~VITOR~
Lutando contra todas a fibras do meu ser, eu dei as costas para a Luna e segui em direção a porta do quarto. Nosso dia juntos tinha sido tão incrível, que deixá-la era quase doloroso.
— Vitor! — Ouvi sua voz me chamando, e logo espiei para dentro do quarto novamente.
— Sim? — Respondi, tentando não criar expectativas.
— Por favor... fica — ela pediu, seu olhar segurando o meu de maneira sedutora.
Dei alguns passos para dentro do quarto novamente, ainda inseguro com seu convite.
— Fica, tipo... Fica e vamos assistir uma série na televisão? Ou fica, tipo...? — Eu me calo, deixando a insinuação pairar no ar.
— Fica, tipo... Fica comigo.
Observo-a deitada na cama, os olhos grandes e ansiosos. Algo dentro de mim cedeu, e eu soube que não poderia ir embora.
— Tudo bem, L
Acordei na manhã seguinte com a luz suave do sol entrando pela janela, iluminando o quarto de forma quase etérea. A claridade trazia uma sensação de serenidade e tranquilidade profunda. Meu corpo ainda estava relaxado, sentindo os resquícios da noite passada. Estendi a mão para o lado, esperando encontrar Vitor ao meu lado, mas meus dedos encontraram apenas o vazio e o lençol frio. Uma onda de frustração me atingiu como um soco no estômago. Será que, para ele, tudo aquilo não passara de um momento casual, uma noite de prazer sem significado maior? Mesmo depois de termos trocado palavras de amor? As vezes as pessoas só ficavam mais propensas a dizer coisas depois do sexo, não significava que elas fossem verdade. Senti meu coração apertar com essa possibilidade, um medo sutil mas insistente.Suspirei, tentando afastar esses pensamentos, mas a sensação de
Nos dirigimos à cozinha, onde Vitor já tinha preparado — talvez pedido — um café da manhã digno de hotel cinco estrelas. Havia pães frescos, croissants, frutas variadas e uma bandeja de queijos e frios. Ele puxou uma cadeira para mim, com um sorriso terno no rosto.— Sente-se, senhora Oeri — disse ele, num tom brincalhão, fazendo-me corar um pouco.— Ah, muito obrigada, senhor Oeri — respondi, entrando na brincadeira e me sentando.— A proposito... Você pretende mudar seu nome? É estranho quando as pessoas te chamam de senhora Castilho.— Eu... Eu não pensei sobre isso, na verdade. Mas... acho que gosto de como “senhora Oeri” soa.— Então faremos isso... — ele sorri, feliz pela minha resposta.Vitor sentou-se ao meu lado, sua perna roçando a minha de leve, provocando uma corrente elétrica
Ainda que um pouco a contragosto por estarmos quebrando nossa promessa do final de semana juntos e sem complicações, Vitor ligou o carro e eu passei o endereço da casa onde havia crescido para ele. Durante a viagem, fiquei absorta em pensamentos. Minha mente vagava para os dias em que Estela e eu éramos inseparáveis. Mesmo após todos os problemas e traições, não conseguia apagar as boas lembranças que tínhamos juntas. Sentia uma mistura de ansiedade e esperança enquanto Vitor dirigia, concentrado na estrada, mas atento às minhas expressões. Ele sabia que aquilo era importante para mim, mesmo sem entender completamente a profundidade dos meus sentimentos em relação à minha irmã.A paisagem urbana passava rapidamente, e o silêncio entre nós era confortável, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Vitor segurava o volante
Os gritos começaram a atrair olhares curiosos das pessoas ao redor. Meu pai segurou meu braço com força, seus dedos cravando-se em minha pele, e me chacoalhou violentamente, tentando me fazer parar. Seus olhos estavam cheios de uma fúria ardente que eu conhecia muito bem, e o aperto em meu braço era tão forte que eu sentia que poderia quebrar a qualquer momento.— Pare com isso agora! — Ordenou ele, sua voz baixa e ameaçadora, ecoando e fazendo meus ouvidos latejarem com o tom severo.Eles se importavam com a imagem que passavam para as pessoas que nos olhavam. Não queriam que ninguém soubesse o que acontecia de baixo do teto daquela família. Ainda assim, muitos dos homens ali presente jamais o julgariam pois provavelmente faziam igual a disciplinar seus filhos.Minha mãe, com uma expressão de pânico, tentou intervir, suas mãos tremendo enquanto se aproxi
