Ela me dá aquele olhar mortal. — Agradeço o café. Mas eu e Catarina estamos de saída. — As palavras rosnadas me fazem estremecer.— Eu não vou a lugar nenhum com você. — Digo firme. Sheila me olha, com seus olhos quase saltando do seu rosto. Ela está muito puta comigo. — Não se preocupe Passarinho, eu lhe trarei de volta inteira. E sua tia já concordou. Prometo que lhe trago antes das 11h — Já são dez e meia. — Olho o relógio na parede. — Prometo não demorar. — Ele olha para Sheila, como se estivesse pedindo permissão. Embora eu soubesse com certeza, que esse homem não era do tipo que pedi permissão. Ele tomava. Ele roubava. Ele invadia.— Não se preocupe pombinhos. Não contarei nada a ninguém. Ela bate palma animada enquanto eu me levanto para ir até onde ele desejava que eu fosse com ele. Eu só não imaginava que ali, eu estaria selando meu destino.*Eu entro no seu carro, me sentindo totalmente desconfortável. O cheiro de couro do seu carro, misturado com seu cheir
reviro os olhos e continuo — Eu preciso que me deixe em paz. — Eu tenho consciência do que eu fiz no site, mas isso definitivamente não era um convite. Eu tenho um namorado, eu amo o meu namorado. Eu não faço mais vídeos então faça sua merda de contar para todos, eu não me importo. É crime gravar vídeo adulto? Eu acho que não! Então, Porque não me deixa em paz?! — Eu tô praticamente gritando com ele, quando Stevan agarra meus pulsos agitados e puxa. Nossos corpos colidem e ele me beija. Stevan, esmaga sua boca na minha. Fui forçada toda a sua escuridão e violência em mim.Meus lábios se separam em choque, um grito silencioso, enquanto sua língua quente mergulha faminta, em minha boca. Tento afastar a cabeça, mas uma mão grande agarra a base do meu pescoço, segurando-me imóvel. Porra, eu o empurro, uma vez, duas vezes, então finalmente mordo o seu lábio. Me certifiquei de que fosse uma mordida que realmente valesse a pena. Ele solta um silvo de dor, quando se afasta. — Então m
A frase cai como uma bomba.Viro o rosto devagar. Meus olhos arregalados, o corpo congelado.— Senhorita, por favor, você precisa sair daqui. Não é seguro — diz o policial ao meu lado.— N-não… — a palavra escapa como um soluço. — Mas… meu namorado… o Tristan… ele…Minhas pernas falham. Me agarro ao policial por instinto.— Eu sinto muito — ele diz, baixo. — Mas… aparentemente… não há sobreviventes.Não há sobreviventes.Essa frase se repete como um eco insuportável dentro da minha cabeça. Como se cada sílaba cravasse uma faca diferente em meu peito.Então vem. Um grito. Um som que dilacera o silêncio, que faz as pessoas se calarem, que rasga o ar.Sou eu.Sou eu gritando como nunca gritei. Como se o universo precisasse sentir a dor que me rasga. Como se gritar fosse a única maneira de impedir meu coração de explodir dentro do peito.Caio de joelhos. O mundo gira, mas eu fico ali. Com a terra sob os dedos e o peito em carne viva. O policial tenta me erguer. Me diz algo.
