Não era nem o fim da manhã daquele dia péssimo, quando Tristan se tornou uma espécie de celebridade na nossa escola. Um jornal local queria entrevistá-lo; havia uma foto dele nas redes sociais, uma que ele nem havia tirado, era ele jogando no campo; enquanto o texto dizia que o “ povo da favela havia vencido”. Eu li o artigo para Tristan enquanto suas bochechas atingiam um tom vermelho brilhante e ele empurrava o óculos daquela maneira nervosa. — Tá tudo bem Nerd? — Eu olho de soslaio para ele, que parece muito tímido com toda essa atenção, uma das suas mãos está na alça da minha mochila que ele faz questão de carregar. — Eu quem deveria estar te perguntando isso, não é, Cat? Ah sim, toda aquela merda.Nós sentamos em completo silêncio, na praça que costumávamos frequentar perto do nosso bairro. Tristan me olhou com cuidado, ainda em silêncio, fez o nosso pedido, muito habituado com oque eu gostava. Quando ele se senta na minha frente, do outro lado da mesa. É evidente que ele
No dia seguinte, encontro Óscar em um hotel que fica na beira da Avenida Brasil. Ele me olha desconfiado, enquanto olha para os lados, e depois abre a porta para que eu entre no quarto.— Obrigada por ter vindo. — Ele me agradece parecendo nervoso. Eu enfio minhas mãos no bolso, observando o local a nossa volta. Suas malas estão no chão a nossa direita com as roupas desfeitas. Ele parece ter chego a pouco tempo.— Desculpe. — Ele sorri sem graça observando que eu estou olhando. — Não tive tempo de arrumar. — Tá tudo bem. — Eu me sento em uma cadeira no canto. — Podemos começar? Ele caminha até o frigobar, tira uma cerveja e me oferece. — Não, obrigada. Eu não bebo. — Um bom garoto. — Ele sorri, enquanto abre a cerveja. Marilyn falou. Eu dou um sorriso triste, enquanto lembro de uma vez Mary ter me dito exatamente a mesma frase. Ele continua. — eu só te procurei, porque Mary confiava em você.— Ele suspira parecendo cansado. Ele passa a mão pelos seus olhos, e é quand
CATARINA A semana passou em uma velocidade torturante. Eu queria, eu desejava poder fazer com que o tempo passasse lentamente mas a vida tinha outros planos. Tristan, estava em uma eletrizante corrida para sua viagem no domingo a noite, o artista Alexandre já estava aqui no Brasil, e desejava se encontrar com ele, conhecê-lo melhor para somente depois embarcarem no jatinho particular de Alexandre.. Tristan fez questão que eu fosse acompanhá-lo, mas ali estava uma linha, que eu havia decidido não cruzar. Não seríamos para sempre Tristan e Cat. E eu precisava que ele entendesse isso. — Ele me passou seu número pessoal. — Tristan levanta o olhar do livro que está lendo. Sou imediatamente aquecida por seu olhar acolhedor de olhos claros. Seus óculos estão ligeiramente tortos e não posso deixar de sorrir de volta para ele. — Depois de tudo oque me falou, Alexandre, parece legal, pensei que ele fosse ser um esquisitão. — Eu cutuco o lençol que cobre o quadro na canto do quarto. — Eu
No fundo eu estava morrendo de medo. Pela primeira vez na vida, eu estarei sozinha, não haveria Tristan, ou Sheila, ou seja lá quem fosse. Essa não seria uma simples casa, ou na verdade uma kitnet sendo mais específica, seria uma maneira de estar livre pela primeira vez na vida. O pensamento me causava náuseas, medo se afundava em meu estômago, mas ao mesmo tempo eu estava ansiosa, e totalmente triste por não poder fazer isso ao lado de Tristan. Mas ele me disse que seriam apenas cinco meses, cinco meses ele me buscaria aqui. E eu acreditava, afinal de contas ele havia me cumprido cada promessa. Ele não iria me decepcionar agora. E nem eu a ele.Como todos os custos da viagem de Tristan, haviam sido pagos por Alexandre, o dinheiro que fizemos no site, ficou praticamente todo para mim. Tínhamos dez mil livres, eu teria que dar quase três mil para quitar os três meses de aluguel, além de somar: água, luz, algumas despesas e alguns móveis, dado pela realidade que eu não tinha nenhum. Ne
