Já era sábado, o dia da minha festa.
Estava tudo pronto , eu estava em meu apartamento me arrumando para ir, tínhamos feito uma espécie de pulseiras para a entrada na boate, como era uma festa privada, só entraria quem eu realmente convidei, no caso quem estivesse com a pulseira.
Eu ainda tinha uma guardada, a dela, a da Raquel.
A gente se afastou um pouco depois daquela " briga" que ela insistia em dizer que não foi briga, mas continuávamos amigas, só não como antes, e de vez em quando rolava um clima esquisito entre a gente, passamos a falar só o básico uma com a outra, diferente de antes que conversávamos sobre tudo e todo o tempo.
Mas eu ainda a considerava muito, e realmente queria a presença dela naquele dia importante para mim, queria que nos aproximássemos de novo, então decidi terminar de me arrumar e levar a pulseira para ela logo em seguida, e implorar mais uma vez para que ela fosse.
— Nossa vai ser ótimo. — Escuto a voz da Raquel no corredor e corro.
Raquel saia do elevador conversando e rindo muito com duas mulheres a acompanhando.
— Oi, Carla. — Ela fala.
— Oi Raquel, tudo bem? — Respondo.
Eu encarava as duas mulheres como se fosse fuzilá-las com os olhos.
— Tudo. Deixa eu te apresentar, essa é a Bárbara e essa a Jennifer, elas trabalham comigo.
— Prazer. — Falo.
Na verdade não era prazer nem um, na verdade eu estava era bastante incomodada só em ver aquelas garotas tão perto da Raquel, e de ver como Raquel estava a vontade na companhia delas.
— É aniversário da Jennifer, a gente vai celebrar não é meninas? — Raquel fala e começa a rir.
Uma delas que eu acho que era a Bárbara tira umas bebidas de dentro da sacola e me amostra.
— Quer entrar? — A Raquel me pergunta.
Ela estava falando sério? Ela não podia estar falando sério.
— Não Raquel, eu estou indo comemorar o meu aniversário esqueceu? — Falo num tom de irritação.
— É o seu aniversário também? — Uma delas pergunta.
— No, o aniversário dela é só amanhã. — Raquel responde debochada.
— Mas a comemoração é hoje, e pelo visto você não vai?
Pergunto sem esperança de ouvir um sim, completamente decepcionado com o fato dela preferir comemorar o aniversário de outra garota, ao invés do meu.
— Raquel se é a festa da sua amiga você tem que ir, não tem problema. — Uma delas diz.
— Não meninas, está tudo bien, eu avisei a Carla que eu no ia, no sei porque ela está perguntando de novo.
Isso me deu tanta raiva, eu parecia uma criança birrente sendo contrariada.
— Você tem certeza que não vai? — Insisto de burra que sou.
— Meninas aqui vão entrando. — Ela fala abrindo o seu apartamento. — Coloquem essas bebidas para gelar logo.
Só espero que essas meninas não vão dormir ai, foi só o que pensei.
— Você está muy bonita. — Ela fala virando para mim, me surpreendendo.
Que saudades de ouvir isso, que saudades dela sendo carinhosa comigo, que saudades dela.
— Divirta-se hoje. — Diz. — Agora eu tenho que ir. — Ela fala, entra e simplesmente fecha a porta na minha cara.
Aquilo acabou de me destruir, eu nem consegui falar mais nada, ela realmente ia ficar fazendo farra com aquelas duas garotas, de vez comemorar o meu aniversário?
Eu não era mais importante para ela? Sei que fiz besteira, mas era para tanto? Ela simplesmente ia me excluir da vida dela é isso?
Choro, eu choro ali mesmo no corredor, pensando nessa possibilidade, não tive nem forças para voltar ao meu apartamento e chorar escondido.
...
Cheguei na minha festa, estava tudo lindo, lindo mesmo, mas eu não estava satisfeita.
Para começar, no Brasil eu ainda não tinha feito muitos amigos a maioria dos convidados eram amigos do Hernando.
E o pior de tudo, é claro que era a ausência dela, eu realmente perdi a vontade de festejar.
— Carla está tendo confusão lá na entrada, alguém quer entrar e o segurança não quer deixar. — Uma amiga do Hernando fala.
— Só entra com a pulseira. — Respondo.
— É eu sei, mas eu estava lá e a mulher insiste que te conhece, que foi convidada.
— Mulher?
Eu corro para a entrada.
— Se você não me deixar entrar eu vou quebrar su cara.
Era ela, era ela mesmo, discutindo com o segurança, eu comecei a rir, ri porque a cena era engraçada e ri porque estava feliz demais em vê-la ali.
— Acho melhor você deixar ela entrar, se não quiser que ela quebre a sua cara, porque olha que ela quebra mesmo. — Falo ao segurança.
