No fundo eu estava morrendo de medo. Pela primeira vez na vida, eu estarei sozinha, não haveria Tristan, ou Sheila, ou seja lá quem fosse. Essa não seria uma simples casa, ou na verdade uma kitnet sendo mais específica, seria uma maneira de estar livre pela primeira vez na vida. O pensamento me causava náuseas, medo se afundava em meu estômago, mas ao mesmo tempo eu estava ansiosa, e totalmente triste por não poder fazer isso ao lado de Tristan. Mas ele me disse que seriam apenas cinco meses, cinco meses ele me buscaria aqui. E eu acreditava, afinal de contas ele havia me cumprido cada promessa. Ele não iria me decepcionar agora. E nem eu a ele.Como todos os custos da viagem de Tristan, haviam sido pagos por Alexandre, o dinheiro que fizemos no site, ficou praticamente todo para mim. Tínhamos dez mil livres, eu teria que dar quase três mil para quitar os três meses de aluguel, além de somar: água, luz, algumas despesas e alguns móveis, dado pela realidade que eu não tinha nenhum. Ne
— Oque? Você à encontrou? Ela está bem? Está viva? Eu lanço uma sequência de perguntas, sem conseguir me conter. Mas antes que ele possa me responder, nossos celulares vibram quase que simultaneamente. Eu quase não olho a mensagem, excerto que é uma mensagem de Sheila, e ela literalmente nunca me manda uma mensagem, isso lança um alerta em minha cabeça. E assim que eu abro a mensagem meu coração parece que pulará na boca.“ se eu fosse você eu viria para casa, há um amigo seu aqui. Ele se chama Stevan” “ seu namorado sabe que você está chupando o pau de outro?”“ eu sabia que você era pior que sua mãe”Sheila vai lançando uma mensagem atrás da outra, uma mais ofensiva que a outra. Até que a última mensagem tem uma foto dela e de Estevan, eu quase caio da cadeira onde estou sentada, totalmente horrorizada. Quando olho para Tristan, ele mesmo parece horrorizado com a própria mensagem. Até penso que Sheila encaminhou as mensagens para ele, mas ele fala algo totalmente diferente:
Ela me dá aquele olhar mortal. — Agradeço o café. Mas eu e Catarina estamos de saída. — As palavras rosnadas me fazem estremecer.— Eu não vou a lugar nenhum com você. — Digo firme. Sheila me olha, com seus olhos quase saltando do seu rosto. Ela está muito puta comigo. — Não se preocupe Passarinho, eu lhe trarei de volta inteira. E sua tia já concordou. Prometo que lhe trago antes das 11h — Já são dez e meia. — Olho o relógio na parede. — Prometo não demorar. — Ele olha para Sheila, como se estivesse pedindo permissão. Embora eu soubesse com certeza, que esse homem não era do tipo que pedi permissão. Ele tomava. Ele roubava. Ele invadia.— Não se preocupe pombinhos. Não contarei nada a ninguém. Ela bate palma animada enquanto eu me levanto para ir até onde ele desejava que eu fosse com ele. Eu só não imaginava que ali, eu estaria selando meu destino.*Eu entro no seu carro, me sentindo totalmente desconfortável. O cheiro de couro do seu carro, misturado com seu cheir
reviro os olhos e continuo — Eu preciso que me deixe em paz. — Eu tenho consciência do que eu fiz no site, mas isso definitivamente não era um convite. Eu tenho um namorado, eu amo o meu namorado. Eu não faço mais vídeos então faça sua merda de contar para todos, eu não me importo. É crime gravar vídeo adulto? Eu acho que não! Então, Porque não me deixa em paz?! — Eu tô praticamente gritando com ele, quando Stevan agarra meus pulsos agitados e puxa. Nossos corpos colidem e ele me beija. Stevan, esmaga sua boca na minha. Fui forçada toda a sua escuridão e violência em mim.Meus lábios se separam em choque, um grito silencioso, enquanto sua língua quente mergulha faminta, em minha boca. Tento afastar a cabeça, mas uma mão grande agarra a base do meu pescoço, segurando-me imóvel. Porra, eu o empurro, uma vez, duas vezes, então finalmente mordo o seu lábio. Me certifiquei de que fosse uma mordida que realmente valesse a pena. Ele solta um silvo de dor, quando se afasta. — Então m
A frase cai como uma bomba.Viro o rosto devagar. Meus olhos arregalados, o corpo congelado.— Senhorita, por favor, você precisa sair daqui. Não é seguro — diz o policial ao meu lado.— N-não… — a palavra escapa como um soluço. — Mas… meu namorado… o Tristan… ele…Minhas pernas falham. Me agarro ao policial por instinto.— Eu sinto muito — ele diz, baixo. — Mas… aparentemente… não há sobreviventes.Não há sobreviventes.Essa frase se repete como um eco insuportável dentro da minha cabeça. Como se cada sílaba cravasse uma faca diferente em meu peito.Então vem. Um grito. Um som que dilacera o silêncio, que faz as pessoas se calarem, que rasga o ar.Sou eu.Sou eu gritando como nunca gritei. Como se o universo precisasse sentir a dor que me rasga. Como se gritar fosse a única maneira de impedir meu coração de explodir dentro do peito.Caio de joelhos. O mundo gira, mas eu fico ali. Com a terra sob os dedos e o peito em carne viva. O policial tenta me erguer. Me diz algo.
