Uma semana depois...
Miguel tem me evitado. Ele foge de mim como o diabo foge da cruz. Meu pai disse que o trabalho tem sido pesado e exigido muito de seus homens, mas não é isso. Miguel sempre arrumou um tempo para mim. Já tivemos estiagem antes e ele sempre deu um jeito de me ver.
Como todos os dias tenho feito, levanto cedo para cavalgar. Só depois da cavalgada tomo o café da manhã. Tem me feito bem esses momentos. É bom sair por aí, vendo a natureza, se bem que a paisagem está muito judiada.
Visto uma calça jeans escura, uma camiseta branca e calço botas de cano alto. Amarro meus cabelos num rabo de cavalo.
Tomo apenas um gole de café na cozinha que Maria me ofereceu e saio em direção as baias. Peço para um dos empregados de papai selar um cavalo para mim. O sol está entre nuvens. O vento está mais frio que o normal, mas fiquei com preguiça de voltar até em casa e pegar uma jaqueta.
É sempre assim, ameaça chover, mas o calor dissipava as nuvens, então a possibilidade de chover é pequena.
A estiagem judia do gado que está mais magro. O verde deu lugar a mato queimado e chão de terra seca. As árvores perderam seu viço.
Eu galopo em direção aquilo que um dia já foi um lugar lindo. O lago Pedra Alta, por isso nomeamos a nossa fazenda assim. Quando chego lá, pulo do cavalo e o deixo pastando. O lago de águas cor de chá já foi bem fundo, hoje penas uma areia grossa e branca, e mais ao fundo o mangue de água barrenta.
Um raio cai próximo de onde eu estou. Em umas árvores ali perto. Meu cavalo dá um relincho forte e assustado. Meu coração dá um salto no peito. E antes que eu o segure, ele sai em disparada em direção à casa.
Merda! Se meu cavalo chegar em casa sozinho, será um alarde geral. Com certeza irei preocupa-los.
O vento começa a balançar as folhas secas das árvores ao meu redor. Eu começo a caminhar rápido para não pegar toda essa chuva que ainda está longe de onde estou. Ouço novo raio que me assusta. Faço uma oração, clamando para um não cair na minha cabeça. A chuva começa a cair, pequenos pingos e depois densa. Em menos de um minuto eu estou ensopada e tremendo de frio.
Eu corro em direção a duas grandes pedras, eu entro por uma pequena abertura e fico entre elas, tentando me abrigar dos raios. Fico um bom tempo ali, até que percebo que eles estão menos frequentes apenas o aguaceiro cai forte.
Tremendo de frio, saio do meu esconderijo e começo a caminhar em direção a casa, olho para o céu com as densas nuvens e ventos fortes, pelo visto, essa chuva não tem hora para acabar.
Miguel
A chuva é bem-vinda. Sorrindo corro e me abrigo no celeiro que está aberto. Um de meus homens corre em minha direção. Ele me olha aflito.
—Miguel, a senhorita Graham está à cavalo. Saiu há uma hora e não voltou.
Parece um pesadelo.
—O quê?
—É, ela mandou Jonas selar o cavalo e saiu em direção ao lago.
Mil coisas passam na minha cabeça. Ando de um lado para o outro como um leão enjaulado.
—O senhor Graham sabe disso? Vitor?
—Não, eles foram na loja de ferragens.
Eu seguro o ombro dele.
—Eu vou atrás dela, quando eles chegarem não diga nada a eles. Estou levando o celular, quando eu achar a senhorita Graham, eu ligo avisando.
Eu não poderia ir a cavalo pois do jeito que está chovendo, é um risco cair no terreno esburacado e quebrar o pescoço. Estou refletindo sobre isso quando o alazão passa selado relinchando na frente do celeiro.
Aquela cena me angustia.
—Esse é o cavalo dela?
Jonas assente para mim.
—Pegue o cavalo e tire a sela, coloque ele na baia.
Desesperado de tanta preocupação, eu corro na chuva até em casa e pego um cobertor, corro então até a caminhonete. Tremendo dos pés à cabeça, meu coração batendo forte em meu peito a tiro do coberto.
Ela caiu do cavalo? Está ferida?
Balanço minha cabeça para não pensar no pior.
O dia parece noite, de tão pesada que estão as nuvens. A chuva está tão forte que o limpador de para-brisa não vence limpar a chuva que caí. Os raios que me preocupavam mais.
