Alicia não se tinha apercebido de como estava exausta até encostar as costas a uma das paredes do elevador. O seu corpo pesava uma tonelada. Por esta altura já tinha fome, tinha comido há muito tempo, mas ao mesmo tempo sentia náuseas. Para não falar que a cabeça lhe começava a doer e que se sentia tonta só de entrar no elevador.Levou a mão à têmpora e apertou–a. Só tinha sido uma noite na rua. Não é como se fosse a primeira vez. Não a ia matar. Soltou um enorme suspiro antes de se ir embora quando chegou ao andar do apartamento de Vincet. Ela dirigiu–se para lá quase mecanicamente. Esperava que ele estivesse a dormir, pois não queria explicar–lhe porque não estava em casa.Não sabia se contar–lhe o que Lukas tinha dito seria apropriado. Ah, a dor de cabeça não a deixava pensar direito. Mas os seus planos foram por água abaixo quando entrou e encontrou a silhueta do próprio Vincet de costas para ela junto a uma das janelas.Ele estava a beber café e olhou para ela por cima do ombro.
Que raio lhe estava a acontecer? Desde quando é que ele se preocupava com os sentimentos dos outros?–Hey, devias encarar as coisas com mais calma,– Lukas deixou–se cair no sofá, –Porque é que em vez de a veres como uma tentação, pensas nela como se fosse, sei lá... como se fosse um familiar que te fez uma visita temporária. Como a tua irmã, sei lá. Tu não fodias com a tua irmã.–Acho que quem tem fetiches aqui és tu, por isso não me envolvas nessa merda– retorquiu Vincet, mas analisando o seu ponto de vista, talvez se analisasse o que Lukas lhe tinha dito, o seu interesse pela rapariga diminuísse. É que... ela não tinha nada que o atraísse realmente, mas ao mesmo tempo tinha.Era algo que eu não conseguia compreender.Nesse momento, o seu telemóvel tocou. Olhou para as horas e eram 10:30 da noite. Tinha mesmo feito um dia em cheio. No ecrã havia uma mensagem. Era da mulher que tinha passado a noite na sua cama. Esperava que ela não se tornasse intensa, pois teria de a bloquear.Desbl
Vincet não gostava de animais de estimação. A razão... eram quase como um fardo, tinham de ser tratados, alimentados, vigiados, levados de um lado para o outro se ficassem doentes, em suma, era uma responsabilidade que não lhe agradava. É por isso que não tinha uma parceira fixa e séria. Era ter de estar atento a uma pessoa e sentir–se preocupado... como agora.Ele detestava a sensação. Fazia o seu peito apertar e a inquietação dançar pelo seu corpo.Ele nem sequer ficou assim quando teve de fechar os contratos mais importantes da sua vida. Não. Viver livre era a melhor coisa. Não ter nada que o incomodasse e desfrutar dos prazeres da vida. Era um luxo a que se podia dar... por isso... o que estava ele a fazer ao voltar para a sua casa de campo quase à meia–noite, com o coração quase na garganta, formando mil cenários na cabeça, em vez de estar a caminho de um hotel ou de outro sítio qualquer?Isso era fácil. Ele agora não vivia sozinho, e a mulher em sua casa nem sequer tinha atendid
Ao receber este tipo de diagnóstico do médico, Vincet não o achou assim tão estranho. Afinal, já o tinha notado em alguns comportamentos de Alicia, desde a cautela, a introversão e até a recusa de contacto físico excessivo se não tivesse o controlo da situação. E se a isso se juntassem as cicatrizes nas costas dela, que ele percebia terem sido provocadas em diferentes ocasiões... da mesma forma, uma estranha angústia apoderou–se dele e o seu peito apertou–se.–Qual é a gravidade?A expressão do médico era séria.–É melhor sentarmo–nos por um momento.E os dois homens à sua frente sabiam que não seria uma conversa simples.Perdoe–me se tomei a liberdade, mas uma vez que vi o que ele tinha no pulso, faz parte da ética do meu médico verificar o resto dos danos– desculpou–se, Vincet fez–lhe sinal para que continuasse, –não posso dizer com certeza a quantidade de danos, pois teríamos de fazer um estudo minucioso do seu interior, mas a sua pele tem muitas manifestações de abuso. É muito bra
