Capítulo 4

A confraternização no Hotel Casa da Montanha estava sendo nada menos que espetacular, superando todas as minhas expectativas para a noite. Entre risos, danças e flertes, o ambiente se enchia de alegria e celebração. A música vibrava pelo salão e nós nos movíamos ao seu ritmo, desfrutando de cada momento. A energia era contagiante; bebemos, dançamos e deixamos as preocupações do ano que se encerrava para trás.

Poucos minutos antes da meia-noite, enquanto me divertia ao lado de Karen e Evilyn, senti uma mão grande envolver minha cintura de maneira surpreendente. Meu coração saltou. Girei meu rosto instintivamente e me deparei novamente com aqueles olhos marcantes que haviam perturbado minha noite anterior. Os mesmos olhos que agora me encaravam intensamente, tão perto e tão reais.

Minha voz se perdeu em algum lugar entre a surpresa e o nervosismo, meu corpo esqueceu momentaneamente como se comportar. Não entendi por que a presença daquele homem, que eu mal conhecia, provocava um tumulto tão grande em meu peito. Não deveria me sentir tão afetada, mas o jeito como ele me olhava — tão diretamente, tão intensamente — fazia todo o meu ser estremecer.

Engoli em seco, reunindo a coragem que havia se dispersado no momento em que nossos olhares se cruzaram. Tentei assumir uma postura calma e confiante, erguendo-me mais ereta. Lentamente, levantei meus olhos para encontrar os dele, tentando transmitir uma tranquilidade que eu definitivamente não sentia por dentro. A proximidade da virada do ano adicionava uma camada extra de expectativa ao momento, tornando tudo ainda mais elétrico.

— Boa noite, senhorita Campos — ele diz com uma tranquilidade que contrasta com o meu estado interno de surpresa.

Paralisada, só consigo observá-lo, enquanto, pelo canto do olho, noto Karen cochichando algo para Evilyn. A cumplicidade entre elas é evidente, Evilyn me lança um sorriso conspiratório.

— Vamos dar uma volta, nos vemos daqui a pouco, maninha — diz Evilyn, claramente se divertindo com a situação.

— Aonde vocês vão? — Pergunto, um tanto ansiosa.

— Não iremos demorar, se divirta com seu amigo — Karen responde com um sorriso maroto, eu apenas balanço a cabeça, frustrada, enquanto elas se afastam, ainda sussurrando uma para a outra.

Voltando minha atenção para o homem ao meu lado, ele me oferece um sorriso caloroso.

— É um prazer te reencontrar — afirma ele.

Após alguns segundos de um silêncio carregado, tomo uma atitude e ajeito novamente minha postura, delicadamente afastando sua mão que permanecia em minha cintura. Essa proximidade não esperada me fazia sentir uma mistura de desconforto e atração, algo que precisava gerenciar com cuidado.

— O prazer é meu, mas... eu gostaria de entender, como você me encontrou aqui? — Pergunto, buscando manter a conversa em um território neutro enquanto tentava entender suas intenções.

— Como você conseguiu ficar ainda mais bonita? — Ele pergunta, de forma divertida, eu sorrio timidamente, sem saber bem como responder.

— Você é muito simpático, senhor — tento manter a formalidade, ainda que seu flerte me desarme um pouco.

— Por favor, não me chame de ‘senhor’, me sinto muito mais velho assim — ele brinca e ambos sorrimos. — Prazer, meu nome é Carlos Eduardo — diz ele, estendendo a mão em minha direção. — Cadu para você.

— Emily! — Me apresento formalmente, retribuindo o aperto de mão.

— Você é linda, Emily. Veio acompanhada? — Ele questiona, claramente interessado.

— Direto ao ponto, hein? — Sorrio, apreciando sua abordagem direta, mas descontraída.

— Gosto de ser prático — ele continua, seus olhos fixos nos meus enquanto segura minha mão com firmeza. — Então, você tem namorado? — Insiste, um tanto ousado.

— Não, eu não tenho namorado — confesso e percebo um sorriso de satisfação brotar em seu rosto. Apesar da atração mútua, sinto a necessidade de estabelecer um limite, então puxo minha mão, delicadamente, de volta para mim.

Ele parece notar meu gesto e dá um passo para trás, respeitando meu espaço. A noite promete desdobramentos interessantes, e, embora eu esteja cautelosa, não posso negar o tremor interno que a presença dele me provoca.

— Então hoje é o seu dia de sorte — diz ele, com um sorriso maroto.

Encaro-o, confusa.

— Meu dia de sorte? Por quê? — Pergunto, curiosa e achando graça na situação.

— Eu também não tenho compromisso com ninguém, sendo assim, nada nos impede de sermos namorados por uma noite. O que você acha? — Sugere, mantendo um tom sério, embora seus olhos brilhassem com um humor implícito.

Gargalho, surpresa com sua proposta e tomo um gole do meu drink para disfarçar meu nervosismo momentâneo.

— Você é bom, devo confessar — admito, vendo-o sorrir, satisfeito com minha reação.

— Então, aceita? — Ele insiste, claramente divertido com nosso flerte.

— E o que namorados de uma noite fazem? — Questiono, provocativa, saboreando mais um pouco do meu drink, sem desviar os olhos dos dele.

— Tudo o que você quiser, ou tudo o que uma noite pode nos reservar — ele responde, sua mão encontrando novamente minha cintura, trazendo-nos para mais perto enquanto nossos olhares permanecem interligados. — Então, o que falta para começarmos a aproveitar a noite?

— E quem disse que desejo curtir minha noite ao seu lado? — Digo seriamente, ao levar o copo aos lábios para mais um gole, sem desviar os olhos dos dele.

Ele sorri, um tanto sem graça, claramente não esperando essa reviravolta. A tensão entre nós é palpável, uma mistura de desafio e atração que parece eletrizar o ar ao nosso redor.

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