— ... E aí você toparia tornar aquele sonho realidade? — Ela fala próximo a mim.
Ela fala muito próximo a mim, muito próximo mesmo, e se aproximava cada vez mais, estava de quatro em cima da cama e vinha para cima de mim.
Minhas mãos começaram a suar e eu não conseguia me mexer, sinto minha garganta fechando e a sensação de que não consigo respirar, pude sentir perfeitamente o seu hálito sabor pizza de tão próximo a minha, a boca dela estava.
— Peguei. — Ela fala.
Fala e abre um leve sorriso, logo depois ela leva até a boca, a fatia de pizza que havia pegado na caixa atrás de mim, morde, se lambuzando, chupando os dedos e rindo é claro.
— Não acredito. — Eu falei tão baixo que ela não pode ouvir.
O caso é que fiquei frustrada e aliviada ao mesmo tempo, eu sei que vocês não devem estar me entendendo, me desculpem, mas nem eu me entendia, eu queria e não queria ao mesmo tempo.
E Raquel? Essa eu com certeza não entendia, o que tinha sido aquilo afinal?
— É o último pedaço quer dividir? — Ela diz.
Me deu vontade de mandá-la enfiar aquela fatia de pizza vocês sabem onde.
— Não, já escovei os dentes, você viu. — Eu falo ajeitando a cama. — O que eu quero é dormir, e você? Estava bocejando aí toda hora.
— Já vou. — Ela levanta. — Mas você no respondeu a minha pergunta. — Diz.
— Para com essa brincadeira Raquel, já perdeu a graça, ta? — Me deito. — Foi um sonho idiota e sem importância que eu já esqueci e você devia fazer o mesmo, depois reclama que eu fico sem graça.
Não eu não tinha esquecido o sonho, e não, acho que não queria torna-lo real, pelos menos a minha consciência tinha certeza disso.
E o medo do que aconteceria depois disso também, esse medo que me consumia, sim, dormir era a melhor opção.
Raquel não me passava segurança nem uma, de nada, suas palavras vinham sempre acompanhadas de ironias e "brincadeiras" eu ficava mais perdida ainda.
— Está bem parei, buenas noches. — Ela fala me dando um beijo na testa.
Eu ainda não sabia ao certo o que fazer com aquilo tudo que sentia ou como esconder, mas tinha certeza de mais uma coisa, não queria perder a Raquel em minha vida.
...
No Dia Seguinte
— Nem acredito que acabamos. — Raquel fala.
Tínhamos acordado cedo, e passamos quase a manhã toda enfurnadas naquele apartamento, arrumando as coisas, e finalmente terminamos.
— Muito obrigada Raquel, você me ajudou muito.
— Agora você sabe que tem que me retribuir, não é?
— Você sempre com isso.
— Ué. — Ela rir e dá de ombros.
— O que você quer dessa vez? — Pergunto.
— Almoça comigo? Vamos ao meu restaurante. — Sorrir.
— Vai ser um prazer. — Fico eufórica. — Finalmente irei conhecer o Salvatierra.
— Não é por falta de convite não é dona Carla Adriana?
— Eu sei, eu sei. — A abraço. — Estou em falta com você, mas hoje o dia vai ser nosso.
— Vou trocar de roupa então. — Ela fala.
— Pois farei o mesmo. — Sorrio, enquanto ela saí.
Ela me fazia sorrir o tempo todo.
Vou ao meu quarto, começo a me arrumar e o meu celular toca, era Hernando.
— O que você quer? — Pergunto fria.
— Calma Carla, eu só quero conversar, você se mudou contra a minha vontade, mas a gente ainda namora, não é?
Não respondo, não queria dizer que não, mas também não queria dizer que sim.
— A gente precisa se entender, você quer almoçar hoje? — Ele fala.
— Não posso.
— Está vendo, você nunca pode Carla e eu sempre sou o vilão.
Ficamos em silêncio, o negócio é que estávamos o tempo todo jogando a culpa um no outro, a culpa de nossos constantes desentendimentos, e confesso que nem sei mais quem estava errado e quem estava certo.
Mas talvez eu não esteja tão correta assim como pensava, já que quando fecho meus olhos imagino Raquel me beijando, então decidi assumir a culpa e dar uma chance a Hernando.
— Eu estou com saudades. — Ele fala.
— Eu também. — Respondo.
— Então vamos almoçar hoje sim e eu não aceito um não como resposta, passa ai em 10 minutos.
Não neguei, se eu realmente queria me acertar com Hernando e superar minhas confusões em relação a Raquel, sair com ela em vez de sair com ele, seria a escolha errada.
