O silêncio da noite era traiçoeiro.
Jonathan encarava a porta fechada do quarto de Marta, o peito subindo e descendo em um ritmo descompassado. O desejo latejava, queimava, corroía cada linha do autocontrole que passou anos cultivando.
Isso não podia estar acontecendo. Não com ele.
Seu olhar vagou pelo corredor escuro, buscando uma distração, algo que o afastasse da lembrança daquela garota de cabelos castanhos e olhar penetrante. Mas não adiantava. A presença dela estava impregnada em sua pele, como um veneno lento que se espalhava sem piedade.
Lá dentro, Marta descansava. Inocente.
Jonathan precisava sair dali. Precisava respirar. Mas quando fechou os olhos, tudo que viu foi a lembrança que o assombrava há três anos: o rosto de Aira. E, agora, o de Marta, sobreposto ao dela. O tempo não era justo. E o destino, cruel.
Marta era um problema. Não porque representava uma ameaça, mas porque o fazia lembrar que ele ainda era um homem de carne e osso. E isso... era inaceitável.
Marta volta a ter esperança em ter uma vida digna. Após o banho, veste seu moletom velho e senta-se na cama, afundando no colchão macio. É um luxo ao qual ainda vai se acostumar. Ela se perde em pensamentos, sem saber por quanto tempo, até que ouve batidas suaves na porta.
Ela levanta e abre. Jonathan está ali, imponente como sempre, mas dessa vez há algo a mais no olhar dele. Ele avisa que amanhã sairá mais tarde e que lhe mostrará a casa, explicando o que quer que ela faça e como gosta que arrume o seu quarto.
— Sim, senhor. — Marta responde, tentando ignorar o modo como ele a observa. Há algo quente naquela troca de olhares, algo que faz o seu estômago revirar de um jeito estranho.
Jonathan prende a respiração por um instante. Ele olha para Marta e se amalldiçoa pelos pensamentos pecaminosos. Ela tem vinte e um anos. Ele tem trinta anos.
Não deveria estar sentindo isso, mas a ereção pulsante sob o tecido fino da calça prova o contrário. Seu corpo já tomou uma decisão antes mesmo que sua mente pudesse detê-lo. Ele precisa sair dali. Agora.
— Boa noite, Marta — diz, em um tom mais seco do que pretendia.
— Boa noite, senhor Jonathan. — A formalidade na voz dela deveria afastar a tensão, mas apenas a torna ainda mais evidente.
Ele sai, fechando a porta atrás de si, mas a imagem dela fica. Jonathan se recosta na parede do corredor, respira fundo, tentando se controlar. Ele não deveria pensar nela assim. Mas é impossível ignorar o jeito como ela o afeta. Ele se imagina sobre ela, sua pele quente sob suas mãos, seus gemidos sussurrados contra sua boca. A ideia de estar dentro dela, afundado até o limite, faz seu membro pulsar. Mas ele pensa que precisa manter o controle, precisa se dar ao respeito. Não pode cruzar essa linha, seria uma forma de abuso. E mesmo com tanta semelhança, sabe que ela não é Aira.
No quarto, Marta suspira. Jonathan é diferente de qualquer homem que já conheceu. Ele é lindo. Forte. Másculo. Sua voz é grossa, carregada de uma masculinidade crua e autoritária, completamente diferente dos homens vazios e interesseiros com quem conviveu na capital ou até mesmo dos rapazes de sua cidade natal. Ele a intimida, mas, ao mesmo tempo, algo nele a atrai de um jeito que ela não consegue explicar.
Ela balança a cabeça, espantando os pensamentos. Ele é seu patrão. E ela tem sorte por ter essa chance. Melhor não se perder em devaneios e correr o risco de ir para as ruas.
Coloca o celular para despertar e se ajeita na cama. Em pouco tempo, dorme exausta, mas com um lampejo de felicidade que não via há meses, desde que saiu de casa para fugir de alguém que deveria protegê-la e também em busca de uma vida melhor.
Mas Jonathan não dorme. Ele se mantém acordado, os pensamentos presos na garota que agora ocupa um quarto na sua casa.
Ela é perigosa. Não da forma óbvia, não como um inimigo ou uma ameaça real. Mas porque desperta nele algo que há muito acreditava ter enterrado.
Dentro dele, tudo é um caos. Fecha os olhos e solta um suspiro pesado. Hoje completam três anos que Aira morreu. Três anos desde que seu coração foi arrancado do peito, desde que ele deixou de ser um homem inteiro.
E foi justamente hoje que Marta apareceu na sua vida.
Ele passa a mão pelos cabelos, exausto. Desde o momento em que a viu, algo dentro dele se revirou. No início, foi apenas um incômodo sutil, uma sensação de estranheza, como se estivesse olhando para um fantasma do passado. Mas conforme os minutos passaram, conforme seus olhos exploraram os traços delicados da jovem, a forma de seu corpo, os cabelos que caíam em ondas suaves, a impressão se tornou impossível de ignorar.
