A Tensão no Ar

  

O cheiro forte de café recém passado se espalha pela cozinha, misturando-se ao leve aroma da massa quente dourando na frigideira. Marta se movimenta com precisão, cada gesto carregando um cuidado que vai muito além da obrigação. Pela primeira vez em muito tempo, sente que pertence a algum lugar.

Jonathan aparece na soleira da porta, observando-a em silêncio. A presença dele é imponente, mas dessa vez há algo diferente em seu olhar. Algo que Marta finge não perceber.

— O que é isso? — Ele franze a testa ao vê-la preparar uma tapioca e recheá-la com queijo.

— Tapioca, senhor. Quer experimentar?

Jonathan hesita por um instante, mas aceita. Leva a primeira mordida e sua expressão se transforma. As sobrancelhas arqueiam, os lábios pressionam em um movimento involuntário de aprovação. Marta sorri discretamente.

— Isso é… bom — ele admite, mastigando devagar.

Ela continua com seu próprio café da manhã, mas antes mesmo de dar a primeira mordida, ele a interrompe:

— Por favor, faça outra para mim.

— Outra? — Marta ri, surpresa.

— Com queijo, presunto e alcaparras desta vez.

Ela obedece, satisfeita por agradá-lo. Quando ele prova a nova combinação, seus olhos se fecham por um breve momento, e ele solta um som gutural de aprovação. Marta sente um prazer estranho em vê-lo assim. Jonathan se serve de mais uma xícara de café e, quando termina, a olha diretamente.

— Quero que faça uma tapioca para mim todas as manhãs. — Sua voz é firme, quase uma ordem, mas sem aspereza.

Marta assente, satisfeita por estar acertando.

— Será um prazer, senhor.

Jonathan se levanta, ajustando o relógio no pulso.

— Se alimente. Vou te esperar na sala.

Ele sai e liga a TV, deixando o jornal matinal preencher o silêncio. Marta come sua tapioca em silêncio, grata pelo abrigo e pela comida. Depois de tantos dias de incertezas e privações, algo dentro dela se acalma.

Quando termina, caminha até ele, que desliga a televisão e se levanta.

— Vou te mostrar como prefiro que organize tudo. — diz, iniciando a caminhada pelos cômodos.

— Marta, vou deixar um cartão com você para que faça as compras mensais da casa. — Ele entrega um envelope a ela.

— Também preparei uma lista com minhas preferências de marcas e produtos. Quero que siga isso à risca. O restante, você pode escolher o que achar melhor.

Marta pega o envelope, assentindo.

— Tudo bem, senhor Jonathan. Vou me organizar.

— Eduardo, o meu motorista, vai levá-la ao mercado. — Ele hesita por um instante, os lábios se comprimindo. A ideia de vê-la sozinha no carro com outro homem o incomoda mais do que deveria.

— Você sabe dirigir?

Marta o encara, surpresa.

— Sei. Mas só carros normais… Nunca dirigi um carro de luxo. Seu carro me pareceu daqueles de filme.

Jonathan esboça um pequeno sorriso.

— É verdade. Você já me apresentou a sua carteira de motorista!

— Sim.

Ele cruza os braços, refletindo.

— Vou tirar um dia para treiná-la com os carros da casa. Não quero que dependa de Eduardo para tudo. Mas, por enquanto, ele vai levá-la.

Marta sente um calor subir pelo peito. Jonathan a treinando? Ele realmente faria isso por ela?

— Tudo bem, senhor Jonathan. Farei como preferir.

Ele assente e segue com as instruções.

— Uma empresa para limpeza da piscina e jardinagem vem uma vez por semana. — Ele continua. — A empresa manda diarista duas vezes na semana para as faxinas pesadas. Seu foco é manter a organização geral da casa e, claro, preparar a janta.

— Tenho Eduardo aqui, o meu motorista, ele fica na outra casa. Vocês vão se encontrar com frequência.

Jonathan faz uma pausa, os olhos fixos nela.

— Pelo jantar, farei um acerto extra com você. É justo.

Marta sente um alívio sutil. O trabalho é extenso, mas Jonathan está sendo correto.

— Obrigada, senhor.

Depois das instruções, ele segue para o quarto, e a atmosfera muda. O ar parece mais denso, carregado de uma energia invisível. Jonathan a observa em silêncio, o peito subindo e descendo devagar. A tensão entre os dois é palpável.

Ela deveria desviar o olhar. Ele deveria se afastar.

Mas nenhum dos dois se move.

O coração de Marta acelera. Jonathan sente o próprio corpo reagir contra a sua vontade. Ele não pode. Não deve.

Ele fecha os punhos ao lado do corpo. Marta percebe o conflito nos olhos dele, mas ela mesma está à beira de um precipício que não sabe se quer evitar.

Então, como se precisasse escapar dessa tensão sufocante, Jonathan decide ir para a empresa. Dirigir é a melhor forma de espairecer, então ele dispensa Eduardo.

Enquanto isso, Marta segue para a cozinha e começa a preparar o almoço. O aroma se espalha pelo ambiente quando o motorista aparece na porta.

— Isso está com um cheiro maravilhoso! — Ele elogia, inalando o ar com satisfação.

Marta, surpresa, abre um sorrisão. Pela primeira vez em muito tempo, sente-se valorizada.

— Quer almoçar comigo? — Ela pergunta, espontânea.

Eduardo sorri de volta.

— Seria um prazer.

Eles se sentam à mesa e conversam como velhos amigos. O papo flui com naturalidade. Eduardo percebe que, enfim, o patrão contratou uma moça decente, que trata todos com igualdade. Marta, por sua vez, gosta do jeito dele, um homem educado, simpático e, acima de tudo, respeitoso. Pela primeira vez, desde que chegou, sente-se completamente à vontade.

Mas essa tranquilidade durará por muito tempo? Jonathan realmente quer apenas ajuda-la a se acostumar com os veículos automáticos? Ou sua decisão de se afastar foi um impulso que logo será quebrado?

A tensão que paira entre eles está longe de desaparecer. E quando ele voltar da empresa, o que vai acontecer?

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