HANNAH NARRANDO
Naquele momento, tudo fez sentido. Eu não estava apenas com uma sensação de estar sendo observada, eu estava com a sensação de perigo, e esse sentimento vinha de Gabriel. Não imaginava que ele pudesse tentar fazer algo comigo, porque a real é que nunca imaginamos, até acontecer. Mas meu corpo entendeu os sinais que ele deu durante a noite toda. Ele estava se preparando para aquele momento e eu só entendi quando entrei na sala dele.
"O que tem de errado? Não tem nada meu na mesa dos funcionários, Gabriel." Eu disse, e ele sorriu de forma maliciosa.
"Mas tem algo que eu quero na minha mesa agora. E você me deve isso."
Eu fui agarrada. Enquanto tentava me soltar e gritava, ele continuava passando as mãos por meu corpo.
"Por favor, me solta! Seu cretino!" Eu gritava.
Ele me jogou no meu sofá da sala dele, tampando a minha boca com uma das mãos. Meus olhos se arregalaram quando o vi abrindo o cinto da calça.
"Você me olhou a noite inteira, agora vai recusar? Ah, você não vai! Não mesmo!" Ele disse. "Agora você é minha, Hannah, minha!"
Eu comecei a chorar. Sentia minhas lágrimas escorrerem por meu rosto, mas então, de repente, Gabriel foi puxado com força para longe de mim.
Gabriel bateu com as costas na parede e um homem o atacou, desferindo socos em seu rosto. E quando Gabriel apagou, eu vi que era o bonitão do bar.
"O que... O que você está fazendo aqui?" Eu não sabia se estava mais grata ou confusa. "Tyler, não é?"
"Sim. Olha só, eu voltei porque me arrependi de não ter pedido seu telefone e ouvi os gritos vindo da porta dos fundos." Eu suspirei e me levantei do sofá, indo em direção a ele.
"Eu te agradeço muito por isso, mas é melhor sairmos daqui." Avisei e o segurei pelo braço, e então, saímos com pressa dos fundos da lanchonete-bar de Gabriel.
"Vou te dar uma carona até sua casa. Quero garantir que chegue segura." Ele afirmou.
Lágrimas desciam por meu rosto. Eu estava abraçada em mim mesma, como fiz tantas vezes durante os abusos do meu padrasto.
"Não precisa." Eu disse, mas ele negou.
"Não. Eu vou te levar, você precisa. Está chorando e... Ele machucou você? Ele conseguiu fazer alguma coisa? Precisamos ir até a delegacia dar queixa contra ele, e..." Eu o interrompi.
"Não, por favor." Fechei meus olhos e os mantive fechados por um tempo. "Por mais que eu queira que ele pague pelo que fez comigo, é o meu trabalho aqui que paga as contas. Eu provavelmente vou ser demitida depois do que aconteceu hoje, mas... Eu não quero mais problemas. Por favor." Meu olhar era de súplica.
Tyler suspirou e concordou com a cabeça.
"Tudo bem, Hannah. Tudo bem. Me deixa te levar em casa, então, tá?"
"Tá, você pode me levar, sem problemas."
O carro de Tyler era enorme e aparentemente muito caro. Fiquei até com vergonha de estar lá dentro.
"Tyler, é na próxima rua." Eu disse e ele virou o carro, e então, assim que chegou no meu prédio, eu apontei para ele. "É esse."
Tyler desligou o carro, e desceu para abrir a porta do carro para mim. Era visível que ele era uma pessoa muito educada e culta, totalmente fora da minha realidade. Mas alguém de uma classe social tão diferente da minha jamais olharia para mim com outros olhos. Apenas tentei afastar isso da minha cabeça, enquanto educadamente sorria para ele e caminhava em direção a minha porta.
"Ei, Hannah." Ele me chamou, e eu virei em direção a ele. "Eu voltei pra pedir seu telefone. O que aconteceu não muda o fato de eu querer seu número." Ele sorriu e aquilo fez meu coração acelerar.
Me aproximei dele, e ele me ofereceu o celular. Foi só aí que eu reparei que as mãos dele estavam machucadas. Eu deveria convidá-lo para entrar? Deveria cuidar dele?
