02

HANNAH NARRANDO

"O que você está fazendo aqui? Vai embora! Você já destruiu demais a minha vida!" Gritei. A enfermeira arregalou os olhos e Tom, com seu ar de sedução, guiou a enfermeira até o lado de fora.

"Ela acabou de parir, está nervosa porque eu não apareci no parto. Com licença, preciso conversar com ela a sós." Eu neguei com a cabeça. Ele fechou a porta e ficou para dentro do quarto sozinho comigo.

"Sai daqui! Eu não quero você perto de mim ou do meu filho!" Gritei.

"Preciso checar se o menino é meu, oras. Posso ser um cretino, mas não deixaria meu filho nas mãos de uma louca feito você." Neguei com a cabeça mais uma vez.

"Ele nasceu de trinta e quatro semanas. Só se eu fosse um elefante para parir um filho seu, seu idiota. Não sabe fazer contas? Não transamos há meses, e você acha que o filho é seu? Me poupe!" Gritei. "Vá embora!"

"Então, você é a vadia que meus pais sempre me disseram que era? Isso é uma surpresa. Pelo visto, a caipira que achei na rua e trouxe pra dentro de casa virou uma piranha." Ele cruzou os braços e riu. "Você vai acabar em uma vala, Hannah. Você estragou minha vida, sabia disso? Enquanto você estava aqui, dando uma de bela adormecida, as pessoas pensaram que eu tinha sumido com você. Investigaram seu sumiço e me culparam por isso, eu quase fui preso!" Ele berrou.

"Eu não tenho culpa disso!" Ele deu os ombros.

"Eu não me importo de realmente é a culpa. Pra mim, a culpa sempre vai ser sua. Você sumiu depois que terminamos, antes de repartirmos os bens e tudo mais. Acharam que eu dei um sumiço em você. Mas pelo menos, pra uma coisa o seu sumiço serviu: Agora é tudo meu e se você quiser alguma coisa, vai ter que entrar na justiça." Ele gargalhou e caminhou até a porta. "Te vejo no tribunal, vagabunda."

"Eu não quero nada de você!" Nesse momento, Daniel começou a chorar e eu me senti culpada por gritar. Abracei meu filho, tentando confortá-lo. "Me perdoa, meu bebê. Esse homem nunca mais vai atormentar nossa vida, eu prometo pra você.

Por causa da prematuridade de Daniel, passamos um pouco mais de tempo no hospital. Ele precisou de acompanhamento nos primeiros meses de vida, mas logo a vida parecia bonita de novo - e era como se tudo estivesse finalmente se encaixando.

x

"Mama!" Daniel batia palminhas, sentado em seu tapete com alguns brinquedos ao seu redor. Aquilo me fez sorrir.

"Aposto que ele saberá bater palminhas no parabéns do aniversário de um aninho na semana que vem." Rita falou com um sorriso nos lábios.

"Também acho." Tomei o último gole do meu café, na cozinha, e deixei a xícara dentro da pia. "Preciso ir, estou super atrasada."

"Vá, filha. Eu fico com esse anjinho."

Eu não queria ter que deixá-lo para trabalhar, mas faço isso desde que ele m quatro meses. Minha vizinha, Rita, está sempre ajudando e cuidando dele para mim. Eu fui até meu filho, dei-lhe um beijo na testa e depois saí, apressada.

"Tchau, bebê, tchau, Rita!"

Por conta da idade com que saí de casa, estudei pouco. Dividia meu tempo entre cuidar de uma criança, estudar e trabalhar. Eu precisava ao menos terminar o ensino médio, para então, conseguir uma faculdade para dar uma vida melhor para o Daniel. Ele era meu motivo de viver, meu respiro. Aquele homem, naquela noite, na balada, me deu o melhor presente que alguém poderia ter me dado.

"Como vai, Hannah?" Gabriel, o gerente. Esse cara é um pé no saco. "Atrasada de novo, né?" Ele sorriu de forma irônica e eu engoli seco.

"Gabriel, eu sei, mas foram dois minutos. Eu tenho um bebê, eu te disse que é complicado. Essa manhã ele estava chorando por causa de febre, e demorei para acalmá-lo, me desculpe."

"Você fará o turno da noite também." Ele me olhava com superioridade. Passei as duas mãos em meu próprio cabelo, com raiva, mas sem poder negar. Eu havia chegado atrasada dois dias por causa da gripe que meu filho pegou.

"Tá. Pode ser amanhã? O Dani ainda está se recuperando da gripe e..." Ele gritou.

