HANNAH A. COOPER NARRANDO
Abri meus olhos e senti um clarão queimando minha retina. Coloquei minha mão automaticamente na frente do rosto, tentando evitar que aquela claridade me machucasse.
"Meu Deus... Aonde estou?"
"Caramba!" Eu ainda não enxergava direito, mas era possível ouvir perfeitamente. "A Desconhecida acordou!" A voz disse.
Desconhecida? Como assim, Desconhecida?
As coisas começaram a ficar um pouco mais visívels a medida que os segundos íam passando. Comecei a perceber as cores, e um grande borrão veio até mim, levantou minha pálpebra e começou a jogar ainda mais luz nos meus olhos.
"Mas que porra é essa?" Reclamei, e com razão!"
"Senhorita, qual o seu nome?"
"Hannah, meu nome é Hannah Alice Cooper. Onde diabos eu estou?" Respirei fundo e, aos poucos, comecei a ver mais de forma mais nítida. Eu estava em um hospital, e as pessoas que falavam comigo eram médicos e enfermeiros.
"Hannah Cooper!" Um dos homens de jaleco repetiu, e o outro correu para fora do quarto. "Ótimo, sabe que dia é hoje?"
"Quarta-feira?" Eu estava confusa. "Por que eu estou aqui? O que aconteceu?"
"Qual a última coisa que você se lembra, Hannah?" Eu neguei com a cabeça.
"Eu estava saindo de algum lugar e... Fui atacada. Ah, merda, eu me machuquei muito feio?" Questionei, e vi uma das enfermeiras concordar com a cabeça.
"Você ficou oito meses em coma, senhorita." Arregalei meus olhos em surpresa ao que ouvi.
Eu estava em coma? Meu Deus, que horror! Sinto como se tivesse dormido e acordado, apenas. Não me lembro de absolutamente nada.
"Você tem familiares? Pode nos falar o nome de alguém?" Ri de mim mesma com aquela pergunta.
"Eu costumava ter um marido, mas ele me traiu com a minha melhor amiga e eu chutei aquele desgraçado dois meses antes de ser assaltada. Talvez eu devesse voltar para o coma, não tenho ninguém por aqui." Eu me ajeitei na cama, e então, uma enfermeira olhou para a outra.
"Ela apagou sem saber, pelo visto."
"É, pelo visto, sim." A outra respondeu.
Eu observei aquilo enquanto sentia algo em minha costela. Imaginei que fosse um ferimento por conta do assalto, mas então, quando coloquei a mão em minha barriga, mais uma surpresa: Ela estava imensa. Imensa mesmo. Parecia uma bola de basquete gigante.
"O que é isso?" Arregalei mais meus olhos, enquanto segurava minha barriga visivelmente grávida. Eu estava grávida? Quanto tempo tem essa criança dentro de mim? Meu ex-marido é o pai?
"Bom... Parece que você tem uma família, senhorita Hannah." Minhas mãos foram em direção aos meus cabelos loiros, e eu olhava indignada para a minha barriga.
"Puta merda. Puta merda!"
"Eu sei que é muita informação para processar. Mas você pode ficar tranquila que você terá um tempo, estamos chamando uma psicóloga para te ajudar a passar por tudo que aconteceu. Conseguimos o seu seguro social já que achamos seu nome, vai ficar tudo bem." A enfermeira me garantiu, mas eu não sabia se tudo ficaria bem, afinal... Eu estava grávida, prestes a parir, sozinha no mundo e as únicas duas pessoas que eu achei que me amavam haviam me traído. Minha melhor amiga e meu ex-marido.
Com o passar dos dias, fui aceitando minha gravidez. Era eu e meu menino no mundo agora, um menino cujo pai era um desconhecido. Me lembro de ter ido para a cama com um homem em uma balada na noite que sofri o assalto, mas não lembro quem ele era. E o assaltante, apesar de ter me machucado, não fez outras coisas comigo.