Enquanto eu dirijo desesperado, passa como se fosse um filme na minha cabeça, da época que ela me procurava, sempre depois do meu trabalho.
Eu nunca tinha falado com uma garota por muito tempo como costumava falar com ela. Ela vinha até mim, com aquele jeitinho meigo querendo atenção e eu sabia que ela não era privada disso. Ela tinha atenção de Mark, de minha mãe, e de sua mãe que na época era viva.
Ela simplesmente gostava da minha companhia.
Garotas que saí, que cheguei a namorar, não eram tão genuínas ou tão doces como ela. Sua fome por minha companhia me lisonjeou por muito tempo. Quando a mãe dela morreu, tudo mudou. Ela começou a dar mais atenção ao pai, e logo foi mandada para estudar fora. Aquilo acabou comigo, por muito tempo passei deprimido, sentindo um vazio muito grande no coração. A dor da lembrança volta mais feroz do que antes, apertando meu coração como um laço até que eu esteja ofegante.
Minhas sobrancelhas se juntam, e uma sensação ruim invade meu interior.
— Que nada tenha acontecido a ela. Eu não sei o que será de mim se algo de ruim acontecer. —Eu digo para mim mesmo, apertando o volante com força.
Ácido queima minha garganta, lágrimas borram minha visão, e meu estômago se aperta dolorosamente.
Quando eu estou no meio do caminho, eu avisto alguém vindo pela estrada há mais ou menos 700 metros da onde eu estou.
É ela, tem que ser ela!
LauraAperto meus passos em direção a casa, com a chuva pesada ferindo minha pele. Mesmo com dificuldade em manter meus olhos abertos, consigo ver ao longe a caminhonete de Miguel. Imediatamente meu coração se agita no peito com pura alegria. Ela está bem distante, quase um pontinho na paisagem, mas mesmo assim percebo que ele vem rápido, o carro deslizando no barro, avançando com destreza tentando não ficar atolado.Com certeza ele deve ter visto meu cavalo.Um novo raio cai, parece perto e me faz estremecer inteirinha.Clamo nessa hora, pedindo a Deus que ele chegue logo antes que um me atinja. Aperto mais meus passos, mas o caminho agora, parece um pequeno rio e eu escorrego e caio de bunda no chão.Me levanto e saio do caminho, andando no mato queimado, e prossigo caminhando com cuidado para não cair em algum buraco.Ergo meu rosto e perc
Eu não sei o que dizer. Um silêncio pesado cai sobre nós. Só se ouço o barulho da chuva, que começa a diminuir. Respiro profundamente.—Miguel, você está muito pensativo, fala o que está sentindo. Não me deixe fora.Ele me olha com a respiração agitada.—Esse cara. John Reynolds. Você sabia que seu pai e o pai dele sonham com a união das famílias?Meu coração ainda está batendo tão furiosamente no meu peito e eu levo um momento para entender o que acabo de ouvir. Quando assimilo a informação, um rastro de raiva percorreu minha medula.Eu engulo em seco.—Não pode ser! Eu conheço meu pai, você deve estar enganado. Ele não faria uma coisa dessas.— Há verdade em cada palavra que eu te disse. Mamãe me contou. Não é de
Duas semanas depois...Eu estou no meio do quarto de Miguel, com os olhos vendados. Ele amarrou um pano negro em meus olhos. Estou usando uma anágua de seda negra. Estremeço, pois, sei que ele está por perto.Minha boca se separa, e eu ofego, sedenta por seu toque, por seus lábios. Apalpo o ar, procurando seu corpo. Eu me sinto vulnerável, pois sei que ele está me observando.Dou alguns passos e paro quando o ouço atrás de mim, logo sinto seu perfume... arrepio-me inteirinha.—Miguel.—Quem mandou sair da cama? —Ele diz baixo e rouco perto da minha orelha.Eu me viro e o toco, estremeço com o contato do seu corpo forte, nu e quente junto ao meu.—Você demorou...Seus dedos mergulham em meus cabelos e ele me faz inclinar minha cabeça para trás e arrasta seus l&aa
