Quando Celina sentiu-se preparada para encarar Thor de frente, ela girou a maçaneta e abriu a porta devagar.Ele estava parado no mesmo lugar, de braços cruzados, olhando diretamente para ela com um olhar indecifrável. Um misto de preocupação, desconfiança e carinho.— Tá tudo bem? — Thor perguntou com a voz baixa, porém firme.— Sim... — Celina forçou um sorriso e saiu do banheiro. — Eu tenho alergia alimentar... e ainda assim insisto em comer o que não posso. Amo aquele bolo, mas comi rápido demais, no meio da madrugada... acabou não caindo bem. — Ela falava rápido, tensa, mexendo nas mãos, evitando encará-lo.Thor continuou parado, os olhos cravados nela.— Tem certeza que é só isso? — questionou, dando um passo à frente.Celina assentiu rapidamente, desviando o olhar.— Tenho sim. Além da alergia, tenho gastrite também... acho que a combinação não ajudou.Ele ficou em silêncio por alguns segundos, observando cada gesto dela, cada desvio de olhar. Mas decidiu respeitar o tempo dela
Ela abriu os olhos devagar, sentindo o corpo pesado, os olhos um pouco inchados. A primeira coisa que viu foi o espaço vazio na cama. Depois, ouviu o som da água correndo no banheiro.Por instinto, pensou em levantar, ir até lá e entrar no banho com ele. Sentir a água quente sobre os dois, os corpos se encontrando de novo. Mas a lembrança da madrugada... da dor, da fragilidade que expôs sem querer... aquilo ainda estava nela. Não conseguia fingir que nada havia acontecido. Não dava para simplesmente ignorar o que sentiu. O medo ainda estava ali.Então desistiu.Continuou deitada por alguns minutos, até ouvir o som da água cessando.Thor saiu do banheiro envolto em uma toalha, os cabelos ainda pingando. Ao vê-la acordada, parou por um instante na porta. Os olhares se encontraram.Celina puxou o lençol até o peito, meio sem jeito, mas tentou sorrir.— Bom dia...— Bom dia — ele respondeu, com um tom calmo, mas um olhar mergulhado em pensamentos que ela não conseguia decifrar.Por um mom
Thor olhou a tela e bufou, impaciente. Atendeu.— Oi.A voz do outro lado era doce, mas carregada de um tom forçado de carinho.— Amor... você não me liga mais. Não quer saber como estou?Thor franziu o cenho, revirou os olhos e respondeu, seco:— Isabela, agora?— Poxa, amor... — insistiu ela. — Sinto sua falta. Estou com saudade...Thor fechou os olhos com força, tentando manter a calma.— Estou muito ocupado. Conversamos depois.— Precisamos conversar. — ela insistiu, a voz mais baixa, quase melosa.— Assim que eu voltar, te procuro. — E sem dar espaço para mais nada, desligou.Assim que Thor desligou a ligação abruptamente, Isabela ficou olhando para o celular em sua mão, os olhos brilhando de raiva.— Maldito... — sussurrou entre dentes, apertando o aparelho com força.Ela jogou o telefone em cima da cama com violência e começou a andar de um lado para o outro, furiosa.— Tem alguma coisa errada... — murmurou para si mesma. — Ele nunca foi de me tratar assim, nunca me deixou no v
A manhã passou com Thor mergulhado em papéis e assinaturas, enquanto Celina organizava os documentos com uma eficiência quase fria. Por dentro, ainda processava o que sentira ao ver Verônica.Eles saíram da empresa um pouco depois do horário de almoço e pararam em um restaurante próximo ao hotel. O almoço foi tranquilo, mas Celina manteve-se calada, introspectiva.No caminho de volta, Thor percebeu o silêncio.— Amor, está tudo bem?— Está sim — respondeu ela com um sorriso leve, olhando pela janela.Ele pegou uma de suas mãos e a beijou, tentando trazer de volta o calor de antes.Quando chegaram ao hotel, ele encostou o carro em frente à entrada.— Pode subir. Eu preciso resolver umas coisas rápidas, e já volto — disse, inclinando-se para lhe dar um beijo.Celina saiu do carro, observando-o se afastar. Algo dentro dela estava despertando. E não era mais apenas tristeza.Era desconfiança.Celina entrou na suíte do hotel, sentindo o peso do mundo em seus ombros. Ela largou a bolsa sobr
