Magoa

Mas ele não respondeu. Apenas me observou, como se estivesse diante de uma desconhecida. Não havia calor em seu olhar. Nem mesmo raiva. Só um vazio. Um abismo silencioso que me engoliu por inteiro.

Foi aí que entendi.

Ele não estava morto.

Mas alguma parte de nós…de alguma maneira, estava.

*

Os cabelos, antes mais longos e desalinhados, agora estavam cortados pouca coisa mais curtos, mas estavam alinhados e brilhosos, havia uma pequena onda caindo— como se ele tivesse passado os dedos por ali, impaciente. Um ar mais adulto, mais letal. A barba bem-feita desenhava o maxilar marcado, endurecido com o tempo e com a dor.

Ele usava um terno escuro, impecavelmente alinhado ao corpo alto e forte, mas o tecido não conseguia esconder a rigidez de seus músculos ou o peso que carregava nos ombros. Parecia uma estátua de mármore vivo — fria, inatingível, perigosa.

Mas o que mais me atingiu foram os olhos.

Atrás das lentes dos óculos novos, seus olhos pareciam mais frios, mais vazios… ma
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