A chamada não foi atendida. Leo soltou um rosnado baixo, sua frustração era evidente no ar.Sem perder um segundo sequer, ligou rapidamente para seu tio Kael. Ao primeiro toque, a voz do homem emergiu do aparelho, embargada por soluços incontroláveis.— Leo, onde diabos você se meteu? Volte para cá agora mesmo!Leo franziu o cenho, desconcertado.— Tio, estou em casa. O que aconteceu?— Você já viu seus pais? — A voz de Kael tremeu violentamente. — Tiveram seus corações arrancados! Quem cometeu essa atrocidade odiava eles com intensidade avassaladora! Leo... falhei com eles... Jamais vou conseguir me perdoar!Os soluços angustiados atravessavam o telefone como punhaladas. Leo cerrou os dentes, sua expressão se transformando numa máscara sombria de incredulidade.— Você está bêbado de novo? — Ele indagou com uma voz grave.— Como eu gostaria de estar! — Rebateu Kael com desespero. — Preferiria mil vezes que tudo isso não passasse de um pesadelo delirante! Mas é real! Seus pais foram as
Após a retirada de Cheryl pelas autoridades, me dediquei à organização do funeral de meus sogros. Selecionei pessoalmente o cemitério mais apropriado e encomendei um caixão duplo especial para poderem ser sepultados juntos, como viveram.Providenciei também a presença de um sacerdote respeitado para determinar a data mais propícia para o enterro, de acordo com os rituais tradicionais.Com todos os preparativos meticulosamente concluídos, enviei os convites formais aos familiares e amigos mais próximos do casal, detalhando o horário e local da cerimônia.Dois dias antes do funeral, recebi uma chamada inesperada da funerária.— Luna Lyra. — A voz hesitante do funcionário atravessou a linha. — O Alfa tem pernoitado em nossas dependências nos últimos dias. Seria possível buscá-lo? Sua presença constante está dificultando nosso trabalho.Eu me dirigi ao local e, ao chegar lá, me deparei com uma visão perturbadora. Leo se deitava estendido no chão. Seus olhos exibiam uma coloração rubra ala
Acordei de um pesadelo aterrador e percebi que havia retornado ao passado.Era o dia em que meus sogros cairiam nas mãos de sequestradores.Meus dedos encontraram o celular na penumbra do quarto, confirmando o momento fatídico. Era 31 de dezembro, 13h59.Em poucos instantes, aquele bando de lobos fora da lei faria contato exigindo um resgate de cinquenta milhões com prazo de meia hora. Caso contrário, tirariam a vida dos reféns sem hesitação.Observei Leo, que finalizava o fechamento da mala, pronto para deixar nosso quarto. Na soleira da porta, ele se virou com frieza em sua voz:— Não vou voltar esta noite.Me mantive em silêncio. Apenas direcionei meu olhar para o celular sobre o criado-mudo.Como já esperava, o aparelho tocou.Atendi com mãos firmes e ativei o viva-voz para que cada palavra ecoasse:— Victor e Vera estão sob nosso controle. Vocês têm duas horas para entregar trinta milhões na destilaria Moonshines. Se acionarem o Escritório de Aplicação da Lei dos Lobisomens, vou a
Os sequestradores haviam deixado claro que nada de autoridades. Mesmo assim, após refletir sobre a situação, não hesitei em discar o número do Escritório de Aplicação da Lei dos Lobisomens.Trinta milhões não eram quantia que se encontrasse debaixo do travesseiro, ainda mais em dinheiro vivo. Não dispunha desse montante de imediato e, além disso, quem me garantiria que os sequestradores libertariam os reféns após receberem o pagamento? A situação exigia profissionais.Antes que a equipe chegasse, o telefone tocou. Era David, primo de Leo.Ele falou com seu habitual tom ríspido e sem rodeios:— Lyra, como teve coragem de conspirar com meus tios para enganar o Alfa e ainda fazer uma denúncia falsa?Franzi as sobrancelhas e indaguei com frieza:— Foi Leo quem te contou essa história de denúncia falsa?Na família de Leo, apenas meus sogros me acolhiam com genuíno afeto. Os demais nem se davam ao trabalho de disfarçar o desprezo.— Como membro do Escritório de Aplicação da Lei dos Lobisomen