— Oque? Você à encontrou? Ela está bem? Está viva? Eu lanço uma sequência de perguntas, sem conseguir me conter. Mas antes que ele possa me responder, nossos celulares vibram quase que simultaneamente. Eu quase não olho a mensagem, excerto que é uma mensagem de Sheila, e ela literalmente nunca me manda uma mensagem, isso lança um alerta em minha cabeça. E assim que eu abro a mensagem meu coração parece que pulará na boca.“ se eu fosse você eu viria para casa, há um amigo seu aqui. Ele se chama Stevan” “ seu namorado sabe que você está chupando o pau de outro?”“ eu sabia que você era pior que sua mãe”Sheila vai lançando uma mensagem atrás da outra, uma mais ofensiva que a outra. Até que a última mensagem tem uma foto dela e de Estevan, eu quase caio da cadeira onde estou sentada, totalmente horrorizada. Quando olho para Tristan, ele mesmo parece horrorizado com a própria mensagem. Até penso que Sheila encaminhou as mensagens para ele, mas ele fala algo totalmente diferente:
Ela me dá aquele olhar mortal. — Agradeço o café. Mas eu e Catarina estamos de saída. — As palavras rosnadas me fazem estremecer.— Eu não vou a lugar nenhum com você. — Digo firme. Sheila me olha, com seus olhos quase saltando do seu rosto. Ela está muito puta comigo. — Não se preocupe Passarinho, eu lhe trarei de volta inteira. E sua tia já concordou. Prometo que lhe trago antes das 11h — Já são dez e meia. — Olho o relógio na parede. — Prometo não demorar. — Ele olha para Sheila, como se estivesse pedindo permissão. Embora eu soubesse com certeza, que esse homem não era do tipo que pedi permissão. Ele tomava. Ele roubava. Ele invadia.— Não se preocupe pombinhos. Não contarei nada a ninguém. Ela bate palma animada enquanto eu me levanto para ir até onde ele desejava que eu fosse com ele. Eu só não imaginava que ali, eu estaria selando meu destino.*Eu entro no seu carro, me sentindo totalmente desconfortável. O cheiro de couro do seu carro, misturado com seu cheir
reviro os olhos e continuo — Eu preciso que me deixe em paz. — Eu tenho consciência do que eu fiz no site, mas isso definitivamente não era um convite. Eu tenho um namorado, eu amo o meu namorado. Eu não faço mais vídeos então faça sua merda de contar para todos, eu não me importo. É crime gravar vídeo adulto? Eu acho que não! Então, Porque não me deixa em paz?! — Eu tô praticamente gritando com ele, quando Stevan agarra meus pulsos agitados e puxa. Nossos corpos colidem e ele me beija. Stevan, esmaga sua boca na minha. Fui forçada toda a sua escuridão e violência em mim.Meus lábios se separam em choque, um grito silencioso, enquanto sua língua quente mergulha faminta, em minha boca. Tento afastar a cabeça, mas uma mão grande agarra a base do meu pescoço, segurando-me imóvel. Porra, eu o empurro, uma vez, duas vezes, então finalmente mordo o seu lábio. Me certifiquei de que fosse uma mordida que realmente valesse a pena. Ele solta um silvo de dor, quando se afasta. — Então m
A frase cai como uma bomba.Viro o rosto devagar. Meus olhos arregalados, o corpo congelado.— Senhorita, por favor, você precisa sair daqui. Não é seguro — diz o policial ao meu lado.— N-não… — a palavra escapa como um soluço. — Mas… meu namorado… o Tristan… ele…Minhas pernas falham. Me agarro ao policial por instinto.— Eu sinto muito — ele diz, baixo. — Mas… aparentemente… não há sobreviventes.Não há sobreviventes.Essa frase se repete como um eco insuportável dentro da minha cabeça. Como se cada sílaba cravasse uma faca diferente em meu peito.Então vem. Um grito. Um som que dilacera o silêncio, que faz as pessoas se calarem, que rasga o ar.Sou eu.Sou eu gritando como nunca gritei. Como se o universo precisasse sentir a dor que me rasga. Como se gritar fosse a única maneira de impedir meu coração de explodir dentro do peito.Caio de joelhos. O mundo gira, mas eu fico ali. Com a terra sob os dedos e o peito em carne viva. O policial tenta me erguer. Me diz algo.