Mais tarde quando entro na sala dou com meu pai lendo um jornal. Eu respiro fundo tentando controlar meu nervosismo, forço um sorriso.
—Aonde você estava?
—Conversando com Miguel. —Digo, preciso prepara-los para quando eu e ele anunciarmos que estamos juntos e é sério.
Ele assente para mim sem sorrir, acho que tentando entender a natureza do "conversando".
—O que acha de cavalgarmos juntos?
Eu sorrio.
—Maravilhoso. Vou colocar minhas roupas de montaria.
***
Papai e eu cavalgamos em silêncio, até certo ponto. Quando avistamos o gado e os peões Vitor está no meio deles. Eles estão fazendo a travessia do gado para a fazenda dos Reynolds. O mugido soa ao alto trazido pelo vento.
Paramos nossos cavalos ante essa vista.
—Pai, o senhor vai fazer mesmo o lago artificial? —Pergunto.
Meu pai olha surpreso
Eu me levanto cedo e visto uma camisa branca, calça jeans e botas de couro macio. Antes mesmo de tomar o café da manhã passo na casa de Miguel.Ah, eu sinto uma saudade absurda dele.Porém nem todos os dias conseguimos ficar juntos, eu fico apenas com seus olhares de desejo e meus sentimentos guardados querendo vir à tona.Eu estou cansada de migalhas, mas é melhor elas do que nada. Ás vezes, eu tenho vontade de correr e me jogar em seus braços, beijar sua boca sem me importar com nada. Na caminhada até a casa dele sorrio sozinha quando penso em seu sorriso, seu carinho, suas carícias, seu corpo, seu cheiro.—Miguel! —Eu o chamo do lado de fora de sua casa. Mas não houve resposta.Será que ele voltou a trabalhar não respeitando as recomendações de meu pai?Cumprimento dois cavalariços que passam por mim.&m
MiguelRezando para que ela não veja a preocupação em meus olhos, eu a beijo. Ela separa sua boca e me beija de volta, de seus lábios escapam gemidos, me deixando louco, excitado.Eu passo as mãos pelos seus braços já arrepiados suavemente. Ansiosa, ela me pressiona mais contra seu corpo e começa a corresponder me provocando com seus lábios travessos.Fico numa agonia sem fim, entre o bem e o mal. Não sei se tenho futuro com Laura. Meu beijo se intensifica por causa do meu desespero de pensar em ter que desistir de nós, eu a abraço com força com vontade de me fundir a ela.Aos poucos nossos beijos vão diminuindo e a realidade me tomando, aumentando minha preocupação também e a culpa sobre as mentiras que eu ando dizendo a ela que está tudo bem... que não temos nada com que nos
Você precisa manter a calma. Repito pela terceira vez a mim mesma, enquanto me olho no espelho com um vestido mostarda que valoriza minhas formas. Meu corpo inteiro está aceso em saber que passaremos a tarde inteira juntos.Saio de casa olhando ao redor com medo de algum empregado me ver vestida desse jeito, mesmo sabendo que àquela hora do dia, dificilmente encontrarei alguém. Caminho rápido, me esgueirando pelos cantos. Coloquei sandálias sem salto para poder apressar meu passo. Uma pena, pois gostaria de dançar com ele, em cima de um lindo sapato de salto alto.Linda e sexy.Minutos depois, com o coração agitado, eu estou batendo na porta da casa de Miguel. A porta se abre e ele surge com uma rosa vermelha presa entre os dentes. Usando uma calça preta social, camisa branca semiaberta no peito e sapatos sociais pretos.Uma onda de hormônios sem controle jorra no meu sang
