TYLER NARRANDO
Desde que voltei para Nova Iorque, tudo que faço é pensar nela. Eu devia seguir em frente, mas é difícil quando se está obcecado por alguém que sequer lembra de você. Fazem exatos dezessete meses que vi aquela mulher pela primeira vez, e última. Minha terapeuta diz que eu criei uma mulher na minha cabeça, apenas para esquecer minha ex-noiva, mas eu tenho certeza de que ela era real. Eu estava um pouco bêbado, não me lembro o nome dela ou de seu rosto claramente, mas me lembro da sensação que tive quando a conheci. Só sei que, depois daquele dia, minha vida mudou.
Conheci aquela moça em uma balada, tivemos um caso de uma noite. Ela estava triste por algum motivo relacionado ao noivo ou marido, e eu também estava. Compartilhamos um momento único, do qual eu queria me lembrar melhor, mas ainda assim, me lembro de como foi beijá-la e do que senti. Talvez ela fosse a mulher certa.
Minha terapeuta começou a me ligar, era hora da minha consulta por vídeochamada. Eu prontamente atendi e suspirei.
"Bom dia, Karla." Eu sorri de forma fraca, e ela sorriu de volta.
"Bom dia, Tyler. Como você está hoje?"
"Não sei direito. Voltar para Nova Iorque me fez lembrar daquela garota da balada." Ela suspirou ao me ouvir, de novo, falar da garota.
"Bom, já falamos sobre ela, mas podemos falar mais uma vez. Você voltou a achar que ela é real?" Eu dei os ombros.
"Nunca deixei de achar que ela é real. Eu me lembro do beijo dela e de como me senti quando estava nos braços dela. Me senti vivo pela primeira vez depois que minha noiva me traiu."
"Você ainda sente algo pela sua noiva, Tyler?" Eu neguei com a cabeça.
"Só um profundo desprezo. A Natália não valia absolutamente nada, demorei a entender isso, mas acabei aceitando. Mas, bom, ontem eu fiz um progresso, eu acho..." Sorri de leve ao lembrar da garota do bar. "Eu conheci alguém."
"É mesmo?" Karla sorriu em completo orgulho. Ela ajeitou seu cabelo chanel e depois o óculos, que combinava de forma perfeita com seu colar de pérolas. Ela tem uma imagem maternal muito agradável e acho que por isso me sinto a vontade para falar com ela. "Me fale sobre ela!"
"Não sei muito sobre ela. Ela é garçonete em um bar. Bom, ontem eu fui em um bar, não queria que meu pai me encontrasse, então eu dirigi até o suburbio pra beber. E a garçonete do bar... Ou restaurante, sei lá, bom, ela era linda. Parecia uma boneca. Eu pensei em pegar o telefone dela, mas desisti no meio do caminho. Mas aí, quando voltei pra fazer o que devia ter feito da primeira vez, o chefe dela estava tentando abusar dela." Karla arregalou os olhos.
"Meu Deus! E você a ajudou?"
"Sim, ajudei. E levei ela pra casa. Combinamos de tomar café da manhã hoje, se você quer saber." Eu sorri de leve e ela também.
"Parece um avanço, Tyler. Você chegou a denunciar o que aconteceu?" Eu neguei com a cabeça. "E por quê?"
"Ela pediu. Disse que não queria denunciar, porque poderia arrumar problemas demais. Mas, bom, eu vou tirá-la de lá e indicar para um trabalho no restaurante da minha empresa. Ela não vai precisar se preocupar com aquele cara, nunca mais."
"Você fez uma coisa boa por ela. Isso é legal. Mas não tente salvá-la, você não pode. Lembre-se que você precisa se salvar primeiro, e que pode ajudá-la, mas ela é a responsável pelo próprio destino." Eu concordei com a cabeça.
"Tudo bem, Karla. Eu entendi isso."
Nossa consulta acabou, e eu desliguei o telefone. Era hora de ir até a casa de Hannah buscar o currículo dela, e tomar café da manhã. Peguei alguns donuts e café, e levei. Logo ela me atendeu com o filho no colo.
"Bom dia." Ela disse, sorrindo.
"Bom dia." Sorri de volta, coloquei as coisas em cima da mesa e então, estiquei minhas mãos para ver se o garotinho vinha comigo. "E aí, quer vir com o tio?"
O garotinho deu os pequenos braços para mim, e eu o peguei no colo. A casa de Hannah era impecável. Pequena, arrumada e muito aconchegante. O garotinho estava muito cheiroso e era gordinho, de bochechas rosadas, cabelinho escuro e olhos azuis.
