Vincet não gostava de animais de estimação. A razão... eram quase como um fardo, tinham de ser tratados, alimentados, vigiados, levados de um lado para o outro se ficassem doentes, em suma, era uma responsabilidade que não lhe agradava. É por isso que não tinha uma parceira fixa e séria. Era ter de estar atento a uma pessoa e sentir–se preocupado... como agora.Ele detestava a sensação. Fazia o seu peito apertar e a inquietação dançar pelo seu corpo.Ele nem sequer ficou assim quando teve de fechar os contratos mais importantes da sua vida. Não. Viver livre era a melhor coisa. Não ter nada que o incomodasse e desfrutar dos prazeres da vida. Era um luxo a que se podia dar... por isso... o que estava ele a fazer ao voltar para a sua casa de campo quase à meia–noite, com o coração quase na garganta, formando mil cenários na cabeça, em vez de estar a caminho de um hotel ou de outro sítio qualquer?Isso era fácil. Ele agora não vivia sozinho, e a mulher em sua casa nem sequer tinha atendid
Ao receber este tipo de diagnóstico do médico, Vincet não o achou assim tão estranho. Afinal, já o tinha notado em alguns comportamentos de Alicia, desde a cautela, a introversão e até a recusa de contacto físico excessivo se não tivesse o controlo da situação. E se a isso se juntassem as cicatrizes nas costas dela, que ele percebia terem sido provocadas em diferentes ocasiões... da mesma forma, uma estranha angústia apoderou–se dele e o seu peito apertou–se.–Qual é a gravidade?A expressão do médico era séria.–É melhor sentarmo–nos por um momento.E os dois homens à sua frente sabiam que não seria uma conversa simples.Perdoe–me se tomei a liberdade, mas uma vez que vi o que ele tinha no pulso, faz parte da ética do meu médico verificar o resto dos danos– desculpou–se, Vincet fez–lhe sinal para que continuasse, –não posso dizer com certeza a quantidade de danos, pois teríamos de fazer um estudo minucioso do seu interior, mas a sua pele tem muitas manifestações de abuso. É muito bra
Ah, foi um verdadeiro alívio quando a cabeça deixou de lhe doer e o corpo já não estava tão quente que ardia. Foi um alívio quando algo a envolveu e quase a embalou protectoramente. Foi um alívio poder dormir... sem ter de estar à espera que alguém lhe abrisse a porta...Esperar por ele.A consciência de Alicia, anteriormente enevoada, estava a clarear a uma velocidade impressionante, o mesmo não acontecendo com o seu corpo que, embora já não sentisse dores, ainda estava bastante beijado, especialmente à volta da cintura. E embora a temperatura do seu corpo parecesse ter baixado consideravelmente, havia um calor localizado nas suas costas que era agradável e algo familiar.Alicia forçou o seu corpo a acordar completamente e abriu os olhos. Demorou algum tempo a concentrar–se no que a rodeava, mas pestanejou várias vezes. Não se lembrava de ter chegado ali. Ela... estava a sentir–se muito mal, andava de um lado para o outro, mas os seus pensamentos estavam confusos depois de se ter dir
Tique–taque, tique–taque.Era o único som que Alicia conseguia ouvir no quarto escuro como breu, enquanto o seu olhar estava fixo no teto. Naquela noite... foi–lhe quase impossível dormir um pouco e já eram três horas da manhã há algum tempo. Se continuasse assim, iria para a universidade sem ter dormido e isso não era bom, não conseguiria concentrar–se bem por causa do sono.Ele suspirou.Ela estava cansada, mas a sua cabeça aparentemente não. Os pensamentos eram um verdadeiro turbilhão. Agora estava sozinha. Vincet não voltara a dormir com ela depois daquela noite em que a vigiara até de madrugada, e talvez tivesse sido melhor assim.Nunca tinha visto o homem como algo mais do que uma simples pessoa. Nunca tivera um interesse amoroso como tal, nem um parceiro, embora a dada altura a ideia lhe tivesse passado pela cabeça e despertado a sua curiosidade, mas não tinha ido mais longe, talvez devido à sua situação e modo de vida. Por isso, quando viu Vincet, só o viu como outra pessoa e,
