Miguel
—Miguel, aquilo que cogitamos, se confirmou...sinto muito.
Deus! Eu me sinto empalidecer.
—Seu exame apontou que você, realmente tem, Charcot-Marie-Tooth, em seu caso em grau um, mais leve, já que apenas apareceu na perna direita.
Eu encaro meu médico e apenas balanço a cabeça em troca. Sem palavras continuo a olhar para ele. O que ele disse quebrou meu coração. Uma sensação horrível aperta dentro de mim, pior que um soco no meu estômago. Minha garganta se mantém apertada quando engulo em seco, a tristeza cada vez mais tomando conta de mim.
O médico solta um suspiro, antes de me lembrar novamente:
—Como já conversamos da outra vez, essa doença é um defeito genético do seu cromossomo, então, é arriscado ter um filho, já que é portador da doença. Seu filho nascerá com o problema e pode não ter a mesma sorte que você e ter essa mesma doença em um nível mais grave. Ele pode vir
Laura—Vou fazer um café forte para você.—Não quero café, vai me dar dor no estômago... —Ele disse enrolado.—E bebida não? —Pergunto a ele impaciente.—Vá para casa Laura. Me deixe aqui. A bebedeira irá passar sozinha.Eu o solto o ar decepcionada.—Temos tão pouco tempo para ficarmos juntos. Por que você fez isso? O que está acontecendo, Miguel?—Nada. Eu estava aqui, sozinho. Me lembrei que eu tinha essa garrafa.... —Sua cabeça tomba.Minhas narinas estão dilatadas, as palmas das mãos suando vendo a figura lamentável de Miguel bêbado no sofá. Eu o seguro pelo braço.—Miguel, vem, vamos para a cama. Pelo jeito essa bebedeira não vai passar tão cedo.Ele abre os olhos.—Não quero, me de
Miguel—Miguel, tem certeza que não irá mudar de ideia?Meus lábios se movimentam, mas nenhuma palavra sai. Apenas aceno com a cabeça.Sim, eu estou pensando de forma coerente, usando minha razão. Se eu fosse levado pelo meu coração, eu agiria de forma egoísta. Eu sou quase dez anos mais velho que ela, um simples capataz, serei deficiente pelo resto de minha vida, segundo o médico a falta de mobilidade da minha perna irá aumentar e cada vez mais eu terei dificuldade para andar. Eu conheço Laura, como a palma de minha mão, e conheço a vontade dela de ser mãe. Inclusive ela já havia me dito isso, que seu sonho era que tivéssemos dois filhos, um menino e uma menina. —Miguel, é claro que você está relutante quanto a sua decisão?Sim, eu meço forças comi
LauraDesço na estação rodoviária. Puxando minhas duas malas de rodinhas, sinto os olhares masculinos na minha direção, deixando claro que acertei na escolha das minhas roupas. Sim, eu me arrumei para causar uma boa impressão. Estou usando um vestido lindo da Tiffani preto e branco, um clássico, que marca as curvas suaves dos meus seios empinados e da minha cintura. Os pés protegidos por sapatos pretos de salto alto.O cabelo castanho que está mais longo do que quando saí da fazenda e caem pelos ombros em uma cascata de cachos macios. Meus olhos azuis esquadrinham a rodoviária à procura de meu irmão, que confirmou ontem que viria me pegar.— Olá, gatinha. —Alguém sopra no meu ouvido.Eu dou um pulo de susto e me viro. Vitor está ao meu lado exibindo um sorriso maroto nos lábios&mda
MiguelEu estou fumando, solitário, apoiado na cerca com o chapéu de cowboy puxado para trás, revelando meus cabelos castanhos. Estou tenso, cada músculo do meu corpo retesado, a respiração descontrolada.Desde que eu soube que Laura voltaria para casa, eu fiquei sem paz. A distância ajuda a manter o controle das minhas emoções, mas agora as coisas não serão fáceis.Demorei muito tempo para me reerguer. Para me tornar o homem que sou hoje. Por muito tempo desejei a morte, por muito tempo carreguei Laura dentro de mim, onde quer que eu fosse.Eu sou um homem de sentir tudo com muita intensidade. Sempre fui assim, todo sentimento dentro de mim, é extremado: Paixão, amor, ódio, ciúme. Agora eu tenho que conter minha intempestividade, meu lado irracional. Como um leão faminto, onde alguém