"O Daniel é muito simpático, vai com todo mundo. Fico com medo de alguém tentar roubar." Ela disse de um jeito divertido, enquanto caminhava até a cozinha e servia os donuts em uma bandeja.
A mesa estava posta, com coisas um pouco mais saudáveis do que donuts e café. Ela fez comida de verdade. Ovos, um pão que parecia ter sido ela mesma que fez e um suco natural dentro do liquidificador.
"Por favor, senta aqui. Vamos comer." Ela colocava o pequeno em sua cadeirinha, e depois, colocou o babador nele. "Pode servir o que você quiser."
"Que garotinho mais lindo." Eu disse. Ele estava comendo com a mãozinha, se sujando todo, mas de um jeito bonitinho. "Quanto tempo ele tem?"
"Onze meses. Em breve, terei um mocinho de um ano. Parece que foi ontem que descobri que estava grávida." Ela soltou uma risadinha enquanto olhava para ele.
Hannah é realmente uma mulher muito bonita. Vai ser difícil resistir à ela, mas talvez eu não precise.
"E o pai dele?" Eu estava curioso.
"É uma longa história. Mas ele não tem pai, se é o que quer saber. Somos só eu e ele." Eu concordei enquanto comia um pedaço de pão.
"Ah, entendi. Sobre o emprego... Bom, eu fiz umas ligações e preciso do seu currículo para registrar. Eles vão te dar a vaga." Ela arregalou os olhos, chocada com o que eu disse. "Considere isso um voto de confiança. Eu não costumo ajudar muita gente, mas me pareceu certo depois do que aconteceu ontem."
"Eu nem sei como agradecer. Muito obrigada, sério."
Eu precisava ir embora. Ela me deu o currículo e então, quando me levou até a porta, me agarrou e me deu um abraço apertado. Fiquei um pouco chocado no início, fazia tempo que não recebia um abraço sincero. E abracei-a de volta, é claro. Pude sentir o cheiro do cabelo dela, porque ela é baixinha.
De repente, ela se afastou, como se estivesse com vergonha do que havia acabado de fazer.
"Me desculpa. É que eu estou muito grata pelo que você fez por mim, e eu não sei como retribuir." Eu coloquei as mãos nos bolsos e sorri.
"Não precisa fazer nada. Só... Trabalhe direitinho e cuide desse menino bonito no cadeirão." Eu apontei para o filho dela, que segurava uma colher na mão e estava com a boca toda suja.
"Pode deixar. Vou agarrar essa oportunidade e aproveitar, você pode ter certeza."
Fui embora feliz por ter ajudado.
Quando cheguei na empresa, lá estava ela: Natália. Meu pior pesadelo.
"Tyler... Fiquei sabendo que você voltou e vim aqui para conversarmos." Eu passei reto por ela, como se ela não existisse. "Tyler, por favor! Por favor, olha pra mim!"
"Não temos nada pra conversar, Natália." Ela segurou meu braço, e eu virei em direção a ela.
"Se você não me ouvir, eu vou gritar aqui no meio de todo mundo."
Suspirei. Odeio escândalos, então, aceitei que ela me acompanhasse até minha sala.
"Por favor, seja breve. Eu não estou com paciência para seus dramas." Ela passou as duas mãos no próprio rosto ao me ouvir.
"Não é drama! Você precisa ouvir a história toda. Eu não traí você, pelo menos não outras vezes. Aquela noite foi a única. Eu não estava tendo um caso com aquele meu colega de trabalho, eu juro!" Ela se aproximou de mim e apoiou as duas mãos em meus braços. "Olha só, você dizia que eu era a mulher perfeita pra você. Onde está todo aquele amor? Por que a gente não pode tentar de novo, Tyler?"
"Você matou aquele amor, Natália. Eu não sinto mais nada por você, e na verdade, depois daquilo, não consigo sentir mais nada por ninguém."
Aquela frase era verdadeira. Exceto... Pela garota da balada. A m*****a garota da balada, que eu não faço ideia de quem seja.
"Por favor, me perdoa. Vamos começar de novo, por favor!"
"Eu não posso." Afirmei.
"Você pode sim!"
Naquele momento, ela tentou me beijar. Eu a segurei para longe de mim e olhei nos olhos dela, e ela ficou chocada porque a rejeitei.
"Eu te dei todo meu amor. Cuidei de você, te amei e você cravou uma faca nas minhas costas. Por favor, vá embora e me deixe em paz."
Naquele momento, meu pai entrou na minha sala, sorrindo.