Uma semana se passou desde que eu acordei, e eu fui liberada do hospital. Estava arrumando minhas coisas, sem saber para onde iria. Por sorte, consegui acionar meu seguro social, que me garantiu uma casa pelos próximos meses e uma pequena pensão para que eu pudesse sobreviver até o meu bebê completar quatro meses. Estava arrumando o meu pequeno apartamento alugado, um apartamento de um quarto, cozinha e sala, tudo bem pequeno e simples, mas ainda assim era melhor do que estar no mesmo teto que o maldito do Tom. Aquele desgraçado partiu meu coração junto com Sophia, e eu preferia não contar absolutamente nada pra ele. Ele já me chamou de várias coisas quando terminei com ele, e se descobrir da gravidez, fará pior.
Eu queria que tudo estivesse perfeito para o Daniel. Ele tinha um narizinho perfeito, que deu para ver na ultrassom. O pequeno berço ao lado da cama e as roupinhas que consegui comprar já demonstravam que eu estava tentando me acostumar com a ideia de ser mãe. Daniel com certeza seria amado, mas não teria a mãe mais preparada do mundo... Eu só tenho vinte anos, me casei com o primeiro homem com quem dormi e engravidei do segundo que sequer sei o nome. Espero que dê tudo certo para nós, e que de alguma forma, eu e ele tenhamos sorte.
Enquanto terminava os últimos preparativos do espacinho do meu Daniel, de repente, senti algo escorrendo por minhas pernas. Arregalei meus olhos ao ver muito líquido saindo, e aquilo me assustou bastante. Liguei imediatamente para a ambulância, que veio me buscar prontamente. Daniel ainda não estava pronto para nascer, ainda faltava um mês. Aquilo me deixou desesperada, porque eu já o amava. Não saberia o que fazer se o perdesse também.
"Por favor, por favor! Rápido! Salvem o meu bebê!" Eu gritava na ambulância, enquanto dores horríveis começavam a surgir.
A dor era imensa. Tão grande, tão grande que a impressão que dava era que minha bacia iria explodir junto com meu útero. Eu gritava de forma desesperada. Chegamos ao hospital e não demorou muito para me levarem para a sala de parto, e então... Ele nasceu prematuro, mas saudável e gritando.
Aquele choro me deixou tão feliz, que eu chorei junto. Eu não estava mais sozinha no mundo, não mais!
"Meu Daniel!" Eu disse. Eles trouxeram o menino até mim, e eu dei um beijo em sua pequena testa. Ele era lindo. Queria que ele tivesse uma vida perfeita, bem diferente da minha.
Aos sete, fui abusada pelo meu padrasto. Aos nove, minha mãe me acusou de seduzí-lo. E aos onze, ela me expulsou de casa porque eu aparentemente estava "mocinha demais e logo teria minha primeira menstruação, o que significava que ele iria querer algo a mais do que passar as mãos em mim" e, como ela dizia, na cabeça dela eu competia com ela por aquele homem nojento e asqueroso.
Fugi de tudo e de todos. Casei cedo, confiei no homem errado. Tive uma vida do inferno até aqui, mas ao olhar para o pequeno rosto delicado de Daniel, era como se todo meu passado tivesse sido apagado. Só tinha o presente e o futuro, e era tudo que importava.
Eu estava no quarto, amamentando meu filho, quando uma enfermeira abriu a porta e sorriu para mim.
"Seu marido quer vê-la." Ela disse e, então, Tom entrou pela porta. O que aquele ridículo estava fazendo aqui?