Marta se parece muito com Aira. Não é uma semelhança perfeita, mas os traços estão lá. O mesmo olhar intenso, quase penetrante. O corpo esguio, os movimentos graciosos, cabelos e olhos castanhos, a maneira como ela segura o olhar quando fala... Jonathan sente o estômago revirar. Não pode ser apenas uma coincidência.
Ele se odeia por isso. Se odeia por sentir o sangue aquecer nas veias quando Marta está por perto. Por se pegar observando-a, analisando cada detalhe, como se buscasse nela algo que perdeu para sempre. E talvez seja exatamente isso que está acontecendo. Ele está atraído por ela porque ela lembra Aira. Porque, de alguma forma, sua mente e seu corpo teimam em buscar na jovem aquilo que um dia foi dele e que a morte roubou sem piedade.
Mas isso não pode acontecer. Ele não pode confundir desejo com saudade, não pode usar Marta para preencher um vazio que jamais será preenchido. E, acima de tudo, não pode se permitir cair nessa armadilha.
Mas será que ele realmente tem escolha?
O cheiro forte de café recém passado se espalha pela cozinha, misturando-se ao leve aroma da massa quente dourando na frigideira. Marta se movimenta com precisão, cada gesto carregando um cuidado que vai muito além da obrigação. Pela primeira vez em muito tempo, sente que pertence a algum lugar.Jonathan aparece na soleira da porta, observando-a em silêncio. A presença dele é imponente, mas dessa vez há algo diferente em seu olhar. Algo que Marta finge não perceber.— O que é isso? — Ele franze a testa ao vê-la preparar uma tapioca e recheá-la com queijo.— Tapioca, senhor. Quer experimentar?Jonathan hesita por um instante, mas aceita. Leva a primeira mordida e sua expressão se transforma. As sobrancelhas arqueiam, os lábios pressionam em um movimento involuntário de aprovação. Marta sorri discretamente.— Isso é… bom — ele admite, mastigando devagar.Ela continua com seu próprio café da manhã, mas antes mesmo de dar a primeira mordida, ele a interrompe:— Por favor, faça outra para
Capítulo 9O tempo tem um jeito estranho de transformar pequenos detalhes em algo maior do que deveriam ser. E talvez seja isso que está acontecendo agora. Marta não percebe de imediato, mas a rotina se moldou de forma diferente nos últimos dias. A amizade com Eduardo floresce em meio aos gestos simples, trocas sutis que falam mais do que palavras. Se Jonathan percebeu? Provavelmente não. Mas e quando ele perceber?Enquanto a água esquenta para o café de Jonathan, Marta observa Eduardo com o canto dos olhos. Ele entra na cozinha com um sorriso despreocupado.Ele se senta, observando enquanto ela prepara bolos e a sua tradicional tapioca, que o motorista também aprendeu a apreciar. O aroma preenche a cozinha, criando um ambiente acolhedor.— Sabe, você cozinha bem demais. O patrão teve sorte de encontrar você. — Eduardo comenta, pegando um pedaço de bolo antes mesmo de ela servir.— Sorte nada, ele é exigente — Marta brinca, se sentando em frente a ele. — Mas e você? Hoje só trabalha a
Marta sente como se a sua alma estivesse se despedaçando junto com os fragmentos do porta-joias que jazem no chão frio. As suas mãos tremem enquanto tenta recolher os cacos, mas logo desiste. O pranto convulsiona o seu corpo, e ela sente o peso esmagador da humilhação. Engolida pelo desespero, arrasta-se até o próprio quarto, suas pernas mal sustentando o peso do corpo. Ao encostar-se à parede, desliza até o chão, os soluços rasgando a sua garganta. — Onde foi que eu errei? — murmura, a sua voz fraca se perdendo na imensidão solitária daquele quarto onde havia começado a cultivar a esperança de uma vida melhor, e que agora, não era mais o seu pequeno espaço no mundo.Depois de longos minutos, em um impulso, ela reúne o que resta da sua dignidade. O corpo ainda treme, mas ela se obriga a ficar de pé. Entra no banheiro e deixa a água quente escorrer sobre o seu corpo esguio, tentando, de forma desesperada, lavar a dor. Quando sai, veste-se com pressa, pega sua velha mala, a mochila des