— Carla, graças a Deus. — Ela sorrir para mim. — Dá para falar para esse brutamonte que eu fui convidada por você.
— Deixa ela entrar por favor. — Peço. — Porque além dela ter sido convidada, ela é a convidada mais especial daqui hoje.
Ela sorri e eu e ela entramos juntas, em silêncio.
— Não sabia que precisava disso para entrar, ai que vergonha, eu realmente ia bater no segurança Carla? — Ela fala rindo quebrando o silêncio.
— Eu ia te dar uma, mas você disse que não viria, porque mudou de idéia? — Pergunto.
— Eu te vi chorando no corredor Carla.
Fico em silêncio, me senti constrangida.
— Não sabia que você queria tanto assim que eu viesse.
— A eu falar diversas vezes não serviu? Precisou que eu me debulha-se em lágrimas. — Faço ela rir. — Claro que eu queria muito que você viesse, você é muito importante para mim Raquel.
— Me desculpe por te fazer chorar. — Ela fala segurando na minha mão.
A gente se abraça, e é como se selássemos as pazes.
— Vem vamos pegar uma bebida. — A puxo pela mão até o bar. — Nossa eu estou muito feliz que você veio. — Falo depois de pedir uma bebida. — E as suas amigas?
Confesso que estava doida para ouvir ela falar que eu era mais importante que elas.
— Elas entenderam. — Ela responde.
— Carla. — Hernando me chama.
— Oi. — Respondo.
— O que você está fazendo ai, vem cá por favor. — Ele fala.
— Já volto. — Falo com Raquel e vou ao encontro dele.
— O que ela está fazendo aqui? — Ele pergunta apontando para a Raquel.
— Eu convidei ela é claro.
— Eu já disse que não faço gosta dessa amizade. — Ele fala segurando meu braço.
— Me solta. — Puxo o braço. — E porque não? — Pergunto.
— Carla...
Eu o interrompo antes que termine.
— Não interesse, olha a Raquel não conhece ninguém aqui, dessa vez eu vou fazer companhia á ela, me dá licença. — Falo e vou até a Raquel.
— Algum problema? — Ela pergunta.
— Nem um. — Respondo. — Vamos dançar?
Eu arrasto ela para a pista de dança antes que me responda com um não, que eu sabia que seria a resposta dela.
— Eu no sei dançar Carla. — Ela se desespera.
— E eu sou profissional na área.— Sorrio. — Então te ensino.
Se eu tivesse tido a oportunidade de ver ela dançando antes, talvez não tinha me oferecido para a ensinar, pensem numa pessoa dura.
Eu ria tanto, ela realmente não levava nem um jeito, ver ela ali toda dura, morrendo de vergonha, mas tentando só para me agradar, foi a melhor coisa que aconteceu aquele dia.
— Vem cá Raquel. — Eu a puxei para perto de mim. — Devagar, calma, sente a música. — A segurei pelas mãos, e foi conduzindo ela.
E acho que estava funcionando, ela começou a pegar o jeito.
— Viu, nossa muito melhor. — Eu rio.
— A melhor professora. — Ela fala.
Ficamos ali dançando e já estávamos tão próximas uma da outra de novo, foi como se toda aquela conexão que tínhamos se restabelecesse.
Nos olhávamos e sorriamos, eu estava feliz por estarmos nos entendendo de novo e acredito que ela também, via alegria em sua face.
Mas o Hernando tinha mesmo que estragar esse momento, ele apareceu e me puxou tão forte que eu quase cai no chão.
— Ai, o que você está fazendo? — Pergunto enquanto ele me arrasta para um canto.
— O que está acontecendo Carla? — Raquel tinha vindo atrás.
— Nada Raquel, está tudo bem. — Falo.
— Como está tudo bien Carla ele quase te derrubou.
— Cala a boca. — Hernando fala.
E eu realmente não estava entendendo tamanha grosseria da parte dele, porque ele não gostava da Raquel? Foi ele que tinha nos apresentado
.
— Solta ela. — Raquel pede.
E eu nem percebi que ele ainda me segurava.
— Não se mete. — Hernando diz.
— Mandei você soltar ela.
Raquel tira a mão do Hernando do meu braço.
— Você está maluca? — Ele fala partindo para cima dela.
— Calma gente. — Peço.
— Quem está maluco é você tratando a Carla assim.
Raquel se exalta.
— Ela é minha namorada, isso é entre mim e ela. — Hernando fala me puxando forte pela mão.
— Ai, Hernando para com isso. — Eu falo tentando me soltar.
— Você está machucando ela. — Raquel grita.
— Porque você está fazendo isso Hernando? — Pergunto.
— Eu não quero você perto dessa mulher já falei.
— Mas ela é minha amiga. — Falo.
— Que amiga o que Carla, ela quer te comer.