No dia seguinte, eu me levantei cedo. Todo dia vejo Miguel passar com seu cavalo negro da minha janela. Porém hoje eu não o avistei, só quando voltava com o meu cavalo depois de cavalgar uma hora pela fazenda. Nessa hora ele estava indo em direção ao seu carro. Imediatamente sorri satisfeita e pensei:Que bom que ele ouviu meu conselho em ir ao médico.Meus olhos então o beberam pois ele estava lindo de doer. Usava uma calça de sarja preta e camisa da mesma cor, botas de cano curto.Agora, depois de um banho demorado e vestida com um vestido de algodão preto estou aqui em frente a janela, ansiosa, apreensiva, a cada minuto checo se ele chegou.Resolvo por uma cadeira em frente a ela quando vejo que os minutos passam e nada dele aparecer. Sento-me pensativa com a imagem do lago pedra alta seco. Talvez a sua queda e todo o esforço de levar o gado mais longe para beber água
Mais tarde quando entro na saladou com meu pailendo um jornal. Eu respiro fundo tentando controlar meu nervosismo, forço um sorriso.—Aonde você estava?—Conversando com Miguel. —Digo, preciso prepara-los para quando eu e ele anunciarmos que estamos juntos e é sério.Ele assente para mim sem sorrir, acho que tentando entender a natureza do "conversando".—O que acha de cavalgarmos juntos?Eu sorrio.—Maravilhoso. Vou colocar minhas roupas de montaria.***Papai e eu cavalgamos em silêncio, até certo ponto. Quando avistamos o gado e os peões Vitor está no meio deles. Eles estão fazendo a travessia do gado para a fazenda dos Reynolds. O mugido soa ao alto trazido pelo vento.Paramos nossos cavalos ante essa vista.—Pai, o senhor vai fazer mesmo o lago artificial? —Pergunto.Meu pai olha surpreso
Eu me levanto cedo e visto uma camisa branca, calça jeans e botas de couro macio. Antes mesmo de tomar o café da manhã passo na casa de Miguel.Ah, eu sinto uma saudade absurda dele.Porém nem todos os dias conseguimos ficar juntos, eu fico apenas com seus olhares de desejo e meus sentimentos guardados querendo vir à tona.Eu estou cansada de migalhas, mas é melhor elas do que nada. Ás vezes, eu tenho vontade de correr e me jogar em seus braços, beijar sua boca sem me importar com nada. Na caminhada até a casa dele sorrio sozinha quando penso em seu sorriso, seu carinho, suas carícias, seu corpo, seu cheiro.—Miguel! —Eu o chamo do lado de fora de sua casa. Mas não houve resposta.Será que ele voltou a trabalhar não respeitando as recomendações de meu pai?Cumprimento dois cavalariços que passam por mim.&m
MiguelRezando para que ela não veja a preocupação em meus olhos, eu a beijo. Ela separa sua boca e me beija de volta, de seus lábios escapam gemidos, me deixando louco, excitado.Eu passo as mãos pelos seus braços já arrepiados suavemente. Ansiosa, ela me pressiona mais contra seu corpo e começa a corresponder me provocando com seus lábios travessos.Fico numa agonia sem fim, entre o bem e o mal. Não sei se tenho futuro com Laura. Meu beijo se intensifica por causa do meu desespero de pensar em ter que desistir de nós, eu a abraço com força com vontade de me fundir a ela.Aos poucos nossos beijos vão diminuindo e a realidade me tomando, aumentando minha preocupação também e a culpa sobre as mentiras que eu ando dizendo a ela que está tudo bem... que não temos nada com que nos
Você precisa manter a calma. Repito pela terceira vez a mim mesma, enquanto me olho no espelho com um vestido mostarda que valoriza minhas formas. Meu corpo inteiro está aceso em saber que passaremos a tarde inteira juntos.Saio de casa olhando ao redor com medo de algum empregado me ver vestida desse jeito, mesmo sabendo que àquela hora do dia, dificilmente encontrarei alguém. Caminho rápido, me esgueirando pelos cantos. Coloquei sandálias sem salto para poder apressar meu passo. Uma pena, pois gostaria de dançar com ele, em cima de um lindo sapato de salto alto.Linda e sexy.Minutos depois, com o coração agitado, eu estou batendo na porta da casa de Miguel. A porta se abre e ele surge com uma rosa vermelha presa entre os dentes. Usando uma calça preta social, camisa branca semiaberta no peito e sapatos sociais pretos.Uma onda de hormônios sem controle jorra no meu sang