Foram as semanas mais difíceis da minha vida, eu tive que lidar, com o fato de que ele jamais voltaria, tive que lidar com a mídia, com a internet e pessoas. Tristan estava com o rosto estampado em todos os jornais. Todo Brasil, se lamentou pela sua morte. Um jovem, com futuro promissor pela frente, um pintor talentoso, morto em um incêndio pelo próprio pai. Daniel, que foi condenado a trinta e três anos de prisão. Tive que lidar com audiências e a condenação de seu próprio pai. Depois, tive que lidar com a miséria que me seguiu. Eu havia me formado, graças a Tristan, mas agora não havia ele. E eu não sabia o que fazer. Tive que procurar uma casa, mas as circunstâncias não estavam favoráveis. E eu novamente estava sozinha em um limbo de má sorte. Por muito tempo, eu não tive opções, eu não tive saída. A não ser procurar quem eu jurei que jamais procuraria: Stevan, meu algoz e minha taboa de salvação. Eu odiava o homem com toda a minha força. Odiava de verdade, mas, por mais que do
Ele disse que voltaria. Que aquela viagem pra Rússia era só o começo. Que quando tivesse um lugar no mundo, viria me buscar. Nós tínhamos um plano. Nós tínhamos um amor. E ele… ele simplesmente nunca voltou.Sem cartas. Sem mensagens. Sem notícias.Eu achei que ele tinha morrido. Chorei por ele até minha garganta ficar ferida. Me encolhi tantas vezes lembrando do cheiro dele, da voz dele, da pele quente dele contra a minha..Mas agora ele está vivo. Rico. Dono de uma mansão de revista. Com um quadro meu pendurado na parede como se eu tivesse sido uma lembrança bonita de um verão qualquer.Como ele pôde?Os olhos dele encontraram os meus, e naquele instante eu soube: ele me reconheceu. Ele sabia. Soube assim que me viu. Não houve dúvida, não houve hesitação.E isso doeu.Porque isso provava que o que a gente viveu foi real. Ele me amou. Com cada fibra do corpo. Com cada traço que desenhou de mim.E ainda assim… me deixou.Me largou pra morrer naquela merda de vida. Enquanto e
Por quem nunca poderia saber onde eu passei essa noite.— Rodrigo, eu… preciso sair daqui. Não posso passar o dia presa.— Se tiver alguém que possa depor a seu favor, alguém que comprove endereço fixo ou vínculo familiar…— Não — cortei rápido demais. — Não tem ninguém.Ele me olhou com mais atenção. Mas não perguntou. Inteligente da parte dele.— Tudo bem. Vou acompanhar de perto. Se Stevan não se manifestar até às oito, eu entro com pedido próprio.Assenti, em silêncio. Mas dentro de mim, uma bomba relógio já contava os segundos.O amanhecer chegou sem aviso. A luz alaranjada filtrou pelas grades altas da cela como um insulto. E então, outra vez, a chave girou. Outro policial abriu a cela, me olhando desinteressado.— Catarina. Outro advogado quer falar com você.Outro? Franzi a testa. Me levantei devagar. Rodrigo já tinha vindo. Quem mais viria?Na sala de visitas, um homem elegante, de cabelos grisalhos e um olhar clínico me esperava. O terno dele era caro demais para