Ah, foi um verdadeiro alívio quando a cabeça deixou de lhe doer e o corpo já não estava tão quente que ardia. Foi um alívio quando algo a envolveu e quase a embalou protectoramente. Foi um alívio poder dormir... sem ter de estar à espera que alguém lhe abrisse a porta...Esperar por ele.A consciência de Alicia, anteriormente enevoada, estava a clarear a uma velocidade impressionante, o mesmo não acontecendo com o seu corpo que, embora já não sentisse dores, ainda estava bastante beijado, especialmente à volta da cintura. E embora a temperatura do seu corpo parecesse ter baixado consideravelmente, havia um calor localizado nas suas costas que era agradável e algo familiar.Alicia forçou o seu corpo a acordar completamente e abriu os olhos. Demorou algum tempo a concentrar–se no que a rodeava, mas pestanejou várias vezes. Não se lembrava de ter chegado ali. Ela... estava a sentir–se muito mal, andava de um lado para o outro, mas os seus pensamentos estavam confusos depois de se ter dir
Tique–taque, tique–taque.Era o único som que Alicia conseguia ouvir no quarto escuro como breu, enquanto o seu olhar estava fixo no teto. Naquela noite... foi–lhe quase impossível dormir um pouco e já eram três horas da manhã há algum tempo. Se continuasse assim, iria para a universidade sem ter dormido e isso não era bom, não conseguiria concentrar–se bem por causa do sono.Ele suspirou.Ela estava cansada, mas a sua cabeça aparentemente não. Os pensamentos eram um verdadeiro turbilhão. Agora estava sozinha. Vincet não voltara a dormir com ela depois daquela noite em que a vigiara até de madrugada, e talvez tivesse sido melhor assim.Nunca tinha visto o homem como algo mais do que uma simples pessoa. Nunca tivera um interesse amoroso como tal, nem um parceiro, embora a dada altura a ideia lhe tivesse passado pela cabeça e despertado a sua curiosidade, mas não tinha ido mais longe, talvez devido à sua situação e modo de vida. Por isso, quando viu Vincet, só o viu como outra pessoa e,
Ah, agora Alicia entendia. Não era para ela que estavam a olhar, mas para Vincet que estava atrás dela. Ainda assim, não se sentia confortável com toda a atenção que estava a receber, e a sua mão apertou–se na borda do elegante e caro casaco do Diretor Executivo.–Tutor?– foi a pergunta que saiu da boca de Cristian com um ligeiro travo de desprezo que logo foi disfarçado, –Desculpe, mas a Alicia já tem idade suficiente para que alguém tenha de tomar conta dela como se fosse uma criança.Vincet era um homem adaptado a lidar com certos tipos de pessoas para o seu trabalho e a sua paciência estava bem solidificada para não deixar escapar o que realmente queria dizer naquele momento, por isso também não se sentiu intimidado pelo professor de Alicia, pelo contrário, baixou a cabeça e sorriu ligeiramente enquanto o seu braço apertava possessivamente Alicia contra ele. Sentiu o gemido dela quase como um murmúrio seguro, devido à impressão da forma como ele se estava a comportar.Na altura, n
Se havia uma coisa que Alicia não entendia, era porque é que todas as relações entre homens e mulheres acabavam sempre em amores. Como se as pessoas não pudessem ter relações normais ou apenas de amizade. E, pela sua parte, ela...–Nunca gostei de ninguém– foi a resposta clara que ele lhe deu, de forma a não lhe dar espaço para fazer mais perguntas sobre esse facto.Vincet, que estava prestes a perguntar–lhe de novo, ficou com a boca ligeiramente aberta, como se estivesse a processar isto. Levantou ligeiramente uma sobrancelha.–Nem sequer um romance de liceu. É uma coisa normal para os jovens de hoje em dia– apercebeu–se então de que era uma pergunta estúpida, pois, tanto quanto sabia, ela não tinha tido uma vida normal.Alicia abanou a cabeça.–mas pombo, perdeste a melhor coisa da vida. Tipo, não te apaixonaste. Não sentiste aquela sensação de borboletas no estômago, é ótimo, posso garantir.Alicia negou novamente.–Acho que... se vais ter uma pessoa ao teu lado que te vai fazer so