HANNAH NARRANDO
"O que você está fazendo aqui? Vai embora! Você já destruiu demais a minha vida!" Gritei. A enfermeira arregalou os olhos e Tom, com seu ar de sedução, guiou a enfermeira até o lado de fora.
"Ela acabou de parir, está nervosa porque eu não apareci no parto. Com licença, preciso conversar com ela a sós." Eu neguei com a cabeça. Ele fechou a porta e ficou para dentro do quarto sozinho comigo.
"Sai daqui! Eu não quero você perto de mim ou do meu filho!" Gritei.
"Preciso checar se o menino é meu, oras. Posso ser um cretino, mas não deixaria meu filho nas mãos de uma louca feito você." Neguei com a cabeça mais uma vez.
"Ele nasceu de trinta e quatro semanas. Só se eu fosse um elefante para parir um filho seu, seu idiota. Não sabe fazer contas? Não transamos há meses, e você acha que o filho é seu? Me poupe!" Gritei. "Vá embora!"
"Então, você é a vadia que meus pais sempre me disseram que era? Isso é uma surpresa. Pelo visto, a caipira que achei na rua e trouxe pra dentro de casa virou uma piranha." Ele cruzou os braços e riu. "Você vai acabar em uma vala, Hannah. Você estragou minha vida, sabia disso? Enquanto você estava aqui, dando uma de bela adormecida, as pessoas pensaram que eu tinha sumido com você. Investigaram seu sumiço e me culparam por isso, eu quase fui preso!" Ele berrou.
"Eu não tenho culpa disso!" Ele deu os ombros.
"Eu não me importo de realmente é a culpa. Pra mim, a culpa sempre vai ser sua. Você sumiu depois que terminamos, antes de repartirmos os bens e tudo mais. Acharam que eu dei um sumiço em você. Mas pelo menos, pra uma coisa o seu sumiço serviu: Agora é tudo meu e se você quiser alguma coisa, vai ter que entrar na justiça." Ele gargalhou e caminhou até a porta. "Te vejo no tribunal, vagabunda."
"Eu não quero nada de você!" Nesse momento, Daniel começou a chorar e eu me senti culpada por gritar. Abracei meu filho, tentando confortá-lo. "Me perdoa, meu bebê. Esse homem nunca mais vai atormentar nossa vida, eu prometo pra você.
Por causa da prematuridade de Daniel, passamos um pouco mais de tempo no hospital. Ele precisou de acompanhamento nos primeiros meses de vida, mas logo a vida parecia bonita de novo - e era como se tudo estivesse finalmente se encaixando.
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"Mama!" Daniel batia palminhas, sentado em seu tapete com alguns brinquedos ao seu redor. Aquilo me fez sorrir.
"Aposto que ele saberá bater palminhas no parabéns do aniversário de um aninho na semana que vem." Rita falou com um sorriso nos lábios.
"Também acho." Tomei o último gole do meu café, na cozinha, e deixei a xícara dentro da pia. "Preciso ir, estou super atrasada."
"Vá, filha. Eu fico com esse anjinho."
Eu não queria ter que deixá-lo para trabalhar, mas faço isso desde que ele m quatro meses. Minha vizinha, Rita, está sempre ajudando e cuidando dele para mim. Eu fui até meu filho, dei-lhe um beijo na testa e depois saí, apressada.
"Tchau, bebê, tchau, Rita!"
Por conta da idade com que saí de casa, estudei pouco. Dividia meu tempo entre cuidar de uma criança, estudar e trabalhar. Eu precisava ao menos terminar o ensino médio, para então, conseguir uma faculdade para dar uma vida melhor para o Daniel. Ele era meu motivo de viver, meu respiro. Aquele homem, naquela noite, na balada, me deu o melhor presente que alguém poderia ter me dado.
"Como vai, Hannah?" Gabriel, o gerente. Esse cara é um pé no saco. "Atrasada de novo, né?" Ele sorriu de forma irônica e eu engoli seco.
"Gabriel, eu sei, mas foram dois minutos. Eu tenho um bebê, eu te disse que é complicado. Essa manhã ele estava chorando por causa de febre, e demorei para acalmá-lo, me desculpe."
"Você fará o turno da noite também." Ele me olhava com superioridade. Passei as duas mãos em meu próprio cabelo, com raiva, mas sem poder negar. Eu havia chegado atrasada dois dias por causa da gripe que meu filho pegou.
"Tá. Pode ser amanhã? O Dani ainda está se recuperando da gripe e..." Ele gritou.