"Bom dia! Olha só, parece que vocês estão se acertando!" Ele parecia feliz. O sonho do meu pai é me ver casado com essa vadia.
Que merda.
TYLER NARRANDO"Pai, nós não estamos nos acertando coisa nenhuma." Eu resmunguei, e meu pai apenas deu risada. "Por favor, Tyler. Você sabe que já está passando da hora de se casar, a nossa família tem um nome a manter. E você, Tyler, está sendo uma desonra para nós, por permanecer como um garotinho adolescente solteiro." Eu me mantive em silêncio ao ouvir tudo aquilo. "É melhor que você se case com a Natália, ou não verá nenhum real da minha fortuna pelo resto da vida. Ser deserdado não parece bom para você, não é mesmo?""Vai ser bom para nós dois, você sabe disso." Natália segurou minhas mãos, enquanto me olhava nos olhos. "Eu juro por Deus que foi só aquela vez.""Eu não consigo perdoar você." Eu afirmei. Meu pai se aproximou de nós dois, e colocou uma das mãos em cada um de nós."Vocês são jovens e irão se casar. Terão o resto da vida para perdoar um ao outro. Nós precisamos juntar a família Hart com a família Mackenzie. Vocês transformarão dois imperios grandes, e um império gi
HANNAH NARRANDOEra triste perceber que Tyler estava apenas tentando me usar para sua diversão. Afinal, ele tinha uma noiva. Ou talvez, eu tenha entendido tudo errado e ele era realmente só uma pessoa boa que queria me ajudar. Independente de qualquer coisa, eu não podia sentir o que eu sentia por ele, aquela atração maluca e vontade de me jogar em seus braços. Eu precisava conter isso, e dizem que o melhor jeito de esquecer alguém, é primeiro odiá-lo. E foi isso que eu fiz: Eu decidi que odiaria o Tyler, custasse o que custasse.Em casa, eu peguei meu filho no colo depois de dar um banho nele e o coloquei em sua caminha. Beijei sua testa e sentei na poltrona perto de sua cama, enquanto ela dormia. Seu abajur de estrelinhas estava ligado, e eu tentava olhar as estrelinhas ao invés de pensar em Tyler.Quando vi que meu filho adormeceu, me levantei e fui para a sala, ver um pouco de TV... Mas TV não é o meu forte. Eu não tenho muita paciência. Então, peguei meu celular e comecei a mexer
HANNAH NARRANDOSei que pessoas ricas podem ser difíceis, mas aquela Natália é intragável. Acabei tendo que atende-la na cafeteria e ela foi extremamente grosseira, mas eu tive que deixar pra lá, pois precisava me concentrar em meu trabalho. Tyler é um homem decente e educado, mas não posso me aproximar dele ou deixar que ele se aproxime de mim, já que sua noiva é tão chata.Era noite e meu horário havia terminado. Eu estava indo embora quando vi um carro se aproximando de mim na rua, e aquilo me assustou. Mas então, o vidro abaixou e eu vi que era Tyler, o que me fez ficar mais calma.“Vem, entra no carro. Está tarde demais para você ir sozinha pra casa.” Ele disse e eu neguei com a cabeça.“Você tem outras coisas pra se preocupar. Não se preocupe comigo.” Aquilo foi quase um resmungo de ciúme. Sinceramente, eu estava com ciúme de alguém que sequer era meu.“Qual é, Hannah... Não seja boba. Entre logo no carro.”Acabei cedendo. A verdade é que eu queria passar um tempo com ele, por m
Nós jantamos juntos e eu imaginei como seria gostoso ter uma família feliz. Minha vida sempre foi uma merda, e o respiro que encontrei foi quando meu filho nasceu. Agora, olhar para Tyler me fazia sonhar.Nós nos despedimos após o jantar e ele foi embora. Dei uma mamadeira para o Daniel e ele adormeceu, o que me deixou com um tempinho livre após isso.De madrugada, eu já estava dormindo quando ouvi meu celular tocar. Fiquei surpresa ao ver que era o Tyler de novo, afinal, tínhamos nos visto fazia pouco tempo. Quando atendi, ouvi uma voz completamente embriagada do outro lado.“Oi, Tyler. O que tá acontecendo?”“Hannah... Não, não, eu não posso me casar.” Ele disse. “Ele não pode me obrigar! Eu passei em frente ao restaurante Malahide e eles estavam combinando meu casamento com ela...” Ele resmungava.“Do que você está falando, Tyler? Aonde você está?” Perguntei.“Deu tudo errado.” Ele respondeu, meio choramingando. “Eu quero dar um tiro na minha própria cabeça, se você quer saber. Ele
Tyler parecia decepcionado, seus olhos estavam vermelhos provavelmente de chorar.Daniel dormia pacificamente no quarto e eu fiquei com vergonha da situação. Lembrei do meu padrasto, das vezes que ele apareceu bêbado em casa, antes de eu ser obrigada a ir embora. Eu ainda era pequena.“Me ajuda a te ajudar, Tyler.” Eu sussurrei, enquanto o carregava até o banheiro comigo. Por algum motivo, o coloquei no box do banheiro. Acho que eu pensei que um banho tiraria todo o álcool do corpo dele, e então, eu liguei o chuveiro em cima de nós dois. Tyler começou a rir de si mesmo enquanto a água caia sobre nós.“Por que está rindo?” Questionei, indignada, enquanto o segurava embaixo do chuveiro. “Você é uma garota incrível, Hannah. Muito incrível.” Foi o que ele disse. “Estou rindo porque estou olhando pra sua cara e você tá linda.” O som bêbado com que saiu essa frase acabou me fazendo rir por dentro. Eu levei uma das mãos até o rosto dele e o fiz me olhar.“Você não devia beber desde jeito.
