O Ceo é o meu tutor
O Ceo é o meu tutor
Por: Bibi Li
1

Era preciso muita coragem para telefonar do átrio à meia–noite, quando tinha tido um dos dias mais agitados da sua vida. Vincet Regal estalou a língua e esfregou a cara na almofada. O toque do telefone na entrada do prédio não parava, e isso era apenas um sinal de que quem estava lá em baixo não se ia embora.

–Raios– murmurou, ainda sem abrir os olhos, e pegou no telemóvel, que estava preso ao aparelho.

Levantou lentamente as pálpebras, olhou para o número para confirmar que era aquele e pegou no altifalante.

–Depois de quase 72 horas sem dormir devido a uma viagem de negócios e a mais de três contratos fechados, a última coisa que queria era que alguém perturbasse a sua paz de espírito.

–Desculpe, Sr. Regal, mas há duas mulheres à sua procura aqui em baixo. Uma delas insiste que é uma grande amiga sua, mas o nome dela não consta dos contactos que deixou aqui em baixo– respondeu o porteiro.

Diz–lhe que sou a ex–namorada dele– ouviu–se ao longe.

Bem, ele estava demasiado sonolento para pensar, mas já tinha tido muitas dessas. As mulheres na sua vida eram como o vinho. Saboreava–se, desfrutava–se o momento e depois seguia–se em frente. Ele não queria ter algo que o prendesse, a sua vida profissional já era suficientemente cansativa sem ter de estar a satisfazer os caprichos caros de uma mulher. Eles pensavam que o dinheiro caía do céu, não, ele trabalhava arduamente para o conseguir.

–Não sei quem é. Deixa–os ir, estou a desligar.

–Espera– o guardião parecia muito nervoso, –ela diz que é algo importante, para se lembrar da dívida que tens para com ela. Que é melhor ires buscá–las.

O sobrolho de Vincet franziu–se visivelmente. Estava a ser chantageado. Quem se atreveria a fazer isso? Dívidas? Não se lembrava de ter nenhuma...

Deixa–os entrar– disse ele, com a voz rouca e os dentes cerrados. Depois desligou e atirou o telemóvel para cima da cama, fazendo–o ricochetear.

Vincet estalou a língua enquanto se sentava e empurrava para trás as suas franjas pretas lisas. Imaginou que fosse uma das suas muitas ex–mulheres a querer chantageá–lo, mas ele... ele já sabia como as tirar de cima dele, afinal de contas ele não dava informações sobre a sua vida privada nos curtos momentos em que estava com elas ou com os seus casos.

Gostava de ser livre, o trabalho já geria todo o seu tempo, se quisesse companhia teria um animal de estimação e não, não tinha.

Levantou–se e foi à casa de banho onde lavou o rosto. Quando levantou a cabeça para mostrar o rosto molhado, pôde ver ligeiras olheiras, bem como linhas vermelhas nas órbitas que tornavam o azul dos seus olhos mais potente. Estava mortalmente exausto. E agora, em vez de dormir, tinha de tratar de uma princesinha irritante. Ou melhor... duas.

Alguns minutos mais tarde, enquanto bebia água na cozinha, ouviu a campainha tocar e um sorriso malicioso surgiu no seu rosto. Não tinha muita paciência para lidar com quem quer que fosse, por isso não tinha tido tempo para mudar de roupa. Assim, quando abriu a porta, tinha apenas as calças de dormir largas até às ancas e um roupão comprido a condizer, que nem se tinha dado ao trabalho de apertar. Todo o seu tronco, marcado por anos de treino matinal constante, estava à vista da mulher que apareceu à sua frente e onde os seus olhos o percorreram antes de chegarem ao seu rosto.

Rosto que mostrava uma expressão de desagrado.

–Você– disse ele com espanto.

Liliana já tinha insistido o suficiente para ser recebida, era uma mulher habituada a conseguir o que queria, e aquela noite não seria exceção. Ela não se iria embora sem conseguir o que queria, por isso, assim que lhe foi dada luz verde para subir no elevador, agarrou o pulso da jovem atrás de si e puxou–a para dentro, sem se importar que estivesse a enterrar as suas longas unhas vermelhas na pele da rapariga.