"Não! É hoje! Eu quero você hoje aqui! Nenhum chefe tolera atrasos como eu, então, valorize esse trabalho!" Eu concordei com a cabeça, muito amedrontada.
Eu tinha medo de perder o emprego e desestabilizar minha vida que, de certa forma, era boa. Eu tinha o Dani, tinha meu cantinho e, uma vez por semana, tinha completa paz porque não trabalhava aqui. De manhã, isso aqui é uma lanchonete, mas de noite, abrimos o bar e servimos bebidas.
Nos meus quinze minutos de intervalo, peguei meu telefone para me certificar que Dani estava bem.
"Alô? Rita?"
"Oi, querida. Tudo bem por aí?" Ela perguntou e eu ouvi uma gargalhada de Dani no fundo. "Daniel está rindo do meu cachorro!"
"Ah, meu Deus, que fofo. Tira uma foto pra mim. Ele teve febre?"
"Não, ele está bem, pode ficar tranquila. E você? Está com a voz estranha." Eu suspirei e mexi em meu próprio cabelo.
"Rita, meu chefe me prendeu no trabalho hoje. Terei que ficar aqui. Você pode olhar o Dani até a noite? Prometo que vou te recompensar." Ela suspirou de forma pesada do outro lado.
Odeio abusar da rita.
"Claro, querida. Eu cuido dele."
"Muito obrigada, Rita. Você é demais." Eu desliguei o telefone, sorrindo. Então, fui interrompida por Gabriel, de repente, no meu horário de intervalo.
"Volte pra dentro e vá trabalhar!" Ele gritou.
"Eu estou no meu intervalo." Reclamei e ele negou com a cabeça.
"Você chegou atrasada, perdeu dois minutos do intervalo. Entre e atenda os clientes!" Gritou mais uma vez, e eu juro que se não dependesse desse emprego, chutaria o meio das pernas dele e sairia correndo.
"Tá. Eu já vou." Eu engoli meu orgulho, engoli mesmo. Aquilo doeu.
Comecei o turno noturno. Eu estava um pouco amedrontada, mas imaginei que essa sensação de medo vinha do fato de Gabriel não tirar os olhos de mim, um segundo sequer. Isso é frustrante, mas é melhor eu ficar em silêncio e continuar meu trabalho com um sorriso no rosto.
Então, um homem totalmente fora do padrão entrou no bar. Ele era bonito e arrumado demais pra estar ali, mas mesmo assim, parecia tranquilo no local. Ele era alto, forte, olhos azuis e cabelos escuros. Tinha um sorriso matador, e estava de terno. Não tinha cara de bravo, tinha cara de... Sonho. Ri de mim mesma ao pensar isso, e então, fui atendê-lo.
"Posso ajudar?"
"Um uísque duplo, do menos pior que tiver, por favor." Ele falou, em um tom de brincadeira.
"Vou te servir da garrafa que o chefe usa pra encher com os piores depois." Pisquei um dos meus olhos e ele sorriu. Sorriso matador. Meu Jesus.
Hannah, se controla. Você tem um filho e não tem tempo pra isso.
Servi a dose e entreguei a ele. Mas fiquei curiosa, queria saber o que um homem como ele estava fazendo aqui.
"Nunca te vi por aqui. Tá perdido? Você não parece o tipo de frequentador desse bar." Ele suspirou e concordou.
"Tem razão. Acontece que eu passei um tempo fora, e agora que voltei, parece que as ruas estão todas diferentes." Ele riu de si mesmo. "Parece que fiquei uns dois anos em coma." Aquilo me tirou uma gargalhada sincera.
"Está falando com a rainha do coma." Suspirei. "Obrigada por me fazer rir. Estava precisando."
"Como é seu nome?" Ele me olhava de um jeito tão... Fofo.
"Hannah. E o seu?"
"Tyler." Ele virou o uísque de uma vez e bateu levemente o copo na mesa. "Prazer em te conhecer. Agora é melhor eu tentar achar meu caminho."
Quando terminou meu turno, eu finalmente me senti livre para ir pra casa. Eu só não esperava que aquela sensação de estar sendo observada me acompanharia durante parte do trajeto.
Meu celular tocou e eu sequer tinha virado a esquina, então, quando vi, era Gabriel. Decidi atender, porque era melhor não irritá-lo hoje.
"Oi?"
"Hannah, você esqueceu algumas coisas na mesa. É melhor você vir buscar, eu não quero essa bagunça aqui e amanhã é sua folga." Eu girei meus olhos, mas decidi voltar. E esse foi um erro muito, muito grande.