A imagem de minha sogra Vera, sempre tão sensível, invadiu meus pensamentos. Uma simples gota de água quente já a fazia procurar alguém para soprar o ferimento. Agora, não conseguia sequer imaginar a intensidade da dor que estava suportando. Tentava recuperar o fôlego quando o telefone tocou. Era o tio Kael.Antes que pudesse perguntar sobre o dinheiro, ele soltou um suspiro cansado.— Lyra, como pode se aproveitar do carinho que Victor e Vera têm por você para enganar a todos com essa farsa? Se não tivesse verificado com Leo, estaria agora sendo atendido por um cardiologista!Minha respiração falhou como motor em pane.— O que ele te contou? Ele afirmou que planejei tudo com meus sogros?— Ah, Lyra... Sei que está magoada porque Leo não passou o Dia dos Namorados ao seu lado. Mas vocês estão unidos para toda a vida. Foi apenas um dia, precisa mesmo criar todo esse drama? Às vezes, uma esposa precisa fingir que não vê e seguir em frente.Engoli em seco, o desespero crescendo como maré
Quando os sequestradores ligaram novamente, optei por enganá-los. Afirmei que já havia reunido toda a quantia exigida e estava a caminho do local combinado para realizar a troca. Eles libertariam Victor e Vera, e eu entregaria o resgate.Solicitei ao meu consultor financeiro que providenciasse o saque imediato. Carreguei duas enormes malas repletas de dinheiro até o ponto de encontro. Mal havia chegado quando meu celular tocou mais uma vez.— Continue caminhando. — A voz ordenou do outro lado da linha. — Dirija-se à fábrica abandonada atrás da destilaria Moonshines. Eles estão lá dentro.Abandonei as malas sem hesitar e corri desesperadamente.Ao entrar na fábrica abandonada, avistei o carro de Vera com a porta escancarada. Meu coração acelerou enquanto me aproximava com passos trêmulos, até finalmente encontrá-los no banco traseiro.Os dois estavam suspensos, seus corpos quase sem vida. O peito aberto revelava o vazio onde antes pulsavam seus corações. Ainda respiravam, mas por um fio
Temendo que os sequestradores ainda pudessem estar me vigiando, os agentes providenciaram minha transferência imediata para o Escritório de Aplicação da Lei dos Lobisomens.No local, o agente responsável pelo caso me informou que havia coletado diversas evidências dos corpos dos pais de Leo. As análises revelaram o envolvimento de múltiplos Lobos fora da lei na operação, embora apenas um tivesse sido capturado até o momento. A busca pelos demais cúmplices prosseguia intensamente.Após os procedimentos periciais, entrei em contato com a funerária para organizar os preparativos do velório.Leo continuava ignorando minhas tentativas de comunicação, não retornando ligações nem respondendo mensagens. Diante disso, tomei a iniciativa de notificar amigos e familiares sobre a tragédia.No entanto, optei por não informar o tio Kael. Talvez ele tivesse descoberto através de outros parentes, pois logo recebi uma ligação cheia de fúria.— Lyra, você ultrapassou todos os limites! — Ele vociferou. —
Ao cruzar a porta de casa, me deparei com uma cena que já não me surpreendia mais. Leo e Cheryl estavam lá.Cheryl se encontrava instalada na minha cama, enquanto Leo, ajoelhado aos seus pés, aplicava delicadamente uma pomada em seu tornozelo. Quando notaram minha presença, houve um breve instante de hesitação, quase imperceptível, antes que retomassem sua rotina com a mesma naturalidade descarada de sempre.— Luna, saiu tão cedo e com essa roupa... — Observou Cheryl com um sorriso cheio de malícia. — Passou a noite fora sozinha?Ignorei sua provocação deliberada e fixei meu olhar em Leo, que mantinha a cabeça baixa, fingindo concentração no pequeno arranhão que tratava.O cuidado com que segurava o pé de Cheryl, como se manuseasse uma relíquia preciosa, fez algo despertar dentro de mim.Era apenas um arranhão insignificante.Naquele momento, me lembrei da cirurgia pela qual passei após o aborto, poucos meses depois de nosso casamento. Leo praticamente não apareceu para me visitar. Dur