Ainda mais depois da noite de ontem, tudo o que eu precisava, era esquecer tudo aquilo, decidi que começaria me afastando um pouco de Raquel, claro que eu não queria perde-la como amiga, mas como já disse, fazia tempo que não a via só como uma amiga, então eu tinha que mudar isso.
Fiquei triste por que ia ter que desmarcar com ela, mas seria o melhor a se fazer e acho que ela entenderia.
Enfim, Hernando chegaria em 10 minutos, então terminei de me arrumar bem rápido, e só me esqueci que a Raquel tinha ido fazer o mesmo.
...
— Você já está pronta? Não acredito? — Raquel fala entrando no meu apartamento. — Achei que ia ter que ficar te esperando, por causa da bagunça da mudança, achei que ia demorar, bom esquece. — Sorrir. — Podemos ir então?
— Eu não vou poder ir.
— E porque no?
— Hernando me ligou agora, pediu para eu ir almoçar com ele, me desculpa Raquel.
— Não precisa pedir desculpas Carla, está tudo bien.
— Ele provavelmente quer fazer as pazes.
— Não precisa me explicar também, fica para outro dia então. — Ela já ia saindo. — Divirta-se. — Fala e saí.
A Raquel realmente era uma incógnita para mim, então se ela ficou chateada não demonstrou, mais contente ela também não me pareceu.
E toda aquela história de ficar longe da Raquel caiu por terra no minuto que a vi saindo do meu apartamento daquele jeito, seria só um almoço a menos dos nossos programas juntas e eu já sofri por perde-lo.
" Quando eu voltar, a gente conversa."
Mandei essa mensagem para ela, mensagem que ela nem visualizou.
Então decidi seguir com o plano, Hernando chegou logo em seguida, fui almoçar com o ele, e pra ser sincera o almoço foi ótimo, prolongamos o passeio, nos entendemos e eu acabei dormindo no apartamento dele.
...
Quando voltei para casa no dia seguinte encontrei com Raquel no corredor
— Oi. — Eu falo.
— Bom Dia. — Ela responde ríspida. — Pelo visto o almoço foi bom.
— Sim. — Sorrio, sem graça. — Mas hoje eu estou livre podemos remarcar o nosso almoço.
— Não vai dar Carla.
— Está ocupada? — Pergunto.
— Si.
— Tudo bem. — Olho para o celular em sua mão. — Você não respondeu a mensagem que eu te mandei.
— Esqueci. — Me responde.
— Eu tenho uma coisa para te contar.
— Eu estou indo para o restaurante agora, depois a gente se fala. — Passa por mim tão rápido quanto uma bala.
Se eu falar para vocês que estava com vontade de entrar no quarto e começar a chorar, vocês entenderiam?
A Raquel foi fria comigo, me tratou com indiferença e ela nunca tinha feito isso antes, como me doeu.
Um dos sentimentos que mais machucam o coração de alguém é o desprezo, e foi assim que eu me senti, desprezada, será que ela se sentiu assim ontem?
...
Já era noite e eu esperava Raquel no corredor.
— Até que enfim você chegou, estava te esperando. — Eu falo assim que a vejo.
— Aconteceu alguma coisa? — Ela pergunta.
— Falei que eu tinha uma coisa para te contar, lembra?
— Entra. — Ela fala abrindo a porta. — O que é? — Pergunta.
— Meu aniversário é domingo agora.
— Jura?
Ela não me pareceu muito empolgada.
— Hernando vai fechar a boate luzes aqui perto, para a festa no sábado, e eu quero que você vá é claro. — Sorrio.
— Isso de balada não é a minha Carla.
Ela já me corta de cara.
— Mas é o meu aniversário Raquel.
— Seu aniversário não é domingo? — Ela rir.
— Mas a festa será no sábado. — Também rio.
— E essa idéia de festa na Luzes foi sua?
— Porque?
— Ela rir. — Tambíen no me parece ser su cara.
— A ideia foi do Hernando.
— É claro.
— Mas então você vai? — Pergunto.
— Não Carla, eu realmente no gosto de boate, me desculpa.
— É o que? Vingança porque eu desmarquei nosso almoço ontem? — Pergunto.
— O que? Me poupe Carla Adriana. — Ela rir debochada. — Se você não se incomodar pode ir embora por fabor? Eu estou cansada queria ficar sozinha.
Aquilo partiu o meu coração.
— Eu não estou acreditando, você está com raiva de mim?
— Não estou com raiva de ninguém.
— Claro que está, como não? Olha o jeito que você está falando comigo, me mandando ir embora, dizendo que não vai a minha festa.
— Só porque eu estou cansada e não gosto de balada eu estou com raiva de você Carla? Faz fabor.
— É porque eu desmarquei com você ontem ou não? — Insisto.
