Os gritos começaram a atrair olhares curiosos das pessoas ao redor. Meu pai segurou meu braço com força, seus dedos cravando-se em minha pele, e me chacoalhou violentamente, tentando me fazer parar. Seus olhos estavam cheios de uma fúria ardente que eu conhecia muito bem, e o aperto em meu braço era tão forte que eu sentia que poderia quebrar a qualquer momento.
— Pare com isso agora! — Ordenou ele, sua voz baixa e ameaçadora, ecoando e fazendo meus ouvidos latejarem com o tom severo.
Eles se importavam com a imagem que passavam para as pessoas que nos olhavam. Não queriam que ninguém soubesse o que acontecia de baixo do teto daquela família. Ainda assim, muitos dos homens ali presente jamais o julgariam pois provavelmente faziam igual a disciplinar seus filhos.
Minha mãe, com uma expressão de pânico, tentou intervir, suas mãos tremendo enquanto se aproxi
Vitor havia saído para buscar Clara, que passara o final de semana com Marina, e a casa parecia vazia e silenciosa. Eu e Estela acabamos ficando sozinhas, a tensão no ar era inevitável. Tínhamos instalado Estela em um dos quartos de visita, e depois de um tempo, decidi ir até lá, mesmo relutante.Bati levemente à porta e quando a abri, encontrei Estela sentada na cama, assistindo televisão, mas seu olhar estava distante. Ela parecia perdida, como se ainda tentasse processar tudo o que havia acontecido. Respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas.— Trouxe algumas roupas minhas — comecei, estendendo uma pilha de roupas na cama ao seu lado. — Devem servir, mas amanhã podemos sair para comprar algumas coisas que você precise.Estela olhou para as roupas e depois para mim, seus olhos cheios de gratidão e confusão ao mesmo tempo.— Obrigada, Lun
Sentados à mesa de café da manhã, o ambiente estava impregnado com um ar de normalidade que eu havia aprendido a valorizar. Clara, sempre animada pela manhã, estava tagarelando sobre seus amiguinhos da escola. Vitor, do outro lado da mesa, sorria e fazia perguntas que mantinham a conversa viva.De repente, a porta da cozinha se abriu lentamente, revelando Estela. Ela entrou tímida e cautelosa, usando as minhas roupas que eu havia deixado com ela. Estava claro que se sentia deslocada, mas tentou esboçar um sorriso para não parecer tão nervosa.— Bom dia — disse Estela, sua voz hesitante. — É ela? É a Clara? — Ela sorriu para a garotinha.Clara, curiosa, olhou para Estela com olhos grandes e brilhantes.— Quem é ela, mamãe? — Perguntou Clara, inclinando a cabeça de lado.Lancei um olhar significativo para Estela, indicando qu
Julia, Estela e eu nos dirigimos a um restaurante aconchegante no shopping, com grandes janelas que deixavam entrar bastante luz natural. Escolhemos uma mesa perto da parede de vidro, onde podíamos ver o movimento das pessoas passando. O ambiente era acolhedor, com mesas de madeira polida e cadeiras confortáveis, decorado com plantas que traziam um toque de frescor ao espaço.Enquanto olhávamos o cardápio, Julia fez uma careta e levou a mão ao estômago.— Eu ainda estou tendo muitos enjoos — disse ela, suspirando. — Foi assim que desconfiei da gravidez. Tem sido um inferno tentar comer qualquer coisa de manhã.Estela riu, mas havia um toque de simpatia em sua voz.— Isso deve ser difícil. E você, Luna? Não teve nenhum enjoo?— São quase quatro meses! Eu não acredito que você não percebeu antes, amiga!Suspirei e
A espera pelo resultado dos exames parecia se arrastar como uma eternidade. Os dias passavam lentamente, preenchidos por uma mistura de ansiedade e esperança. Durante esse período, decidi tomar algumas providências para garantir que Estela se sentisse mais confortável e segura.Uma das primeiras coisas que fiz foi comprar o apartamento que eu dividia com Júlia. Ela havia se mudado para a casa de Daniel, e o lugar estava vazio. Achei que seria perfeito para Estela. Sabia que ela não se sentia completamente à vontade no apartamento de Vitor, por mais que ele fosse. Ela se sentia a forasteira.Foi um rito de passagem para mim também. Pela primeira vez eu não sentia que precisava segurar cada centavo do meu dinheiro esperando por uma emergência no horizonte. Se eu tivesse uma emergência, dessa vez, eu teria com quem contar.— Estela, preciso falar com você — disse, um dia, qu