"Não! É hoje! Eu quero você hoje aqui! Nenhum chefe tolera atrasos como eu, então, valorize esse trabalho!" Eu concordei com a cabeça, muito amedrontada.

Eu tinha medo de perder o emprego e desestabilizar minha vida que, de certa forma, era boa. Eu tinha o Dani, tinha meu cantinho e, uma vez por semana, tinha completa paz porque não trabalhava aqui. De manhã, isso aqui é uma lanchonete, mas de noite, abrimos o bar e servimos bebidas.

Nos meus quinze minutos de intervalo, peguei meu telefone para me certificar que Dani estava bem.

"Alô? Rita?"

"Oi, querida. Tudo bem por aí?" Ela perguntou e eu ouvi uma gargalhada de Dani no fundo. "Daniel está rindo do meu cachorro!"

"Ah, meu Deus, que fofo. Tira uma foto pra mim. Ele teve febre?"

"Não, ele está bem, pode ficar tranquila. E você? Está com a voz estranha." Eu suspirei e mexi em meu próprio cabelo.

"Rita, meu chefe me prendeu no trabalho hoje. Terei que ficar aqui. Você pode olhar o Dani até a noite? Prometo que vou te recompensar." Ela suspirou de forma pesada do outro lado.

Odeio abusar da rita.

"Claro, querida. Eu cuido dele."

"Muito obrigada, Rita. Você é demais." Eu desliguei o telefone, sorrindo. Então, fui interrompida por Gabriel, de repente, no meu horário de intervalo.

"Volte pra dentro e vá trabalhar!" Ele gritou.

"Eu estou no meu intervalo." Reclamei e ele negou com a cabeça.

"Você chegou atrasada, perdeu dois minutos do intervalo. Entre e atenda os clientes!" Gritou mais uma vez, e eu juro que se não dependesse desse emprego, chutaria o meio das pernas dele e sairia correndo.

"Tá. Eu já vou." Eu engoli meu orgulho, engoli mesmo. Aquilo doeu.

Comecei o turno noturno. Eu estava um pouco amedrontada, mas imaginei que essa sensação de medo vinha do fato de Gabriel não tirar os olhos de mim, um segundo sequer. Isso é frustrante, mas é melhor eu ficar em silêncio e continuar meu trabalho com um sorriso no rosto.

Então, um homem totalmente fora do padrão entrou no bar. Ele era bonito e arrumado demais pra estar ali, mas mesmo assim, parecia tranquilo no local. Ele era alto, forte, olhos azuis e cabelos escuros. Tinha um sorriso matador, e estava de terno. Não tinha cara de bravo, tinha cara de... Sonho. Ri de mim mesma ao pensar isso, e então, fui atendê-lo.

"Posso ajudar?"

"Um uísque duplo, do menos pior que tiver, por favor." Ele falou, em um tom de brincadeira. 

"Vou te servir da garrafa que o chefe usa pra encher com os piores depois." Pisquei um dos meus olhos e ele sorriu. Sorriso matador. Meu Jesus.

Hannah, se controla. Você tem um filho e não tem tempo pra isso.

Servi a dose e entreguei a ele. Mas fiquei curiosa, queria saber o que um homem como ele estava fazendo aqui.

"Nunca te vi por aqui. Tá perdido? Você não parece o tipo de frequentador desse bar." Ele suspirou e concordou.

"Tem razão. Acontece que eu passei um tempo fora, e agora que voltei, parece que as ruas estão todas diferentes." Ele riu de si mesmo. "Parece que fiquei uns dois anos em coma." Aquilo me tirou uma gargalhada sincera.

"Está falando com a rainha do coma." Suspirei. "Obrigada por me fazer rir. Estava precisando."

"Como é seu nome?" Ele me olhava de um jeito tão... Fofo.

"Hannah. E o seu?"

"Tyler." Ele virou o uísque de uma vez e bateu levemente o copo na mesa. "Prazer em te conhecer. Agora é melhor eu tentar achar meu caminho."

Quando terminou meu turno, eu finalmente me senti livre para ir pra casa. Eu só não esperava que aquela sensação de estar sendo observada me acompanharia durante parte do trajeto.

Meu celular tocou e eu sequer tinha virado a esquina, então, quando vi, era Gabriel. Decidi atender, porque era melhor não irritá-lo hoje.

"Oi?"

"Hannah, você esqueceu algumas coisas na mesa. É melhor você vir buscar, eu não quero essa bagunça aqui e amanhã é sua folga." Eu girei meus olhos, mas decidi voltar. E esse foi um erro muito, muito grande.

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