Vitor havia saído para buscar Clara, que passara o final de semana com Marina, e a casa parecia vazia e silenciosa. Eu e Estela acabamos ficando sozinhas, a tensão no ar era inevitável. Tínhamos instalado Estela em um dos quartos de visita, e depois de um tempo, decidi ir até lá, mesmo relutante.Bati levemente à porta e quando a abri, encontrei Estela sentada na cama, assistindo televisão, mas seu olhar estava distante. Ela parecia perdida, como se ainda tentasse processar tudo o que havia acontecido. Respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas.— Trouxe algumas roupas minhas — comecei, estendendo uma pilha de roupas na cama ao seu lado. — Devem servir, mas amanhã podemos sair para comprar algumas coisas que você precise.Estela olhou para as roupas e depois para mim, seus olhos cheios de gratidão e confusão ao mesmo tempo.— Obrigada, Lun
Sentados à mesa de café da manhã, o ambiente estava impregnado com um ar de normalidade que eu havia aprendido a valorizar. Clara, sempre animada pela manhã, estava tagarelando sobre seus amiguinhos da escola. Vitor, do outro lado da mesa, sorria e fazia perguntas que mantinham a conversa viva.De repente, a porta da cozinha se abriu lentamente, revelando Estela. Ela entrou tímida e cautelosa, usando as minhas roupas que eu havia deixado com ela. Estava claro que se sentia deslocada, mas tentou esboçar um sorriso para não parecer tão nervosa.— Bom dia — disse Estela, sua voz hesitante. — É ela? É a Clara? — Ela sorriu para a garotinha.Clara, curiosa, olhou para Estela com olhos grandes e brilhantes.— Quem é ela, mamãe? — Perguntou Clara, inclinando a cabeça de lado.Lancei um olhar significativo para Estela, indicando qu
Julia, Estela e eu nos dirigimos a um restaurante aconchegante no shopping, com grandes janelas que deixavam entrar bastante luz natural. Escolhemos uma mesa perto da parede de vidro, onde podíamos ver o movimento das pessoas passando. O ambiente era acolhedor, com mesas de madeira polida e cadeiras confortáveis, decorado com plantas que traziam um toque de frescor ao espaço.Enquanto olhávamos o cardápio, Julia fez uma careta e levou a mão ao estômago.— Eu ainda estou tendo muitos enjoos — disse ela, suspirando. — Foi assim que desconfiei da gravidez. Tem sido um inferno tentar comer qualquer coisa de manhã.Estela riu, mas havia um toque de simpatia em sua voz.— Isso deve ser difícil. E você, Luna? Não teve nenhum enjoo?— São quase quatro meses! Eu não acredito que você não percebeu antes, amiga!Suspirei e
A espera pelo resultado dos exames parecia se arrastar como uma eternidade. Os dias passavam lentamente, preenchidos por uma mistura de ansiedade e esperança. Durante esse período, decidi tomar algumas providências para garantir que Estela se sentisse mais confortável e segura.Uma das primeiras coisas que fiz foi comprar o apartamento que eu dividia com Júlia. Ela havia se mudado para a casa de Daniel, e o lugar estava vazio. Achei que seria perfeito para Estela. Sabia que ela não se sentia completamente à vontade no apartamento de Vitor, por mais que ele fosse. Ela se sentia a forasteira.Foi um rito de passagem para mim também. Pela primeira vez eu não sentia que precisava segurar cada centavo do meu dinheiro esperando por uma emergência no horizonte. Se eu tivesse uma emergência, dessa vez, eu teria com quem contar.— Estela, preciso falar com você — disse, um dia, qu