Culpabilização da vítima (em inglês, victim blaming) é o ato de desvalorizar uma vítima de crime, considerando-a responsável pelo acontecido. Além disso, também pode ser definida como o ato de justificar uma desigualdade encontrando defeitos em suas vítimas”. Eu não contei a Tristan sobre minha tia, é muito menos sobre o marido dela, possivelmente ter achado um dos nossos vídeos pela internet. Tão pouco falei com ele sobre as ameaças recorrentes de Stevan. Tristan também não me fez perguntas quando eu cheguei naquela noite com a minha bolsa, ele apenas me abraçou. Geralmente éramos assim um com outro. Éramos fáceis, a gente não precisava, de saber tudo, a gente só se entendia. O que era para ser uma noite, se tornaram quatro dias. Nós estávamos deitados em sua cama, na verdade eu estava deitado em seu colo, enquanto ele estava sentado na cama, suas costas na cabeceira, passando a mão sobre meus cachos.— Oque realmente aconteceu Cat? — observo a frustração em seus olhos, enquant
Assim que entramos na sala, somos separados. Tristan entra primeiro, não sei o que falam com ele. Mas sei que pedem para que ele me espere do lado de fora quando chega na minha vez. Na sala, está Roberta, a diretora e Beatriz, a professora de artes. — Catarina Monteiro, é do nosso conhecimento, que há um vídeo infelizmente circulando pela escola. Nesse vídeo, as pessoas estão alegando que é você. Sei que esse tipo de conteúdo, é muito normal para os jovens. Mas aqui é um ambiente educacional. É de maneira nenhuma podemos deixar, que isso se propague. Nós já ligamos para sua tia, e deixamos ela ciente do acontecimento. Ligamos para o pai do Tristan também. Aliás ligamos para todos os envolvidos. Não sabemos se de fato é você no vídeo, mas por você ser menor de idade, precisamos envolver os meios legais.— O-oque? Tipo polícia ou conselho tutelar? — Eu sufoco as palavras. — exatamente. — A diretora avisa. — Espera. — a professora Beatriz, fala pela primeira vez.— Roberta se me
Não era nem o fim da manhã daquele dia péssimo, quando Tristan se tornou uma espécie de celebridade na nossa escola. Um jornal local queria entrevistá-lo; havia uma foto dele nas redes sociais, uma que ele nem havia tirado, era ele jogando no campo; enquanto o texto dizia que o “ povo da favela havia vencido”. Eu li o artigo para Tristan enquanto suas bochechas atingiam um tom vermelho brilhante e ele empurrava o óculos daquela maneira nervosa. — Tá tudo bem Nerd? — Eu olho de soslaio para ele, que parece muito tímido com toda essa atenção, uma das suas mãos está na alça da minha mochila que ele faz questão de carregar. — Eu quem deveria estar te perguntando isso, não é, Cat? Ah sim, toda aquela merda.Nós sentamos em completo silêncio, na praça que costumávamos frequentar perto do nosso bairro. Tristan me olhou com cuidado, ainda em silêncio, fez o nosso pedido, muito habituado com oque eu gostava. Quando ele se senta na minha frente, do outro lado da mesa. É evidente que ele
No dia seguinte, encontro Óscar em um hotel que fica na beira da Avenida Brasil. Ele me olha desconfiado, enquanto olha para os lados, e depois abre a porta para que eu entre no quarto.— Obrigada por ter vindo. — Ele me agradece parecendo nervoso. Eu enfio minhas mãos no bolso, observando o local a nossa volta. Suas malas estão no chão a nossa direita com as roupas desfeitas. Ele parece ter chego a pouco tempo.— Desculpe. — Ele sorri sem graça observando que eu estou olhando. — Não tive tempo de arrumar. — Tá tudo bem. — Eu me sento em uma cadeira no canto. — Podemos começar? Ele caminha até o frigobar, tira uma cerveja e me oferece. — Não, obrigada. Eu não bebo. — Um bom garoto. — Ele sorri, enquanto abre a cerveja. Marilyn falou. Eu dou um sorriso triste, enquanto lembro de uma vez Mary ter me dito exatamente a mesma frase. Ele continua. — eu só te procurei, porque Mary confiava em você.— Ele suspira parecendo cansado. Ele passa a mão pelos seus olhos, e é quand