Foram as semanas mais difíceis da minha vida, eu tive que lidar, com o fato de que ele jamais voltaria, tive que lidar com a mídia, com a internet e pessoas. Tristan estava com o rosto estampado em todos os jornais. Todo Brasil, se lamentou pela sua morte. Um jovem, com futuro promissor pela frente, um pintor talentoso, morto em um incêndio pelo próprio pai. Daniel, que foi condenado a trinta e três anos de prisão. Tive que lidar com audiências e a condenação de seu próprio pai. Depois, tive que lidar com a miséria que me seguiu. Eu havia me formado, graças a Tristan, mas agora não havia ele. E eu não sabia o que fazer. Tive que procurar uma casa, mas as circunstâncias não estavam favoráveis. E eu novamente estava sozinha em um limbo de má sorte. Por muito tempo, eu não tive opções, eu não tive saída. A não ser procurar quem eu jurei que jamais procuraria: Stevan, meu algoz e minha taboa de salvação. Eu odiava o homem com toda a minha força. Odiava de verdade, mas, por mais que do
Ele disse que voltaria. Que aquela viagem pra Rússia era só o começo. Que quando tivesse um lugar no mundo, viria me buscar. Nós tínhamos um plano. Nós tínhamos um amor. E ele… ele simplesmente nunca voltou.Sem cartas. Sem mensagens. Sem notícias.Eu achei que ele tinha morrido. Chorei por ele até minha garganta ficar ferida. Me encolhi tantas vezes lembrando do cheiro dele, da voz dele, da pele quente dele contra a minha..Mas agora ele está vivo. Rico. Dono de uma mansão de revista. Com um quadro meu pendurado na parede como se eu tivesse sido uma lembrança bonita de um verão qualquer.Como ele pôde?Os olhos dele encontraram os meus, e naquele instante eu soube: ele me reconheceu. Ele sabia. Soube assim que me viu. Não houve dúvida, não houve hesitação.E isso doeu.Porque isso provava que o que a gente viveu foi real. Ele me amou. Com cada fibra do corpo. Com cada traço que desenhou de mim.E ainda assim… me deixou.Me largou pra morrer naquela merda de vida. Enquanto e
Por quem nunca poderia saber onde eu passei essa noite.— Rodrigo, eu… preciso sair daqui. Não posso passar o dia presa.— Se tiver alguém que possa depor a seu favor, alguém que comprove endereço fixo ou vínculo familiar…— Não — cortei rápido demais. — Não tem ninguém.Ele me olhou com mais atenção. Mas não perguntou. Inteligente da parte dele.— Tudo bem. Vou acompanhar de perto. Se Stevan não se manifestar até às oito, eu entro com pedido próprio.Assenti, em silêncio. Mas dentro de mim, uma bomba relógio já contava os segundos.O amanhecer chegou sem aviso. A luz alaranjada filtrou pelas grades altas da cela como um insulto. E então, outra vez, a chave girou. Outro policial abriu a cela, me olhando desinteressado.— Catarina. Outro advogado quer falar com você.Outro? Franzi a testa. Me levantei devagar. Rodrigo já tinha vindo. Quem mais viria?Na sala de visitas, um homem elegante, de cabelos grisalhos e um olhar clínico me esperava. O terno dele era caro demais para
— Algum empresário recluso. Russo, talvez. Discreto demais. Não lida diretamente com ninguém. O documento está com ele. É o que me importa.Então era verdade. Ele não sabia. Não fazia ideia de que Tristan estava vivo. De que ele era o homem que eu vi naquela noite, parado na escada, com o mesmo olhar que me dava quando me via chegar. O mesmo olhar que agora me dilacerava.— Você é nojento, Stevan — sussurrei, entre os dentes.— E você é linda quando tenta me odiar. — Ele sorriu, malicioso. — E mesmo assim sempre volta. Sempre vem voando pro ninho.— Eu volto porque você me prendeu nesse jogo. Porque eu não tenho escolha.Ele se levantou e caminhou até mim com calma, como quem se aproxima de uma gaiola aberta. Pousou os dedos no meu queixo e me forçou a encará-lo.— Todo mundo tem escolhas, passarinho. A sua foi minha. Lembra disso da próxima vez que pensar em me desafiar.Me afastei com um impulso, como se os dedos dele queimassem. Porque queimavam. Porque eu estava fervendo p
— Dormi na casa da Tereza, ela me deixou comer biscoito no café da manhã! — disse todo orgulhoso, os óculos escorregando um pouco no nariz.— É mesmo? — sorri, apertando ele contra mim, sentindo o cheirinho doce de shampoo infantil e travesseiro alheio. — E você se comportou?— Eu fui ótimo! Pergunta pra ela!Dona Tereza riu com aquele jeito maternal que me confortava sempre. Seus olhos se prendendo na minha aparência. Aparência de quem chorou. Ela me deu um sorriso mais contido, triste. E continuou. — Ah, ele foi um anjo, como sempre. Quando você não apareceu no horário ontem à noite, achei melhor levar ele comigo. Ele ficou tranquilo. Só perguntava de você antes de dormir. Mas eu disse que logo estaria em casa.Engoli em seco. Por pouco eu não fico presa. — Obrigada… por tudo. Eu não sei o que faria sem você.Ela me olhou nos olhos, com aquela ternura silenciosa de quem sabe que há mais por trás, mas não exige explicações.— Vocês são minha família agora, Catarina. E famíl