Quando ele fala isso um silêncio descomunal invade o lugar, e eu fico pasma com o que ouvi.
— Sua amiguinha não te contou não? Que ela é sapatão, que ela gosta de mulher. — Ele continua.
Eu continuo em silêncio, eu realmente não tinha o que dizer, nem estava sabendo como reagir ou o que pensar.
Todos aqueles momentos onde Raquel causou dúvidas em mim voltam em minha cabeça como flashback.
Viro meu rosto em direção dela em busca de respostas, mas ela também permanece em silêncio.
— Fica longe dela. — Ele fala para Raquel.
— Eu no vou fazer isso. — Raquel responde.
— Ela já tem um namorado.
— Uma m****a de namorado.
— Raquel. — Eu a repreendo.
— Um namorado que não dá a mínima para ela, e que nem da no couro. — Ela continua.
— Raquel eu não acredito. — Falo.
— O que você andou falando para essa mulher Carla? — Hernando me prensa na parede.
— Solta ela.
Raquel partiu para cima dele e tiveram que vir separar.
— Me solta. — Hernando gritava. — Quer saber eu vou embora, para mim essa festa já deu. — Ele saí.
— Espera Hernando. — Eu grito por ele.
— Não, Carla, não vai atrás dele. — Raquel me segura pela mão.
— Você não tinha o direito de falar aquelas coisas para ele Raquel, uma coisa que eu conversei só com você.
Eu grito com ela, e nem sei porque, estava nervosa.
— Eu no acredito que você vai defender ele, Carla ele quase te bateu. — Ela fala.
— Também não é para tanto.
Hernando se exaltava as vezes, como fez hoje, mas ele nunca tinha me agredido, tinha duvidas que ele pudesse fazer algo do tipo..
— Eu vou atrás dele. — Falo.
— Não faz isso. — Ela pede.
— Eu tenho que ir. — Digo.
— Não acredito que vai preferir ele de novo.
Aquelas palavras me perturbaram, preferir? Eu realmente tinha que preferir um ao outro?
— É ele que é o meu namorado Raquel. — Respondo e saio.
Eu saio dali atrás de Hernando, mas na verdade não queria falar com ele, não queria falar com Raquel, não queria falar com ninguém.
A minha cabeça estava prestes a explodir, todas aquelas palavras do Hernando ficavam se repetindo na minha mente, será que era verdade?
E todo aquele sentimento desconhecido que eu tinha pela Raquel?
E sobre Hernando? Eu nem sabia mais o que sentia pelo Hernando.
Eu estava confusa, perdida e sozinha, no meio da rua.
Já passava das 03:00 da manhã, estava deitada em minha cama de pijama, olhando para o teto, como se ele fosse me ajudar em algo ou respondes minhas dúvidas.Tudo o que eu queria era dormir, cessar aquela competição de pensamentos que estavam presentes em minha mente.Mais o sono não vinha de jeito nem um, eu rodava na cama igual pião, levantei, andei a casa toda e nada do sono vir, lembrei de quando costumava ter insônia.— Quem sabe ainda sobrou algum remédio dessa época. — Pensei.Cacei esse remédio, como quem caça tesouro, graças a Deus achei, apaguei....Acordei com o meu celular tocando, corri para atender e realmente não sei quem eu queria que fosse.Era uma amiga antiga para me desejar feliz aniversário, certeza que não foi por ela que eu corri.Já era mais de 13:00 hora da tarde, aquele rem&
De repente, ela trouxe seu rosto para mais perto do meu, e em instantes senti seus lábios aquecerem os meus suavemente, e suas mãos pousaram em meu rosto, me puxando para mais perto dela.Solicitava que eu desse abertura para intensificar o beijo, que ela início com calmaria e cautela, numa movimentação demorada e tímida.Também seguro em seu rosto, mas não é como seu eu a permitisse prosseguir, era como seu implorasse por aquilo, me envolvo a ponto de nossas línguas parecer uma só dentro de nossas bocas.O beijo continua, e agora era mais quente, sensual, quase erótico, e depois de longos segundos, o beijo é encerrado por ela com um breve selinho, e eu ainda permaneço ali por um tempo, com os olhos fechados.Quando os abro e tomo consciência do que tinha acontecido, sinto meu corpo todo estremecer, percebo que não havia um só pelinho em m