Miguel —Miguel, aquilo que cogitamos, se confirmou...sinto muito. Deus! Eu me sinto empalidecer. —Seu exame apontou que você, realmente tem, Charcot-Marie-Tooth, em seu caso em grau um, mais leve, já que apenas apareceu na perna direita. Eu encaro meu médico e apenas balanço a cabeça em troca. Sem palavras continuo a olhar para ele. O que ele disse quebrou meu coração. Uma sensação horrível aperta dentro de mim, pior que um soco no meu estômago. Minha garganta se mantém apertada quando engulo em seco, a tristeza cada vez mais tomando conta de mim. O médico solta um suspiro, antes de me lembrar novamente: —Como já conversamos da outra vez, essa doença é um defeito genético do seu cromossomo, então, é arriscado ter um filho, já que é portador da doença. Seu filho nascerá com o problema e pode não ter a mesma sorte que você e ter essa mesma doença em um nível mais grave. Ele pode vir
Laura—Vou fazer um café forte para você.—Não quero café, vai me dar dor no estômago... —Ele disse enrolado.—E bebida não? —Pergunto a ele impaciente.—Vá para casa Laura. Me deixe aqui. A bebedeira irá passar sozinha.Eu o solto o ar decepcionada.—Temos tão pouco tempo para ficarmos juntos. Por que você fez isso? O que está acontecendo, Miguel?—Nada. Eu estava aqui, sozinho. Me lembrei que eu tinha essa garrafa.... —Sua cabeça tomba.Minhas narinas estão dilatadas, as palmas das mãos suando vendo a figura lamentável de Miguel bêbado no sofá. Eu o seguro pelo braço.—Miguel, vem, vamos para a cama. Pelo jeito essa bebedeira não vai passar tão cedo.Ele abre os olhos.—Não quero, me de
Miguel—Miguel, tem certeza que não irá mudar de ideia?Meus lábios se movimentam, mas nenhuma palavra sai. Apenas aceno com a cabeça.Sim, eu estou pensando de forma coerente, usando minha razão. Se eu fosse levado pelo meu coração, eu agiria de forma egoísta. Eu sou quase dez anos mais velho que ela, um simples capataz, serei deficiente pelo resto de minha vida, segundo o médico a falta de mobilidade da minha perna irá aumentar e cada vez mais eu terei dificuldade para andar. Eu conheço Laura, como a palma de minha mão, e conheço a vontade dela de ser mãe. Inclusive ela já havia me dito isso, que seu sonho era que tivéssemos dois filhos, um menino e uma menina. —Miguel, é claro que você está relutante quanto a sua decisão?Sim, eu meço forças comi
LauraDesço na estação rodoviária. Puxando minhas duas malas de rodinhas, sinto os olhares masculinos na minha direção, deixando claro que acertei na escolha das minhas roupas. Sim, eu me arrumei para causar uma boa impressão. Estou usando um vestido lindo da Tiffani preto e branco, um clássico, que marca as curvas suaves dos meus seios empinados e da minha cintura. Os pés protegidos por sapatos pretos de salto alto.O cabelo castanho que está mais longo do que quando saí da fazenda e caem pelos ombros em uma cascata de cachos macios. Meus olhos azuis esquadrinham a rodoviária à procura de meu irmão, que confirmou ontem que viria me pegar.— Olá, gatinha. —Alguém sopra no meu ouvido.Eu dou um pulo de susto e me viro. Vitor está ao meu lado exibindo um sorriso maroto nos lábios&mda
MiguelEu estou fumando, solitário, apoiado na cerca com o chapéu de cowboy puxado para trás, revelando meus cabelos castanhos. Estou tenso, cada músculo do meu corpo retesado, a respiração descontrolada.Desde que eu soube que Laura voltaria para casa, eu fiquei sem paz. A distância ajuda a manter o controle das minhas emoções, mas agora as coisas não serão fáceis.Demorei muito tempo para me reerguer. Para me tornar o homem que sou hoje. Por muito tempo desejei a morte, por muito tempo carreguei Laura dentro de mim, onde quer que eu fosse.Eu sou um homem de sentir tudo com muita intensidade. Sempre fui assim, todo sentimento dentro de mim, é extremado: Paixão, amor, ódio, ciúme. Agora eu tenho que conter minha intempestividade, meu lado irracional. Como um leão faminto, onde alguém