No dia seguinte caminhamos em direção à casa de Vitor que fica alguns metros de distância da nossa, na direção oposta da ala dos empregados e da casa de Miguel.Logo que avisto a casa térrea branca com uma grande varanda, construída bem no meio de enormes árvores, suspiro. Um tapete verde de grama a cerca inteirinha. As grandes janelas abrigam jardineiras floridas com flores vermelhas e brancas.—Linda! —Exclamo entusiasmada.—Espere para conhecer o interior dela. —Vitor diz me puxando pela mão e deixando meu pai e Maria para trás.Eu sorrio feliz e abraço meu irmão. Entro na casa e olho tudo. Cada cômodo reparando em cada detalhe. Os móveis brancos, as cortinas cinza-claros, em conjunto com os tapetes coloridos e os quadros abstratos de cores vivas. Simplesmente espetacular.—Quem decorou?—Eu e Jé
MiguelMinha respiração se torna irregular, sua promessa e a verdade que ela fez quase me fazem engasgar com a minha saliva. Ela se vira e sai com passos decididos para fora da minha casa. Fico paralisado olhando-a se afastar, os cabelos ondulando em suas costas. Aspiro o ambiente para me acalmar, mas nem assim consigo já que seu perfume ficou no ambiente. Eu me sinto um vulcão prestes a entrar em erupção. Um arrepio atravessa o meu corpo inteiro com essa sensação gostosa de adrenalina que ela me provoca, é como se vida tivesse sido injetada nas minhas veias, mas então minha expressão fica carrancuda quando começo a me martirizar por ter deixado as coisas evoluírem entre nós no passado. Eu passei dos limites, fui longe demais. Eu não poderia ter me envolvido com a filha do patrão.— Deus! — Exclamo baixinho, esfregan
No dia seguinte acordo cedo para cavalgar. Coloco um biquíni vermelho; por cima uma camiseta branca e um jeans azul escuro. Prendo os cabelos em um rabo de cavalo e calço um par de botas de montaria.Quando entro na sala de jantar, avisto papai e Vitor tomando café. Eles sorriem para mim.— Levantou cedo. —Papai comenta.—Vou cavalgar. Estou morrendo de saudades da fazenda, sentir esse ar fresco da manhã. E eu ainda não vi as melhorias que o senhor fez. Quero ver o lago artificial, quero ir também até o lago pedra alta que está cheio. Matar a saudade da maravilhosa paisagem.—Faz bem, o melhor horário é agora cedo.—Jéssica virá me ver hoje à noite. Vocês podem aproveitar para colocar os assuntos em dia. —Vitor diz, limpando a boca com o guardanapo. —Hoje pretendo ver com ela a data do casamento.—I
Eu relanceio os olhos para ele, Miguel se serve de qualquer jeito, ele nem vê o que coloca no prato. Acredito que para disfarçar, atento a mim. Parece que se ele comer capim hoje, não irá sentir nem o sabor.—Não está vendo? É óbvio, não é? Vim comer ao ar livre. Com certeza não foi para ver você, que pelo visto, ainda não tomou banho. — Eu torço meu nariz olhando sua camiseta suja.—Engraçadinha! Seu pai sabe que está aqui? —Ele pergunta em forma de ameaça atrás de mim, quando eu caminho para uma das mesas.Levanto a cabeça pedindo paciência aos céus.—Sou maior de idade, não preciso mais dar satisfações a meu pai e muito menos a você. Ele não pode mais me ameaçar a voltar para Londres e terminamos tudo, lembra? Nem você manda mais em mi