HANNAH NARRANDONaquele momento, tudo fez sentido. Eu não estava apenas com uma sensação de estar sendo observada, eu estava com a sensação de perigo, e esse sentimento vinha de Gabriel. Não imaginava que ele pudesse tentar fazer algo comigo, porque a real é que nunca imaginamos, até acontecer. Mas meu corpo entendeu os sinais que ele deu durante a noite toda. Ele estava se preparando para aquele momento e eu só entendi quando entrei na sala dele."O que tem de errado? Não tem nada meu na mesa dos funcionários, Gabriel." Eu disse, e ele sorriu de forma maliciosa."Mas tem algo que eu quero na minha mesa agora. E você me deve isso."Eu fui agarrada. Enquanto tentava me soltar e gritava, ele continuava passando as mãos por meu corpo."Por favor, me solta! Seu cretino!" Eu gritava.Ele me jogou no meu sofá da sala dele, tampando a minha boca com uma das mãos. Meus olhos se arregalaram quando o vi abrindo o cinto da calça."Você me olhou a noite inteira, agora vai recusar? Ah, você não va
TYLER NARRANDODesde que voltei para Nova Iorque, tudo que faço é pensar nela. Eu devia seguir em frente, mas é difícil quando se está obcecado por alguém que sequer lembra de você. Fazem exatos dezessete meses que vi aquela mulher pela primeira vez, e última. Minha terapeuta diz que eu criei uma mulher na minha cabeça, apenas para esquecer minha ex-noiva, mas eu tenho certeza de que ela era real. Eu estava um pouco bêbado, não me lembro o nome dela ou de seu rosto claramente, mas me lembro da sensação que tive quando a conheci. Só sei que, depois daquele dia, minha vida mudou.Conheci aquela moça em uma balada, tivemos um caso de uma noite. Ela estava triste por algum motivo relacionado ao noivo ou marido, e eu também estava. Compartilhamos um momento único, do qual eu queria me lembrar melhor, mas ainda assim, me lembro de como foi beijá-la e do que senti. Talvez ela fosse a mulher certa.Minha terapeuta começou a me ligar, era hora da minha consulta por vídeochamada. Eu prontamente
TYLER NARRANDO"Pai, nós não estamos nos acertando coisa nenhuma." Eu resmunguei, e meu pai apenas deu risada. "Por favor, Tyler. Você sabe que já está passando da hora de se casar, a nossa família tem um nome a manter. E você, Tyler, está sendo uma desonra para nós, por permanecer como um garotinho adolescente solteiro." Eu me mantive em silêncio ao ouvir tudo aquilo. "É melhor que você se case com a Natália, ou não verá nenhum real da minha fortuna pelo resto da vida. Ser deserdado não parece bom para você, não é mesmo?""Vai ser bom para nós dois, você sabe disso." Natália segurou minhas mãos, enquanto me olhava nos olhos. "Eu juro por Deus que foi só aquela vez.""Eu não consigo perdoar você." Eu afirmei. Meu pai se aproximou de nós dois, e colocou uma das mãos em cada um de nós."Vocês são jovens e irão se casar. Terão o resto da vida para perdoar um ao outro. Nós precisamos juntar a família Hart com a família Mackenzie. Vocês transformarão dois imperios grandes, e um império gi
HANNAH NARRANDOEra triste perceber que Tyler estava apenas tentando me usar para sua diversão. Afinal, ele tinha uma noiva. Ou talvez, eu tenha entendido tudo errado e ele era realmente só uma pessoa boa que queria me ajudar. Independente de qualquer coisa, eu não podia sentir o que eu sentia por ele, aquela atração maluca e vontade de me jogar em seus braços. Eu precisava conter isso, e dizem que o melhor jeito de esquecer alguém, é primeiro odiá-lo. E foi isso que eu fiz: Eu decidi que odiaria o Tyler, custasse o que custasse.Em casa, eu peguei meu filho no colo depois de dar um banho nele e o coloquei em sua caminha. Beijei sua testa e sentei na poltrona perto de sua cama, enquanto ela dormia. Seu abajur de estrelinhas estava ligado, e eu tentava olhar as estrelinhas ao invés de pensar em Tyler.Quando vi que meu filho adormeceu, me levantei e fui para a sala, ver um pouco de TV... Mas TV não é o meu forte. Eu não tenho muita paciência. Então, peguei meu celular e comecei a mexer
