Eu tinha decidido não descer para passar o fim do dia com Clara e Vitor naquela noite. Sabia que, eventualmente, precisaria me inserir na rotina deles, mas queria dar a Vitor uma noite para se acostumar com a ideia e, talvez, preparar Clara para a nova dinâmica. Eu sabia que ele não estava nada feliz com que eu havia o obrigado a fazer, se casando comigo, mas as coisas iam ter que acabar entrando em uma rotina. Ele tinha vivido anos de um casamento de fachada com Marina, poderíamos fazer isso também. Por Clara.
Depois de tomar um banho relaxante, senti uma necessidade de estar perto da minha filha. Saí do quarto e fui em direção ao dela, o coração batendo um pouco mais rápido do que o normal.
Ao abrir a porta suavemente, vi Clara sentada no chão, cercada por suas bonecas. Ela estava tão imersa na brincadeira que, por um momento, fiquei apenas observando-a, admirando sua inocê
A manhã estava fria e nublada quando saímos de casa para o hospital. A ansiedade borbulhava em meu estômago, mas forcei um sorriso para Clara, que segurava minha mão enquanto caminhávamos em direção ao carro. Vitor estava ao nosso lado, sério e calado, o que só aumentava a tensão no ar.A viagem até o hospital foi silenciosa. Clara, normalmente tão falante, estava estranhamente quieta, apenas olhando pela janela. Vitor manteve os olhos na estrada, as mãos firmemente no volante. Eu tentei não deixar transparecer meu nervosismo, mas o enjoo matinal, que vinha me acompanhando nas últimas semanas, não ajudava.Chegamos ao hospital e fomos encaminhados para a área de exames. Clara segurou minha mão com força, seus olhos grandes e assustados.— Eu não gosto de hospital... — choramingou. — Por que tenho que vir sem
~VITOR~Os dias foram passando rapidamente, cada um trazendo novas rotinas e momentos compartilhados que reforçavam a dinâmica entre nós três. Desde que Luna e eu nos casamos, a casa parecia diferente, mais viva e cheia de amor. Embora eu ainda tentasse manter uma certa distância emocional, ver Luna e Clara juntas tornava essa tarefa quase impossível.Clara acordava todos os dias cheia de energia, e seu riso matinal era a trilha sonora perfeita para começar o dia. Ela corria para o quarto de Luna todas as manhãs, e eu geralmente a seguia logo depois, observando discretamente.— Mamãe, podemos fazer um café da manhã especial hoje? — Clara perguntou, sua voz transbordando de entusiasmo.Luna sorriu, levantando-se da cama com uma expressão amorosa. Ela estava ensinando algumas coisas na cozinha para Clara, e a garota andava radiante com a ideia de ver i
Eu estava no corredor, hesitando em frente à porta do quarto de Vitor. Respirei fundo, tentando acalmar a ansiedade que corria por minhas veias. Sabia que ele estava ali dentro, provavelmente tão nervoso quanto eu sobre os resultados dos exames, e eu precisava conversar. Aquela casa era enorme, e repleta de funcionários durante o dia. Já tinha feito amizade com alguns e as vezes me acalmava ficar apenas jogando conversa fora. Mas à noite... erámos somente Clara, Vitor e eu.Bati suavemente na porta antes de entrar e logo já abri, me lembrando do nosso costume nos meus dias como sua secretária.— Oi, posso entrar? — Perguntei, minha voz baixa.Ele estava deitado na cama, assistindo tv, mas seus olhos se voltaram para mim imediatamente ao ouvir minha voz.— Claro, Luna. Entre — ele respondeu, sua voz firme, mas com uma nota de cansaço.Fechei a porta atrás d