Vitor e eu estávamos deitados em seu quarto. Ou melhor, nosso quarto, já que nunca mais passei sequer uma noite longe dele. Estávamos namorando, trocando beijos suaves e carícias, quando de repente me peguei dizendo:— Arthur — disse, olhando para Vitor com expectativa.Vitor riu e rolou para o lado, saindo de cima de mim.— Isso está ficando meio constrangedor, sabe? Você falando nome de outros homens enquanto me beija.— Hum... então definitivamente não será Arthur — rio.Vitor franziu a testa levemente e respondeu:— E que tal Gabriel?Sorri, gostando da ideia. Era o nome do meu avô materno, o último membro da minha família da quem eu realmente sentia falta, apesar dele ter falecido quando eu ainda era criança.— Vamos colocar na lista — disse, anotando mentalmente. Nós dois rimos, s
Acordei naquela manhã com um aperto no peito, uma mistura de ansiedade e esperança. Vitor e eu tínhamos passado a noite anterior em claro, trocando palavras de conforto e carinho, tentando encontrar forças um no outro para enfrentar o dia que se iniciava. A cirurgia de Clara e Estela estava marcada para às oito da manhã, e cada minuto que passava parecia aumentar a tensão que nos envolvia.Chegamos ao hospital cedo, ainda com o céu escuro da madrugada, as luzes fluorescentes do hospital contrastando com a penumbra lá fora. Clara estava sonolenta em meus braços, enquanto Estela caminhava ao nosso lado, tentando disfarçar o nervosismo com um sorriso encorajador.— Vocês chegaram cedo, isso é ótimo — disse a enfermeira ao nos receber, com um sorriso reconfortante. — Vamos começar a preparar a Clara e a Estela para a cirurgia.Enquanto Clara era
A vida tinha se estabilizado em uma rotina de felicidade e diversão. Depois da cirurgia bem-sucedida de Clara, tudo parecia estar caminhando para um futuro mais leve e cheio de possibilidades. Vitor e eu aproveitávamos cada momento, cada toque, cada olhar compartilhado. Clara estava se recuperando bem, e Estela, também parecia estar encontrando seu caminho, tendo assumido meu lugar como secretária de Vitor na Oeri. O sorriso dela, que antes estava perdido em um mar de tristeza, agora era mais frequente, mais verdadeiro.Vitor estava me fazendo tirar os mais variados tipos de fotografias. Fosse sozinha, fosse em família. Das mais bregas e divertidas até as feitas por fotógrafos profissionais. Minha preferia era uma em que ele beijava minha testa enquanto Clara beijava minha barriga. Mas não era só isso, ele não queria só registrar, ele queria participar também. Ia comigo em todas as consultas,
Deitada na cama, sentia uma mistura de tédio e inquietação. O repouso forçado parecia uma sentença de prisão, e cada minuto se arrastava interminavelmente. Eu sabia que era necessário, mas isso não tornava a situação menos frustrante. Olhei para o teto, tentando encontrar algum alívio nos desenhos das sombras, mas minha mente voltava sempre ao mesmo ponto: a ansiedade pela saúde do bebê e pela minha própria. Sentia falta de estar ativa, de poder cuidar de Clara e ajudar Vitor nas pequenas coisas do dia a dia. Agora, tudo o que podia fazer era esperar e torcer para que tudo ficasse bem.Nas semanas que se seguiram, Vitor provou ser um apoio inestimável. Não que ele já não fosse antes, é claro. Mas ele estava tão dedicado! Cada dia, ele trazia uma pequena surpresa para mim, seja um buquê de flores frescas ou uma caixa de chocolates fin