04

TYLER NARRANDO

Desde que voltei para Nova Iorque, tudo que faço é pensar nela. Eu devia seguir em frente, mas é difícil quando se está obcecado por alguém que sequer lembra de você. Fazem exatos dezessete meses que vi aquela mulher pela primeira vez, e última. Minha terapeuta diz que eu criei uma mulher na minha cabeça, apenas para esquecer minha ex-noiva, mas eu tenho certeza de que ela era real. Eu estava um pouco bêbado, não me lembro o nome dela ou de seu rosto claramente, mas me lembro da sensação que tive quando a conheci. Só sei que, depois daquele dia, minha vida mudou.

Conheci aquela moça em uma balada, tivemos um caso de uma noite. Ela estava triste por algum motivo relacionado ao noivo ou marido, e eu também estava. Compartilhamos um momento único, do qual eu queria me lembrar melhor, mas ainda assim, me lembro de como foi beijá-la e do que senti. Talvez ela fosse a mulher certa.

Minha terapeuta começou a me ligar, era hora da minha consulta por vídeochamada. Eu prontamente atendi e suspirei.

"Bom dia, Karla." Eu sorri de forma fraca, e ela sorriu de volta.

"Bom dia, Tyler. Como você está hoje?"

"Não sei direito. Voltar para Nova Iorque me fez lembrar daquela garota da balada." Ela suspirou ao me ouvir, de novo, falar da garota.

"Bom, já falamos sobre ela, mas podemos falar mais uma vez. Você voltou a achar que ela é real?" Eu dei os ombros.

"Nunca deixei de achar que ela é real. Eu me lembro do beijo dela e de como me senti quando estava nos braços dela. Me senti vivo pela primeira vez depois que minha noiva me traiu." 

"Você ainda sente algo pela sua noiva, Tyler?" Eu neguei com a cabeça.

"Só um profundo desprezo. A Natália não valia absolutamente nada, demorei a entender isso, mas acabei aceitando. Mas, bom, ontem eu fiz um progresso, eu acho..." Sorri de leve ao lembrar da garota do bar. "Eu conheci alguém."

"É mesmo?" Karla sorriu em completo orgulho. Ela ajeitou seu cabelo chanel e depois o óculos, que combinava de forma perfeita com seu colar de pérolas. Ela tem uma imagem maternal muito agradável e acho que por isso me sinto a vontade para falar com ela. "Me fale sobre ela!"

"Não sei muito sobre ela. Ela é garçonete em um bar. Bom, ontem eu fui em um bar, não queria que meu pai me encontrasse, então eu dirigi até o suburbio pra beber. E a garçonete do bar... Ou restaurante, sei lá, bom, ela era linda. Parecia uma boneca. Eu pensei em pegar o telefone dela, mas desisti no meio do caminho. Mas aí, quando voltei pra fazer o que devia ter feito da primeira vez, o chefe dela estava tentando abusar dela." Karla arregalou os olhos.

"Meu Deus! E você a ajudou?"

"Sim, ajudei. E levei ela pra casa. Combinamos de tomar café da manhã hoje, se você quer saber." Eu sorri de leve e ela também.

"Parece um avanço, Tyler. Você chegou a denunciar o que aconteceu?" Eu neguei com a cabeça. "E por quê?"

"Ela pediu. Disse que não queria denunciar, porque poderia arrumar problemas demais. Mas, bom, eu vou tirá-la de lá e indicar para um trabalho no restaurante da minha empresa. Ela não vai precisar se preocupar com aquele cara, nunca mais."

"Você fez uma coisa boa por ela. Isso é legal. Mas não tente salvá-la, você não pode. Lembre-se que você precisa se salvar primeiro, e que pode ajudá-la, mas ela é a responsável pelo próprio destino." Eu concordei com a cabeça.

"Tudo bem, Karla. Eu entendi isso." 

Nossa consulta acabou, e eu desliguei o telefone. Era hora de ir até a casa de Hannah buscar o currículo dela, e tomar café da manhã. Peguei alguns donuts e café, e levei. Logo ela me atendeu com o filho no colo.

"Bom dia." Ela disse, sorrindo. 

"Bom dia." Sorri de volta, coloquei as coisas em cima da mesa e então, estiquei minhas mãos para ver se o garotinho vinha comigo. "E aí, quer vir com o tio?"

O garotinho deu os pequenos braços para mim, e eu o peguei no colo. A casa de Hannah era impecável. Pequena, arrumada e muito aconchegante. O garotinho estava muito cheiroso e era gordinho, de bochechas rosadas, cabelinho escuro e olhos azuis. 