Tyler saiu do banheiro trocado, e respirou fundo. Estava com os cabelos levemente molhados pois havia os arrumado em frente ao espelho. Coçou o rosto e se aproximou de mim.“Eu estou realmente envergonhado pelo que aconteceu. Me desculpa.” Ele comentou e colocou as duas mãos nos bolsos. “Se importa de não contar pra ninguém?”“Não vou contar. Todo mundo tem dias difíceis, Tyler.” Ele sorriu levemente ao me ouvir.“Tenho tido muitos dias difíceis, desde que...” Ele parecia querer afastar algo da mente, então balançou a cabeça negativamente. “Deixa pra lá.”“Eu acho que se você não contar as coisas que passam na sua cabeça pra alguém, essas coisas vão sempre voltar pra superfície e te afogar.” Eu afirmei. Sou uma boa ouvinte, e estava ansiosa para saber os motivos que faziam Tyler ser quem ele era.“Tem certeza que quer me ouvir?” Eu concordei com a cabeça e fui caminhando até o sofá. “Tudo bem... Você vai me achar ridículo, mas, vamos lá.”Sentamos juntos no sofá, lado a lado. Ele olha
TYLER NARRANDOEla estava no Ringo’s. Hannah estava no Ringo’s quando sofreu o ataque. Aquilo poderia ser loucura da minha cabeça, mas ao mesmo tempo, explicava muitas coisas: A minha atração repentina por ela, a vontade que eu tinha de beijá-la, coisa que eu não tive com nenhuma mulher depois da bruxa.“Quanto tempo, Hannah? A quanto tempo isso aconteceu?” Eu estava levemente desesperado, em pé, andando de um lado para o outro da sala dela. Ela se levantou, assustada.“Mais de um ano, Tyler... Você está me assustando, o que houve?” Ela disse. Seus olhos demonstravam medo.“Eu não sei como dizer isso. Eu nem sei como... Como perguntar isso.” Eu passei as duas mãos em meus próprios cabelos. “Eu estava no Ringo’s na noite em que conheci a bruxa.”“O-o-o que você quer dizer com isso?” Respirei fundo ao ouví-la.“Você não percebe? Nossas histórias se completam. É como se a sua história fosse a parte do quebra-cabeça que falta na minha.” Ela negou com a cabeça e riu.“Não, Tyler... Olha p
HANNAH NARRANDONem acredito em como o Tyler tem sido bom comigo. O câncer da Rita foi um choque pra mim, e eu não esperava que minha vida mudasse tão rápido. Para cortar os gastos, eu entreguei minha casa que era alugada e aceitei morar no quarto de serviços do apartamento de Tyler, já que eu iria trabalhar lá. A mudança aconteceu em alguns dias, e ele estava ajudando com tudo.Rita pediu que eu cuidasse da casa dela enquanto ela estava fora para se tratar, e é claro que a cada dois dias eu dava uma olhada no apartamento, regava as plantas e tentava deixar tudo ajeitadinho. E nisso, dois meses se passaram. Tyler foi fazer uma viagem de negócios e ficou longe por todo esse tempo.Hoje, era o dia que ele retornaria para casa. Eu ajeitei tudo, guardei os brinquedos de Daniel e fiz um belo jantar. Não sabia que horas que Tyler chegaria, mas decidi deixar tudo ajeitadinho e esperei por ele na cozinha, depois que meu filho adormeceu.Ouvi o barulho do portão da garagem abrindo e corri para