"Droga, você machucou suas mãos." Eu disse e ele deu os ombros.
"Valeu a pena. Eu não me perdoaria se aquele cara tivesse saído com o rosto inteiro da briga." Olhei para baixo, um pouco envergonhada do que havia acabado de acontecer.
Aquilo entre nós era... Um flerte? Ele estava flertando comigo?
Eu não sabia dizer. Mas sabia que aquilo fazia meu coração bater mais que uma máquina de lavar roupas descontrolada.
"Você quer entrar e lavar suas mãos? Só peço pra você não fazer barulho, porque eu tenho um bebê que provavelmente a minha vizinha já colocou pra dormir e..." Ele negou com a cabeça.
"Não se preocupe. Posso cuidar disso, foram só alguns arranhões. Mas você terá que me recompensar depois." Ele cruzou os braços enquanto eu digitava meu telefone. "Vamos jantar comigo amanhã. Posso te buscar aqui."
"Seria maravilhoso se eu não tivesse que procurar um novo emprego e cuidar de um bebê de onze meses. Desculpa, Tyler, você parece ser um cara ótimo mas... Eu tenho tanta coisa na cabeça que realmente um jantar fora de casa não cabe na minha agenda." Ele abaixou a cabeça por alguns instantes, mas depois a levantou e sorriu.
"Me ligue se mudar de ideia." Eu sorri e então caminhei até a porta do apartamento, entrando e me certificando que tranquei bem.
Vi Tyler ir embora com seu carro chique, e junto com ele, todo um futuro que imaginei para nós dois. Eu sequer sabia o sobrenome dele, mas já havia pensado em tudo. Até no sabor do bolo de casamento. Sei que ninguém gosta de bolo de abacaxi, mas eu gosto.
Entrei em casa, fechei a porta e então, me permiti chorar. Quando me dei conta, Rita veio em minha direção e eu fui me abaixando, até sentar no chão.
"Oh, minha querida... O que foi? Teve um dia muito difícil? Eu nunca te vi assim!" Ela se abaixou na minha frente, e levou as duas mãos até meu rosto. "O que aconteceu, menina?"
"Eu... Eu estraguei tudo. Vou ser demitida. E aí, vou perder esse apartamento e... Eu não sei o que vou fazer." Voltei a chorar, agora, nos braços de Rita.
Ela acariciava meus cabelos e deu um beijo em minha testa. Aquela senhorinha havia se tornado a mãe que não tive, o que era bom. Mas depender dela me deixa muito triste. Ela merece alguém que cuide dela, não alguém que precisa ser cuidada.
"Eu posso deixar você ficar um tempo no quarto extra do meu apartamento. Nós daremos um jeito, querida, não se preocupe com isso."
Já era tarde e depois que Rita foi embora, eu fui deitar. Vi Daniel no berço, e fiz um carinho no cabelinho do meu pequeno. Ele é tão lindo. Beijei sua testa e depois deitei em minha cama. Mas não consegui dormir.
Peguei meu celular, e havia uma mensagem de Tyler.
Tyler: Oi, salva meu número. É o Tyler.
Hannah: Oi, Tyler. Ok, está salvo. :)
Tyler: Você não precisa voltar para aquele lugar, se não quiser. Posso te conseguir um emprego no restaurante da empresa onde trabalho.
Eu não sabia o que digitar. Será que ele estava falando sério?
Hannah: É sério?
Tyler: Sim. Posso te levar um café amanhã e pegar seu currículo. Topa?
Hannah: Topo. Obrigada, Tyler. Boa noite.