HANNAH NARRANDOSei que pessoas ricas podem ser difíceis, mas aquela Natália é intragável. Acabei tendo que atende-la na cafeteria e ela foi extremamente grosseira, mas eu tive que deixar pra lá, pois precisava me concentrar em meu trabalho. Tyler é um homem decente e educado, mas não posso me aproximar dele ou deixar que ele se aproxime de mim, já que sua noiva é tão chata.Era noite e meu horário havia terminado. Eu estava indo embora quando vi um carro se aproximando de mim na rua, e aquilo me assustou. Mas então, o vidro abaixou e eu vi que era Tyler, o que me fez ficar mais calma.“Vem, entra no carro. Está tarde demais para você ir sozinha pra casa.” Ele disse e eu neguei com a cabeça.“Você tem outras coisas pra se preocupar. Não se preocupe comigo.” Aquilo foi quase um resmungo de ciúme. Sinceramente, eu estava com ciúme de alguém que sequer era meu.“Qual é, Hannah... Não seja boba. Entre logo no carro.”Acabei cedendo. A verdade é que eu queria passar um tempo com ele, por m
Nós jantamos juntos e eu imaginei como seria gostoso ter uma família feliz. Minha vida sempre foi uma merda, e o respiro que encontrei foi quando meu filho nasceu. Agora, olhar para Tyler me fazia sonhar.Nós nos despedimos após o jantar e ele foi embora. Dei uma mamadeira para o Daniel e ele adormeceu, o que me deixou com um tempinho livre após isso.De madrugada, eu já estava dormindo quando ouvi meu celular tocar. Fiquei surpresa ao ver que era o Tyler de novo, afinal, tínhamos nos visto fazia pouco tempo. Quando atendi, ouvi uma voz completamente embriagada do outro lado.“Oi, Tyler. O que tá acontecendo?”“Hannah... Não, não, eu não posso me casar.” Ele disse. “Ele não pode me obrigar! Eu passei em frente ao restaurante Malahide e eles estavam combinando meu casamento com ela...” Ele resmungava.“Do que você está falando, Tyler? Aonde você está?” Perguntei.“Deu tudo errado.” Ele respondeu, meio choramingando. “Eu quero dar um tiro na minha própria cabeça, se você quer saber. Ele
Tyler parecia decepcionado, seus olhos estavam vermelhos provavelmente de chorar.Daniel dormia pacificamente no quarto e eu fiquei com vergonha da situação. Lembrei do meu padrasto, das vezes que ele apareceu bêbado em casa, antes de eu ser obrigada a ir embora. Eu ainda era pequena.“Me ajuda a te ajudar, Tyler.” Eu sussurrei, enquanto o carregava até o banheiro comigo. Por algum motivo, o coloquei no box do banheiro. Acho que eu pensei que um banho tiraria todo o álcool do corpo dele, e então, eu liguei o chuveiro em cima de nós dois. Tyler começou a rir de si mesmo enquanto a água caia sobre nós.“Por que está rindo?” Questionei, indignada, enquanto o segurava embaixo do chuveiro. “Você é uma garota incrível, Hannah. Muito incrível.” Foi o que ele disse. “Estou rindo porque estou olhando pra sua cara e você tá linda.” O som bêbado com que saiu essa frase acabou me fazendo rir por dentro. Eu levei uma das mãos até o rosto dele e o fiz me olhar.“Você não devia beber desde jeito.
Tyler saiu do banheiro trocado, e respirou fundo. Estava com os cabelos levemente molhados pois havia os arrumado em frente ao espelho. Coçou o rosto e se aproximou de mim.“Eu estou realmente envergonhado pelo que aconteceu. Me desculpa.” Ele comentou e colocou as duas mãos nos bolsos. “Se importa de não contar pra ninguém?”“Não vou contar. Todo mundo tem dias difíceis, Tyler.” Ele sorriu levemente ao me ouvir.“Tenho tido muitos dias difíceis, desde que...” Ele parecia querer afastar algo da mente, então balançou a cabeça negativamente. “Deixa pra lá.”“Eu acho que se você não contar as coisas que passam na sua cabeça pra alguém, essas coisas vão sempre voltar pra superfície e te afogar.” Eu afirmei. Sou uma boa ouvinte, e estava ansiosa para saber os motivos que faziam Tyler ser quem ele era.“Tem certeza que quer me ouvir?” Eu concordei com a cabeça e fui caminhando até o sofá. “Tudo bem... Você vai me achar ridículo, mas, vamos lá.”Sentamos juntos no sofá, lado a lado. Ele olha