Jonathan quando chega ao portão principal da mansão, os seguranças recuam ao ver seu semblante sombrio. Sem esperar por qualquer sinal, ele empurra os portões e avança. Seus passos são firmes, determinados, cada célula de seu corpo consumida pelo fogo da possessividade e da ira.Marta e Eduardo já estão do lado de fora. Ela parece menor do que nunca diante da grande mala aos seus pés. Eduardo, por outro lado, está próximo demais. Próximo o suficiente para alimentar os demônios que gritam dentro de Jonathan.— O que diabos está acontecendo aqui? — Sua voz corta o ar como uma lâmina afiada. Marta se sobressalta. Eduardo se coloca instintivamente à frente dela, o que apenas acende mais o fogo que arde dentro de Jonathan.— Você não tem o direito de falar comigo assim. — Marta responde, a voz ainda trêmula, mas carregada de uma determinação que ele não esperava. — Você me expulsou, eu estou indo embora. Não há mais nada que me faça permanecer aqui.Jonathan solta uma risada amarga. O ven
Marta encara a cidade que se desenrola pela janela do carro. A paisagem passa em um borrão de luzes e movimentos, mas nada disso a distrai do peso que carrega no peito. Eduardo mantém uma das mãos no volante e a outra apoiada no câmbio, os olhos atentos ao trânsito, mas a expressão séria deixa claro que sua preocupação está nela.— Você quer falar sobre o que está sentindo? — ele pergunta, quebrando o silêncio que se instalou entre os dois.Ela hesita por um momento, respirando fundo antes de responder.— Não sei nem o que sinto agora... só parece que tudo desmoronou de uma vez.Eduardo solta um suspiro curto e volta a atenção para a rua. Ele já viu esse tipo de olhar antes, já conheceu gente que perdeu tudo e se perdeu junto. Mas Marta... Marta não merece passar por isso.— Você não precisa enfrentar essa situação toda sozinha. — ele diz, a voz carregada de certeza. — E muito menos precisa dormir na rua. Você vai ficar comigo o tempo que for necessário.Ela abaixa o olhar para as pr
A noite avança e após todas as emoções vividas, Marta toma um banho e se deita confortavelmente, após uns minutos, as pálpebras pesam. Ela se entrega ao torpor, ao sono inquieto que sempre a recebe com sombras e lembranças cortantes.Então ela sente. Um peso. Esmagador, sufocante.Marta ofega, o ar lhe escapando dos pulmões quando percebe um corpo sobre o seu. Uma mão áspera e suja se aperta contra sua boca, abafando o grito que nasce em sua garganta. O cheiro de álcool, suor e cigarro invade seu nariz, revirando o seu estômago. Ela se debate instintivamente, mas o agressor é forte, muito mais forte.— Fica quieta... — a voz dele sussurra, carregada de um desejo podre. — Vai ser rápido, basta você colaborar.A blusa fina se rasga com um som seco, e o ar gelado encontra sua pele exposta. Logo, a boca do agressor alcança o seu mamilo com brutalidade. O contato violento causa uma dor aguda, e Marta sente as lágrimas queimando os seus olhos, incapaz de reprimi-las, enquanto o homem conti
Jonathan desperta cedo, mas a sensação de cansaço permanece. O banho frio não o desperta como deveria, nem a roupa impecável que veste lhe devolve o controle que tanto preza. Ao descer as escadas, o impacto vem como um soco seco no estômago, a mesa do café da manhã do dia anterior ainda está posta, intocada, como um lembrete cruel do que aconteceu.Ele para por um instante. O cheiro do café que sempre o recebia, o prato de tapioca quente esperando por ele… tudo isso continua ali, do dia anterior. Ele recolhe tudo e coloca na lixeira. O espaço parece maior, mais vazio. Marta se foi. E a casa se tornou uma imensidão de silêncio e memórias incômodas.Jonathan resmunga, negando-se a fixar esses pensamentos. Ele caminha até a cafeteira, insere uma cápsula e observa o líquido fumegante escorrer para dentro da xícara. Dá um gole, mas o sabor não preenche o vazio. Pega um pão, passa manteiga, acrescenta queijo e presunto e coloca na sanduicheira. O cheiro da comida aquece o ambiente, mas nã
O som do gelo tilintando no copo de whisky é a única coisa que Jonathan realmente escuta. O riso alto de Ravi e Rui, as vozes femininas sussurradas ao redor, a música abafada ao fundo... tudo se mistura em um zumbido distante. Ele gira o líquido dourado no copo, a mente vagando para um lugar que ele não quer explorar. Mas quando seus olhos recaem sobre ela, a decisão é automática.Uma loira. Pele impecável, corpo escultural. Olhos baixos, treinados para seduzir sem dizer uma palavra. Jonathan apenas aponta. A escolha foi feita. Como sempre, segue o ritual, sem olhar para o rosto da profissional.No quarto reservado da mansão, o silêncio é cortado apenas pelo farfalhar das roupas sendo removidas. Jonathan se posiciona diante da poltrona de couro, o olhar predatório não permitindo questionamentos.— Chupa o meu pau. — Sua voz é rouca, carregada de desejo bruto.A loira sorri de canto, deslizando a língua pelos lábios antes de envolvê-lo com sua boca quente e experiente. Jonathan solta