HANNAH NARRANDO"O que você está fazendo aqui? Vai embora! Você já destruiu demais a minha vida!" Gritei. A enfermeira arregalou os olhos e Tom, com seu ar de sedução, guiou a enfermeira até o lado de fora."Ela acabou de parir, está nervosa porque eu não apareci no parto. Com licença, preciso conversar com ela a sós." Eu neguei com a cabeça. Ele fechou a porta e ficou para dentro do quarto sozinho comigo."Sai daqui! Eu não quero você perto de mim ou do meu filho!" Gritei."Preciso checar se o menino é meu, oras. Posso ser um cretino, mas não deixaria meu filho nas mãos de uma louca feito você." Neguei com a cabeça mais uma vez."Ele nasceu de trinta e quatro semanas. Só se eu fosse um elefante para parir um filho seu, seu idiota. Não sabe fazer contas? Não transamos há meses, e você acha que o filho é seu? Me poupe!" Gritei. "Vá embora!""Então, você é a vadia que meus pais sempre me disseram que era? Isso é uma surpresa. Pelo visto, a caipira que achei na rua e trouxe pra dentro de
HANNAH NARRANDONaquele momento, tudo fez sentido. Eu não estava apenas com uma sensação de estar sendo observada, eu estava com a sensação de perigo, e esse sentimento vinha de Gabriel. Não imaginava que ele pudesse tentar fazer algo comigo, porque a real é que nunca imaginamos, até acontecer. Mas meu corpo entendeu os sinais que ele deu durante a noite toda. Ele estava se preparando para aquele momento e eu só entendi quando entrei na sala dele."O que tem de errado? Não tem nada meu na mesa dos funcionários, Gabriel." Eu disse, e ele sorriu de forma maliciosa."Mas tem algo que eu quero na minha mesa agora. E você me deve isso."Eu fui agarrada. Enquanto tentava me soltar e gritava, ele continuava passando as mãos por meu corpo."Por favor, me solta! Seu cretino!" Eu gritava.Ele me jogou no meu sofá da sala dele, tampando a minha boca com uma das mãos. Meus olhos se arregalaram quando o vi abrindo o cinto da calça."Você me olhou a noite inteira, agora vai recusar? Ah, você não va
TYLER NARRANDODesde que voltei para Nova Iorque, tudo que faço é pensar nela. Eu devia seguir em frente, mas é difícil quando se está obcecado por alguém que sequer lembra de você. Fazem exatos dezessete meses que vi aquela mulher pela primeira vez, e última. Minha terapeuta diz que eu criei uma mulher na minha cabeça, apenas para esquecer minha ex-noiva, mas eu tenho certeza de que ela era real. Eu estava um pouco bêbado, não me lembro o nome dela ou de seu rosto claramente, mas me lembro da sensação que tive quando a conheci. Só sei que, depois daquele dia, minha vida mudou.Conheci aquela moça em uma balada, tivemos um caso de uma noite. Ela estava triste por algum motivo relacionado ao noivo ou marido, e eu também estava. Compartilhamos um momento único, do qual eu queria me lembrar melhor, mas ainda assim, me lembro de como foi beijá-la e do que senti. Talvez ela fosse a mulher certa.Minha terapeuta começou a me ligar, era hora da minha consulta por vídeochamada. Eu prontamente
TYLER NARRANDO"Pai, nós não estamos nos acertando coisa nenhuma." Eu resmunguei, e meu pai apenas deu risada. "Por favor, Tyler. Você sabe que já está passando da hora de se casar, a nossa família tem um nome a manter. E você, Tyler, está sendo uma desonra para nós, por permanecer como um garotinho adolescente solteiro." Eu me mantive em silêncio ao ouvir tudo aquilo. "É melhor que você se case com a Natália, ou não verá nenhum real da minha fortuna pelo resto da vida. Ser deserdado não parece bom para você, não é mesmo?""Vai ser bom para nós dois, você sabe disso." Natália segurou minhas mãos, enquanto me olhava nos olhos. "Eu juro por Deus que foi só aquela vez.""Eu não consigo perdoar você." Eu afirmei. Meu pai se aproximou de nós dois, e colocou uma das mãos em cada um de nós."Vocês são jovens e irão se casar. Terão o resto da vida para perdoar um ao outro. Nós precisamos juntar a família Hart com a família Mackenzie. Vocês transformarão dois imperios grandes, e um império gi