Por mais que eu estivesse envolvida, por mais que eu quisesse aquilo, por mais que eu estivesse " me esforçando", aquilo tudo era novo para mim.Eu nunca tinha transado com uma mulher, eu nunca tinha se quer beijado uma mulher, eu estava nervosa, não sei sesaberia fazer certo, e aquilo não deixa de me preocupar.Até que Raquel pareceu ter visto isso estampado na minha cara.— Mas hoje o trabalho é todo meu, você só tem que relaxar. — Ela me diz.E é exatamente isso que aquelas palavras me fazem, me relaxam.Eu podia relaxar e confiar nela, foi tudo o que eu sempre quis ouvir dela.Senti suas mãos deslizarem em minha clavícula e me empurrar suavemente contra ela, e instintivamente, eu me deixei ser conduzida, enquanto uma de suas mãos agora segurava minha bunda, nos beijamos.Logo suas mãos foram subindo sobre meu corpo, e seus olhos
Sobre o dia em que eu e a Raquel dormimos juntas, pela primeira vez...Acordei assim que percebi o sol indo embora da minha janela, já estava anoitecendo, e ao me virar, a primeira imagem que tenho diante de mim é a da Raquel.Estava deitada de bruços ao meu lado, ainda completamente nua, e com um fino lençol branco por cima do corpo, a cobrindo apenas da cintura para baixo.Eu abro um sorriso involuntário ao vê-la, ao lembrar do que aconteceu, ao lembrar dos seus beijos e do seu toque, como eu me senti feliz.Mas esse sorriso logo sumiu do meu rosto em questão de segundos e acreditem, pelo mesmo motivo, por eu estar feliz.Estava feliz por ter dormido com a minha melhor amiga e por ter traído o meu namorado?Não me senti no direito de estar feliz, não deveria sorrir, havia motivos para comemorar.— Isso não foi certo Carla. — Pensei.Ent&at
— E ai? — Raquel me pergunta no corredor.Segunda-feira, Hernando tinha me procurado, e quando ele estava saindo do meu apartamento, ela provavelmente o viu.— Eu não chamei ele aqui se é isso que você quer saber. — Respondi.— No, no é isso que quiero saber. — Ela me encarava. — Vocês terminaram?Ela me perguntou, e eu não consegui responder, a resposta seria não, e eu sabia que não era o que ela queria ouvir.— Você contou a ele?Ela logo faz outra pergunta, que dessa vez tive que responder.— Não. — Falo com a cabeça baixa.— E porque não?Percebi que ela respirou fundo antes de perguntar, provavelmente se preparando para ouvir a resposta.— Ele veio me pedir desculpas Raquel.— Depois de quase te agredir na sua festa, te abandonar no dia s&o
Raquel tinha razão em tudo o que disse, o problema não era a culpa, o problema não era Hernando, o problema era eu e o meu medo.Sim, eu estava com medo de aceitar que estava apaixonada por uma mulher, que eu estava completamente apaixonada pela Raquel.Por que assim que eu assumisse isso, teria que me assumir também, me assumir agora como uma mulher, que gosta de outra mulher, e eu fui preconceituosa quanto a isso.Preferi pensar que foi só uma coisa de momento, uma coisa boba, uma atração passageira, na verdade eu tentava me convencer disso.Sendo que só de pensar na Raquel o meu corpo todo tremia em resposta, a felicidade me consumia só em lembrar do seu rosto, e o meu coração gritava por ela.Fui uma estupida, ri da Raquel por isso mas fui uma boba também quando achei que p
Alguns dias depois.— O Hernando acaba de viajar, — Eu invado o apartamento da Raquel. — A gente podia pedir uma pizza ou você podia cozinhar para mim? Que tal? Ficar até tarde vendo filme. — Peço sorridente e me esparramando no sofá.— Ela corresponde ao meu sorriso, mas nega o convite. — Não vai dar Carla, hoje no dá, eu tenho uma festa beneficente para ir.— Ata. — Eu nem percebi que ela estava toda arrumada.— Eu nem gosto dessas coisas você sabe, é que é por uma causa nobre de verdade dessa vez...— Está tudo bem Raquel. — A corto. — Hernando vai ficar ficar a semana toda fora, a gente deixa para outro dia. — Falo mas não consigo disfarçar a minha cara de desapontada.— Porque você no vem conmigo?— Que?— É voc&
Seu rosto foi separado do meu, rompendo o nosso beijo novamente, imediatamente eu quis retomar o beijo, mas ele me parou.— Você tem certeza? — Ela me pergunta.— Absoluta. — Eu beijo seu pescoço. — Já deu essa historinha de só amigas, não acha? — Beijo seu torso. — Eu quero você Raquel. — Beijo o canto da boca. — Eu quero ficar com você. — Beijo seus lábios e sorrio depois.— Carla mas...— A interrompo. — Você faz coisas muito melhor com a boca do que falar Raquel, chega. — A beijei apaixonadamente antes que ela começasse a falar de novoEla pronunciou meu nome entre os beijos, o que tornou meu desejo ainda mais intenso, sorri satisfeita e prossegui com o beijo.Nosso beijo era apressado e demonstrava saudades, nossas línguas brigavam por espaço e nossas mãos percorriam o