"O Daniel é muito simpático, vai com todo mundo. Fico com medo de alguém tentar roubar." Ela disse de um jeito divertido, enquanto caminhava até a cozinha e servia os donuts em uma bandeja.

A mesa estava posta, com coisas um pouco mais saudáveis do que donuts e café. Ela fez comida de verdade. Ovos, um pão que parecia ter sido ela mesma que fez e um suco natural dentro do liquidificador.

"Por favor, senta aqui. Vamos comer." Ela colocava o pequeno em sua cadeirinha, e depois, colocou o babador nele. "Pode servir o que você quiser."

"Que garotinho mais lindo." Eu disse. Ele estava comendo com a mãozinha, se sujando todo, mas de um jeito bonitinho. "Quanto tempo ele tem?"

"Onze meses. Em breve, terei um mocinho de um ano. Parece que foi ontem que descobri que estava grávida." Ela soltou uma risadinha enquanto olhava para ele. 

Hannah é realmente uma mulher muito bonita. Vai ser difícil resistir à ela, mas talvez eu não precise.

"E o pai dele?" Eu estava curioso. 

"É uma longa história. Mas ele não tem pai, se é o que quer saber. Somos só eu e ele." Eu concordei enquanto comia um pedaço de pão.

"Ah, entendi. Sobre o emprego... Bom, eu fiz umas ligações e preciso do seu currículo para registrar. Eles vão te dar a vaga." Ela arregalou os olhos, chocada com o que eu disse. "Considere isso um voto de confiança. Eu não costumo ajudar muita gente, mas me pareceu certo depois do que aconteceu ontem."

"Eu nem sei como agradecer. Muito obrigada, sério." 

Eu precisava ir embora. Ela me deu o currículo e então, quando me levou até a porta, me agarrou e me deu um abraço apertado. Fiquei um pouco chocado no início, fazia tempo que não recebia um abraço sincero. E abracei-a de volta, é claro. Pude sentir o cheiro do cabelo dela, porque ela é baixinha. 

De repente, ela se afastou, como se estivesse com vergonha do que havia acabado de fazer. 

"Me desculpa. É que eu estou muito grata pelo que você fez por mim, e eu não sei como retribuir." Eu coloquei as mãos nos bolsos e sorri.

"Não precisa fazer nada. Só... Trabalhe direitinho e cuide desse menino bonito no cadeirão." Eu apontei para o filho dela, que segurava uma colher na mão e estava com a boca toda suja.

"Pode deixar. Vou agarrar essa oportunidade e aproveitar, você pode ter certeza."

Fui embora feliz por ter ajudado. 

Quando cheguei na empresa, lá estava ela: Natália. Meu pior pesadelo.

"Tyler... Fiquei sabendo que você voltou e vim aqui para conversarmos." Eu passei reto por ela, como se ela não existisse. "Tyler, por favor! Por favor, olha pra mim!"

"Não temos nada pra conversar, Natália." Ela segurou meu braço, e eu virei em direção a ela.

"Se você não me ouvir, eu vou gritar aqui no meio de todo mundo."

Suspirei. Odeio escândalos, então, aceitei que ela me acompanhasse até minha sala.

"Por favor, seja breve. Eu não estou com paciência para seus dramas." Ela passou as duas mãos no próprio rosto ao me ouvir.

"Não é drama! Você precisa ouvir a história toda. Eu não traí você, pelo menos não outras vezes. Aquela noite foi a única. Eu não estava tendo um caso com aquele meu colega de trabalho, eu juro!" Ela se aproximou de mim e apoiou as duas mãos em meus braços. "Olha só, você dizia que eu era a mulher perfeita pra você. Onde está todo aquele amor? Por que a gente não pode tentar de novo, Tyler?"

"Você matou aquele amor, Natália. Eu não sinto mais nada por você, e na verdade, depois daquilo, não consigo sentir mais nada por ninguém."

Aquela frase era verdadeira. Exceto... Pela garota da balada. A m*****a garota da balada, que eu não faço ideia de quem seja.

"Por favor, me perdoa. Vamos começar de novo, por favor!"

"Eu não posso." Afirmei.

"Você pode sim!"

Naquele momento, ela tentou me beijar. Eu a segurei para longe de mim e olhei nos olhos dela, e ela ficou chocada porque a rejeitei.

"Eu te dei todo meu amor. Cuidei de você, te amei e você cravou uma faca nas minhas costas. Por favor, vá embora e me deixe em paz."

Naquele momento, meu pai entrou na minha sala, sorrindo. 

"Bom dia! Olha só, parece que vocês estão se acertando!" Ele parecia feliz. O sonho do meu pai é me ver casado com essa vadia.

Que merda.

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