HANNAH NARRANDOEra triste perceber que Tyler estava apenas tentando me usar para sua diversão. Afinal, ele tinha uma noiva. Ou talvez, eu tenha entendido tudo errado e ele era realmente só uma pessoa boa que queria me ajudar. Independente de qualquer coisa, eu não podia sentir o que eu sentia por ele, aquela atração maluca e vontade de me jogar em seus braços. Eu precisava conter isso, e dizem que o melhor jeito de esquecer alguém, é primeiro odiá-lo. E foi isso que eu fiz: Eu decidi que odiaria o Tyler, custasse o que custasse.Em casa, eu peguei meu filho no colo depois de dar um banho nele e o coloquei em sua caminha. Beijei sua testa e sentei na poltrona perto de sua cama, enquanto ela dormia. Seu abajur de estrelinhas estava ligado, e eu tentava olhar as estrelinhas ao invés de pensar em Tyler.Quando vi que meu filho adormeceu, me levantei e fui para a sala, ver um pouco de TV... Mas TV não é o meu forte. Eu não tenho muita paciência. Então, peguei meu celular e comecei a mexer
HANNAH NARRANDOSei que pessoas ricas podem ser difíceis, mas aquela Natália é intragável. Acabei tendo que atende-la na cafeteria e ela foi extremamente grosseira, mas eu tive que deixar pra lá, pois precisava me concentrar em meu trabalho. Tyler é um homem decente e educado, mas não posso me aproximar dele ou deixar que ele se aproxime de mim, já que sua noiva é tão chata.Era noite e meu horário havia terminado. Eu estava indo embora quando vi um carro se aproximando de mim na rua, e aquilo me assustou. Mas então, o vidro abaixou e eu vi que era Tyler, o que me fez ficar mais calma.“Vem, entra no carro. Está tarde demais para você ir sozinha pra casa.” Ele disse e eu neguei com a cabeça.“Você tem outras coisas pra se preocupar. Não se preocupe comigo.” Aquilo foi quase um resmungo de ciúme. Sinceramente, eu estava com ciúme de alguém que sequer era meu.“Qual é, Hannah... Não seja boba. Entre logo no carro.”Acabei cedendo. A verdade é que eu queria passar um tempo com ele, por m
Nós jantamos juntos e eu imaginei como seria gostoso ter uma família feliz. Minha vida sempre foi uma merda, e o respiro que encontrei foi quando meu filho nasceu. Agora, olhar para Tyler me fazia sonhar.Nós nos despedimos após o jantar e ele foi embora. Dei uma mamadeira para o Daniel e ele adormeceu, o que me deixou com um tempinho livre após isso.De madrugada, eu já estava dormindo quando ouvi meu celular tocar. Fiquei surpresa ao ver que era o Tyler de novo, afinal, tínhamos nos visto fazia pouco tempo. Quando atendi, ouvi uma voz completamente embriagada do outro lado.“Oi, Tyler. O que tá acontecendo?”“Hannah... Não, não, eu não posso me casar.” Ele disse. “Ele não pode me obrigar! Eu passei em frente ao restaurante Malahide e eles estavam combinando meu casamento com ela...” Ele resmungava.“Do que você está falando, Tyler? Aonde você está?” Perguntei.“Deu tudo errado.” Ele respondeu, meio choramingando. “Eu quero dar um tiro na minha própria cabeça, se você quer saber. Ele
Tyler parecia decepcionado, seus olhos estavam vermelhos provavelmente de chorar.Daniel dormia pacificamente no quarto e eu fiquei com vergonha da situação. Lembrei do meu padrasto, das vezes que ele apareceu bêbado em casa, antes de eu ser obrigada a ir embora. Eu ainda era pequena.“Me ajuda a te ajudar, Tyler.” Eu sussurrei, enquanto o carregava até o banheiro comigo. Por algum motivo, o coloquei no box do banheiro. Acho que eu pensei que um banho tiraria todo o álcool do corpo dele, e então, eu liguei o chuveiro em cima de nós dois. Tyler começou a rir de si mesmo enquanto a água caia sobre nós.“Por que está rindo?” Questionei, indignada, enquanto o segurava embaixo do chuveiro. “Você é uma garota incrível, Hannah. Muito incrível.” Foi o que ele disse. “Estou rindo porque estou olhando pra sua cara e você tá linda.” O som bêbado com que saiu essa frase acabou me fazendo rir por dentro. Eu levei uma das mãos até o rosto dele e o fiz me olhar.“Você não devia beber desde jeito.