Quando as portas se fecharam, Liliana soltou um suspiro e ajustou o seu cabelo castanho no reflexo da porta, para além de verificar que a sua maquilhagem estava no lugar. As camadas de base e pó para esconder qualquer imperfeição faziam com que a sua tez parecesse muito mais jovem do que a sua idade real.

Olhou para a rapariga atrás dele através do seu reflexo.

–Muda essa cara, não é que eu te vá prostituir a qualquer homem. Olha onde ele vive, tenho a certeza que está cheio de dinheiro– estreitou os olhos, –Sabes o que tens de fazer, Alicia, não me respondas quando estivermos lá dentro, ou sabes o que pode acontecer– disse a mulher em tom de aviso antes de as portas do elevador se abrirem novamente no último andar do edifício residencial.

A jovem que tinha a cabeça baixa olhou para ela pelo canto do olho e cerrou os lábios, mas não disse uma palavra. O pulso latejante e sobretudo as palmas das mãos ardiam onde as suas próprias unhas tinham rasgado a pele em sinal de desaprovação. A coisa mais sensata a fazer seria recusar, mas ela não tinha essa opção.

No corredor por onde entraram, com alcatifa no chão e grandes janelas, havia apenas uma porta ao fundo. Era um apartamento inteiro para aquele andar.

–Então o sacana tem mais dinheiro do que eu imaginava,– Liliana resmungou, –Bem, ele tem de me ajudar desta vez e pagar–me o que me deve,– e começou a tocar à campainha repetidamente sem pensar que horas eram. Ela já sabia que o dono da casa estava acordado.

E não demorou muito para que a porta se abrisse e revelasse um homem completamente diferente daquele de que se lembrava, muito mais alto, mais desenvolvido e mais atraente do que tinha na cabeça.

Tinham passado 20 anos desde a última vez que se tinham visto. Sim, 20 anos.

–A expressão de espanto na sua voz era percetível. A diferença era que, para além de ter deixado crescer o cabelo um pouco mais e de a maquilhagem não ter mudado muito, continuava a ser magra, com uma altura média de cerca de um metro e oitenta e as suas feições suaves, embora os seus olhos escuros fossem tenazes.

Já passou muito tempo, Vincet, mas finalmente consegui encontrar–te– endireitou as costas e mostrou as habilidades com que tinha conquistado quem quer que estivesse à sua frente, sendo um deles o homem que ali estava, –preciso da tua ajuda.

Instantaneamente, o sobrolho de Vincet franziu–se e o seu olhar desviou–se da mulher para a mulher mais nova atrás dela, embora ela não tenha prestado muita atenção. Era como se ela não se distinguisse da que estava mais perto dele. Como se fossem opostos polares.

–Não sei bem o que me queres dizer depois de todos estes anos. Não me venhas pedir dinheiro, que eu não o dou porque não tenho dinheiro de sobra– as suas palavras são secas e directas. Ele sabia muito bem que, quando subisse nos lucros, os ratos começariam a rodeá–lo.

Deixa–me entrar e falaremos sobre isso entre nós os dois, ou melhor, entre nós os três– insistiu a mulher, sem qualquer intenção de recuar.

Vincet cruzou os braços sobre o peito, bloqueando a entrada do seu apartamento.

Eu não sabia o que Liliana estava a tramar, embora fosse claro para mim que tinha de ter cuidado com ela. Era uma mulher mais esperta do que parecia. E aquele rosto que ele nunca esqueceria, só uma mulher na história tinha sido capaz de o enganar com o seu próprio rosto, e essa era Liliana. Já para não falar que ela tinha conseguido esconder uma gravidez, e que tinha uma filha, mesmo dele.

Quando se conheceram, ele tinha apenas 14 anos, eles eram muito jovens e ele tinha sido ingénuo perante as provocações de uma rapariga dois anos mais velha do que ele, que já tinha filhos e que tinha um longo caminho a percorrer. Agora, já não era aquele rapazinho estúpido e não tinha qualquer intenção de se deixar manipular pela mulher.

Ou assim pensava ele.

E o que ela mais se perguntava... que papel estava a desempenhar a jovem atrás de Liliana.

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