Na suíte, Celina, ainda adormecida pelo choro, foi despertada pelo toque insistente do celular. Meio tonta, olhou para o visor: Thor. Atendeu rapidamente.— Amor, estou em uma reunião que acabou se estendendo um pouco. Vou chegar quase na hora de sairmos para o jantar — explicou ele apressado.Ao fundo, uma voz feminina chamava por ele.— Thor, venha aqui, querido!Antes que Celina pudesse dizer qualquer coisa, Thor disse:— Preciso desligar, amor.A linha ficou muda.Celina ficou ali, olhando para a tela do celular, ouvindo em sua memória, o tom íntimo com que aquela mulher o chamava.O estômago revirou, a cabeça girou.A angústia tomou conta.Sem pensar, ela correu para o banheiro do quarto e vomitou violentamente. O corpo todo tremia, o suor frio escorria por todo seu corpo.Sentada no chão, abraçando as próprias pernas, Celina tentava, em vão, recuperar o controle sobre si mesma.Mas o coração parecia ter sido arrancado do peito.Depois de um longo tempo, ela levantou do chão do b
O silêncio da manhã foi a primeira coisa que atingiu Celina ao despertar. O lençol de cetim frio sob sua pele revelava que César não estava ali. Ela abriu os olhos lentamente, piscando contra a claridade difusa que entrava pelas cortinas entreabertas. Virou-se para o lado, confirmando o que já sabia: a cama ao seu lado estava intacta, como se ele sequer tivesse deitado ali naquela noite. Nos últimos meses, isso havia se tornado rotina: ele saía cedo e voltava tarde da noite, sempre alegando estar sobrecarregado no trabalho. Um suspiro escapou de seus lábios. Levantou-se devagar, os pés descalços encontrando o carpete macio enquanto caminhava até as grandes janelas do quarto. Puxou as cortinas, revelando a paisagem cinzenta lá fora. O céu carregado de nuvens, cinzento, trazia uma sensação estranha, uma melancolia que parecia invadir seu peito. Aquele céu refletia exatamente como ela se sentia por dentro. Suspirou fundo e murmurou para si mesma, quase sem perceber: — Agora ele
Celina abriu a porta do escritório, e seu mundo desmoronou. O ar sumiu dos seus pulmões. Seu coração deu um salto doloroso dentro do peito antes de despencar em um abismo de desespero. Ali, diante de seus olhos, estava César, seu marido, o homem que prometeu amá-la e respeitá-la, entrelaçado no corpo de outra mulher. Nicole estava jogada sobre a mesa, os cabelos loiros desarrumados, os lábios entreabertos em puro prazer. As pernas estavam enroscadas na cintura de César, as mãos cravadas em suas costas. A cena era crua, explícita, e Celina sentiu náuseas instantaneamente. Seu corpo congelou. O sangue gelou em suas veias. Ela queria gritar, mas a voz morreu em sua garganta. Queria correr dali, mas suas pernas não obedeciam. Nicole foi a primeira a notar sua presença. Em vez de pânico ou constrangimento, um sorriso surgiu em seu rosto. Um sorriso de satisfação. De triunfo. Celina sentiu o chão ceder sob seus pés. Os olhos de Nicole brilhavam com malícia, como se já esperas
Celina arqueou uma sobrancelha, avaliando-o por um instante. Ele não era como os homens que geralmente tentavam abordá-la. Não parecia apressado. Não usava uma cantada barata. Apenas oferecia algo simples, com uma confiança desconcertante. E, talvez pelo álcool, ou talvez porque precisava desesperadamente se sentir desejada depois de ser descartada como lixo, ela sorriu de canto. — Aceito. O homem inclinou levemente a cabeça, o sorriso de canto quase desafiador. — Você não parece do tipo que aceita bebidas de estranhos. Celina soltou um riso baixo, sem humor. — Talvez hoje eu seja. Ele a observou atentamente, os olhos escuros estudando cada detalhe de seu rosto. — Então hoje é um dia atípico. — Pode apostar que sim. O homem ergueu uma mão, chamando o garçom, e sem nem precisar olhar o cardápio, pediu: — O melhor drink do bar para esta senhorita. Celina observou enquanto o garçom assentia e se afastava. O homem então puxou um banco e se sentou ao lado dela, casua