na direção dele.

— Era só uma brincadeira, sabe que eu sou muito brincalhão.

— Brincadeira? Você entende o que é a máfia, senhor Carpentine?

— Sim, claro — responde o homem.

— Então, sabe que todos nós respeitamos uns ao outros sem ligar para sua cor ou etnia. Não temos nenhuma discriminação, eu exijo respeito a mim e ao meu povo.

— Sim, claro senhor.

Eu evito dar uma boa surra nesse cara por mais que minha vontade seja essa. Ele é filho de um dos poderosos magnatas italiano, amigo do Don. Carlos fazia contrabando de drogas na Itália e quase foi pego pelos repórteres, para apaziguar a situação ele foi mandando para cá.

Se eu machucar esse cara pode haver um problema, se ele for o escolhido pelo Don. No entanto, deixo exposto totalmente a minha vontade mata-lo.

— Respeito senhor Carpentine. Lembre-se disso.

Então me viro para o homem ajoelhado no chão ele se curva quando nossos olhos se encontram.

— O senhor então é o problema aqui.

O homem não responde.

— O senhor perdeu a língua? — Olho para os homens em volta — Alguém tirou a língua dele e eu não vi?

— Não — o homem finalmente falou. — Eu só, eu… não quero morrer.

— Eu também não, acho que ninguém quer morrer aqui, senhor problema — solto um suspiro — Mas, a sua atrapalhada me deu uma dor de cabeça e a melhor opção seria me livrar de você. — Falo com tranquilidade colocando as mãos para trás.

— Por favor! Não! Eu sumo daqui, eu tenho filhos, senhor, são crianças e…

— Você contou algo para elas?

— Não, minha mulher pensa que estou trabalhando numa peixaria.

Ouço as risadas atrás de mim, olho para trás na hora e todos param. Reviro os olhos sentindo minha paciência se esgotar.

Qual é a graça disso? Seria um trabalho digno e honesto.

— Certo. Você deixou sua carteira cair, sabe que a essa hora a polícia já sabe quem é?

— Tenho consciência disso, ninguém sabe de nada, por favor se não puder me poupar pelo menos poupe minha família.

O senhor problema — gostei desse apelido — começa a choramingar, fecho os olhos e decido o que fazer.

— Se realmente se sua esposa não souber de nada, e for pega pela polícia ela será interrogada e liberada depois de algumas horas. Agora se ela souber de algo, a coisa vai ficar muito feia, ela será presa como cúmplice, as crianças podem ser mandadas para um abrigo e…

Paro de falar quando o homem chora desesperado na minha frente, é uma cena depreciativa.

— Está bem, pare de chorar, eu verei o que posso fazer, contanto que você suma logo depois disso.

Todos se assustam com minha declaração, inclusive o chorão.

— Sério, senhor?

Olho para Erick e dou a ordem.

— Mantenha ele no lugar secreto, vamos limpar essa bagunça direito.

— Obrigado senhor, obrigado! — o homem diz enquanto é levado de volta para van.

Ignoro Carlos e os outros, vou até a van que está as pessoas de minha confiança.

— Com certeza vão atrás da família dele. — Um dos rapazes disse. — O que faremos?

— Como eu disse, temos que limpar a bagunça e nem tem como culpar a polícia, dessa vez a mancada foi nossa. — Pego outro pirulito no meu casaco, abro e coloco na boca — vamos lá, tenho que colocar as coisas em ordem.

Dou um sorriso e volto para o carro. Erick entra ao meu lado e guardo minha arma na mala.

— Estou feliz que nem precisou usar isso.

— Está com medo?

— Eu sei como você fica quando está em ação.

Dou uma risada. Era só o que me faltava.

— Como eu fico?

— Assustador, somos amigos há tempos e desconheço você. — Erick sussurra. — Sabe que entrei nisso por você, isso tudo sempre vai me assustar.

— Mais do que estar na guerra?

— Isso é uma guerra.

— Sim, você pode pular fora quando quiser, não quero te obrigar a ficar aqui.

— Eu vou ficar, merda, você é meu melhor amigo e te considero um irmão. Não vou deixar você.

— Isso é bom. — Dou um sorriso. — E eu vou te proteger também irmão. Fique tranquilo.

— Eu sei disso, consigliere.

Um sorriso se forma em meus lábios e minhas covinhas aparecem, ele finalmente me chamou pela a hierarquia na qual pertenço dentro da máfia. O Consigliere, o braço direito do Don da máfia.

Fecho os olhos e tiro um cochilo até chegar em casa, deixando minha mente limpa por hora.

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