TYLER NARRANDODesde que voltei para Nova Iorque, tudo que faço é pensar nela. Eu devia seguir em frente, mas é difícil quando se está obcecado por alguém que sequer lembra de você. Fazem exatos dezessete meses que vi aquela mulher pela primeira vez, e última. Minha terapeuta diz que eu criei uma mulher na minha cabeça, apenas para esquecer minha ex-noiva, mas eu tenho certeza de que ela era real. Eu estava um pouco bêbado, não me lembro o nome dela ou de seu rosto claramente, mas me lembro da sensação que tive quando a conheci. Só sei que, depois daquele dia, minha vida mudou.Conheci aquela moça em uma balada, tivemos um caso de uma noite. Ela estava triste por algum motivo relacionado ao noivo ou marido, e eu também estava. Compartilhamos um momento único, do qual eu queria me lembrar melhor, mas ainda assim, me lembro de como foi beijá-la e do que senti. Talvez ela fosse a mulher certa.Minha terapeuta começou a me ligar, era hora da minha consulta por vídeochamada. Eu prontamente
TYLER NARRANDO"Pai, nós não estamos nos acertando coisa nenhuma." Eu resmunguei, e meu pai apenas deu risada. "Por favor, Tyler. Você sabe que já está passando da hora de se casar, a nossa família tem um nome a manter. E você, Tyler, está sendo uma desonra para nós, por permanecer como um garotinho adolescente solteiro." Eu me mantive em silêncio ao ouvir tudo aquilo. "É melhor que você se case com a Natália, ou não verá nenhum real da minha fortuna pelo resto da vida. Ser deserdado não parece bom para você, não é mesmo?""Vai ser bom para nós dois, você sabe disso." Natália segurou minhas mãos, enquanto me olhava nos olhos. "Eu juro por Deus que foi só aquela vez.""Eu não consigo perdoar você." Eu afirmei. Meu pai se aproximou de nós dois, e colocou uma das mãos em cada um de nós."Vocês são jovens e irão se casar. Terão o resto da vida para perdoar um ao outro. Nós precisamos juntar a família Hart com a família Mackenzie. Vocês transformarão dois imperios grandes, e um império gi
HANNAH NARRANDOEra triste perceber que Tyler estava apenas tentando me usar para sua diversão. Afinal, ele tinha uma noiva. Ou talvez, eu tenha entendido tudo errado e ele era realmente só uma pessoa boa que queria me ajudar. Independente de qualquer coisa, eu não podia sentir o que eu sentia por ele, aquela atração maluca e vontade de me jogar em seus braços. Eu precisava conter isso, e dizem que o melhor jeito de esquecer alguém, é primeiro odiá-lo. E foi isso que eu fiz: Eu decidi que odiaria o Tyler, custasse o que custasse.Em casa, eu peguei meu filho no colo depois de dar um banho nele e o coloquei em sua caminha. Beijei sua testa e sentei na poltrona perto de sua cama, enquanto ela dormia. Seu abajur de estrelinhas estava ligado, e eu tentava olhar as estrelinhas ao invés de pensar em Tyler.Quando vi que meu filho adormeceu, me levantei e fui para a sala, ver um pouco de TV... Mas TV não é o meu forte. Eu não tenho muita paciência. Então, peguei meu celular e comecei a mexer
HANNAH NARRANDOSei que pessoas ricas podem ser difíceis, mas aquela Natália é intragável. Acabei tendo que atende-la na cafeteria e ela foi extremamente grosseira, mas eu tive que deixar pra lá, pois precisava me concentrar em meu trabalho. Tyler é um homem decente e educado, mas não posso me aproximar dele ou deixar que ele se aproxime de mim, já que sua noiva é tão chata.Era noite e meu horário havia terminado. Eu estava indo embora quando vi um carro se aproximando de mim na rua, e aquilo me assustou. Mas então, o vidro abaixou e eu vi que era Tyler, o que me fez ficar mais calma.“Vem, entra no carro. Está tarde demais para você ir sozinha pra casa.” Ele disse e eu neguei com a cabeça.“Você tem outras coisas pra se preocupar. Não se preocupe comigo.” Aquilo foi quase um resmungo de ciúme. Sinceramente, eu estava com ciúme de alguém que sequer era meu.“Qual é, Hannah... Não seja boba. Entre logo no carro.”Acabei cedendo. A verdade é que eu queria passar um tempo com ele, por m