Ela não fala nada.
— Me diz Raquel.
Ela continua em silêncio.
— Para com isso Raquel, fala comigo, eu só quero que você seja sincera comigo e admita que ficou chateada, ontem mesmo você estava cobrando da minha amizade te contar as coisas e agora é você que está...
Ela me interrompe
— Você quer a verdade Carla?
— Eu quero. — Falo.
— Então lá vai. — Ela se aproxima de mim. — Eu achei um absurdo você simplesmente desmarcar comigo para sair com um cara que te ignorou por quase dois dias, e que quando resolveu aparecer você logo correu atrás, sendo que bateu na minha porta aquela hora da noite dizendo que brigou com Hernando e que precisava da minha ajuda para se mudar urgente, ter me feito te ajudar a aprontar o seu apartamento o mais rápido possível e depois você nem dormir nele e ir dormir com o seu namorado.
Eu fico surpresa com as palavras dela, eu imaginei que ela tinha se chateado mas não achei que tanto.
— A namorado esse que eu nem entendo porque você está com ele, um cara que não te dar o menor valor, que não te trata bem, como você mesma disse ontem. — Ela continua.
— Isso é entre nós dois Raquel.
Respondo, ela já estava sendo grossa.
— Claro que é, eu só sirvo para quando vocês estiverem brigados não é?
— Não fala assim.
Ela realmente estava magoada comigo, e eu me sentia uma estupida por isso.
— Quer saber Carla, eu estou realmente cansada. — Ela se direciona a porta.
— Não foi a minha intenção te chatear assim Raquel.
— Eu não estou chateada, eu só não concordo com a sua atitude.
— Me desculpa.
— Não tenho nada para te desculpar.
Ficamos em silêncio por uns minutos, os minutos mais demorados e incômodos da minha vida.
— Eu realmente quero que você vá na minha festa, mas se você realmente não for eu vou entender.
— Ok Carla.
Saio do apartamento da Raquel totalmente desnorteada, tentando digerir todas as coisas que ela me disse e tentando entender tamanha atitude.
Será que era para isso tudo? Gente se eu já estava confusa antes, imagine agora, a minha cabeça estava a mil.
E eu que ontem estava querendo me afastar da Raquel, hoje não aguentei ver ela me afastando.
Eu estava mal, mal por saber que eu possa realmente tê-la magoado, só espero que ela se acalme e me perdoe.
Já era sábado, o dia da minha festa.Estava tudo pronto , eu estava em meu apartamento me arrumando para ir, tínhamos feito uma espécie de pulseiras para a entrada na boate, como era uma festa privada, só entraria quem eu realmente convidei, no caso quem estivesse com a pulseira.Eu ainda tinha uma guardada, a dela, a da Raquel.A gente se afastou um pouco depois daquela " briga" que ela insistia em dizer que não foi briga, mas continuávamos amigas, só não como antes, e de vez em quando rolava um clima esquisito entre a gente, passamos a falar só o básico uma com a outra, diferente de antes que conversávamos sobre tudo e todo o tempo.Mas eu ainda a considerava muito, e realmente queria a presença dela naquele dia importante para mim, queria que nos aproximássemos de novo, então decidi terminar de me arrumar e levar a pulseira para ela logo em seguida,
Já passava das 03:00 da manhã, estava deitada em minha cama de pijama, olhando para o teto, como se ele fosse me ajudar em algo ou respondes minhas dúvidas.Tudo o que eu queria era dormir, cessar aquela competição de pensamentos que estavam presentes em minha mente.Mais o sono não vinha de jeito nem um, eu rodava na cama igual pião, levantei, andei a casa toda e nada do sono vir, lembrei de quando costumava ter insônia.— Quem sabe ainda sobrou algum remédio dessa época. — Pensei.Cacei esse remédio, como quem caça tesouro, graças a Deus achei, apaguei....Acordei com o meu celular tocando, corri para atender e realmente não sei quem eu queria que fosse.Era uma amiga antiga para me desejar feliz aniversário, certeza que não foi por ela que eu corri.Já era mais de 13:00 hora da tarde, aquele rem&
De repente, ela trouxe seu rosto para mais perto do meu, e em instantes senti seus lábios aquecerem os meus suavemente, e suas mãos pousaram em meu rosto, me puxando para mais perto dela.Solicitava que eu desse abertura para intensificar o beijo, que ela início com calmaria e cautela, numa movimentação demorada e tímida.Também seguro em seu rosto, mas não é como seu eu a permitisse prosseguir, era como seu implorasse por aquilo, me envolvo a ponto de nossas línguas parecer uma só dentro de nossas bocas.O beijo continua, e agora era mais quente, sensual, quase erótico, e depois de longos segundos, o beijo é encerrado por ela com um breve selinho, e eu ainda permaneço ali por um tempo, com os olhos fechados.Quando os abro e tomo consciência do que tinha acontecido, sinto meu corpo todo estremecer, percebo que não havia um só pelinho em m