CATARINA A semana passou em uma velocidade torturante. Eu queria, eu desejava poder fazer com que o tempo passasse lentamente mas a vida tinha outros planos. Tristan, estava em uma eletrizante corrida para sua viagem no domingo a noite, o artista Alexandre já estava aqui no Brasil, e desejava se encontrar com ele, conhecê-lo melhor para somente depois embarcarem no jatinho particular de Alexandre.. Tristan fez questão que eu fosse acompanhá-lo, mas ali estava uma linha, que eu havia decidido não cruzar. Não seríamos para sempre Tristan e Cat. E eu precisava que ele entendesse isso. — Ele me passou seu número pessoal. — Tristan levanta o olhar do livro que está lendo. Sou imediatamente aquecida por seu olhar acolhedor de olhos claros. Seus óculos estão ligeiramente tortos e não posso deixar de sorrir de volta para ele. — Depois de tudo oque me falou, Alexandre, parece legal, pensei que ele fosse ser um esquisitão. — Eu cutuco o lençol que cobre o quadro na canto do quarto. — Eu
No fundo eu estava morrendo de medo. Pela primeira vez na vida, eu estarei sozinha, não haveria Tristan, ou Sheila, ou seja lá quem fosse. Essa não seria uma simples casa, ou na verdade uma kitnet sendo mais específica, seria uma maneira de estar livre pela primeira vez na vida. O pensamento me causava náuseas, medo se afundava em meu estômago, mas ao mesmo tempo eu estava ansiosa, e totalmente triste por não poder fazer isso ao lado de Tristan. Mas ele me disse que seriam apenas cinco meses, cinco meses ele me buscaria aqui. E eu acreditava, afinal de contas ele havia me cumprido cada promessa. Ele não iria me decepcionar agora. E nem eu a ele.Como todos os custos da viagem de Tristan, haviam sido pagos por Alexandre, o dinheiro que fizemos no site, ficou praticamente todo para mim. Tínhamos dez mil livres, eu teria que dar quase três mil para quitar os três meses de aluguel, além de somar: água, luz, algumas despesas e alguns móveis, dado pela realidade que eu não tinha nenhum. Ne
— Oque? Você à encontrou? Ela está bem? Está viva? Eu lanço uma sequência de perguntas, sem conseguir me conter. Mas antes que ele possa me responder, nossos celulares vibram quase que simultaneamente. Eu quase não olho a mensagem, excerto que é uma mensagem de Sheila, e ela literalmente nunca me manda uma mensagem, isso lança um alerta em minha cabeça. E assim que eu abro a mensagem meu coração parece que pulará na boca.“ se eu fosse você eu viria para casa, há um amigo seu aqui. Ele se chama Stevan” “ seu namorado sabe que você está chupando o pau de outro?”“ eu sabia que você era pior que sua mãe”Sheila vai lançando uma mensagem atrás da outra, uma mais ofensiva que a outra. Até que a última mensagem tem uma foto dela e de Estevan, eu quase caio da cadeira onde estou sentada, totalmente horrorizada. Quando olho para Tristan, ele mesmo parece horrorizado com a própria mensagem. Até penso que Sheila encaminhou as mensagens para ele, mas ele fala algo totalmente diferente:
Ela me dá aquele olhar mortal. — Agradeço o café. Mas eu e Catarina estamos de saída. — As palavras rosnadas me fazem estremecer.— Eu não vou a lugar nenhum com você. — Digo firme. Sheila me olha, com seus olhos quase saltando do seu rosto. Ela está muito puta comigo. — Não se preocupe Passarinho, eu lhe trarei de volta inteira. E sua tia já concordou. Prometo que lhe trago antes das 11h — Já são dez e meia. — Olho o relógio na parede. — Prometo não demorar. — Ele olha para Sheila, como se estivesse pedindo permissão. Embora eu soubesse com certeza, que esse homem não era do tipo que pedi permissão. Ele tomava. Ele roubava. Ele invadia.— Não se preocupe pombinhos. Não contarei nada a ninguém. Ela bate palma animada enquanto eu me levanto para ir até onde ele desejava que eu fosse com ele. Eu só não imaginava que ali, eu estaria selando meu destino.*Eu entro no seu carro, me sentindo totalmente desconfortável. O cheiro de couro do seu carro, misturado com seu cheir