03

HANNAH NARRANDO

Naquele momento, tudo fez sentido. Eu não estava apenas com uma sensação de estar sendo observada, eu estava com a sensação de perigo, e esse sentimento vinha de Gabriel. Não imaginava que ele pudesse tentar fazer algo comigo, porque a real é que nunca imaginamos, até acontecer. Mas meu corpo entendeu os sinais que ele deu durante a noite toda. Ele estava se preparando para aquele momento e eu só entendi quando entrei na sala dele.

"O que tem de errado? Não tem nada meu na mesa dos funcionários, Gabriel." Eu disse, e ele sorriu de forma maliciosa.

"Mas tem algo que eu quero na minha mesa agora. E você me deve isso."

Eu fui agarrada. Enquanto tentava me soltar e gritava, ele continuava passando as mãos por meu corpo.

"Por favor, me solta! Seu cretino!" Eu gritava.

Ele me jogou no meu sofá da sala dele, tampando a minha boca com uma das mãos. Meus olhos se arregalaram quando o vi abrindo o cinto da calça.

"Você me olhou a noite inteira, agora vai recusar? Ah, você não vai! Não mesmo!" Ele disse. "Agora você é minha, Hannah, minha!"

Eu comecei a chorar. Sentia minhas lágrimas escorrerem por meu rosto, mas então, de repente, Gabriel foi puxado com força para longe de mim.

Gabriel bateu com as costas na parede e um homem o atacou, desferindo socos em seu rosto. E quando Gabriel apagou, eu vi que era o bonitão do bar.

"O que... O que você está fazendo aqui?" Eu não sabia se estava mais grata ou confusa. "Tyler, não é?"

"Sim. Olha só, eu voltei porque me arrependi de não ter pedido seu telefone e ouvi os gritos vindo da porta dos fundos." Eu suspirei e me levantei do sofá, indo em direção a ele.

"Eu te agradeço muito por isso, mas é melhor sairmos daqui." Avisei e o segurei pelo braço, e então, saímos com pressa dos fundos da lanchonete-bar de Gabriel.

"Vou te dar uma carona até sua casa. Quero garantir que chegue segura." Ele afirmou.

Lágrimas desciam por meu rosto. Eu estava abraçada em mim mesma, como fiz tantas vezes durante os abusos do meu padrasto.

"Não precisa." Eu disse, mas ele negou.

"Não. Eu vou te levar, você precisa. Está chorando e... Ele machucou você? Ele conseguiu fazer alguma coisa? Precisamos ir até a delegacia dar queixa contra ele, e..." Eu o interrompi.

"Não, por favor." Fechei meus olhos e os mantive fechados por um tempo. "Por mais que eu queira que ele pague pelo que fez comigo, é o meu trabalho aqui que paga as contas. Eu provavelmente vou ser demitida depois do que aconteceu hoje, mas... Eu não quero mais problemas. Por favor." Meu olhar era de súplica.

Tyler suspirou e concordou com a cabeça.

"Tudo bem, Hannah. Tudo bem. Me deixa te levar em casa, então, tá?"

"Tá, você pode me levar, sem problemas."

O carro de Tyler era enorme e aparentemente muito caro. Fiquei até com vergonha de estar lá dentro.

"Tyler, é na próxima rua." Eu disse e ele virou o carro, e então, assim que chegou no meu prédio, eu apontei para ele. "É esse."

Tyler desligou o carro, e desceu para abrir a porta do carro para mim. Era visível que ele era uma pessoa muito educada e culta, totalmente fora da minha realidade. Mas alguém de uma classe social tão diferente da minha jamais olharia para mim com outros olhos. Apenas tentei afastar isso da minha cabeça, enquanto educadamente sorria para ele e caminhava em direção a minha porta.

"Ei, Hannah." Ele me chamou, e eu virei em direção a ele. "Eu voltei pra pedir seu telefone. O que aconteceu não muda o fato de eu querer seu número." Ele sorriu e aquilo fez meu coração acelerar.

Me aproximei dele, e ele me ofereceu o celular. Foi só aí que eu reparei que as mãos dele estavam machucadas. Eu deveria convidá-lo para entrar? Deveria cuidar dele? 

"Droga, você machucou suas mãos." Eu disse e ele deu os ombros.

"Valeu a pena. Eu não me perdoaria se aquele cara tivesse saído com o rosto inteiro da briga." Olhei para baixo, um pouco envergonhada do que havia acabado de acontecer.

Aquilo entre nós era... Um flerte? Ele estava flertando comigo?

Eu não sabia dizer. Mas sabia que aquilo fazia meu coração bater mais que uma máquina de lavar roupas descontrolada.

"Você quer entrar e lavar suas mãos? Só peço pra você não fazer barulho, porque eu tenho um bebê que provavelmente a minha vizinha já colocou pra dormir e..." Ele negou com a cabeça.

"Não se preocupe. Posso cuidar disso, foram só alguns arranhões. Mas você terá que me recompensar depois." Ele cruzou os braços enquanto eu digitava meu telefone. "Vamos jantar comigo amanhã. Posso te buscar aqui."

"Seria maravilhoso se eu não tivesse que procurar um novo emprego e cuidar de um bebê de onze meses. Desculpa, Tyler, você parece ser um cara ótimo mas... Eu tenho tanta coisa na cabeça que realmente um jantar fora de casa não cabe na minha agenda." Ele abaixou a cabeça por alguns instantes, mas depois a levantou e sorriu.

"Me ligue se mudar de ideia." Eu sorri e então caminhei até a porta do apartamento, entrando e me certificando que tranquei bem. 

Vi Tyler ir embora com seu carro chique, e junto com ele, todo um futuro que imaginei para nós dois. Eu sequer sabia o sobrenome dele, mas já havia pensado em tudo. Até no sabor do bolo de casamento. Sei que ninguém gosta de bolo de abacaxi, mas eu gosto.

Entrei em casa, fechei a porta e então, me permiti chorar. Quando me dei conta, Rita veio em minha direção e eu fui me abaixando, até sentar no chão.

"Oh, minha querida... O que foi? Teve um dia muito difícil? Eu nunca te vi assim!" Ela se abaixou na minha frente, e levou as duas mãos até meu rosto. "O que aconteceu, menina?"

"Eu... Eu estraguei tudo. Vou ser demitida. E aí, vou perder esse apartamento e... Eu não sei o que vou fazer." Voltei a chorar, agora, nos braços de Rita.

Ela acariciava meus cabelos e deu um beijo em minha testa. Aquela senhorinha havia se tornado a mãe que não tive, o que era bom. Mas depender dela me deixa muito triste. Ela merece alguém que cuide dela, não alguém que precisa ser cuidada.

"Eu posso deixar você ficar um tempo no quarto extra do meu apartamento. Nós daremos um jeito, querida, não se preocupe com isso."

Já era tarde e depois que Rita foi embora, eu fui deitar. Vi Daniel no berço, e fiz um carinho no cabelinho do meu pequeno. Ele é tão lindo. Beijei sua testa e depois deitei em minha cama. Mas não consegui dormir.

Peguei meu celular, e havia uma mensagem de Tyler.

Tyler: Oi, salva meu número. É o Tyler.

Hannah: Oi, Tyler. Ok, está salvo. :)

Tyler: Você não precisa voltar para aquele lugar, se não quiser. Posso te conseguir um emprego no restaurante da empresa onde trabalho.

Eu não sabia o que digitar. Será que ele estava falando sério?

Hannah: É sério?

Tyler: Sim. Posso te levar um café amanhã e pegar seu currículo. Topa?

Hannah: Topo. Obrigada, Tyler. Boa noite.

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