Por mais que eu estivesse envolvida, por mais que eu quisesse aquilo, por mais que eu estivesse " me esforçando", aquilo tudo era novo para mim.Eu nunca tinha transado com uma mulher, eu nunca tinha se quer beijado uma mulher, eu estava nervosa, não sei sesaberia fazer certo, e aquilo não deixa de me preocupar.Até que Raquel pareceu ter visto isso estampado na minha cara.— Mas hoje o trabalho é todo meu, você só tem que relaxar. — Ela me diz.E é exatamente isso que aquelas palavras me fazem, me relaxam.Eu podia relaxar e confiar nela, foi tudo o que eu sempre quis ouvir dela.Senti suas mãos deslizarem em minha clavícula e me empurrar suavemente contra ela, e instintivamente, eu me deixei ser conduzida, enquanto uma de suas mãos agora segurava minha bunda, nos beijamos.Logo suas mãos foram subindo sobre meu corpo, e seus olhos
Sobre o dia em que eu e a Raquel dormimos juntas, pela primeira vez...Acordei assim que percebi o sol indo embora da minha janela, já estava anoitecendo, e ao me virar, a primeira imagem que tenho diante de mim é a da Raquel.Estava deitada de bruços ao meu lado, ainda completamente nua, e com um fino lençol branco por cima do corpo, a cobrindo apenas da cintura para baixo.Eu abro um sorriso involuntário ao vê-la, ao lembrar do que aconteceu, ao lembrar dos seus beijos e do seu toque, como eu me senti feliz.Mas esse sorriso logo sumiu do meu rosto em questão de segundos e acreditem, pelo mesmo motivo, por eu estar feliz.Estava feliz por ter dormido com a minha melhor amiga e por ter traído o meu namorado?Não me senti no direito de estar feliz, não deveria sorrir, havia motivos para comemorar.— Isso não foi certo Carla. — Pensei.Ent&at
— E ai? — Raquel me pergunta no corredor.Segunda-feira, Hernando tinha me procurado, e quando ele estava saindo do meu apartamento, ela provavelmente o viu.— Eu não chamei ele aqui se é isso que você quer saber. — Respondi.— No, no é isso que quiero saber. — Ela me encarava. — Vocês terminaram?Ela me perguntou, e eu não consegui responder, a resposta seria não, e eu sabia que não era o que ela queria ouvir.— Você contou a ele?Ela logo faz outra pergunta, que dessa vez tive que responder.— Não. — Falo com a cabeça baixa.— E porque não?Percebi que ela respirou fundo antes de perguntar, provavelmente se preparando para ouvir a resposta.— Ele veio me pedir desculpas Raquel.— Depois de quase te agredir na sua festa, te abandonar no dia s&o
Raquel tinha razão em tudo o que disse, o problema não era a culpa, o problema não era Hernando, o problema era eu e o meu medo.Sim, eu estava com medo de aceitar que estava apaixonada por uma mulher, que eu estava completamente apaixonada pela Raquel.Por que assim que eu assumisse isso, teria que me assumir também, me assumir agora como uma mulher, que gosta de outra mulher, e eu fui preconceituosa quanto a isso.Preferi pensar que foi só uma coisa de momento, uma coisa boba, uma atração passageira, na verdade eu tentava me convencer disso.Sendo que só de pensar na Raquel o meu corpo todo tremia em resposta, a felicidade me consumia só em lembrar do seu rosto, e o meu coração gritava por ela.Fui uma estupida, ri da Raquel por isso mas fui uma boba também quando achei que p
Alguns dias depois.— O Hernando acaba de viajar, — Eu invado o apartamento da Raquel. — A gente podia pedir uma pizza ou você podia cozinhar para mim? Que tal? Ficar até tarde vendo filme. — Peço sorridente e me esparramando no sofá.— Ela corresponde ao meu sorriso, mas nega o convite. — Não vai dar Carla, hoje no dá, eu tenho uma festa beneficente para ir.— Ata. — Eu nem percebi que ela estava toda arrumada.— Eu nem gosto dessas coisas você sabe, é que é por uma causa nobre de verdade dessa vez...— Está tudo bem Raquel. — A corto. — Hernando vai ficar ficar a semana toda fora, a gente deixa para outro dia. — Falo mas não consigo disfarçar a minha cara de desapontada.— Porque você no vem conmigo?— Que?— É voc&