Ah, agora Alicia entendia. Não era para ela que estavam a olhar, mas para Vincet que estava atrás dela. Ainda assim, não se sentia confortável com toda a atenção que estava a receber, e a sua mão apertou–se na borda do elegante e caro casaco do Diretor Executivo.–Tutor?– foi a pergunta que saiu da boca de Cristian com um ligeiro travo de desprezo que logo foi disfarçado, –Desculpe, mas a Alicia já tem idade suficiente para que alguém tenha de tomar conta dela como se fosse uma criança.Vincet era um homem adaptado a lidar com certos tipos de pessoas para o seu trabalho e a sua paciência estava bem solidificada para não deixar escapar o que realmente queria dizer naquele momento, por isso também não se sentiu intimidado pelo professor de Alicia, pelo contrário, baixou a cabeça e sorriu ligeiramente enquanto o seu braço apertava possessivamente Alicia contra ele. Sentiu o gemido dela quase como um murmúrio seguro, devido à impressão da forma como ele se estava a comportar.Na altura, n
Se havia uma coisa que Alicia não entendia, era porque é que todas as relações entre homens e mulheres acabavam sempre em amores. Como se as pessoas não pudessem ter relações normais ou apenas de amizade. E, pela sua parte, ela...–Nunca gostei de ninguém– foi a resposta clara que ele lhe deu, de forma a não lhe dar espaço para fazer mais perguntas sobre esse facto.Vincet, que estava prestes a perguntar–lhe de novo, ficou com a boca ligeiramente aberta, como se estivesse a processar isto. Levantou ligeiramente uma sobrancelha.–Nem sequer um romance de liceu. É uma coisa normal para os jovens de hoje em dia– apercebeu–se então de que era uma pergunta estúpida, pois, tanto quanto sabia, ela não tinha tido uma vida normal.Alicia abanou a cabeça.–mas pombo, perdeste a melhor coisa da vida. Tipo, não te apaixonaste. Não sentiste aquela sensação de borboletas no estômago, é ótimo, posso garantir.Alicia negou novamente.–Acho que... se vais ter uma pessoa ao teu lado que te vai fazer so
As bochechas de Alicia ficaram muito vermelhas quando, depois de andarem muito e de comprarem mais do que alguma vez tinham imaginado nesta vida, os três pararam em frente à loja de roupa interior. Lukas, apesar dos muitos sacos que trazia consigo, que continham várias mudas de roupa, sapatos e malas, muitas das quais tinham sido enviadas para casa, parecia estar completamente fresco, como se estivesse habituado. Vincet, por outro lado... parecia... normal.Esta é a última loja antes de voltarmos para o jantar– anunciou o diretor–geral, olhando para o relógio e olhando de relance para Lukas: –Vou ligar para o restaurante de que gosto e pedir–lhes que me enviem uma fornada inteira da especialidade da casa para o meu apartamento.Entendido, chefe– disse Lukas com um sorriso e virou–se para se ir embora.Alicia pestanejou com curiosidade.–Era uma pergunta inocente, mas depois pensou que era melhor, dado o sítio que tinham à frente.Depois sentiu a mão de Vincet nas suas costas.–Entreta
Vincet esperava que Alicia comesse bastante... para o que ela comia regularmente. Aparentemente, ela tinha concordado com a ementa, pois parecia satisfeita por provar os pratos. Ele tinha de o fazer, porque quando começasse a fazer–lhe perguntas, era provável que ela deixasse de comer sob a pressão das suas perguntas. Assim, ele esperou, bebendo um gole do seu vinho, até ela colocar os talheres na mesa.Foi então que ela se apercebeu que ele estava a olhar para ela durante todo este tempo e corou.Desculpa, não devia...– Sentiu–se envergonhada, pois tinha estado a comer sem lhe prestar atenção.–Não tens de pedir desculpa por nada. A comida é só para comer, senão vai para o lixo– Vincet bebeu um gole de vinho antes de pousar o copo na mesa, –Alicia– o seu tom de voz mudou, –o que tencionas fazer depois de te formares?A pergunta fê–la inclinar a cabeça e pestanejar de surpresa.–Está... interessado em saber?–Perguntei por uma razão. A tua formatura está para breve e ainda vais estar