Julia e eu nos sentamos em uma cafeteria próxima ao escritório da Oeri, um lugar aconchegante com cadeiras de veludo vermelho e uma iluminação suave que criava um ambiente intimista. O cheiro de café fresco preenchia o ar, misturado com o aroma doce de bolos recém assados. As conversas suaves dos outros clientes e o som distante de música criavam um cenário perfeito para nossa conversa. Julia mexia distraidamente no cappuccino à sua frente, os olhos brilhando de curiosidade. Eu suspirei, ainda sentindo o calor da noite anterior em minha pele.— Aconteceu. Vitor e eu... nós nos beijamos — confessei, sentindo minhas bochechas corarem ao lembrar do momento.Julia quase derramou seu café de tanta surpresa.— Você está falando sério? Quero todos os detalhes — disse ela, inclinando-se para mais perto, os olhos fixos em mim.Descrevi a intensi
O trajeto até o hospital pareceu levar uma eternidade. Não o tipo de eternidade no qual o trânsito da cidade costumava transformar qualquer trajeto de dez minutos. Mas sim o tipo de eternidade sufocante. Meu coração estava acelerado. O nervosismo me dominava, e cada batida do meu coração ecoava nos meus ouvidos como um tambor.Quando desci do taxi, o ar frio da manhã me envolveu, trazendo um pouco de alívio para minha mente tumultuada. Respirei fundo e caminhei até a entrada do hospital, sentindo o peso do mundo sobre meus ombros.Entrei na sala de espera do hospital e procurei um lugar para me sentar. Havia poucas pessoas ali, cada uma delas mergulhada em seus próprios pensamentos e preocupações. Encontrei uma cadeira perto da janela e me sentei, tentando me acalmar.O tempo parecia se arrastar enquanto eu aguardava. Olhei para o relógio várias vezes, mas os
~VITOR~Cheguei ao restaurante e vi Luna já esperando por mim. Ela estava sentada em uma mesa perto da janela, onde a luz do sol iluminava suavemente seus cabelos. Ao me ver, ela esboçou um sorriso, mas parecia um pouco diferente, mais frágil. Caminhei até ela, tentando afastar a preocupação que surgia em minha mente.— Desculpe pelo atraso — comecei, sentando-me à sua frente. — Tive que levar Clara para passar o final de semana com Marina. É o final de semana dela — sinto meus olhos revirarem ligeiramente.Luna assentiu, compreensiva, enquanto eu chamava o garçom para trazer os cardápios. O ambiente do restaurante era acolhedor, com uma leve música de fundo e o aroma delicioso de pratos sendo preparados na cozinha. O sol filtrava-se pelas janelas, criando um ambiente quase mágico.— Como Clara está? — Perguntou Luna
~VITOR~Luna me olhou por um momento, e então começou a chorar, suas lágrimas escorrendo livremente pelo rosto. O choro era nervoso, quase desesperado, e eu me senti imediatamente culpado pela brincadeira. Sem pensar duas vezes, levantei-me e fui até ela, a envolvendo em meus braços enquanto tentava acalmá-la.— Desculpe — sussurrei, acariciando seus cabelos. — Eu não queria te deixar assim.Ela soluçou, tentando recuperar o fôlego.— Não é sua culpa — disse, enxugando as lágrimas com as costas da mão. — São os malditos hormônios. Tenho chorado como um bebê nos últimos meses e nem me dei conta do porquê.Últimos meses. Eu tinha ficado tão emocionado com a notícia que nem me dei conta, mas... fazia algum tempo desde que Luna e eu ficamos juntos pela últ
O sábado amanheceu ensolarado, trazendo uma leve brisa que balançava as cortinas da sala. Eu estava sentada no sofá, assistindo um programa bobo na televisão, tentando manter minha mente longe de preocupações. Clara estava com Marina para o final de semana, e Vitor e eu tínhamos decidido tirar esse tempo para nós mesmos, sem nos preocupar com os problemas que nos cercavam. Era mais fácil dizer do que fazer, mas eu estava determinada a tentar.Vitor entrou na sala, desligando o telefone e vindo sentar-se ao meu lado. Ele sorriu, um sorriso que sempre conseguia derreter um pouco da tensão que eu carregava.— Falei com Marina — disse ele, acomodando-se confortavelmente. — Clara está ótima, se divertindo muito.— Se divertindo? — Acho que fiz uma uma careta. — Você acredita nisso?— Bom, eu falei com Clara também, ent&atil