Nós jantamos juntos e eu imaginei como seria gostoso ter uma família feliz. Minha vida sempre foi uma merda, e o respiro que encontrei foi quando meu filho nasceu. Agora, olhar para Tyler me fazia sonhar.Nós nos despedimos após o jantar e ele foi embora. Dei uma mamadeira para o Daniel e ele adormeceu, o que me deixou com um tempinho livre após isso.De madrugada, eu já estava dormindo quando ouvi meu celular tocar. Fiquei surpresa ao ver que era o Tyler de novo, afinal, tínhamos nos visto fazia pouco tempo. Quando atendi, ouvi uma voz completamente embriagada do outro lado.“Oi, Tyler. O que tá acontecendo?”“Hannah... Não, não, eu não posso me casar.” Ele disse. “Ele não pode me obrigar! Eu passei em frente ao restaurante Malahide e eles estavam combinando meu casamento com ela...” Ele resmungava.“Do que você está falando, Tyler? Aonde você está?” Perguntei.“Deu tudo errado.” Ele respondeu, meio choramingando. “Eu quero dar um tiro na minha própria cabeça, se você quer saber. Ele
Tyler parecia decepcionado, seus olhos estavam vermelhos provavelmente de chorar.Daniel dormia pacificamente no quarto e eu fiquei com vergonha da situação. Lembrei do meu padrasto, das vezes que ele apareceu bêbado em casa, antes de eu ser obrigada a ir embora. Eu ainda era pequena.“Me ajuda a te ajudar, Tyler.” Eu sussurrei, enquanto o carregava até o banheiro comigo. Por algum motivo, o coloquei no box do banheiro. Acho que eu pensei que um banho tiraria todo o álcool do corpo dele, e então, eu liguei o chuveiro em cima de nós dois. Tyler começou a rir de si mesmo enquanto a água caia sobre nós.“Por que está rindo?” Questionei, indignada, enquanto o segurava embaixo do chuveiro. “Você é uma garota incrível, Hannah. Muito incrível.” Foi o que ele disse. “Estou rindo porque estou olhando pra sua cara e você tá linda.” O som bêbado com que saiu essa frase acabou me fazendo rir por dentro. Eu levei uma das mãos até o rosto dele e o fiz me olhar.“Você não devia beber desde jeito.
Tyler saiu do banheiro trocado, e respirou fundo. Estava com os cabelos levemente molhados pois havia os arrumado em frente ao espelho. Coçou o rosto e se aproximou de mim.“Eu estou realmente envergonhado pelo que aconteceu. Me desculpa.” Ele comentou e colocou as duas mãos nos bolsos. “Se importa de não contar pra ninguém?”“Não vou contar. Todo mundo tem dias difíceis, Tyler.” Ele sorriu levemente ao me ouvir.“Tenho tido muitos dias difíceis, desde que...” Ele parecia querer afastar algo da mente, então balançou a cabeça negativamente. “Deixa pra lá.”“Eu acho que se você não contar as coisas que passam na sua cabeça pra alguém, essas coisas vão sempre voltar pra superfície e te afogar.” Eu afirmei. Sou uma boa ouvinte, e estava ansiosa para saber os motivos que faziam Tyler ser quem ele era.“Tem certeza que quer me ouvir?” Eu concordei com a cabeça e fui caminhando até o sofá. “Tudo bem... Você vai me achar ridículo, mas, vamos lá.”Sentamos juntos no sofá, lado a lado. Ele olha
TYLER NARRANDOEla estava no Ringo’s. Hannah estava no Ringo’s quando sofreu o ataque. Aquilo poderia ser loucura da minha cabeça, mas ao mesmo tempo, explicava muitas coisas: A minha atração repentina por ela, a vontade que eu tinha de beijá-la, coisa que eu não tive com nenhuma mulher depois da bruxa.“Quanto tempo, Hannah? A quanto tempo isso aconteceu?” Eu estava levemente desesperado, em pé, andando de um lado para o outro da sala dela. Ela se levantou, assustada.“Mais de um ano, Tyler... Você está me assustando, o que houve?” Ela disse. Seus olhos demonstravam medo.“Eu não sei como dizer isso. Eu nem sei como... Como perguntar isso.” Eu passei as duas mãos em meus próprios cabelos. “Eu estava no Ringo’s na noite em que conheci a bruxa.”“O-o-o que você quer dizer com isso?” Respirei fundo ao ouví-la.“Você não percebe? Nossas histórias se completam. É como se a sua história fosse a parte do quebra-cabeça que falta na minha.” Ela negou com a cabeça e riu.“Não, Tyler... Olha p